Mercado faz leitura positiva das manifestações e Ibovespa fecha em alta de mais de 1%
Com os mercados americanos fechados, o Ibovespa passou o dia digerindo os atos de domingo — e, para os agentes financeiros, o saldo foi positivo
Há duas maneiras de se analisar a sessão desta segunda-feira (27).
Quem gosta de ver o copo meio cheio irá destacar a alta de 1,32% do Ibovespa, que encerrou o pregão aos 94.864,25 pontos. A curva de juros também teve um dia tranquilo, passando por uma onda de correção negativa — tanto na ponta curta quanto na longa.
Já quem prefere o copo meio vazio vai chamar a atenção para o fraco giro financeiro do Ibovespa, de R$ 8,45 bilhões — trata-se do menor volume diário de negociações do índice em 2019. Além disso, o dólar à vista não acompanhou o movimento da bolsa, fechando o dia em alta de 0,5%, a R$ 4,0354.
As duas narrativas estão corretas. Afinal, a sessão desta segunda-feira foi atípica — e tudo isso porque os mercados dos Estados Unidos e do Reino Unido estiveram fechados hoje, em função de feriados locais.
"O gringo opera muito pouco quando é feriado lá fora, então o volume cai drasticamente", explica Ari Santos, gerente da mesa de operações da H. Commcor — e, de fato, o fraco giro financeiro do Ibovespa nesta segunda-feira deixa claro que a sessão desta segunda-feira foi atípica.
Com as bolsas americanas fora da jogada, coube aos agentes financeiros concentrarem-se nos fatores domésticos — especialmente as manifestações do domingo. E os mercados, que têm em mente a tramitação da reforma da Previdência, fizeram uma leitura positiva dos possíveis desdobramentos dos atos de ontem para o cenário político.
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Fim de semana agitado
Por aqui, o mercado digeriu as manifestações de domingo, em defesa do governo. Ao menos 93 municípios brasileiros, em 25 Estados e no Distrito Federal, registraram atos a favor das pautas da gestão Jair Bolsonaro — e o mercado não mostrou grandes preocupações com o que viu.
A percepção de que os as manifestações tiveram uma adesão considerável, mas sem maiores distúrbios, trouxe tranquilidade aos agentes financeiros, que temiam que os atos culminassem em novos atritos entre o governo e o Congresso — o que culminaria num enfraquecimento da tramitação da reforma da Previdência.
"As manifestações foram bem vistas pelo mercado", diz Victor Cândido, economista-chefe da Guide Investimentos. "Deu certo dividendo político para o governo, mas sem piorar muito as relações [com o Congresso]".
Linha semelhante foi adotada por Santos, da H. Commcor. Para ele, o fato de os protestos terem contado com uma quantidade razoável de pessoas fortalece a figura do presidente e põe alguma pressão nos deputados e senadores para a aprovação da reforma. "[Os atos de domingo] mostraram que a população está de olho no Congresso", afirma.
A incerteza quanto ao que poderia ocorrer durante as manifestações fez os agentes financeiros assumirem uma postura cautelosa na última sexta-feira, quando o Ibovespa fechou em queda de 0,3%. Mas, com esse risco aparentemente superado, os mercados ficaram tranquilos para adotar um viés mais comprador nesta segunda-feira.
O otimismo, contudo, ainda esbarra em alguns limites. O índice tem mostrado dificuldades para terminar acima do nível dos 95 mil pontos — nos últimos dias, o Ibovespa chegou a ultrapassar essa faixa ao longo da sessão, mas sempre acaba perdendo força antes do encerramento.
Essa situação se repetiu novamente nesta segunda-feira. Na máxima intradiária, o índice chegou a subir 1,94%, aos 95.444,04 pontos, mas não conseguiu se sustentar neste nível.
Em relatório de análise gráfica, o Itaú BBA estabelece o patamar de 95.200 como resistência inicial para o índice — caso seja superado, o Ibovespa poderá buscar os 96.500 pontos. No lado negativo, os suportes aparecem ao redor dos 93.300 pontos e 91.400 pontos.
