Cautela com o Brasil e com a América Latina faz o Ibovespa cair quase 1,5%
O Ibovespa fechou em baixa e voltou aos 106 mil pontos, com os mercados mostrando uma postura mais prudente em relação ao cenário doméstico e às turbulências na América Latina

Lá nos meus tempos de escola, eu aprendi que o meridiano de Greenwich — a linha imaginária que marca a longitude zero — foi estabelecida por uma mera convenção: no século XIX, o Reino Unido era a potência dominante e, sendo assim, nada mais egocêntrico que fazer o traço primordial da geografia passar pelas terras britânicas.
Pois se a cartografia moderna tivesse sido estabelecida nesta terça-feira (12), os mapas não teriam Londres como protagonista. No atribulado mês de novembro de 2019, a América Latina é o centro do mundo — e o Ibovespa e os mercados de câmbio reagiram fortemente ao noticiário turbulento vindo da região.
Nas últimas semanas, uma onda de tensões sociais inundou diversos países latinoamericanos: é só acessar qualquer portal de notícias para receber as novidades a respeito dos protestos no Chile ou da instabilidade política na Bolívia. E, num cenário como esse, os agentes financeiros preferiram ficar na defensiva, sem se expor a riscos.
E por mais que o Brasil não dê qualquer sinal de que também poderá enfrentar turbulências semelhantes, o país está muito perto dos tremores — e, pelo sim, pelo não, é melhor ter cautela. Afinal, o cenário político brasileiro não está exatamente tranquilo...
Considerando tudo isso, o Ibovespa abriu o dia em queda e permaneceu no campo negativo durante toda a sessão, terminando em baixa de 1,49%, aos 106.751,11 pontos — na mínima, chegou a cair 1,97%, aos 106.232,45 pontos, o menor nível intradiário desde 22 de outubro.
O mercado de câmbio local seguiu uma dinâmica parecida com a do Ibovespa. O dólar à vista fechou em alta de 0,57%, a R$ 4,1665; na máxima, tocou os R$ 4,1875 (+1,08%), patamar que não era atingido desde 25 de setembro.
Leia Também
Fica claro que a tensão regional pesou sobre os mercados brasileiros quando olhamos para o desempenho das bolsas americanas: o Dow Jones ficou estável, o S&P 500 subiu 0,26% e o Nasdaq avançou 0,26%.
Os mercados de Nova York estiveram atentos a uma outra dinâmica: a das idas e vindas da guerra comercial entre EUA e China. E, por mais que as coisas não tenham avançado muito, é seguro afirmar que, no momento, os riscos nesse front são menores que os vistos na América Latina.
Aversão ao risco
"Não há nada em específico com o Brasil, mas sim uma combinação de fatores que passa pelo cenário mais negativo na América Latina", diz Luis Sales, analista da Guide Investimentos, lembrando da continuidade dos protestos no Chile mesmo após a convocação de uma Constituinte e a instabilidade política na Bolívia, mesmo após a renúncia de Evo Morales.
E o Brasil, como se encaixou nesse panorama? Por mais que não haja qualquer sinal de que o país possa ser contagiado por essas tensões sociais nos países vizinhos, o cenário político doméstico passa por um momento bastante particular, em meio à soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Sales ainda lembra que o presidente Jair Bolsonaro decidiu deixar o PSL e tem planos para criar um novo partido — mais um fator de instabilidade no panorama político do Brasil. "Isso tudo tira o foco da agenda de reformas do governo", diz o analista da Guide.
Considerando todos esses fatores, houve hoje um movimento de aversão ao risco aos ativos da América Latina como um todo — Sales lembra que muitos agentes financeiros estrangeiros fazem alocações em índices ou em carteiras, e que essas tensões continentais acabam afastando os investidores externos.
Sai ou não sai?
Nos Estados Unidos, os mercados seguiram aguardando uma definição mais clara quanto às negociações entre americanos e chineses no âmbito da guerra comercial. As expectativas continuam positivas, embora o cenário ainda seja nebuloso — declarações recentes de Donald Trump não trouxeram muita clareza aos investidores, mas também não desanimaram os mercados.
