Pra que proteção?
Para mim, você precisa considerar a hipótese de que as coisas podem dar errado. Porque, sejamos sinceros aqui, muitas vezes elas dão errado. E você precisa estar preparado para essa possibilidade, não condenando a si mesmo (ou a seus cotistas) porque o cenário final não convergiu para aquele pensado a priori.
Outro dia, almocei com um grande gestor brasileiro. Entre a entrada e o prato principal, ele disse assim:
“Proteção para quê? Se eu não estiver convicto de uma determinada posição, eu monto pequeno.”
Em qualquer conversa, minha primeira motivação é sempre no sentido da concordância. É difícil encontrar gente mais chata do que aquela pessoa sempre pronta a discordar. Você nem terminou de falar e o camarada já rebate: “Ah, discordo”. “Você tem que ver também que…” “Você não considerou que…”
Até mesmo quando penso diferente, costumo começar a resposta com: “Concordo. Só talvez valesse a pena considerar também que…”
Nos encontros com gente mais rica e inteligente do que eu (só 99 por cento da população), fico ainda mais constrangido em discordar. Eu, que sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco e sem parentes importantes, procuro mesmo é aprender com essa gente. Entro (quase) mudo e saio (quase) calado. Ele é o bilionário; já eu estou apenas tentando comprar uma janta. E nesse nosso negócio, me desculpe, é “money talks, BS walks”. Se é certo ou errado, sei lá... É o que é.
Dessa vez, porém, eu não me contive. Com fome, meu mau humor é um perigo. Então, emendei:
Leia Também
“Mas e se der errado?”
Ao que ele respondeu:
“Ué, se der errado, deu errado.”
Havia uma certa ironia nessa frase, como se a pergunta anterior tivesse sido mal formulada. Como se a materialização a posteriori de um cenário distinto daquele pensado pelo gestor ex-ante condenasse necessariamente o fundo a uma performance ruim.
A comida estava boa e não queria torná-la indigesta, de tal modo que mandei só um “entendi” e perguntei se a vida estava muito corrida. Confesso que aquilo ficou na minha cabeça.
Nem certo nem errado
Aqui não quero estar certo ou errado. De novo: o bilionário é ele. Portanto, as chances maiores são mesmo de que, ao entrar numa discussão sobre finanças com o sujeito, o errado seja eu mesmo. Feliz ou infelizmente, ainda não encontrei, porém, uma forma de discordar de mim mesmo.
Minha visão é de que há um problema com a abordagem acima. Para mim, você precisa considerar a hipótese de que as coisas podem dar errado. Porque, sejamos sinceros aqui, muitas vezes elas dão errado. E você precisa estar preparado para essa possibilidade, não condenando a si mesmo (ou a seus cotistas) porque o cenário final não convergiu para aquele pensado a priori.
Também é preciso dizer que montar uma posição pequena é bem diferente de montar uma posição significativa com proteções/seguros contra ela. Essa conclusão, inclusive, pode ser encontrada mesmo nas abordagens mais ortodoxas e canonizadas da academia.
Sim, eu sei que as finanças pertencem aos praticantes e que Sextus Empiricus é contra os professores — confesso uma curiosidade infinita sobre as carteiras de investimento deles e dos comentaristas de mercado financeiro. Porém, também sei que os embates dialéticos na teoria econômica não foram definidos por superação positiva, mas, sim, pelo emprego das melhores regras de retórica, como muito bem demonstraram Pérsio Arida (aquele artigo é de tirar o fôlego!) e Deirdre McCloskey.
Persuasão
Então, vamos lá apelar para um instrumento de persuasão recorrendo a Harry Markowitz, prêmio Nobel de Economia, para tentar provar o ponto — uma das regras mais rasteiras numa discussão é recorrer a um argumento de autoridade, para tentar diminuir seu interlocutor. Nesses tempos, melhor explicar: estou sendo irônico; realmente acredito no que vou falar.
Markowitz provou como, a partir dos ganhos da diversificação (convivência num portfólio com ativos de correlação negativa), você pode reduzir o nível de risco de sua carteira, preservando um dado retorno potencial. Assim se forma a chamada Fronteira Eficiente (ou Ótima) de Markowitz. Em outras palavras, ter um portfólio diversificado e balanceado, com ativos que se movem em direções opostas, é melhor do que ter uma carteira concentrada, mesmo que as posições sejam menores.