Cautela no horizonte
Mas, apesar dessa leitura positiva das manifestações, outros fatores continuam trazendo cautela ao mercado. Uma pesquisa XP/Ipespe divulgada hoje mostra que, entre os agentes do mercado financeiro, a avaliação do governo segue em queda. O percentual de ótimo e bom caiu de 28% para 14%, acumula uma baixa de 72 pontos percentuais desde janeiro.
Além disso, o boletim Focus mostrou nova redução na expectativa de crescimento do PIB em 2019, passando de 1,24% na semana passada para 1,23%. É o décimo terceiro corte consecutivo nas projeções dos economistas.
Tais fatores acabaram se refletindo em pressão ao dólar, num movimento de busca por proteção: por um lado, o mercado aumenta as posições em ações, apostando num desenvolvimento favorável do cenário político; por outro, compra dólares, de modo a se resguardar caso o noticiário de Brasília se deteriore.
Juros em queda
As curvas de juros operaram descoladas do dólar nesta segunda-feira e passaram por uma onda de alívio — assim como o Ibovespa, os DIs mantiveram o foco na percepção de que as manifestações de domingo não trouxeram ameaças à reforma da Previdência e não devem gerar turbulências à articulação política.
Os DIs para janeiro de 2021 recuaram de 6,79% para 6,75%, os para janeiro de 2023 caíram de 7,95% para 7,91%, e os com vencimento em janeiro de 2025 tiveram baixa de 8,57% para 8,52%.
Commodities fortes
O bom desempenho do minério de ferro e do petróleo nesta segunda-feira também ajudou a dar sustentação ao Ibovespa. Na China, o minério de ferro encerrou a sessão em alta de 3,13%, a US$ 108,62 a tonelada. Quanto ao petróleo, o WTI subiu 1,04% hoje, enquanto o Brent avançou 2,06%.
Nesse cenário de fortes ganhos do minério, os papéis ON da CSN (CSNA3) subiram 5,63% e lideraram a ponta positiva do Ibovespa. Vale ON (VALE3), com ganho de 3,89%, e Bradespar PN (BRAP4), em alta de 2,85%, também apareceram entre os destaques do dia — a Bradespar possui participação acionária relevante na Vale.
Já a dinâmica positiva do petróleo deu forças às ações da Petrobras: o papéis PN da estatal (PETR4) avançaram 0,57%, enquanto os ONs (PETR3) tiveram ganho de 1,45%.
Cielo sob pressão
Na ponta negativa do Ibovespa, destaque para as ações ON da Cielo (CIEL3), em queda de 4,35%. Na noite de sexta-feira, a companhia retirou as projeções de lucro para 2019 — a empresa estimava ganhos entre R$ 2,3 bilhões e R$ 2,6 bilhões neste ano — e cortou a distribuição de proventos aos acionistas, de 70% para 30% do resultado.
Em relatório, a Eleven Financial Research destaca que, com a decisão, a Cielo pretende reforçar o caixa para a nova realidade da companhia. "Porém, questionamos a forma como o anúncio foi feito, sem maiores detalhes sobre o uso dos recursos retidos", escrevem os analistas Carlos Daltozo, Tatiana Brandt e Raul Grego.
Em reação ao anúncio, a Eleven cortou o preço-alvo para as ações da Cielo, de R$ 7,50 para R$ 6,00, mantendo a recomendação de venda para os ativos.
Quem dá mais?
A disputa entre Magazine Luiza e Centauro pela Netshoes continua quente. A Magalu contra-atacou e ofereceu US$ 90 milhões pelo site de artigos esportivos — o equivalente a US$ 3,00 por ação.
O novo lance ocorre em resposta à movimentação da Centauro, que fez uma oferta hostil pela Netshoes na última quinta-feira (23), propondo US$ 87 milhões pela empresa, ou US$ 2,80 por papel. Vale lembrar que, no fim de abril, o Magazine Luiza chegou a fechar um acordo com a Netshoes, por US$ 62 milhões (US$ 2 por ação).
Nesse contexto, as ações ON do Magalu (MGLU3) tiveram em alta de 0,65% nesta segunda-feira — os papéis ON da Centauro (CNTO3) recuaram 0,88%.
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