Nesta tarde, o presidente dos EUA afirmou que um acerto com a China pode acontecer em breve, mas que só aceita o acordo se ele for bom para os americanos, suas empresas e seus trabalhadores — nada muito diferente do que já foi dito em outras ocasiões.
Com essa fala em mente, os mercados americanos mostraram oscilações tímidas, mantendo o leve desempenho positivo que era visto desde o início da sessão. O Ibovespa também foi pouco afetado: continuou com sua toada amplamente negativa, em meio às preocupações locais.
"Há uma fuga para ativos mais estáveis, ainda mais com a perspectiva maior de encaminhamento nas negociações comerciais [entre EUA e China]", diz Sales, da Guide.
Dólar e juros sobem
Esse clima de maior aversão ao risco em relação aos ativos latinoamericanos foi visto especialmente no mercado de moedas: o dólar subiu forte em relação ao peso chileno e ganhou terreno em comparação com a maior parte das divisas do continente — e o real acabou entrando nesse contexto.
Os ganhos registrados no dólar à vista acabaram pressionando as curvas de juros: na ponta curta, os DIs com vencimento em janeiro de 2021 subiram de 4,51% para 4,57%; na longa, as curvas para janeiro de 2023 avançaram de 5,58% para 5,70%, e as para janeiro de 2025 foram de 6,20% para 6,35%.
Balanços no centro das atenções
Além de todos os fatores macro, a temporada de balanços corporativos também mexeu com o Ibovespa nesta terça-feira — e a influência foi negativa.
Em destaque, apareceu Embraer ON (EMBR3), que caiu 3,43% e apareceu entre os piores desempenhos do índice após a companhia reportar um prejuízo de R$ 314,4 milhões no terceiro trimestre e cortar a estimativa de dividendos especiais relacionados à conclusão da operação com a Boeing.
Yduqs ON (YDUQ3), em baixa de 3,62%, foi outra que reage negativamente ao balanço trimestral da companhia — o lucro líquido recuou 21% na base anual, para R$ 152,2 milhões.
Cosan ON (CSAN3), em queda de 4,93%, Rumo ON (RAIL3), com desvalorização de 3,23%, BR Distribuidora ON (BRDT3), com perda de 3,58%, e Marfrig ON (MRFG3), recuando 4,00%, foram outras ações que caíram após a divulgação de números trimestrais — você pode ver um resumo dos balanços mais recentes nesta matéria especial.
Brava Energia (BRAV3) e petroleiras tombam em bloco na B3, mas analistas veem duas ações atraentes para investir agora
O empurrão nas ações de petroleiras segue o agravamento da guerra comercial mundial, com retaliações da China e Europa às tarifas de Donald Trump
Outro dia de pânico: dólar passa dos R$ 6 com escalada da guerra comercial entre EUA e China
Com temor de recessão global, petróleo desaba e ações da Europa caem 4%
Sem pílula de veneno: Casas Bahia (BHIA3) derruba barreira contra ofertas hostis; decisão segue recuo de Michael Klein na disputa por cadeira no conselho
Entre as medidas que seriam discutidas em AGE, que foi cancelada pela varejista, estava uma potencial alteração do estatuto para incluir disposições sobre uma poison pill; entenda
“Trump vai demorar um pouco mais para entrar em pânico”, prevê gestor — mas isso não é motivo para se desiludir com a bolsa brasileira agora
Para André Lion, sócio e gestor da estratégia de renda variável da Ibiuna Investimentos, não é porque as bolsas globais caíram que Trump voltará atrás na guerra comercial
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
CEO da Embraer (EMBR3): tarifas de Trump não intimidam planos de US$ 10 bilhões em receita até 2030; empresa também quer listar BDRs da Eve na B3
A projeção da Embraer é atingir uma receita líquida média de US$ 7,3 bilhões em 2025 — sem considerar a performance da subsidiária Eve
Ação da Vale (VALE3) chega a cair mais de 5% e valor de mercado da mineradora vai ao menor nível em cinco anos
Temor de que a China cresça menos com as tarifas de 104% dos EUA e consuma menos minério de ferro afetou em cheio os papéis da companhia nesta terça-feira (8)
Trump dobra a aposta e anuncia tarifa de 104% sobre a China — mercados reagem à guerra comercial com dólar batendo em R$ 6
Mais cedo, as bolsas mundo afora alcançaram fortes ganhos com a sinalização de negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais; mais de 70 países procuraram a Casa Branca, mas a China não é um deles
Wall Street sobe forte com negociações sobre tarifas de Trump no radar; Ibovespa tenta retornar aos 127 mil pontos
A recuperação das bolsas internacionais acompanha o início de conversas entre o presidente norte-americano e os países alvos do tarifaço
Minerva (BEEF3): ações caem na bolsa após anúncio de aumento de capital. O que fazer com os papéis?