Fora da argumentação clássica das chamadas Finanças Modernas, existe outro ponto importante. E confesso ser este o meu favorito: o argumento contra o uso das proteções e seguros, além de um pouco arrogante porque, no fundo, parte da premissa de que estar errado não é uma possibilidade concreta e ameaçadora a ser evitada, desconsidera o fato de que os ativos não têm retornos lineares. Alguns deles são convexos. Isso muda tudo. Insisto na sugestão de ver o vídeo de Mark Spitznagel no YouTube, simples e didático, de nome “The Paradox of Higher Returns with Lower Risk”.
Pegue o exemplo mais simples possível.
O investidor A compra 1.000 ações da empresa ABCD, pagando 10 reais por ação. Ou seja, gasto inicial de 10 mil reais. Ao mesmo tempo, ele compra 1.000 opções de venda com preço de exercício de 9 reais, pagando por cada opção 50 centavos. Ou seja, ele agora tem o direito de vender suas 1.000 ações por 9 reais. Total do gasto: 10,5 mil reais, certo?
O investidor B compra 300 ações da empresa ABCD pagando os mesmos 10 reais por ação. Total do gasto: 3 mil reais.
Agora suponha que ABCD quebrou. Suas ações passaram a valer zero. O investidor B perdeu 3 mil reais. Já o investidor A exerceu seu direito de vender suas ações a 9 reais, levantando com isso 9 mil reais — seu gasto total inicial fora de 10,5 mil reais, e ele obteve 9 mil reais ao exercer sua opção de venda; logo, seu prejuízo na operação foi de 1.500 reais.
Ou seja, o investidor A, mesmo tendo uma exposição maior à ação da falida ABCD, teve um prejuízo menor do que o investidor B.
O que eu quero mostrar com tudo isso?
Algumas coisas:
• O exemplo mostra como ter uma posição e um seguro contra ela é bem diferente do que simplesmente montar uma posição pequena.
• Como as opções, contrariando um fato estilizado superficial e errado, são, na essência, um instrumento de hedge e proteção; ou seja, se bem usadas e entendidas, são uma forma de reduzir (não de aumentar) o risco da carteira do investidor; e
• A necessidade de o investidor manter um portfólio diversificado e balanceado, com proteções e instrumentos de hedge que vão salvá-lo de momentos de stress e, muitas vezes, de si mesmo, porque, acredite, as coisas podem dar errado.
Último e mais importante
O último ponto é o mais importante. E não falo isso hoje de maneira oportunista, para aproveitar-me do momento adverso para, depois da obra feita, bancar de engenheiro sabido. Escrevo sobre isso quase todos os dias da minha vida: nada é mais importante ao investidor do que a diversificação e o uso de instrumentos de proteção.
Na Carteira Empiricus, por exemplo, usamos com frequência as puts (opções de venda) como ferramenta de hedge e defesa contra nossas próprias convicções.
Por mais otimista que eu esteja com o ciclo brasileiro (e, sim, eu continuo), sempre carrego lá, sob a brilhante ajuda do João Piccioni e do Fernando Ferrer (na verdade, eu que dou uma pequena ajuda para eles, os verdadeiros comandantes da performance estelar da Carteira), umas puts (digitei errado um “a" a mais aqui perigosíssimo) fora do dinheiro. São elas inclusive que têm dado uma boa ajuda para o portfólio nesse último estresse. Temos lá BOVAR82 e BOVAQ88, que sobem 233 por cento e 286 por cento desde o dia 19 de março, ajudando a proteger bem a Carteira.
Aqui preciso esclarecer o termo “proteger”. Não quero, com isso, dizer que o portfólio sugerido tenha passado incólume a todo esse sell-off. Não é o caso, mas tem ajudado muito. Esse é o ponto. No meio da tempestade, você não quer estar pronto pra balada. Você precisa apenas sobreviver, chegar do outro lado. Por isso é tão importante as proteções. Quando você mais precisa do dinheiro, na hora ruim, quando o mercado estiver em modo pânico, você terá algo à mão para tranquilizá-lo de que o retorno consolidado não vai ser tão negativo, porque os seguros serão acionados. A primeira coisa que o sujeito pensa quando bate o carro, supondo não haver ferimentos graves, é: eu tinha seguro? Se sim, estamos diante de outro nível de tranquilidade.
