Moeda única entre Brasil e Argentina parece piada, mas na verdade é sonho antigo de Paulo Guedes
A criação do “peso real” foi jogada no ar em encontro na Argentina e virou assunto sério, principalmente por lá, onde o desespero imposto pela crise econômica faz os Hermanos se apegarem a qualquer coisa

Ontem, às 22h43, recebi no grupo de jornalistas do Banco Central (BC) uma nota à imprensa surreal: “O Banco Central do Brasil não tem projetos ou estudos em andamento para uma união monetária com a Argentina”. Minha primeira reação: “mas que coisa é essa?”
Tinha passado o dia acompanhando as discussões no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre privatização e findo o julgamento, desliguei-me do noticiário (na verdade fui tomar um chope). Não sabia que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes tinham falado sobre um plano envolvendo a criação de uma moeda única para Brasil e Argentina, que já tem até nome: “peso real”.
Enquanto buscava me inteirar do fato ainda ontem, dei de cara com notícias da imprensa portenha cotando empresários de lá falando que o assunto tinha sido tratado em uma reunião com o que seria a CNI dos argentinos. Logo pensei: “esse argentino está fazendo piada, isso é um chiste.”
Continuei lendo a imprensa argentina e depois a nacional até que constatei que não. Está se falando sério! Como assim? Se pensar em união monetária com uma economia que caminha para o rumo da Venezuela? Primeira analogia que me veio foi a zona do euro e a Alemanha carregando a Grécia e os demais PIGS.
Enfim, fui tentar tirar essa história a limpo e conversei com gente aqui de Brasília e de fora. Não é uma piada não. A criação do “peso real” é, de fato, um sonho antigo do ministro Guedes, que também batizou a nova moeda.
Em busca de evidências do que tinha ouvido, me deparei com o trabalho dos colegas da “Época”, que resgaram um artigo de abril de 2008, no qual Guedes falava em um “sonho ainda maior da integração latino-americana, em que o catalisador é a meta de uma moeda única – o peso-real”.
Leia Também
“Liquidem agora”, ordena Milei. A decisão da Argentina que deve favorecer o Brasil
Fui alertado por outro interlocutor que o “peso real” não é um devaneio do ministro, é uma ideia dele, mas que até o momento não tinha nenhum tipo de conversa firme dentro do governo.
As coisas podem mudar já que leio no “UOL” que Bolsonaro se disse favorável a estudos sobre o tema e usou a palavra “sonho” para caracterizar a ideia de “uma moeda única na região do Mercosul”.
Sempre que o governo quer se livrar de um assunto ou não sabe o que fazer, cria um grupo de trabalho ou de estudo, o famoso GT. Vamos ver se o peso real terá esse destino.
Também no “UOL”, vejo que Guedes fez uma avaliação mais ampla, afirmando que no futuro é possível que tenhamos apenas cinco moedas no mundo e que a integração na América Latina poderia, eventualmente, levar a essa moeda única, mas sem compromisso com prazos.
Temos de concordar que o ministro tem consistência em seus sonhos.
Por aqui, o assunto deve ficar zunindo no noticiário por mais alguns dias até desaparecer ante outras prioridades, como reforma da Previdência, regra de ouro, ou de alguma “crise” de articulação política.
Falando em política, um breve adendo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, usou o “Twitter” para comentar as notícias envolvendo o peso real.
https://twitter.com/RodrigoMaia/status/1136938834686631936?s=20
Mas lá na Argentina, pelo que pude acompanhar, a coisa está sendo levada bastante a sério. É como me disse um amigo, o país está afundando e quer uma boia, qualquer boia para tentar se agarrar.
Temos de lembrar, também, que Mauricio Macri, enfrenta as urnas em outubro e nosso governo não quer ver os Kirchner de volta. Acenar alguma saída, mesmo que seja sonho, pode dar algum capital político a Macri.
No fim, um amigo bem-humorado me perguntou: "será que foi isso que o Guedes quis dizer quando afirmou que o Brasil evitou virar uma Venezuela, mas não uma Argentina?". Recentemente, o ministro deu declarações de que a eleição de Bolsonaro teria evitado que o Brasil tomasse o caminho dos venezuelanos, mas não o dos argentinos.
Segundo ele, as reformas de agenda liberal por lá não foram profundas o suficiente, motivo pelo qual a inflação volta a assombrar o país.
De volta a 2011 e à crise do Euro
União monetária pressupõe uma série de requisitos, como contas fiscais em dia, coisa que os dois pretendentes estão sonhando em conseguir.
Antes de se pensar em moeda única as regiões envolvidas têm de desenhar um Tesouro Único, algo que falta até hoje na zona do euro e que explica a crise que tivemos por lá em 2011.
Enquanto escrevia esse texto, lembrei de algo que escrevi em 2011, justamente quando acompanhávamos a crise do euro e as ações do BCs para conter a sangria.
No fim dos anos 1990, dois ganhadores de prêmio Nobel fizeram previsões antagônicas sobre o euro.
Robert Mundell via sua teoria de moeda única se realizar e acreditava que a Europa tinha todas as condições necessárias para a formação do que ele chamava de “optimum currency area”.
