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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Política Monetária

Copom acena Selic em 6,5% até o fim de 2018, mas cautela permanece

Colegiado do Banco Central (BC) faz poucas mudanças na sua comunicação e mantém frase que fala em possível retirada de estímulo

Eduardo Campos
Eduardo Campos
31 de outubro de 2018
18:59 - atualizado às 8:44
Ilan Goldfajn, presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, presidente do Banco CentralIlan Goldfajn, presidente do Banco Central
Ilan Goldfajn, presidente do Banco Central - Imagem: Flickr Banco Central do Brasil

Dentro do esperado pelo mercado, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5% ao ano. Além disso, afirmou que “a evolução do cenário básico e do balanço de riscos prescreve manutenção da taxa Selic no nível vigente”.

Como falamos mais cedo, essa manutenção de juro é favorável aos ativos de risco, como bolsa de valores, e também ajuda a alavancar o setor imobiliário e os Fundos de Investimento Imobiliário (FII).

A definição do quadro eleitoral e resposta positiva do mercado aos planos do eleito não se mostraram suficientes para o BC deixar de lado uma postura vigilante.

Uma possível avaliação é que o Copom começa a ver a necessidade de subir o juro por outros motivos que não a percepção sobre reformas e ajustes, mas sim em função do comportamento da inflação e da atividade. A próxima reunião acontecerá nos dias 11 e 12 de dezembro.

No comunicado divulgado após a decisão está mantida a avaliação de que a conjuntura prescreve política monetária estimulativa, com juro abaixo da taxa estrutural, seguido pelo alerta:

“Esse estímulo começará a ser removido gradualmente caso o cenário prospectivo para a inflação no horizonte relevante para a política monetária e/ou seu balanço de riscos apresentem piora.”

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O BC também manteve a ênfase na continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira como algo essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juros estrutural e para a recuperação sustentável da economia.

“O Comitê ressalta ainda que a percepção de continuidade da agenda de reformas afeta as expectativas e projeções macroeconômicas correntes.”

Projeções

Uma primeira leitura do comunicado e das projeções sugere que a queda do dólar, da linha de R$ 4,20 para R$ 3,70, postergou uma avaliação ainda mais séria dentro do Copom sobre a necessidade de retirar estímulo. Essa discussão poderá ser vista na ata, que sai na terça-feira da próxima semana. Podemos especular que se o dólar seguisse acima dos R$ 4, o ajuste para cima já teria começado hoje.

No entanto, retirar estímulo é diferente de tornar a política restritiva. Hoje temos a taxa de juro abaixo da chamada taxa estrutural ou neutra, que é aquela que promove o máximo crescimento com inflação dentro da meta. Retirar estímulo é deixar a taxa mais próxima do considerado neutro. Política restritiva é colocar a taxa acima desse patamar para esfriar a atividade e conter a inflação.

Essa taxa estrutural é uma variável não observável, mas as estimativas recentes sugerem que ela orbite entre 4% a 4,5% em termos reais (descontada a inflação). Atualmente a taxa real está rodando na casa dos 3% ao ano, considerando o swap de 360 dias descontado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) projetado em 12 meses.

Com dólar a R$ 3,70 e Selic em 6,5% ao longo do horizonte de projeção, o IPCA fecha o ano em 4,4%, cai a 4,2% para 2019 e recua a 4,1% para 2020 (projeção nova). Com dólar a R$ 4,15, da reunião de setembro, as projeções eram de R$ 4,4% para 2018 e 4,5% para 2019.

A meta para 2019 é de 4,25%, recuando a 4% em 2020 e 3,75% em 2021. As ações tomadas hoje pelo BC visam 2019 e, com peso crescente ao longo do tempo, o ano de 2020, em função dos efeitos defasados sobre o lado real da economia.

Considerando os parâmetros de mercado – Selic a 8% em 2019 e 2020 e câmbio a R$ 3,8 e R$ 3,75 – as projeções são de 4,2% para o próximo ano e para 3,7% para 2020.

O que o conjunto de projeções mostra é que mesmo que o BC venha a subir o juro, não se espera que as taxas voltem mais ao patamar de dois dígitos. Assim, um eventual ciclo de ajuste não “mataria” os ativos de risco, nem promoveria uma corrida para os papéis “selicados” do Tesouro.

Balanço de riscos

O balanço de riscos para a inflação não teve alteração, mas o BC afirma, agora, que “o grau de assimetria do balanço de riscos diminuiu desde sua reunião anterior”.

De um lado, o BC avalia que o nível de ociosidade elevado pode produzir inflação abaixo do projetado. Do outro lado e com maior peso, está a chance de uma frustração com reformas e ajustes elevar prêmios de risco e a trajetória da inflação. Risco esse que se intensifica em caso de deterioração do cenário externo para economias emergentes.

Sobre o quadro externo, o BC afirma que ele “permanece desafiador” e cita o apetite ao risco em relação a economias emergentes aquém do nível vigente no início do ano. Os principais riscos, segundo o Copom, seguem associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas e a incertezas referentes ao comércio global (uma referência à guerra comercial de Donald Trump, que já tinha aparecido em outros documentos).

A avaliação sobre os núcleos de inflação, que captam a tendência dos preços, continuou sendo de compatibilidade com as metas. E a atividade evidencia recuperação em ritmo mais gradual que o vislumbrado no começo do ano.

 

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