Com a guerra comercial nos holofotes, o dólar segue em alta e se aproxima de R$ 4,00
A tensão contínua na guerra comercial traz estresse ao mercado de câmbio e joga o dólar à vista para o alto. Já o Ibovespa fechou em alta, ajudado pelas ações do setor bancário
Enquanto o Ibovespa e as bolsas globais mostram-se indecisas quanto à postura a ser assumida em relação à guerra comercial, o mercado de câmbio não hesita: está na defensiva, temendo as consequências de uma disputa mais acirrada entre Estados Unidos e China. E o dólar à vista tem servido como termômetro da cautela.
A moeda americana fechou esta quarta-feira (7) em alta de 0,49%, a R$ 3,9743, o maior nível de encerramento desde 30 de maio, quando estava cotada a R$ 3,9784 — na máxima do dia, chegou a bater os R$ 3,9927. Também chama a atenção o desempenho recente do dólar: a divisa se valorizou ante o real em oito das últimas 11 sessões.
Explicitando os números: em 22 de julho, o dólar à vista estava cotado a R$3,7384. Ou seja: em 11 sessões, o ganho foi de 23 centavos — um salto de 6,31% no período em questão. Somente nesta semana, o ganho é de 2,13%.
E o trampolim para esse movimento é a tensão entre americanos e chineses, em meio à percepção de que o gigante asiático pode usar o câmbio como arma nas disputas comerciais. O yuan — a moeda da China — tem passado por um processo de desvalorização ante o dólar desde segunda-feira, o que tem trazido apreensão ao mercado.
A lógica por trás dos temores passa pelas relações comerciais internacionais, uma vez que o yuan desvalorizado tende a aumentar a competitividade das exportações chinesas — o que neutraliza os impactos das tarifas impostas pelo governo Trump às importações de produtos vindos do país asiático.
E, nesta quarta-feira, o Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) — instituição que define diariamente a cotação de referência do yuan — voltou a enfraquecer a moeda do país em relação ao dólar, situação que manteve os mercados em estado de alerta.
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Essas incertezas mexem principalmente com as negociações de câmbio, com um movimento global de aversão ao risco. Nesse contexto, os agentes financeiros vendem moedas consideradas mais arriscadas, como as de países emergentes e exportadores de commodities, e compram dólar.
Assim, a moeda americana se fortaleceu ante divisas como o peso mexicano, o rublo russo, o peso chileno, o rand sul-africano, o peso colombiano e o dólar neozelandês — e o real seguiu a tendência externa.
Já as bolsas apresentaram um comportamento diferente. Apesar de essa cautela também ter sido sentida nos índices acionários, outros fatores ajudaram a dar sustentação ao Ibovespa e às bolsas americanas nesta quarta-feira.
Forças opostas
No início do dia, os mercados acionários apresentavam desempenho bastante negativo, influenciados pela cautela em relação à desvalorização do yuan e os possíveis desdobramentos da guerra comercial. Mas, aos poucos, os índices foram se recuperando.
É melhor ir por pates para entender esse movimento. Tudo começou nas bolsas americanas, com uma melhora no desempenho das ações do setor de tecnologia — esses papéis, que possuem um peso expressivo nos índices, tinham perdido terreno nos últimos dias.
Com o Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq se afastando das mínimas, o Ibovespa aproveitou para pegar carona. E, por aqui, esse aumento na confiança impulsionou especialmente as ações do setor bancário.
E por que o setor bancário? Há duas explicações: em primeiro lugar, um operador me falou que o Morgan Stanley elevou as recomendações para as units do Santander Brasil e para os recibos de ações (ADRs) do Itaú Unibanco e do Bradesco. Assim, esses ativos já apresentavam um desempenho melhor que o restante, mesmo durante a manhã.
Em segundo, é importante lembrar que os bancos fazem parte do grupo conhecido como blue chips — ou seja, as ações que possuem grande liquidez e peso para a composição do Ibovespa. E os investidores estrangeiros que atuam no Brasil tendem a concentrar suas operações nesse tipo de papel.