Já Milton Friedman falou que o euro seria testado pela primeira grande recessão mundial (ele acertou). Em 2002, Friedman voltou à carga e falou de forma taxativa que o euro entraria em colapso dentro de cinco a 15 anos (foi por pouco).
O raciocínio de Friedman é simples. Quando um país abre mão de sua moeda, ele joga fora um dos principais mecanismos de ajuste a choques econômicos, a taxa de câmbio.
Não é por acaso que o nosso BC não gosta da ideia de moeda única. Em toda comunicação oficial, independentemente do presidente que está no comando, o BC diz que a taxa de câmbio é a primeira linha de defesa contra choques externos.
Respira, mas não larga o salva-vidas: Trump continua mexendo com os humores do mercado nesta terça
Além da guerra comercial, investidores também acompanham balanços nos EUA, PIB da China e, por aqui, relatório de produção da Vale (VALE3) no 1T25
Temporada de balanços 1T25: Confira as datas e horários das divulgações e das teleconferências
De volta ao seu ritmo acelerado, a temporada de balanços do 1T25 começa em abril e revela como as empresas brasileiras têm desempenhado na nova era de Donald Trump
Vai dar para ir para a Argentina de novo? Peso desaba 12% ante o dólar no primeiro dia da liberação das amarras no câmbio
A suspensão parcial do cepo só foi possível depois que o governo de Javier Milei anunciou um novo acordo com o FMI no valor de US$ 20 bilhões
Smartphones e chips na berlinda de Trump: o que esperar dos mercados para hoje
Com indefinição sobre tarifas para smartphones, chips e eletrônicos, bolsas esboçam reação positiva nesta segunda-feira; veja outros destaques
Dólar livre na Argentina: governo Milei anuncia o fim do controle conhecido como cepo cambial; veja quando passa a valer
Conhecido como cepo cambial, o mecanismo está em funcionamento no país desde 2019 e restringia o acesso da população a dólares na Argentina como forma de conter a desvalorização do peso
Dia de ressaca na bolsa: Depois do rali com o recuo de Trump, Wall Street e Ibovespa se preparam para a inflação nos EUA
Passo atrás de Trump na guerra comercial animou os mercados na quarta-feira, mas investidores já começam a colocar os pés no chão
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
Partiu Argentina? Três restaurantes recebem estrela Michelin em 2025; veja quais
Guia francês reconheceu dois estabelecimentos em Mendoza e um em Buenos Aires
Javier Milei no fogo cruzado: guerra entre China e EUA coloca US$ 38 bilhões da Argentina em risco
Enquanto o governo argentino busca um novo pacote de resgate de US$ 20 bilhões com o FMI, chineses e norte-americanos disputam a linha de swap cambial de US$ 18 bilhões entre China e Argentina
Wall Street sobe forte com negociações sobre tarifas de Trump no radar; Ibovespa tenta retornar aos 127 mil pontos
A recuperação das bolsas internacionais acompanha o início de conversas entre o presidente norte-americano e os países alvos do tarifaço
Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?
Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária
Após o ‘dia D’ das tarifas de Trump, ativo que rende dólar +10% pode proteger o patrimônio e gerar lucros ‘gordos’ em moeda forte
Investidores podem acessar ativo exclusivo para buscar rentabilidade de até dólar +10% ao ano
Com eleições de 2026 no radar, governo Lula melhora avaliação positiva, mas popularidade do presidente segue baixa
O governo vem investindo pesado para aumentar a popularidade. A aposta para virar o jogo está focada principalmente na área econômica, porém a gestão de Lula tem outra carta na manga: Donald Trump
Brasil x Argentina na bolsa: rivalidade dos gramados vira ‘parceria campeã’ na carteira de 10 ações do BTG Pactual em abril; entenda
BTG Pactual faz “reformulação no elenco” na carteira de ações recomendadas em abril e tira papéis que já marcaram gol para apostar em quem pode virar o placar
O combo do mal: dólar dispara mais de 3% com guerra comercial e juros nos EUA no radar
Investidores correm para ativos considerados mais seguros e recaculam as apostas de corte de juros nos EUA neste ano
Um café e um pão na chapa na bolsa: Ibovespa tenta continuar escapando de Trump em dia de payroll e Powell
Mercados internacionais continuam reagindo negativamente a Trump; Ibovespa passou incólume ontem
Lula reclama e Milei “canta Queen”: as reações de Brasil e Argentina às tarifas de Trump
Os dois países foram alvo da alíquota mínima de 10% para as exportações aos EUA, mas as reações dos presidentes foram completamente diferentes; veja o que cada um deles disse
Eleições 2026: Lula tem empate técnico com Bolsonaro e vence todos os demais no 2º turno, segundo pesquisa Genial/Quaest
Ainda segundo a pesquisa, 62% dos brasileiros acham que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deveria se candidatar à reeleição em 2026
Efeito Trump? Dólar fica em segundo plano e investidores buscam outras moedas para investir; euro e libra são preferência
Pessimismo em relação à moeda norte-americana toma conta do mercado à medida que as tarifas de Trump se tornam realidade
Dólar dispara com novas ameaças comerciais de Trump: veja como buscar lucros de até dólar +10% ao ano nesse cenário
O tarifaço promovido por Donald Trump, presidente dos EUA, levou o dólar a R$ 5,76 na última semana – mas há como buscar lucros nesse cenário; veja como