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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Eleições 2018

Poderia ter trocado o debate pelo Netflix

Último debate presidencial girou em torno de Bolsonaro enquanto Haddad apanhou de Marina e Alvaro Dias

Eduardo Campos
Eduardo Campos
5 de outubro de 2018
6:01 - atualizado às 8:48
Montagem com presidenciáveis nas Eleições de 2018
Imagem: Rodrigo Freitas

- E aí? Vai ver o debate ou a entrevista do Bolsonaro?

- Vou ver Netflix.

Foi após essa conversa estimulante que acompanhei o último debate antes da eleição de domingo. Já ciente dos resultados da última pesquisa Datafolha e da reação das ações brasileiras negociadas no mercado externo. Uma alta de 3,3%, após queda de 1,06% no pregão regular, do iShares MSCI Brazil Capped ETF (EWZ).

Direto ao ponto. Se me perguntar se o debate tem força de mudar drasticamente o atual quadro mostrado pelas pesquisas. Digo que duvido muito.

Sem surpresa, Jair Bolsonaro foi o personagem do debate e apanhou pelas declarações do vice com relação ao 13º salário e propostas tributárias de Paulo Guedes. Contei umas 30 menções ao seu nome diretamente e foram outras tantas indiretas. E quase todas acompanhadas pelo substantivo “ódio”, que pareceu umas 15 vezes. Na entrevista após o debate Ciro Gomes chamou o candidato de “fenômeno nazista”.

No primeiro bloco dividi atenção entre a “Globo” e a “Record”, já que a emissora transmitia entrevista gravada com Bolsonaro. O capitão não falou nada de novo. Abatido, mais magro e sem o mesmo vigor no tom de voz, se defendeu das mesmas perguntas de sempre questionando: “será que eu quero o mal de todo mundo? Mulher, negro, nordestino...”

Falou que se o PT chegar ao poder será o fim da pátria, mas que vai reconhecer o resultado da eleição. Ainda assim, voltou a lamentar a decisão do STF que derrubou o voto impresso. Foi interrompido pela equipe médica mais de uma vez e pareceu cansado após pouco tempo falando.

Levanta e corta!

Enquanto isso, no debate, começava um jogo de vôlei. Um levantava e outro cortava contra Bolsonaro, que foi insistentemente cobrado por não comparecer, mas deu entrevista à “emissora concorrente”. No entanto, Marina Silva e Alvaro Dias mudaram o alvo algumas vezes e acertaram em cheio Fernando Haddad.

Marina, na verdade, bateu em quase todo mundo. Cobrou uma autocrítica de Haddad e relacionou o governo de Geraldo Alkmin à facção criminosa do PCC. Disse ainda que Bolsonaro “amarelou” ao não comparecer, foi interrompida por aplausos da plateia, e voltou a dizer que o capitão amarelou. Isso antes de dar a pancada em Haddad, dizendo que 50% não quer nem ele nem Bolsonaro. Haddad recorreu a Lula, dizendo que o líder das pesquisas é um preso político.

Fora de foco

O ataque de Álvaro Dias foi mais teatral. Com um papel dobrado na mão, disse que entregaria uma pergunta para Haddad levar ao verdadeiro candidato, pois ele apenas representava o Lula. Agitado na frente da câmera, Dias falou do “roubo” na Petrobras. Haddad pediu compostura e disse que ele brincava com coisa séria. Dias voltou à carga e disse que “vocês é que são uma brincadeira” governando. Puxou um número de US$ 20 bilhões sobre pagamento para encerrar processo de acionistas da Petrobras e disse que esse era o tamanho do roubo do PT. Repreendido novamente por estar fora da marcação da câmera, Dias disse que queria ficar de frente para Haddad. “O senhor não está situado no espaço”, disse o petista.

Ironia do sorteio

O outro embate foi quando Dias poderia escolher a quem perguntar e o tema sorteado foi corrupção. Risos na plateia. O candidato perguntou sobre conspiração contra a Lata Jato. Haddad abriu a cartilha e disse vai fortalecer os órgãos de combate, mas que tem de se impedir juiz de interferir no processo eleitoral. Dias não deixou por menos e disse que não tem como acreditar no candidato, já que ele afirma que Lula é um condenado sem provas e também evocou o ex-ministro Antonio Palocci. Haddad voltou a cartilha e disse que as leis atuais são do período do PT e que os procuradores da Lava Jato reconhecem isso e que antes “a sujeira era posta para debaixo do tapete”. Depois se enrolou um pouco e até cavou um túnel na avenida Águas Espraiadas em São Paulo, para falar de Paulo Maluf, que endossou sua candidatura a prefeito de São Paulo.

Fiquei com a impressão de que Álvaro Dias acabou atuando, em parte, como cabo eleitoral de Bolsonaro. Marina atacou a quase todos para se oferecer com a "única esperança", com uma postura de “amor”. Já Haddad não fez muitos ataques a Bolsonaro, algo também esperado.

Ciro atira até na Taurus

Ciro, para variar, foi o melhor orador, mesmo falando besteiras. Uma delas sobre o teto de gastos impedir investimento por 20 anos em saúde e educação. Foi prontamente corrigido por Henrique Meirelles, que explicou que essas despesas têm piso e não teto. Mas Meirelles não tem tino pra política, não disse que Ciro mentia, apenas que era uma “má informação”.

Ciro bateu em Bolsonaro em todas as oportunidades possíveis e quando parecia não ter oportunidade ele criava uma. Em um dos momentos de passe de bola com Haddad, no campo do meio ambiente, o petista falou em ruralistas arcaicos ligados a Bolsonaro. Na resposta, Ciro deu uma cutucada no PT, que ficou 14 anos no poder e não teve a audácia de fazer certas políticas no setor, mas conseguiu terminar com um “enfrentar o fascismo e radicalização estupida que representa o Bolsonaro”.

Quando discutia combate às drogas com Boulos, que mantém a mania de tentar imitar os trejeitos corporais de Lula, Ciro atirou contra a Taurus. Falou que as ações da fabricante de armas subiram 180% e que tem várias pessoas associadas a Bolsonaro ganhando com as pesquisas. Falou em país assaltado, como se alta das ações tivesse relação com os cofres públicos.

Alckmin bateu no PT e no Bolsonaro, mas do jeito Alckmin de ser. Tentou pedir que a população olhe para o centro. “Não podemos ir para um segundo turno de extremos”. Já passava da meia noite, tarde em muitos sentidos.

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