Gostaria muito de sugerir que o comportamento recente sirva como exemplo material da necessidade imperiosa de se manter instrumentos de hedge e proteção na carteira. E, claro, o seguro precisa ser feito antes de bater o carro. Compre essas coisas na hora boa, justamente quando parecer desnecessário. É um exercício difícil emocionalmente, de ir contra si mesmo e desafiar a aparente tranquilidade, mas seu bolso não está nem aí para suas emoções.
Mercados tentam se recuperar do tombo da véspera e abrem no positivo. Embora o sell-off dos ativos de risco brasileiro ontem tenha sido muito atribuída às desavenças entre Rodrigo Maia e Jair Bolsonaro, pra mim, a preocupação maior deriva da sinalização implícita na fala de Paulo Guedes de que, sem apoio, ele pode deixar o posto de ministro da Economia. “Eu não tenho apego ao cargo.” Ponderou que não deixaria a cadeira na primeira derrota; mas e na segunda?
O nível de risco associado a uma eventual saída de Guedes do governo aumentaria bastante. Estaríamos em outro patamar de incerteza e as reformas seriam colocadas em xeque — o presidente Jair Bolsonaro, em si, nunca foi um liberal stricto sensu.
Na eventualidade (bate na madeira) de Guedes deixar o ministério da Economia, seria péssimo, com uma reação bem ruim dos mercados. Mas, pra mim, não significaria o abandono da reforma. No final, acredito que a racionalidade acaba prevalecendo — é um princípio elementar da economia: os agentes são racionais; e mesmo que seja platônico, tudo bem, porque a reforma se impõe sozinha. Não haveria alternativa a isso além da real explosão do país. Previdência ou morte. Tocar a pauta fiscalista agora é instinto de sobrevivência, algo pertencente também aos animais irracionais.
Desde que escrevi a tese O Segundo Mandato Temer, aqui no sentido metafórico, claro, defendo que a reforma se impõe. Toda uma orientação de governo e uma equipe são de vertente liberal, fiscalista e reformista — não se trata apenas de Paulo Guedes, o que difere bastante da iniciativa de Dilma Rousseff com Joaquim Levy, que, não custa lembrar, também está no governo agora. Temos um time todo dessa vez e um presidente que, mesmo de maneira heterodoxa e não tão engajada quanto poderia, apoia a reforma.
Agenda doméstica traz Relatório Trimestral de Inflação, IGP-M de março e arrecadação federal. Nos EUA, saem PIB e pedidos de auxílio desemprego.
Ibovespa Futuro sobe 0,7 por cento (não se anime muito, porque ele descolou muito do índice à vista ontem à noite, com queda mais intensa), dólar e juros futuros caem.
Small cap que rendeu 12 vezes o Ibovespa em um ano tem potencial lucrativo ‘óbvio e gritante’, diz analista
Esta ação já disparou 30% em 2024, mas ainda é extremamente fora do radar e pode conquistar investidores com “momento operacional fantástico”, na visão de analista
Dividendos: Totvs (TOTS3) aprova R$ 129 milhões em juros sobre capital próprio (JCP); veja quem tem direito
Proventos serão imputados aos dividendos obrigatórios do exercício e serão pagos aos acionistas em 27 de dezembro deste ano
A carne é forte: Carrefour publica pedido de desculpas após CEO afirmar que lojas na França não venderiam mais carnes do Mercosul
O Carrefour Brasil defendeu que a medida anunciada por Bompard só teria validade para as unidades francesas da rede, mas lojas locais chegaram a registrar desabastecimento
Conselho da Braskem (BRKM5) aprova eleição de Roberto Prisco Ramos para a presidência. Saiba quando o novo CEO assumirá o cargo
Prisco Ramos foi indicado pela Novonor, acionista controladora da Braskem, como substituto de Roberto Bischoff ao cargo de diretor presidente
CVC (CVCB3) decola mais de 9% e lidera os ganhos do Ibovespa após proposta de pílula de veneno. O que isso significa para o investidor?
