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João Escovar
Jornalista especializado em Finanças
Conteúdo Market Makers

Rombo bilionário: a história do Banco Santos e o que ela mostra sobre investir no setor

Liderado por banqueiro icônico, dono de mansão luxuosa e vasta coleção de arte, banco sofreu intervenção do BC e foi à falência

João Escovar
14 de junho de 2024
13:36
Brasil, São Paulo, SP. 25/02/2011. Edemar Cid Ferreira, dono do finado banco de Santos, no Morumbi, em São Paulo. - - Imagem: EVELSON DE FREITAS/ESTADÃO CONTEÚDO/AE

Um dos banqueiros mais ricos do Brasil nas décadas de 1990 e começo dos anos 2000, famoso e respeitado na alta sociedade, também foi pivô de uma das maiores intervenções do Banco Central, por conta de um rombo bilionário.

Estamos falando de Edemar Cid Ferreira, que perdeu toda a fortuna e viu ruir um império do mercado financeiro.

Nascido em Santos na década de 40 e formado em economia, Edemar Cid Ferreira abriu uma corretora aos 26 anos. Mas foi só em 1993 que ganhou a autorização para transformar sua empresa em banco.

Nascia aí o Banco Santos, que nos anos 2000 se tornou um dos maiores e mais influentes bancos privados do Brasil, surfando na recuperação do país com o Plano Real de Fernando Henrique Cardoso.

Com a operação do banco crescendo exponencialmente, Ferreira ficou tão rico que se tornou dono de um dos maiores acervos de arte do mundo, guardado numa das mansões mais caras e luxuosas do planeta, construída por ele  em uma área de 8.000 m² no Morumbi, bairro nobre de São Paulo.

A mansão teria lhe custado R$ 140 milhões à época - e sua coleção artística é avaliada em mais de R$ 150 milhões.

Além disso tudo, o sucesso das operações do banco Santos permitiu que ele se tornasse uma espécie de mecenas do seu tempo, fazendo da instituição uma das maiores patrocinadoras da cultura no Brasil.

Até mesmo o presidente Lula, em seu primeiro mandato, o homenageou com a Ordem de Mérito Militar em 2003, uma condecoração para referenciar pessoas que tenham prestado serviços relevantes à nação brasileira.  

Mas, quando tudo parecia ir bem, a sujeira debaixo do tapete começou a aparecer…

O banco tinha um rombo de cerca de R$ 700 milhões em 2004, o que levou o Banco Central a afastar Cid Ferreira e os diretores da instituição. Nisso, a autoridade monetária descobriu que o rombo, na verdade, era de R$ 2 bilhões (R$ 7,5 bilhões, em valores atualizados pelo IPCA) e o banco faliu.

A Justiça bloqueou todos os bens de Ferreira (obras de arte milionárias, carros, a mansão da qual foi despejado e muito mais).

Foi decretada também a prisão de 21 anos para o banqueiro por lavagem de dinheiro, fraude e outros crimes. Ele foi preso duas vezes, mas não chegou a ficar mais de 3 meses detido.

Ferreira passou os últimos anos da sua vida tentando recuperar parte de sua fortuna na Justiça e alegando que a culpa, na verdade, foi do próprio Banco Central e não cometeu nenhum crime.

Até hoje existem processos em torno disso, e muitos credores ainda estão sem receber.

Edemar morreu do coração em janeiro deste ano, aos 80 anos, num apartamento alugado em São Paulo.

A história do Banco Santos mostra que o tamanho ou a fama de uma instituição financeira, bem como sua imagem atrelada à cultura e à política, não são suficientes para torná-la um bom investimento. 

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