Em sua coluna semanal para o Seu Dinheiro, o analista Matheus Spiess fala sobre a crise energética que a Europa enfrenta — que já havia começado com a pandemia e se amplificou com a guerra da Ucrânia, graças ao ‘contra-ataque russo’ que cortou o fornecimento de gás ao continente.
O problema ganhou maiores dimensões com a inflação recorde que assola os europeus. A inflação ao consumidor da Zona do Euro já alcança 9,1% na comparação anual e quase 40% quando o índice avaliado é o de inflação ao produtor.
E agora, com os preços do gás subindo mais de 30% em um só dia, a Europa enfrenta o risco de apagões, racionamento e uma recessão severa se a Rússia reduzir ainda mais as entregas de gás. Alemanha e França já se dizem preparadas para interrupções no gás russo e o continente trabalha para importar a commodity de países como os EUA.
Mas, mesmo que não falte energia, os preços devem disparar. Alguns players de mercado já estimam que as contas de energia por lá atinjam o pico só no início do próximo ano em cerca de 500 euros por mês para uma família europeia típica, implicando um aumento de 200% em relação a 2021.
O risco de interrupção total do fornecimento de gás russo aos europeus era remoto há algum tempo, mas agora torna-se mais factível com a retaliação russa à articulação dos países do G7 para colocar um teto sobre o petróleo russo — o que Spiess considera uma péssima ideia no momento.
Esse cenário implicaria em queda de quase 10% na demanda das residências e um corte de 30% na demanda da indústria. Ou seja, ainda há muito espaço para preocupação na Zona do Euro diante do agravamento do embate com a Rússia.
O principal risco a partir de agora é o tamanho da recessão que o movimento de racionalização de consumo pode gerar. Mas, além do gás, outra crise pode estar se aproximando: a do petróleo.
Depois de finalmente alcançar, pelo menos em compromisso, o patamar de oferta de barris de petróleo por dia verificado antes do início da pandemia, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) voltou a cortar a oferta de petróleo no início desta semana.
O movimento é uma resposta da organização à volatilidade recente verificada no mercado. 09- Consequentemente, o preço do barril voltou a subir e pode continuar assim o fazendo, principalmente se a organização realizar novos cortes nas próximas reuniões — a próxima reunião da Opep+ está marcada para 5 de outubro.