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Victor Aguiar
Victor Aguiar
Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e com MBA em Informações Econômico-Financeiras e Mercado de Capitais pelo Instituto Educacional BM&FBovespa. Trabalhou nas principais redações de economia do país, como Bloomberg, Agência Estado/Broadcast e Valor Econômico. Em 2020, foi eleito pela Jornalistas & Cia como um dos 10 profissionais de imprensa mais admirados no segmento de economia, negócios e finanças.
Dólar recua a R$ 3,99

O Ibovespa fez uma pausa na busca pelos recordes e fechou em leve baixa

O mercado acompanhou de perto a apresentação do plano elaborado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas, com a percepção de que dificilmente algo será votado neste ano, o Ibovespa fechou em leve baixa

Victor Aguiar
Victor Aguiar
5 de novembro de 2019
10:42 - atualizado às 18:28
Pausa nos mercados
Imagem: Shutterstock

Uma certa expectativa tomava conta dos agentes financeiros nesta terça-feira (5). Os olhos estavam voltados a Brasília: seria apresentado hoje o plano econômico elaborado pelo ministro Paulo Guedes, e o mercado estava ansioso para saber os detalhes da proposta. Nesse cenário, será que o Ibovespa buscaria mais um recorde?

O início da sessão foi promissor: o índice começou o pregão em alta e, nos primeiros minutos, tocou os 109.342,86 pontos (+0,52%). Só que a animação durou pouco: ainda durante a manhã, o Ibovespa começou a perder força, virando ao campo negativo — e permanecendo por lá durante quase toda a terça-feira.

Ao fim do dia, o Ibovespa até conseguiu se afastar das mínimas, fechando em leve baixa de 0,06%, aos 108.719,02 pontos. O índice brasileiro, assim, não acompanhou as bolsas americanas: o Dow Jones (+0,11%), o S&P 500 (-0,10%) e o Nasdaq (+0,02%) passaram o dia perto da estabilidade.

O dólar à vista, por outro lado, apresentou um comportamento bastante tranquilo: a moeda americana fechou em queda de 0,43%, a R$ 3,9939, destoando das demais divisas de países emergentes, que apresentaram um desempenho mais fraco na sessão de hoje.

Conforme o planejado, Guedes apresentou o novo pacote de reformas — e o plano foi bem recebido pelo mercado. Sendo assim, por que o Ibovespa preferiu interromper a sequência de altas, ao invés de dar um fast forward no ritmo dos ganhos?

Tudo está relacionado ao cronograma de tramitação dessas iniciativas — e ao próprio fôlego da bolsa brasileira, uma vez que, nas últimas semanas, o mercado acionário brasileiro vem num ritmo bastante intenso de valorização.

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Planos para o futuro

No front doméstico, as atenções dos investidores voltaram-se a Brasília: o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou hoje o Plano Mais Brasil, novo pacote de reformas elaborado pelo governo — a ideia é que Estados e municípios recebam mais de R$ 400 bilhões ao longo de 15 anos.

Além disso, o governo estima que, além dessa quantia, também será possível gerar até R$ 50 bilhões em investimentos a partir de medidas da PEC Emergencial — outros R$ 220 bilhões alocados em fundos públicos serão usados para abater juros da dívida pública.

Mas, por mais que o mercado tenha comemorado o anúncio, há pouca perspectiva quanto à eventual votação de algum dos pontos do pacote ainda neste ano pelos parlamentares — a leitura é a de que, após a reforma da Previdência, há certa fadiga para conduzir outros debates dessa natureza.

Assim, o otimismo dos agentes financeiros se deve mais à sinalização de que o governo está disposto a continuar tocando a pauta de reformas econômicas do que à expectativa quanto a algum avanço concreto no curto prazo. Desta maneira, o mercado acaba assumindo uma postura mais cautelosa.

"A bolsa andou bem nos últimos dias, então é normal que tenhamos uma realização dos lucros recentes", diz Luis Sales, analista da Guide Investimentos.

