Gestor do maior fundo de investimentos do mundo está pessimista
Ray Dalio, da Bridgewater Associates, acredita que os investidores devem se acostumar com retornos menores no mercado americano e que o ambiente atual remonta o fim dos anos 1930
O gestor da Bridgewater Associates, com cerca de US$ 160 bilhões sob administração, Ray Dalio, engrossou o coro das grandes figuras de mercado que a acredita que a economia americana está em um fim de ciclo e que os próximos anos não devem ser tão brilhantes para o mercado de ações americano.
Em entrevista à “Bloomberg”, Dalio acredita que já “esprememos” muito o mercado de ações dos Estados Unidos e que os investidores devem se acostumar a com um ambiente de menores retornos “por um período muito, muito longo”.
A tese de Dalio é parecida com a de outros especialistas, como Howard Marks, da Oak Tree, e Jesse Colombo, da Clarity Financial. O período de juros extremamente baixos promovidos pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano, e outros BCs, deixaram o mercado de ações bastante “suculento”, mas que esse período já cumpriu boa parte do seu curso.
Juros baixos por longo tempo e injeções de liquidez estimularam as atividades de fusão e aquisição e recompra de ações, impulsionando para cima o preço dos ativos. Somado a isso também ocorreram reduções de impostos sobre as empresas. “Impulsionamos o preço dos ativos para níveis em que é difícil ver onde você pode tirar mais”, disse.
Alerta semelhante também foi feito em palestra recente do gestor da SPX, Rogério Xavier, que vê um tsunami vindo em direção ao Brasil.
Além disso, esse período de juro baixo estimulou a tomada de dívida no que o Dalio afirma ser uma “alavancagem longa” da economia.
“Você pode esperar retornos mais baixos e mais impostos. Essa vai ser a natureza da fera”, afirmou.
Dalio também voltou a falar na possível perda de poder do dólar e como isso vai impactar os mercados de ativos. A preocupação é com o crescente déficit americano e como os grandes financiadores podem querer deixar de manter os títulos da dívida em carteira.
O gestor também avalia que o mundo parece muito com o fim dos anos 1930, com aumento da polarização política na forma de políticos populistas e com os mercados em fim de clico de negócios e ações que bateram as máximas.
Em janeiro, Dalio também tinha ganhando as manchetes dos principais veículos de economia ao dizer, em entrevista no Fórum Econômico Mundial, que “se você estiver com posição em dinheiro, você vai se sentir muito estúpido”. A conversa acontecia em um contexto de expectativa com o rumo do S&P 500 que vinha batendo sucessivos recordes históricos de alta.
Naquele momento, Dalio enxergava um cenário extremamente favorável, com inflação baixa, crescimento forte e estímulos fiscais dando sustentação à economia e ao mercado de ações. O porém era justamente a possibilidade de três altas de juros pelo Fed. Algo que não só aconteceu, como o Fed está indo para uma quarta elevação agora em dezembro.
E o Brasil com isso?
Por aqui, as expectativas com o novo governo são boas, mas o que parece que está se concretizando é que as necessárias medidas de ajuste fiscal terão de ser tomadas em um ambiente global mais desafiador, que invariavelmente vai se refletir nos mercados e na tolerância dos investidores.
Ao longo dos últimos pregões temos assistido a dificuldade do Ibovespa, principal índice de ações da B3, conseguir se descolar dos dias bastante negativos que temos visto nos mercados americanos. Como disse um amigo operador, o “S&P 500 estrou a festa novamente”. E as bolsas americanas seguem em firma baixa nesta terça-feira, dia de feriado para os mercados por aqui.
Como bem nos disse em recente entrevista o gestor da Ibiuna, Rodrigo Azevedo, em momentos de menor liquidez e maior volatilidade global a capacidade dos investidores em dar o benefício da dúvida e tolerar erros é menor.
A dúvida é se um ambiente externo mais hostil, com reflexo nos preços por aqui, pode servir de estímulo ou atraso à aprovação de reformas e outros ajustes necessários para afastar as dúvidas sobre a solvência do país. Pelo que vi aqui em Brasília, quando o caldo entorna é maior a chance de o Congresso de mexer mais rápido.