Assim, a melhora no humor externo encorajou os estrangeiros, que olharam para as blue chips do Ibovespa — e, por aqui, os bancos apareceram como a melhor opção, em meio ao otimismo do Morgan Stanley.
Resumindo: Itaú Unibanco PN (ITUB4) fechou em alta de 3,69%, Bradesco ON (BBDC3) teve ganho de 1,43%, Bradesco PN (BBDC4) avançou 2,11% e as units do Santander Brasil (SANB11) subiram 2,86%.
E, com o fortalecimento dos bancos, o Ibovespa foi recuperando terreno lentamente: o índice, que chegou a cair 1,65% na mínima, aos 100.476,12 pontos, virou para alta por volta de 16h15, terminando o pregão com ganho de 0,61%, aos 102.782,37 pontos.
De olho na Previdência
No front doméstico, os mercados também acompanharam o noticiário referente à reforma da Previdência — na noite de ontem, o texto-base foi aprovado em segundo turno na Câmara dos Deputados. No momento, estão sendo analisados os destaques — ou seja, pedidos de alteração na proposta.
A questão dos destaques é importante porque eventuais mudanças no texto podem diminuir a potência fiscal da proposta. No entanto, os mercados seguem apostando que a tramitação da Previdência tende a caminhar de maneira relativamente tranquila daqui para frente — a reforma ainda será votada pelo Senado.
Ainda no noticiário doméstico, destaque para o resultado das vedas no varejo em junho, divulgadas nesta manhã. O indicador subiu 0,1% em relação a maio e ficou aquém da expectativa dos analistas, o que eleva a percepção de que a economia brasileira segue fraca.
Juros caem
Em meio à decepção com as vendas no varejo e à leitura de que a guerra comercial pode estimular um movimento mais intenso de corte de juros no mundo, de modo a estimular as economias dos países, os mercados promoveram um novo ajuste negativo nos DIs.
Na ponta curta, as curvas para janeiro de 2020 recuaram de 5,52% para 5,51%, e as com vencimento em janeiro de 2021 caíram de 5,49% para 5,43%. Na longa, os DIs para janeiro de 2023 fecharam em baixa de 6,42% para 6,37%, e os para janeiro de 2025 foram de 6,94% para 6,88%.
Balanços agitados
Destaque, ainda, para a temporada de balanços do segundo trimestre, com a repercussão dos números de cinco empresas que compõem o Ibovespa: BB Seguridade, Engie, Gerdau, Iguatemi e Raia Drogasil. Você pode conferir um resumo dos resultados dessas companhias nesta matéria especial.
Nesse grupo, chamou a atenção o bom desempenho de Raia Drogasil ON (RADL3), que subiu 9,25% e liderou os ganhos do Ibovespa — a empresa reportou crescimento de 16,1% no lucro líquido ajustado, para R$ 149,4 milhões.
BB Seguridade ON (BBSE3) também foi bem: as ações avançaram 2,04%, em meio à expansão de 18,5% no lucro, para R$ 31,1 bilhões. Iguatemi ON (IGTA3) subiu 0,52%.
Os papéis das demais companhias, contudo, reagiram mal aos números trimestrais: Engie ON (EGIE3) caiu 2,27% e Gerdau PN (GGBR4) teve perda de 0,92%.
Dois focos de pressão
Fora dos balanços, há dois destaques negativos: o setor de varejo e o de commodities.
No primeiro grupo, a surpresa negativa em relação às vendas no varejo diminuiu o otimismo quanto à recuperação do setor. Nesse contexto, Lojas Americanas PN (LAME4) caiu 2,40%, B2W ON (BTOW3) recua 4,74% e Magazine Luiza ON (MGLU3) teve baixa de 0,79%.
No segundo, a forte desvalorização do minério de ferro (-4,35%), do petróleo WTI (-4,73%) e do Brent (-4,60%) impactou as ações da Petrobras, da Vale e das siderúrgicas. Os papéis PN (PETR4) e ON (PETR3) da estatal recuaram 1,08% e 0,95%, respectivamente.
Vale ON (VALE3) caiu 0,94%, Usiminas PNA (USIM5) recuou 2,33% e CSN ON (CSNA3) teve baixa de 1,62%.
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