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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
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Fluxo cambial mostra maior fuga de dólares do país desde 1999

Observando janelas de 12 meses, fluxo cambial é negativo em US$ 28,643 bilhões em junho, algo não visto desde que abandonamos o regime de bandas cambiais

Eduardo Campos
Eduardo Campos
3 de julho de 2019
14:12 - atualizado às 18:23
dólar cotação
Imagem: Shutterstock

Tem alguma coisa acontecendo no mercado de câmbio brasileiro e isso tem transparecido nas recentes declarações do diretor de política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra Fernandes. E parte dessa “coisa” pode ser traduzida pela leitura dos dados do fluxo cambial.

Atualizados nesta quarta-feira, os números mostram que a saída de dólares superou a entrada em US$ 8,286 bilhões em junho, sendo que esse buraco foi feito na última semana, com saída de US$ 8,628 bilhões. Não por acaso, o BC entrou para estancar a sangria, fazendo leilões de linha com compromisso de recompra.

Mas o quadro fica ainda mais intrigante se ampliarmos um pouco a janela de análise. Em 12 meses até junho, o fluxo cambial é negativo em impressionantes US$ 28,643 bilhões, saída dessa monta não era vista desde o começo de 1999, pouco depois de o país adotar o regime de câmbio flutuante.

Abrindo os dados em 12 meses, temos uma saída na conta financeira de US$ 56,821 bilhões, maior desde os 12 meses encerrados em setembro de 2016 (US$ 58,555 bilhões). Na conta comercial o ingresso é de US$ 28,178 bilhões, menor desde dezembro de 2015.

O que está acontecendo?

Entre os pontos mencionados pelo diretor Bruno Serra em evento no fim de junho, ponto que chama atenção foi a avaliação de que: “a evolução do mercado local de capitais abriu espaço ainda para substituição do financiamento no mercado internacional por emissões de títulos de dívida no mercado interno. Efeito não intencional disso, no entanto, tem sido o menor fluxo de moeda estrangeira para o país em 2019 quando comparado ao mesmo período de anos anteriores”. O diretor já tinha tratado disso em outra ocasião (links abaixo).

Além disso, o diretor afirmou que “temos observado sinais de escassez da liquidez em dólares no mercado local, que se acentua nas viradas de trimestres”.

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Cumprindo com seu papel, disse o diretor, o BC “tem procurado suavizar a menor oferta de dólares no mercado ofertando leilões de linha”, que apresentam um estoque de cerca de US$ 14 bilhões.

Até aqui, a linha de raciocínio é relativamente simples, o desenvolvimento do mercado local estimula a troca de financiamento externo por doméstico. Por isso da saída de dólar.

Mas temos de somar aqui, outro vetor, que é a queda do diferencial entre juros domésticos e externos, que deixa as operações de carry trade menos atrativas, e o impacto disso no mercado de cupom cambial (juro em dólar no mercado doméstico).

O BC tem de atuar para aliviar a pressão sobre o cupom cambial e faz isso ofertando dólares no mercado à vista, dando vazão à demanda. Quem atua nisso também são os bancos, que tem acesso a linhas de dólares no mercado externo e dependendo das condições de mercado, pegam dólares lá fora para atender à demanda por aqui.

Não por acaso, os bancos fecharam o mês de junho com um estoque de posição vendida de US$ 30,867 bilhões, maior desde o recorde de US$ 35,936 bilhões, vista em setembro de 2016.

Temos de considerar dentro dessa posição dos bancos as linhas ofertadas pelo BC, que estão na casa dos US$ 14 bilhões, como vimos acima.

No entanto, algo parece estar limitando essa capacidade dos bancos em tomar linhas externas e a questão passa pelo cupom cambial e pela posição de swaps cambiais do BC, que são operações no mercado futuro que somam mais de US$ 70 bilhões, e que também têm impacto sobre o cupom.

Não por acaso, o diretor também falou que ao longo dos últimos anos, o custo para o mercado carregar esse estoque de swaps aumentou, inclusive quando comparado a outros países emergentes.

Disse, ainda, que as alterações na regulação prudencial após a crise financeira de 2008 e a perda do grau de investimento pelo Brasil, além de aumentarem o requerimento de capital para bancos financiarem este volume de posição vendida, reduziu a base de investidores internacionais para Brasil.

“Assim como já dissemos que não temos qualquer preconceito em relação a utilização de quaisquer instrumentos, quando e se as condições para tal estiverem presentes, é também nosso dever reavaliar continuamente os custos e benefícios relativos entre eles, e se for o caso, oferecer alternativas”, disse o diretor, no que foi interpretado, inicialmente, como um sinal de mudança na política de atuação cambial do BC, algo posteriormente afastado por Roberto Campos Neto.

Ainda assim, esses números nos mostram que há uma dinâmica diferente no mercado de câmbio brasileiro que ainda está se consolidando. Uma das consequências pode ser uma menor volatilidade da taxa de câmbio.

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