Dólar fica acima dos 7 yuans e Trump acusa a China de desvalorizar artificialmente a moeda
O dólar ficou acima do nível de sete yuan pela primeira vez em mais de 10 anos. Nesse cenário, o presidente americano, Donald Trump, fez duras acusações à China, aumentando ainda mais a tensão no front da guerra comercial
A guerra comercial entre Estados Unidos e China ganhou mais um episódio nesta segunda-feira (5). A moeda chinesa passou por uma forte desvalorização e, agora, o dólar vale mais de sete yuan, nível que não era rompido há mais de uma década. E o presidente americano, Donald Trump, não gostou nada disso.
Via Twitter, o republicano acusou o governo chinês de estar manipulando artificialmente o câmbio — uma "enorme violação" que, segundo ele, irá culminar num "grande enfraquecimento"da China ao longo do tempo.
China dropped the price of their currency to an almost a historic low. It’s called “currency manipulation.” Are you listening Federal Reserve? This is a major violation which will greatly weaken China over time!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) August 5, 2019
"A China derrubou a cotação de sua moeda a um nível muito perto da mínima histórica. Isso se chama 'manipulação cambial'. Está ouvindo, Federal Reserve?", escreveu Trump, aproveitando para cutucar novamente o banco central americano — o presidente mostrou-se insatisfeito com a hesitação do BC local em relação ao corte de juros do país.
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Em nota, o Banco Central da China atribui a desvalorização do yuan ante o dólar às medidas "unilaterais e protecionistas" adotadas pelo governo americano, mas sem confirmar oficialmente que o movimento ocorreu em função de uma determinação governamental.
Segundo as autoridades chinesas, o rompimento se deve às forças do mercado. No entanto, é sabido que o governo de Pequim pode interferir diretamente no preço da moeda — e, com o yuan mais fraco, as exportações chinesas tendem a ficar mais baratas, diminuindo o poder de fogo das medidas protecionistas adotadas recentemente por Trump.
Na última quinta-feira (1), o presidente americano anunciou a adoção de tarifas de 10% sobre outros US$ 300 bilhões em importações chinesas a partir do dia 1º de setembro — a medida não inclui os US$ 250 bilhões em produtos do país asiático que já sofrem com taxações de 25% para entrar nos EUA.
Mas, ao menos num primeiro momento, o governo da China não se mostrou abalado pelo anúncio: no fim de semana, a agência oficial de notícias do governo chinês afirmou que o país "nunca se curvará" ao "velho truque de bullying comercial" de Washington.
"Ao desvalorizar sua moeda para o menor nível em 11 anos, o governo chinês faz seus produtos ficarem mais baratos e mais competitivos, pegando em cheio a economia americana", explica Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset. "O stress dos mercados vem dos desdobramentos que essa guerra pode trazer".
Em maio, o economista-chefe do UBS para o Brasil, Tony Volpon, já apontava o acirramento na guerra comercial como um fator de risco importante para os mercados. Em entrevista ao Seu Dinheiro, Volpon alertou que o dólar rondava o nível de 7 yuans na crise chinesa de agosto de 2015 — e que a desvalorização da moeda do país asiático não ajudou o mercado brasileiro.
Mercados tensos
De fato, a segunda-feira é marcada por um enorme clima de cautela que contamina os mercados globais. Em meio à escalada nas tensões entre EUA e China e à incerteza quanto aos possíveis impactos para a economia global, os agentes financeiros adotam uma postura de extrema cautela.
Esse tom defensivo é refletido sobretudo no mercado de câmbio: há um movimento de fuga dos ativos mais arriscados como as divisas de países emergentes e exportadores de commodities. Nesse grupo, estão o peso mexicano, o peso colombiano, o rand sul-africano, o peso chileno e o real brasileiro.
Por aqui, o dólar à vista operava em forte alta de 1,62% às 15h25, a R$ 3,9551 — na máxima do da, a moeda americana bateu os R$ 3,9621, maior cotação intradiária desde 31 de maio.
Os mercados acionários também são fortemente pressionados. Nos Estados Unidos, os principais índices acionários caem mais de 2%, o que acaba influenciando o Ibovespa, que recua 2,73%, aos 99.915,95 pontos.
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