O desempenho positivo vem na esteira de uma série de anúncios corporativos na última semana, com uma proposta de mudanças relevantes no estatuto social da companhia
Questão fiscal não é o único problema: esses são os 6 motivos que inibem retorno dos investidores gringos para o Brasil, segundo o BTG Pactual
Nos últimos meses, o cenário internacional continuou a se deteriorar para a América Latina, o que prejudica o panorama para investir na região, de acordo com os analistas
Alto risco, alto retorno: BTG diz que ações desta construtora podem subir até 88% nos próximos meses e recomenda compra para os papéis
A companhia em questão negocia em um patamar de valor de mercado tão depreciado que, segundo o banco, mal reflete o valor de seu portfólio
Com lucro em alta, dividendos mais do que triplicam no 3T24. Confira quem foram as vencedoras e perdedoras da safra de resultados na B3
Os proventos consolidados de empresas da bolsa brasileira chegaram a R$ 148,5 bilhões em setembro, um salto de 228% comparado ao 3T23, de acordo a Elos Ayta Consultoria
Dividendos da Vale (VALE3), guinada da Embraer (EMBR3) e disparada da Oi (OIBR3): as mais lidas da semana no Seu Dinheiro
Matérias sobre empresas abertas em bolsa e suas ações foram as preferidas dos leitores do SD entre as publicadas na semana que passou
Nem BBDC4, nem SANB11: ‘para investir bem na bolsa você não precisa correr grandes riscos’, diz analista ao recomendar bancão ‘em promoção’
Analista explica por que vê a ação do Itaú (ITUB4) como a melhor dentre os “bancões” da bolsa brasileira
Dividendos e JCP: Banco do Brasil (BBAS3) vai depositar mais R$ 1 bilhão aos acionistas; BB já havia anunciado mais de R$ 2,7 bilhões neste mês
A bolada, que corresponde a R$ 0,17649109403 por ação ordinária, será paga a título de remuneração antecipada relativa ao quarto trimestre de 2024
Ação da CBA ganha fôlego na bolsa e sobe quase 6% após venda de participação da Alunorte; chegou a hora de incluir CBAV3 na carteira?
A siderúrgica se desfez da participação acionária na companhia, de 3,03%, por R$ 236,8 milhões para a Glencore
Ações da Petrobras (PETR4) saltam até 6% na bolsa e lideram altas do Ibovespa; analistas enxergam espaço para dividendos ainda maiores em novo plano estratégico
O detalhamento do plano estratégico 2025-2029 e um anúncio complementar de R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários impulsionam os papéis da petroleira hoje
Por que a JBS (JBSS3) anunciou um plano de investimento de US$ 2,5 bilhões em acordo com a Nigéria — e o que esperar das ações
O objetivo é desenvolver um plano de investimento de pouco mais de R$ 14,5 bilhões em cinco anos para a construção de seis fábricas no país africano
Bolsa caindo à espera do pacote fiscal que nunca chega? Vale a pena manter ações na carteira, mas não qualquer uma
As ações brasileiras estão negociando por múltiplos que não víamos há anos. Isso significa que elas estão baratas, e qualquer anúncio de corte de gastos minimamente satisfatório, que reduza um pouco os riscos, os juros e o dólar, deveria fazer a bolsa engatar um forte rali de fim de ano.
Mistério detalhado: Petrobras (PETR4) vai investir 11,9% a menos em 2025 e abre janela de até US$ 55 bilhões para dividendos; confira os números do Plano Estratégico 2025-2029
Já era sabido que a petroleira investiria US$ 111 bilhões nos próximos cinco anos, um aumento de 8,8% sobre a proposta anterior; mercado queria saber se o foco seria em E&P — confira a resposta da companhia
Em recuperação judicial, AgroGalaxy (AGXY3) planeja grupamento de ações para deixar de ser ‘penny stock’; saiba como será a operação
Empresa divulgou um cronograma preliminar após questionamentos da B3 no início deste mês sobre o preço das ações ordinárias de emissão da varejista
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital