Nota triste — a XP quer mesmo democratizar os investimentos no Brasil?
A XP seguiu os mesmos passos da Vitreo e lançou, depois, dois fundos próprios para investir em suas ações, com direito a matéria no InfoMoney. Matéria da XP, sobre fundos da XP, para comprar ações da XP.
São Paulo, 12 de dezembro de 2019.
Caro Guilherme Benchimol,
Ou, talvez, a esta altura, eu deva escrever apenas “Querido Diário”.
Ontem tinha tudo para ser um dia feliz. Todas as condições estavam postas para a comemoração em todo o mercado de capitais brasileiro. Seria a estreia em Bolsa das ações da maior corretora nacional, focada nos investidores pessoas físicas e maior protagonista do discurso (ênfase em “discurso”) em prol da democratização dos bons investimentos, contra o oligopolizado sistema bancário. O IPO foi um tremendo sucesso. As ações foram precificadas acima do intervalo sugerido ex-ante, a empresa foi avaliada em mais de R$ 60 bilhões e os papéis encerraram seu primeiro pregão em alta de 27%.
Infelizmente, não foi. O dia 11 de dezembro de 2019 marcará para sempre uma nota triste na história do investidor de varejo brasileiro. A rigor, talvez marque mais do que isso: uma nota de falecimento do discurso sem sustentação em prol da democratização dos bons investimentos. Felizmente, a verdade continua filha do tempo, e máscaras caem no seu decorrer. A pessoa física, mais uma vez na história brasileira, ficou alijada de uma bela oportunidade de investimento. Estaremos para sempre condenados a isso?
A XP, por opção própria, deixou de fora o investidor pessoa física brasileiro de seu IPO, justamente o seu próprio cliente, a razão do sucesso da própria empresa, que a levou ao valor de mercado atual de vários bilhões de dólares.
Leia Também
Ela poderia ter aberto o capital aqui mesmo na B3, onde há oferta prioritária ao varejo. Mas ok. Consigo entender as razões da listagem lá fora. Menos burocracia, a necessidade de manter o controle da empresa (Guilherme, releia a carta original, esse ponto já aparecia lá — talvez a raiva e a falta de autocrítica tenham lhe tirado a concentração) e um valuation mais esticado (podem não assumir para fora, mas nada me convencerá de que esse não é também um fator importante, ainda que não prioritário) oferecem elementos razoáveis para a escolha.
Agora, depois que a Vitreo criou dois fundos para investir nas ações e deu a oportunidade de as pessoas físicas se exporem indiretamente aos papéis, não havia mais desculpas para excluir o investidor brasileiro disso. Se a XP queria mesmo dar ao investidor local acesso às melhores oportunidades e se o discurso de que “o cliente é prioridade” fosse minimamente verdadeiro (ênfase em minimamente), bastava alocar ações da empresa para os fundos da Vitreo. Problema resolvido, matamos a ambivalência.
Ao optar por excluir a Vitreo do book, a XP frustrou a expectativa de 12 mil investidores — em sua maioria, imagino, clientes da própria XP e interessados em partilhar do sucesso da empresa que eles mesmos ajudaram a erguer. Ainda acho que esses investidores estão em boas mãos. A Vitreo é uma excepcional gestora e as ações da XP seguem com grande potencial — do lado de cá do muro, não se misturam as coisas. A decisão de investir em um dos fundos, para mim, segue acertada. Mas seria muito mais interessante, claro, se todos pudessem ter comprado no preço do IPO. Foi a XP quem retirou do bolso desses 12 mil investidores o lucro derivado da alta das ações na estreia da Nasdaq ontem — uma disparada expressiva, que mudaria retornos anuais e, por que não dizer, retornos de uma década. Dois dígitos altos num único dia representam um evento raro.
Ainda somos obrigados a ler, sem qualquer constrangimento, que “nossos clientes [da XP] são a razão da nossa existência”. Se fosse mesmo dada alguma prioridade ao cliente da XP — o investidor pessoa física —, não lhe teria sido retirada a chance de participar do IPO. Se fosse mesmo “uma honra juntar mais de 200 brasileiros aqui em Nova York”, teríamos juntado dezenas de milhares de brasileiros no próprio IPO. E eu também sou fã do Ayrton Senna, mas, se queremos mesmo mostrar orgulho de sermos brasileiros e valorizar o nosso mercado, não é vestindo a bandeira do Brasil o melhor caminho. Palavras não pagam dívidas. Havia um único jeito de o Brasil ter participado desse IPO: comprando as ações. O resto é jogar para a torcida, discurso desprovido de qualquer apego à realidade.
