Em Puerto Iguazú, cidade da Argentina que faz fronteira com Brasil e Paraguai, os moradores da cidade brasileira Foz do Iguaçu enfileiram seus carros na busca por combustível nos quatro postos do município argentino. O repórter e editor do Seu Dinheiro, Victor Aguiar, esteve por lá na última semana e conta os detalhes dessa situação.
A Argentina está passando por uma crise severa: inflação de 71% e desvalorização de 30% do peso argentino em relação ao dólar. Tudo isso em um espaço de um ano, o que pressiona a economia local e faz os moradores ficarem praticamente ‘desesperados’ para trocar o dinheiro local por moedas fortes — seja dólar, real ou euro.
E essa situação cria um ambiente cheio de distorções e pessoas dispostas a explorá-las. Mas será que vale a pena atravessar a fronteira em busca de combustíveis? Afinal, não é tão simples.
As dificuldades:
Um motorista de aplicativo entrevistado diz ser comum esperar mais de duas horas para abastecer num posto do outro lado da fronteira, isso sem contar o tempo gasto na imigração.
Além disso, não é raro que estrangeiros tenham que pagar um valor maior que o oficial. Alguns postos fixam horários específicos para atender os brasileiros ou a quantidade de combustível vendida.
Mas vale a pena enfrentar tantos obstáculos para abastecer o carro?
Vamos aos números: o litro de gasolina custava entre 150 a 165 pesos argentinos na sexta-feira, 26 de agosto.
Considerando o câmbio de R$1 para 27 pesos, chega-se a um valor entre R$ 5,50 e R$ 6 por litro na Argentina. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio cobrado em Foz do Iguaçu é R$5,18. Ou seja: à primeira vista, parece ser um mau negócio para os brasileiros.
Mas é preciso levar alguns outros fatores em consideração, como a irrelevância da cotação oficial do peso argentino no cotidiano: como as pessoas querem trocar a moeda local. A reportagem do Seu Dinheiro chegou a encontrar um restaurante que pagava 50 pesos por cada real. Em geral, os comércios fazem uma conversão de, no mínimo, 1:40. Com esse câmbio paralelo, chegamos a um valor de R$3,00 pelo litro de gasolina. Ou seja: abastecer na Argentina ainda é negócio.
Um segundo atrativo: a gasolina argentina é pura, enquanto o combustível vendido no Brasil é uma mistura contendo 27% de etanol anidro em sua composição. Portanto, além de mais barata, a alternativa rende mais. O motorista de aplicativo que conversou com a nossa reportagem não hesita ao cruzar a fronteira para abastecer.
Bolsonaro, gasolina e inflação
À imprensa, Bolsonaro disse que os brasileiros antes iam ao Paraguai para abastecer seus carros, mas agora ocorre o movimento contrário. Mesmo com as alterações tributárias — que derrubaram o preço da gasolina aqui no Brasil — e a deflação mostrada pelo IPCA de julho, o recrudescimento não atinge todos os setores da economia de maneira unânime.
E é nesse sentido que a busca por combustível barato ainda movimenta o dia a dia de Puerto Iguazú: com o custo de vida ainda muito elevado no Brasil, qualquer economia se mostra atrativa — ainda mais para trabalhadores informais, como o motorista de aplicativo que falou com o Seu Dinheiro.