Reforma da Previdência deve passar, mas meio desidratada, diz Arminio Fraga
Crise fiscal é a “grande espada sobre nossos pescoços”, avalia o ex-presidente do Banco Central, que não vê espaço para o impacto da reforma ficar abaixo do cerca de R$ 1 trilhão (em 10 anos)

Não tem escapatória. Para sair do quadro de recuperação lenta da economia, o governo precisa passar a reforma da Previdência no Congresso Nacional, dado que aposentadorias e pensões respondem por mais da metade do gasto público e que a crise fiscal é a "grande espada sobre nossos pescoços", avalia o ex-presidente do Banco Central (BC) Arminio Fraga, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
O economista não vê espaço para o impacto fiscal das mudanças ficar abaixo do cerca de R$ 1 trilhão (em 10 anos) da proposta do Ministério da Economia, mas aposta num cenário mais realista, em que a reforma será aprovada "um tanto desidratada", o que obrigará o governo a "caprichar muito" nas outras áreas.
Por que a recuperação da economia após a recessão está tão lenta?
De fato, tem sido uma recuperação lenta. Os dados de emprego e do PIB (Produto Interno Bruto, que cresceu 1,1% em 2018) divulgados recentemente confirmam isso. As origens (da lentidão) são múltiplas e têm a ver com um grau de incerteza geral ainda relevante. O governo é novo, de um grupo diferente, que nunca esteve no poder, com as naturais dificuldades de coordenação. A área onde estão as maiores oportunidades de investimento é a infraestrutura, mas, nesse setor, as coisas tendem a ocorrer de forma lenta. Outro aspecto diz respeito às famílias. Tem muita gente muito endividada, o que inibe o consumo. E, finalmente, na indústria há muitos setores com capacidade ociosa, o que inibe o investimento.
Nesse quadro, o Banco Central (BC) deveria baixar mais os juros?
O BC recuperou sua credibilidade, mas agora as expectativas de inflação estão próximas da meta, não há mais espaço relevante para cortes. Felizmente, o BC trabalha de maneira muito estruturada. Penso que essa política vai ter continuidade, mas não dá para esperar milagre só do BC.
Por que a reforma da Previdência é tão importante para enfrentar esse quadro?
A grande espada que está pairando sobre os nossos pescoços é a do lado fiscal. Temos uma situação fiscal bastante frágil, tanto no governo federal quanto na maioria dos Estados. A Previdência é pouco mais da metade do gasto, logo a solução tem de passar por ela. O ajuste necessário é grande, porque houve um colapso fiscal enorme a partir de 2014. Isso tem de ser revertido, para criar mais confiança, consolidar a trajetória de juros baixos e reduzir a incerteza. A Previdência gasta 14,5% do PIB, um número muito alto para um país ainda relativamente jovem. O ideal seria levar esse número para 12% do PIB ou menos, o que exige uma reforma de muito impacto.
A proposta do Ministério da Economia é suficiente?
Me parece boa, mas de menor impacto do que seria necessário para gerar um choque positivo de confiança. Além disso, ela pode ser desidratada no Congresso. Se não for na Previdência, de onde virá o ajuste? De áreas muito delicadas do ponto de vista social? Estamos num quadro de cobertor curto generalizado e a Previdência é o item de maior peso.
Leia Também
Há um valor mínimo para o impacto fiscal da reforma?
Para mim, não dá para cair abaixo do R$ 1 trilhão (em 10 anos) que se propôs. Pensando friamente, acho que vamos ter uma reforma boa, mas, possivelmente, limitada. E aí o problema vai seguir. As pessoas mais otimistas acreditam que essa reforma, ainda que um pouco desidratada no final, pode significar o início de um ciclo virtuoso de outras reformas, mas, na minha leitura, as probabilidades jogam contra.
Se não houver reforma da Previdência, a economia pode voltar à recessão?
Sim, o que seria dramático, posto que, com 12% de desemprego, o quadro já é dramático. Torço para que ao fim e ao cabo o mundo político tenha uma reação racional e procure caminhos de correção. Talvez seja mais torcida do que análise. Vi com bons olhos que o governo, na reforma da Previdência, chamou atenção às questões distributivas. Isso era algo que estava faltando, não tinha sido mencionado pelo presidente em seus pronunciamentos. Claramente, essa questão não pode ser deixada de lado. Não é só uma questão de justiça, o que claramente não é pouco, mas também uma questão de estabilidade política, sem a qual as coisas não vão andar.
Pesquisa do instituto MDA mostrou que 45,6% da população desaprovam a reforma da Previdência.
É preocupante, na medida em que sugere que os parlamentares, quando forem votar, terão pressão negativa das bases.
Qual estratégia de comunicação adotaria?
A estratégia tem de ser de mostrar a realidade das finanças públicas do Brasil e tentar convencer as pessoas de que as promessas implícitas na Previdência atual não são factíveis.
O ministro Paulo Guedes sugeriu desvincular todo o Orçamento como alternativa à reforma da Previdência. Daria certo?
Para funcionar, seria preciso mexer na própria Previdência, e também na estrutura salarial do governo. Um Congresso que não aprovar uma reforma como a proposta não vai dar ao governo esse poder gigantesco, não faz sentido. Se não passar nada no Congresso, aí vai ter pânico no mercado, paralisia econômica e aí aprova-se a reforma numa segunda tentativa. Acredito que a reforma será aprovada, um tanto desidratada, tudo indica, e aí o governo vai ter de caprichar muito no resto, muito mesmo. Vai ser um desafio enorme.