O Brasil é mesmo excêntrico. Como tenho dito, diante da força da XP e da fraqueza de seus concorrentes diretos, conseguimos sair de um sistema oligopolizado dos bancos para outro monopolizado fora deles em investimentos — talvez essa seja mesmo uma dinâmica do tipo “winner takes all”; eu não sei, tomara que não, porque a XP realmente precisa de um antagonista, alguém que vá, na vida real, colocar o interesse do cliente no centro. E digo mais: isso vai ser bom até para a própria XP. A concorrência faz você ficar melhor. É um dos benefícios do liberalismo.
Um dos problemas do monopólio, além do fato óbvio de que ele acaba com qualquer excedente do consumidor, é a ausência do contraditório e da autocrítica, esse elemento tão raro geneticamente ligado à inteligência. A XP tem contado uma narrativa egocêntrica, narcísica, de heroísmo e de perfeição. Até aí, beleza. Cada um conta a história que quiser e trata de suas neuroses como achar melhor. A questão aqui é que a XP tem acreditado nas próprias mentiras, tendo catequizado também boa parte da imprensa (a brilhante coluna de Fernando Torres no Valor Investe é uma rara exceção) nessa construção ideológica. Se você hoje faz 298 elogios à XP e duas críticas, pronto! Todo o exército é acionado contra você por conta daquele pequeno comentário apontando a fragilidade, por mais que ele seja preciso e cristalino e por mais que sua profissão seja a de dar opiniões.
Vai além. Converse com gestores de fundos imobiliários. Pergunte a opinião deles sobre a XP — em especial daqueles com emissão de cotas em curso. Tentativas de novas ofertas distribuídas fora do Grupo XP são, não raro, rebatidas com: “Ok, se você for atraído por outra casa diante de uma menor taxa de distribuição e estruturação por lá, nós pararemos imediatamente de distribuir qualquer outro fundo de sua gestora”. E assim vamos perpetuando taxas absolutamente despropositadas, porque todos têm medo da concentração de passivo hoje na XP. Sim, está acontecendo agora, bem debaixo do nosso nariz. Essa é a postura de quem quer desenvolver o mercado e democratizar os investimentos?
Alguém discordaria do fato de que o modelo de agentes autônomos é, sem dúvida, um avanço sobre o modelo de gerentes de bancos, mas ainda assim convive com o mesmo conflito de interesses em sua essência? Houve, sim, uma conquista relevante, mas ela, em nada, endereça a essência do problema. Não é óbvio que qualquer tipo de análise vinda do Grupo XP venha carregada de conflito de interesses?
Ou, de outro modo, alguém seria contra o argumento de que há uma contradição em dizer que se privilegia o cliente — no caso, o investidor brasileiro — e abre-se o capital lá fora, onde não há oferta prioritária de varejo? Desculpe, o investidor não foi tratado como prioridade. E ponto final. De novo, eu entendo os motivos. Mas os motivos não mudam o fato de que a pessoa física, o cliente da XP, aquele que é a razão de seu sucesso, foi deixado de fora do IPO. Houve uma escolha, e ela não foi pelo interesse do cliente. E aqui nem é uma opinião, é um fato. Por que ninguém pressiona e questiona a XP a respeito? Além do monopólio econômico, teremos também de conviver com a imposição do monopólio de opiniões e das versões? Quando a XP apontava as fragilidades dos bancos, era ótimo. Agora, quando alguém aponta as fragilidades da XP, não vale?
Quando a Vitreo lançou os tais produtos e devolveu ao investidor a chance de participar do IPO, a XP reagiu de imediato dizendo que não alocaria nos fundos locais, sob o risco de os órgãos reguladores identificarem aí qualquer tipo de oferta irregular. Então, a CVM se pronunciou e derrubou o argumento da XP. Ah, daí surgiram outras pseudorrazões. A Vitreo não teria assinado a tal carta de conforto e cobrava taxa de performance nos fundos. Ok, Guilherme, foram endereçadas essas questões também. E agora, que não resta qualquer tipo de ressalva, haverá alocação? A resposta veio na prática: não. O investidor brasileiro, mesmo depois de tudo que foi feito, seguiu de fora. Outros interesses foram privilegiados.
Não bastasse tudo isso, a XP seguiu os mesmos passos da Vitreo e lançou, depois, dois fundos próprios para investir em suas ações, com direito a matéria no InfoMoney. Matéria da XP, sobre fundos da XP, para comprar ações da XP. Está aí um grupo que acredita na verticalização!
A imagem abaixo, que recebi de um assinante fiel, não poderia descrever melhor a dinâmica da coisa. O humor é a melhor resposta.
Se eu fosse a Vitreo, me sentiria honrado. A cópia é a maior das homenagens.
No final do dia, resta uma pergunta no ar: quem é que realmente está fazendo algo concreto (discurso não vale!) pelo investidor pessoa física brasileiro?