Ações chegaram a cair mais de 5% no começo do pregão, depois do anúncio de aumento de capital de R$ 2 bilhões na véspera. O que fazer com BEEF3?
Não foi só a queda do preço do petróleo que fez a Petrobras (PETR4) tombar ontem na bolsa; saiba o que mais pode ter contribuído
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, teria pedido à estatal para rever novamente o preço do diesel, segundo notícias que circularam nesta segunda-feira (7)
Prazo de validade: Ibovespa tenta acompanhar correção das bolsas internacionais, mas ainda há um Trump no meio do caminho
Bolsas recuperam-se parcialmente das perdas dos últimos dias, mas ameaça de Trump à China coloca em risco a continuidade desse movimento
Minerva prepara aumento de capital de R$ 2 bilhões de olho na redução da alavancagem. O que muda para quem tem ações BEEF3?
Com a empresa valendo R$ 3,9 bilhões, o aumento de capital vai gerar uma diluição de 65% para os acionistas que ficarem de fora da operação
Sem medo do efeito Trump: Warren Buffett é o único entre os 10 maiores bilionários do mundo a ganhar dinheiro em 2025
O bilionário engordou seu patrimônio em US$ 12,7 bilhões neste ano, na contramão do desempenho das fortunas dos homens mais ricos do planeta
Sem aversão ao risco? Luiz Barsi aumenta aposta em ação de companhia em recuperação judicial — e papéis sobem forte na B3
Desde o início do ano, essa empresa praticamente dobrou de valor na bolsa, com uma valorização acumulada de 97% no período. Veja qual é o papel
Equatorial (EQTL3): Por que a venda da divisão de transmissão pode representar uma virada de jogo em termos de dividendos — e o que fazer com as ações
Bancões enxergam a redução do endividamento como principal ponto positivo da venda; veja o que fazer com as ações EQTL3
Ibovespa chega a tombar 2% com pressão de Petrobras (PETR4), enquanto dólar sobe a R$ 5,91, seguindo tendência global
O principal motivo da queda generalizada das bolsas de valores mundiais é a retaliação da China ao tarifaço imposto por Donald Trump na semana passada
Após o ‘dia D’ das tarifas de Trump, ativo que rende dólar +10% pode proteger o patrimônio e gerar lucros ‘gordos’ em moeda forte
Investidores podem acessar ativo exclusivo para buscar rentabilidade de até dólar +10% ao ano
Retaliação da China ao tarifaço de Trump derrete bolsas ao redor do mundo; Hong Kong tem maior queda diária desde 1997
Enquanto as bolsas de valores caem ao redor do mundo, investidores especulam sobre possíveis cortes emergenciais de juros pelo Fed
Ibovespa acumula queda de mais de 3% em meio à guerra comercial de Trump; veja as ações que escaparam da derrocada da bolsa
A agenda esvaziada abriu espaço para o Ibovespa acompanhar o declínio dos ativos internacionais, mas teve quem conseguiu escapar