No exterior, a guerra comercial entre EUA e China continua concentrando as atenções dos investidores globais. Dando continuidade aos movimentos de ontem, os governos americano e chinês fizeram novas sinalizações quanto a uma postura menos belicosa, mostrando-se abertos a fazerem concessões tarifárias.

A intenção é criar as bases necessárias para a assinatura da "primeira fase" de um acordo comercial, ainda neste mês. Nesse cenário, as indicações de que tanto Pequim quanto Washington não têm interesse em uma nova escalada nos atritos ajuda a aliviar as tensões dos mercados globais.

"Mas esse assunto já está um pouco desgastado", diz Sales. "Esse alívio maior [na guerra comercial] já esteve na pauta de ontem e deu uma animada nas negociações, mas é preciso algo mais concreto para alavancar o mercado daqui para frente".

Mas e o dólar?

Dito tudo isso: por que o dólar à vista fechou em queda?

Para Cleber Alessie, operador da H. Commcor, a moeda americana passa por um movimento técnico nesta terça-feira, com o mercado se ajustando ao tom mais cauteloso assumido pelo Copom na ata da última reunião de política monetária — na ocasião, a Selic foi cortada para o novo piso histórico de 5% ao ano.

"O BC está preocupado em colocar um freio nessas apostas de queda muito intensa na Selic", diz Alessie, destacando que, apesar de o Copom deixar claro que há espaço para mais cortes na taxa de juros, a autoridade monetária está preocupada em acalmar as expectativas do mercado.

Assim, a perspectiva de cortes não muito prolongados na Selic leva ao entendimento de que o diferencial de juros — ou seja, a margem entre as taxas dos Estados Unidos e do Brasil — não continuará se estreitando por muito tempo. Vale lembrar que, desde o início do ciclo de redução na Selic, esse diferencial caiu em 0,75 ponto.

Esse é um fator importante para o dólar porque, com essa margem mais estreita, diminui o apelo para a entrada de recursos estrangeiros por parte dos investidores que estavam atrás de rendimentos polpudos, gerados pelas taxas de juros mais altas do Brasil.

Resumindo: a sinalização mais cautelosa do Copom fez as curvas de juros fecharem em alta e, com a perspectiva de redução no diferencial, o dólar à vista encontrou espaço para cair — o mercado de câmbio local, assim, conseguiu ir na contramão do exterior.

Nesse cenário, os DIs para janeiro de 2021 subiram de 4,48% para 4,49%, e os com vencimento em janeiro de 2023 avançaram de 5,42% para 5,47%. Na ponta longa, as curvas para janeiro de 2025 foram de 5,99% para 6,02%.

Bancos sobem, Petrobras cai

As ações PN do Itaú Unibanco (ITUB4) fecharam  em alta de 1,73% e apareceram entre os destaques positivos do Ibovespa nesta terça-feira, após a instituição reportar um lucro líquido recorrente de R$ 7,156 bilhões no terceiro trimestre este ano, cifra 10,9% maior que a registrada no mesmo período do ano passado.

Além disso, o Itaú fechou o trimestre com uma rentabilidade de 23,5%, superando o Santander Brasil e o Bradesco — em linhas gerais, o balanço do banco foi bem recebido por analistas.

Os resultados do Itaú impulsionaram as ações do setor bancário como um todo, que vinham apresentando desempenhos negativos nos últimos dias. Banco do Brasil ON (BBAS3) subiu 0,63%, Bradesco PN (BBDC4) teve alta de 1,35% e as units do Santander Brasil avançaram 1,46%.

Por outro lado, os papéis da Petrobras recuaram e trouxeram pressão ao Ibovespa — as ações PN (PETR4) caíram 2,34% e as ONs (PETR3) tiveram perdas de 1,27%, com o mercado assumindo uma postura mais cautelosa antes do leilão do excedente da cessão onerosa, previsto para amanhã (6).

Ainda na ponta negativa, destaque para JBS ON (JBSS3), com perdas de 3,87% — o pior desempenho do índice. Mais cedo, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu a rescisão do acordo de delação premiada de alguns ex-executivos da empresa, entre eles Joesley e Wesley Batista.

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