Em recuperação judicial, AgroGalaxy (AGXY3) planeja grupamento de ações para deixar de ser ‘penny stock’; saiba como será a operação
Empresa divulgou um cronograma preliminar após questionamentos da B3 no início deste mês sobre o preço das ações ordinárias de emissão da varejista
Vale (VALE3) é a nova queridinha dos dividendos: mineradora supera Petrobras (PETR4) e se torna a maior vaca leiteira do Brasil no 3T24 — mas está longe do pódio mundial
A mineradora brasileira depositou mais de R$ 10 bilhões para os acionistas entre julho e setembro deste ano, de acordo com o relatório da gestora Janus Henderson
‘O rali ainda não acabou’: as ações desta construtora já saltam 35% no ano e podem subir ainda mais antes que 2024 termine, diz Itaú BBA
A performance bate de longe a do Ibovespa, que recua cerca de 4% no acumulado anual, e também supera o desempenho de outras construtoras que atuam no mesmo segmento
“Minha promessa foi de transformar o banco, mas não disse quando”, diz CEO do Bradesco (BBDC4) — e revela o desafio que tem nas mãos daqui para frente
Na agenda de Marcelo Noronha está um objetivo principal: fazer o ROE do bancão voltar a ultrapassar o custo de capital
O Google vai ser obrigado a vender o Chrome? Itaú BBA explica por que medida seria difícil — mas ações caem 5% na bolsa mesmo assim
Essa seria a segunda investida contra monopólios ilegais nos EUA, desde a tentativa fracassada de desmembrar a Microsoft, há 20 anos
Nvidia (NVDC34) vê lucro mais que dobrar no ano — então, por que as ações caem 5% hoje? Entenda o que investidores viram de ruim no balanço
Ainda que as receitas tenham chegado perto dos 100% de crescimento, este foi o primeiro trimestre com ganhos percentuais abaixo de três dígitos na comparação anual
Que crise? Weg (WEGE3) quer investir US$ 62 milhões na China para aumentar capacidade de fábrica
O investimento será realizado nos próximos anos e envolve um plano que inclui a construção de um prédio de 30 mil m², com capacidade para fabricação de motores de alta tensão
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
É hora de colocar na carteira um novo papel: Irani (RANI3) pode saltar 45% na B3 — e aqui estão os 3 motivos para comprar a ação, segundo o Itaú BBA
O banco iniciou a cobertura das ações RANI3 com recomendação “outperform”, equivalente a compra, e com preço-alvo de R$ 10,00 para o fim de 2025
Em busca de dividendos? Curadoria seleciona os melhores FIIs e ações da bolsa para os ‘amantes’ de proventos (PETR4, BBAS3 e MXRF11 estão fora)
Money Times, portal parceiro do Seu Dinheiro, liberou acesso gratuito à carteira Double Income, que reúne os melhores FIIs, ações e títulos de renda fixa para quem busca “viver de renda”
R$ 4,1 bilhões em concessões renovadas: Copel (CPLE6) garante energia para o Paraná até 2054 — e esse banco explica por que você deve comprar as ações
Companhia paranaense fechou o contrato de 30 anos referente a concessão de geração das usinas hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Equatorial (EQTL3) tem retorno de inflação +20% ao ano desde 2010 – a gigante de energia pode gerar mais frutos após o 3T24?
Ações da Equatorial saltaram na bolsa após resultados fortes do 3º tri; analistas do BTG calculam se papel pode subir mais após disparada nos últimos anos
‘Mãe de todos os ralis’ vem aí para a bolsa brasileira? Veja 3 razões para acreditar na disparada das ações, segundo analista
Analista vê três fatores que podem “mudar o jogo” para o Ibovespa e a bolsa como um todo após um ano negativo até aqui; saiba mais
Grupo Mateus: Santander estabelece novo preço-alvo para GMAT3 e prevê valorização de 33% para as ações em 2025; saiba se é hora de comprar
O banco reduziu o preço-alvo para os papéis da varejista de alimentos em relação à 2024, mas mantém otimismo com crescimento e parceria estratégica
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) voltam a ficar no radar das privatizações e analistas dizem qual das duas tem mais chance de brilhar
Ambas as empresas já possuem capital aberto na bolsa, mas o governo mineiro é quem detém o controle das empresas como acionista majoritário
Lucro dos bancos avança no 3T24, mas Selic alta traz desafios para os próximos resultados; veja quem brilhou e decepcionou na temporada de balanços
Itaú mais uma vez foi o destaque entre os resultados; Bradesco avança em reestruturação e Nubank ameaça desacelerar, segundo analistas
Warren Buffett não quer o Nubank? Megainvestidor corta aposta no banco digital em quase 20% — ação cai 8% em Wall Street
O desempenho negativo do banco digital nesta sexta-feira pode ser explicado por três fatores principais — e um deles está diretamente ligado ao bilionário