O resto são as reformas microeconômicas, a agenda de infraestrutura, a abertura da economia?
Sim, exato, sem esquecer os temas mais importantes: educação, saúde, saneamento, distribuição de renda. O Brasil precisa de uma boa reforma do Estado também.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo
Como ganhar um salário de R$ 7.500 na aposentadoria: este investimento pode te garantir essa renda — não é a previdência privada; descubra detalhes
Se aposentar com um salário de R$ 7.507,49 — o teto do INSS atualmente — está cada dia mais difícil, em especial depois da Reforma da Previdência. A verdade é que, se você depender exclusivamente do INSS na hora da sua aposentadoria, é bem provável que você se dê mal. Pensando nisso, existe um novo […]
Ganho ‘real’ do salário mínimo e ausência do imposto sindical: o que o novo ministro do Trabalho guarda para o futuro dos brasileiros
Além disso, Luiz Marinho pretende fortalecer os sindicatos de outra forma e garantiu que o governo não deve voltar com a cobrança do imposto sindical
Teto de gastos ‘não é uma conspiração para desmontar a área social’. Leia a carta de Arminio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan para Lula
Em carta aberta publicada na Folha de S. Paulo, economistas rebatem críticas do petista ao teto de gastos e ao mercado financeiro
Com inflação em alta, Guedes questiona: “Qual o problema de a energia ficar um pouco mais cara?”
Ministro afirma que economia está e vai continuar crescendo, mas admite que existem “algumas nuvens no horizonte” para o próximo ano
Teto de gastos e Previdência já geraram economia de R$ 900 bi em juros, diz estudo do Ministério da Economia
Essa economia de quase R$ 1 trilhão em juros é equivalente a 28,12 vezes a despesa anual do programa Bolsa Família (de cerca de R$ 32 bilhões)
‘Foco é somar esforços para agenda de reformas’, diz presidente do Itaú Unibanco
Para ele, o principal fator de atraso para a retomada econômica é a falta de um plano de vacinação e comentou o último balanço da empresa
Guedes renova esperança com avanço de reformas e critica Maia
Ministro critica “disfuncionalidade” do sistema político por permitir que centro-esquerda domine votações, apesar da vitória da centro-direita nas eleições
Clima na bolsa é quente até demais, diz Armínio Fraga
Para o ex-presidente do BC, “um pouco de diversificação e cautela já vale a pena ter em mente”; ele disse que investidor brasileiro vai passar por período de aprendizado
‘Obscurantismo’ do governo pesa mais para estrangeiro do que política fiscal e monetária, dizem Persio e Arminio
Em evento online do Santander, ex-presidentes do BC criticam posição do Executivo, defende ao menos a estabilização da dívida e falam do risco da alta de juros
Arminio Fraga diz haver espaço para ‘pequeno’ aumento da carga tributária
“Eu penso que, eventualmente, há espaço para pequeno aumento de carga tributária, eliminando distorções de regimes”, disse o ex-presidente do Banco Central
Reformas podem voltar à pauta do Congresso em até dois meses, diz Sachsida
Em entrevista ao Seu Dinheiro, o Secretário de Política Econômica do Ministério da Economia conta que o governo pretende retomar agenda pró-mercado “fraterna” no pós-crise
Brasil já passa por depressão econômica, diz Arminio Fraga
De acordo com o ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos, o governo também deve ficar atento à sua capacidade de aumentar os gastos em decorrência da pandemia
Como pedir concessão e prorrogação do auxílio-doença durante pandemia
Previdência seleciona perguntas mais frequentes feitas pelos segurados.
Reforma da Previdência de servidor paulista é aprovada em meio a tumulto na Alesp
Servidores que protestavam contra o projeto do governador João Doria (PSDB) entraram em confronto com a Tropa de Choque da Polícia Militar, que estava dentro do prédio
Reforma da Previdência em São Paulo é aprovada em primeiro turno
PEC estabelece idade mínima para aposentadoria, de 62 anos para mulheres e 65 para homens, acaba com o recebimento de adicionais por tempo de serviço e proíbe a acumulação de vantagens temporárias
Com reforma, previdência privada aberta volta a crescer
No ano passado, os novos depósitos em planos de previdência privada aberta somaram R$ 126,4 bilhões, expansão de 16,9% frente a 2018. A captação líquida, que considera os resgates realizados no período, foi de R$ 55,5 bilhões, consolidando uma expansão de 40,4%
Nunca é tarde para entrar na bolsa. Será?
Hoje quero falar sobre a visão que eu e o Rodolfo compartilhamos para o ano de 2020. E, claro, o que você deve fazer com seus investimentos para chegar à aposentadoria precoce.
Nova reforma da Previdência deve vir em 20 anos
Economistas afirmam que o País continuará convivendo com o envelhecimento da população e a redução no número de jovens
Arminio Fraga: “não é justo governar só para os que estão na economia formal”
Ex-presidente do Banco Central diz que é preciso atenção ao aumento do trabalho informal e garantir que ele não seja um vetor de aumento da desigualdade
Estados aceleram trâmite para reformar previdências
As propostas aprovadas tramitaram, em média, por 15 dias – contados a partir da apresentação pelos governadores até a votação final.