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Eduardo Campos
Diário dos 100 dias
Eduardo Campos conta os bastidores do início do governo
Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
dia 42

Igreja, crédito direcionado e o Piauí

Presidente pode deixar hospital nesta semana e dar andamento à reforma da Previdência. Agronegócio reclama de ações para cortar crédito subsidiado e tarifas de importação

Eduardo Campos
Eduardo Campos
11 de fevereiro de 2019
18:30 - atualizado às 14:12

O presidente Jair Bolsonaro segue internado em São Paulo, mas seu quadro melhora e ele já deixou a a unidade de terapia semi-intensiva. É possível que ele deixe o hospital ainda nesta semana. O retorno de Bolsonaro a Brasília seria o gatilho para o governo “voltar a andar”, já que a reforma da Previdência, e outras medidas aguardam o aval dele para seguir adiante. O porta-voz da Presidência, general Rêgo Barros, disse que estaria descarta, inicialmente, a apresentação da reforma no hospital. Ao longo do fim de semana, notícias dando conta de que o governo estaria preocupado com a postura de parte da igreja católica, conhecida como “clero progressista”, que usaria de evento no Vaticano para criticar Bolsonaro.

No lado econômico, atritos não surpreendentes surgem com a orientação do governo de reduzir crédito direcionado e revisar tarifas impostas a produtos importados. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reagiu ao aceno de Paulo Guedes de reduzir crédito a juros subsidiados ao setor. “Desmame de subsídios não pode ser radical”. Ainda no setor, a retirada de tarifa antidumping de leite em pó gerou enorme insatisfação, e já havia notícia de que Bolsonaro cedeu às reclamações e a tarifa protetiva voltará a ser aplicada. Temos aqui só uma amostra do tamanho do desafio que é “desestatizar o mercado de crédito” e promover a abertura comercial do país. Sempre que me deparo com essas notícias me lembro de uma frase que não sei o autor: "Se Thomas Edison fosse brasileiro, ele seria derrotado pelo lobby dos fabricantes de vela".

Sobre a reforma da Previdência, notícia do “Valor” nos informa que Bolsonaro voltou a defender critério regional para definir idade mínima. A notícia mostra uma insistente e pouco produtiva confusão entre expectativa de vida ao nascer e expectativa de sobrevida depois dos 60 anos, por exemplo. Indo direto ao ponto, pouco importa em termos de previdência que a expectativa de vida do Piauí (sempre citado) é de 69 anos, o que importa é que quem chega aos 60 anos ou mais tem expectativa de sobrevida praticamente igual a do restante do país, na casa de 20 anos. Além disso, o pessoal de menor renda já se aposenta por idade, pois não consegue completar os anos exigidos de contribuição. Colocando de outra forma, se aposenta mais cedo quem tem maior renda. A instituição de uma idade mínima deixaria essa equação mais justa.

A “boa notícia” veio de pesquisa do BTG Pactual e FSB, mostrando que a reforma tem apoio de 82% da Câmara e 89% do Senado. A boa notícia vem entre aspas, pois quando se apresentam alguns detalhes não há consenso ou vontade de “mudar o que está aí”. Não há entendimento sobre idade mínima, capitalização e modelo de transição. A batalha vai ser dura e, por ora, o que se intui é que teremos reforma, mas não temos ideia de qual reforma. São os “detalhes” que garantem (ou não) a sustentabilidade fiscal pretendida.

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