É possível viver de renda?
Parar de trabalhar e viver de renda... quem não quer, não é mesmo? Independência financeira para poder curtir a vida ou trabalhar apenas com o que dá vontade.
Qualquer reportagem sobre jovens na faixa dos 30 que já “se aposentaram” faz muito sucesso. Alcançar esse objetivo não é tarefa fácil, é verdade. Mas com planejamento e disciplina é factível.
Mesmo que você não esteja no time das pessoas ávidas por pendurar as chuteiras o mais rápido possível, certamente já pensou em fazer um bom planejamento de aposentadoria para poder, ao menos, ter um bom padrão de vida quando for mais velho.
Independentemente da fase da vida em que você deseje parar de trabalhar, para viver de renda você precisa juntar recursos suficientes para conseguir se manter apenas com os seus rendimentos, gerados por aplicações financeiras, sem consumir o principal.
Como você não sabe por quanto tempo irá viver, essa é a forma mais segura para o seu dinheiro não acabar.
Como viver de renda?
Mas quanto juntar para gerar a renda desejada? E quanto poupar por mês para chegar lá? Para descobrir esses valores, basta utilizar a nossa ferramenta acima.
A seguir, você acompanha o passo a passo dos cálculos. Alguns valores estão aproximados para facilitar a explicação.
1. Defina quanto você quer ganhar lá na frente
Primeiro, você precisa definir a renda que gostaria de ter lá na frente. Você deve levar em conta tanto as suas necessidades e as da sua família, quanto os seus desejos, aquilo que você gostaria de fazer, mas que não é essencial.
Num planejamento de gastos para a terceira idade, por exemplo, você deve levar em conta o aumento das despesas com saúde.
No todo, porém, pode ser que a renda necessária seja menor, devido à redução de outras despesas nessa fase da vida. Seguradoras normalmente trabalham com uma renda equivalente a 80% da renda da vida ativa.
No meu exemplo, vou considerar que a renda desejada seja equivalente a R$ 6 mil reais por mês nos dias de hoje.
2. Estime a rentabilidade do investimento
Segundo o exemplo, só a rentabilidade do patrimônio acumulado deve ser equivalente a R$ 6 mil reais. Agora, você deve estimar a que percentual do patrimônio corresponde essa rentabilidade.
O mais conservador é considerar que, durante a fase da aposentadoria, seus recursos ficarão aplicados em investimentos de baixo risco, capazes de gerar uma renda constante, homogênea e ininterrupta.
Mas lembre-se de levar em conta uma rentabilidade real, isto é, acima da inflação. A inflação corrói o patrimônio, principalmente no longo prazo. O poder de compra de R$ 6 mil hoje é muito maior do que o poder de compra do mesmo valor daqui a 20 ou 30 anos.
Ou seja, quando falamos em gerar uma renda de R$ 6 mil, estamos na verdade falando de gerar uma quantia com mais ou menos o mesmo poder de compra que R$ 6 mil têm hoje.
É por isso que, durante o período de acumulação para a aposentadoria, e mesmo durante a fase de usufruir dos recursos, o ideal é utilizar apenas aplicações financeiras que já ofereçam, de cara, correção pela inflação.
Outro detalhe importante é descontar o imposto de renda. A maioria das aplicações conservadoras é tributada. Em geral, em prazos mais longos (acima de dois anos de investimento), o imposto de renda é de 15% sobre os ganhos.
Em outras palavras, a rentabilidade usada nos cálculos já deve estar líquida de inflação e imposto de renda.
O jeito mais fácil de estimar uma rentabilidade verossímil para uma aplicação conservadora é considerar o rendimento pago por um título público de longo prazo atrelado à inflação.
Esses papéis pagam uma taxa de juros conhecida no ato do investimento (prefixada) mais a variação do IPCA. Você pode assumir que essa taxa prefixada é a rentabilidade real de um investimento conservador.
O título mais indicado para os nossos cálculos é o Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal), disponível no Tesouro Direto. Todos os títulos disponíveis para compra e suas respectivas taxas você encontra no site do próprio Tesouro Direto.
Atualmente, o Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal) de prazo mais longo vence em 2045 e paga uma taxa de juros de 5,21% ao ano acima da inflação.
A taxa de 5,21% ao ano corresponde a cerca de 0,42% ao mês. Para fazer essa conversão, basta somar 1 à rentabilidade anual (no caso, 5,21%) e depois elevar tudo a 1/12. No final, subtraia 1 e você chegará à rentabilidade mensal. No Excel, a expressão ficaria =(1+5,21%)^(1/12)-1.
Descontando-se os 15% do IR, temos um rendimento líquido real de 0,36%, aproximadamente. É esse valor que vamos considerar para calcular quanto poupar para viver de renda.
3. Divida a renda desejada pela rentabilidade estimada
Divida o valor da renda que você quer receber no futuro pela rentabilidade real mais realista que você tiver encontrado. O resultado é o montante que você precisa acumular para viver de renda. No nosso exemplo, vamos dividir 6 mil por 0,36%, o que dá uma quantia de R$ 1.664.300,20, ou algo perto de R$ 1,7 milhão.
Se você quiser ser ainda mais conservador, leve em conta uma rentabilidade real um pouco menor que a atual. Por exemplo, se você considerar que seu patrimônio só vai render 0,3% ao mês acima da inflação, então é melhor acumular R$ 2 milhões.
4. Considere a tributação da sua renda futura
Obviamente, sobre os rendimentos que você tiver será aplicada uma determinada tributação, já que eles servirão como renda para você. Na maioria dos casos, a tributação já é feita na fonte, assim que os rendimentos são distribuidos ou, no caso de investimentos com prazo, quando a aplicação vence e o dinheiro retorna ao investidor.
Em geral, alíquotas de Imposto de Renda são regressivas; ou seja, variam de acordo com o prazo da aplicação. Por isso, quando maior o tempo de investimento, menor é o importo a ser pago.
Além disso, o valor do imposto é calculado sobre o rendimento bruto do investimento; logo, a alíquota é aplicada sobre o que o investimento rendeu, e não sobre o montante total.
Na renda fixa, as alíquotas do IR são:
- Investimento até 180 dias: 22,5%;
- De 181 a 360 dias: 20%;
- De 361 a 720 dias: 17,5%;
- Acima de 720 dias: 15%.
Porém é importante lembrar que não são todos os tipos de investimento que pagam imposto. Alguns exemplos de investimentos isentos de tributação são as LCI/LCA (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio), CRIs/CRAs (Certificados Recebíveis Imobiliários e Agrícolas) e Debêntures de Infraestrutura.
5. Reavalie seu planejamento todos os anos
Quando você finalmente começar a poupar todos os meses para a tão sonhada independência financeira, não deixe de reavaliar seu plano anualmente.
Primeiro, é importante atualizar o valor da sua poupança todos os anos pela inflação. Segundo, é preciso verificar se seu plano ainda é factível dadas as rentabilidades que você é capaz de conseguir nas aplicações financeiras.
As taxas de juros, os índices de inflação e os juros reais podem variar bastante no longo prazo. Em épocas de juros reais mais baixos, pode ser preciso aumentar a poupança acima da inflação, ou ainda recorrer a investimentos de maior risco.
O mesmo acompanhamento deve ser feito na fase de usufruir dos recursos acumulados. Se eles passarem a render menos que a taxa estimada, sua renda cairá.