Semana começa com ruídos políticos
Discussões sobre reforma da Previdência e decisão de juros pelo Copom e Fed são os destaques da semana, encurtada por feriado na quinta-feira
A semana encurtada por um feriado nacional na quinta-feira divide as atenções dos investidores entre os eventos políticos em Brasília, em meio às discussões no Congresso sobre a reforma da Previdência, e o calendário econômico, que traz como destaque decisões de juros dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos, na quarta-feira.
Mas o dia começa com o mercado doméstico avaliando novos ruídos políticos no governo Bolsonaro. O pedido de demissão de Joaquim Levy da presidência do BNDES agitou o fim de semana, que já começou mais tenso após a troca de farpas entre o ministro Paulo Guedes (Economia) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao final da última sexta-feira.
Guedes se queixou publicamente da proposta apresentada pelo relator, Samuel Moreira, na comissão especial, com várias mudanças nas novas regras para aposentadoria em relação ao texto original. Maia retrucou, dizendo que o projeto substitutivo faz parte de um processo democrático, ainda mais quando a articulação do Executivo com o Legislativo é fraca.
A fala de Guedes incomodou o mercado doméstico. Afinal, se o ministro se mostrou insatisfeito com o teor do relatório da reforma da Previdência, não há muito o que comemorar. Os debates na comissão nesta semana tendem a deixar os investidores na defensiva, em meio aos riscos de diluição e da eficácia fiscal da proposta (leia mais abaixo).
Fogo amigo
O problema é que o desgaste político também tem se dado dentro do governo. Dias após a queda do então secretário de governo, o general Santos Cruz, as desavenças por falta de alinhamento ideológico deixaram mais uma vítima. Levy pediu para sair, após o presidente Jair Bolsonaro estar “por aqui” com ele, colocando a “cabeça [do economista] a prêmio”.
Trata-se da primeira baixa dentro da equipe econômica que, até então, vinha sendo blindado dos desgastes políticos, em meio ao alinhamento dos escolhidos por Guedes com a agenda liberal. O estopim da crise foi a indicação de Marcos Barbosa Pinto, ex-assessor do BNDES no governo PT, para a diretoria de mercado de capitais do banco.
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Entre os cotados para substituir Levy, estão alguns secretários de Guedes, como Salim Matar. Ou pode ser alguém da iniciativa privada. Mas os investidores terão de aprender a lidar com um governo instável e imprevisível, principalmente do ponto de vista ideológico, o que pode lançar dúvidas sobre o processo de mudanças estruturais e econômicas no país.
Na semana passada, deixaram o governo, os presidentes dos Correios, Juarez Aparecido de Paulo Cunha; e da Funai, Franklimberg Ribeiro de Freitas, além de Santos Cruz e Levy. Desde o início do mandato, também já saíram do governo os ex-ministros Ricardo Vélez (Educação) e Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral), além de diretores da Apex e do Inep.
Próximos passos
E a política rouba a cena não apenas com mais uma crise desnecessária. Após a leitura do parecer da reforma da Previdência, na quinta-feira passada, a discussão sobre a proposta na comissão especial começa amanhã, elevando a expectativa dos investidores pelo andamento da proposta antes do recesso parlamentar.
Todos os 513 deputados podem se inscrever para falar nessa fase. Ao todo, devem ser feitas três sessões até a semana que vem, na tentativa de votar o texto ainda em junho, por volta do dia 25.
Contudo, o fator calendário parece ser o principal risco à votação da matéria na Câmara antes do recesso parlamentar, já que o fim do mês é marcado pelas tradicionais festas juninas. Além disso, mais ajustes podem ocorrer no projeto, mexendo com o humor do mercado doméstico, a depender dos impactos de possíveis mudanças no conteúdo.
Ainda assim, a proposta de novas regras para aposentadoria está caminhando com perspectiva de aprovação, mesmo sem uma base aliada sólida do governo no Congresso. O Legislativo segue com o intuito de angariar os louros pela aprovação da agenda de reformas, mostrando que tem responsabilidade em ajudar o país.
Exterior à espera do G-20
Enquanto o cenário político tende a continuar ditando o rumo dos ativos locais, o mercado internacional não deve ajudar muito a definir uma direção, já que lá fora os investidores estão em compasso de espera pela reunião do G-20, no Japão. Mais que isso, a expectativa é pelo encontro dos líderes Donald Trump e Xi Jinping sobre a guerra comercial.
Porém, o evento só acontece no fim deste mês, o que deixa os mercados na expectativa por outro grande evento, envolvendo o Federal Reserve (leia mais abaixo). Com isso, os investidores adotam a postura de esperar para ver como ficam a taxa de juros norte-americana e a disputa tarifária entre EUA e China.
As principais bolsas asiáticas encerraram a sessão em alta. Hong Kong subiu 0,5%, apesar de um novo protesto na ilha contra a lei de extradição chinesa. Os manifestantes exigem, agora, a renúncia da chefe de governo local, Carrie Lam. Xangai e Tóquio tiveram leve avanço.
Em Nova York, os índices futuros das bolsas de Nova York também exibem ganhos moderados, o que deixa a abertura do pregão europeu à deriva. Os investidores mostram cautela, receosos com uma eventual decepção por parte do Fed, que pode se esquivar de indicar um primeiro corte em breve.
Nos demais mercados, o petróleo tem poucas oscilações, após a Arábia Saudita expressar esperança de que o cartel de países exportadores (Opep) concordem em estender os cortes de produção da commodity para o segundo semestre. O dólar e os títulos norte-americanos também estão praticamente estáveis, à espera do Fed.
Decisão de BCs em destaque
A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Fed que começam amanhã e terminam, ambas, na quarta-feira é o grande destaque da agenda econômica desta semana. Nos dois casos, espera-se pela manutenção dos juros, mas também é grande a expectativa por sinais firmes de cortes à frente, já em julho.
Na última sexta-feira, o mercado doméstico aumentou a pressão e deu um recado claro ao BC, de que não aceitará um comunicado sem alterações mais suaves (“dovish”), indicando que o ciclo de alívio monetário está próximo. Aliás, para o mercado, o processo poderia começar já nesta semana, mas sabe-se que, primeiro, é preciso ajustar a comunicação.
Da mesma forma, a estimativa é de que o Fed sinalize que a flexibilização monetária está chegando, já na virada do primeiro para o segundo semestre. Para o mercado financeiro, trata-se de uma questão praticamente certa, mas há dúvidas de que o BC dos EUA esteja mesmo pronto para reduzir os juros pela primeira vez em mais de uma década.
Afinal, a inflação norte-americana segue muito comportada e o mercado de trabalho nos EUA continua robusto. O Fed, é bom lembrar, tem de cumprir um duplo mandato, sendo que o crescimento econômico não está entre os objetivos perseguidos. Tudo vai depender, então, das projeções contidas no gráfico de pontos, o chamado dot plot.
O mesmo pode-se dizer em relação ao Copom, que tem mandato único, ligado ao controle de preços. Apesar das recentes leituras fracas sobre a inflação e a atividade econômica, as expectativas para os preços neste ano e nos próximos seguem próximas às metas, dando ainda pouca margem para o BC enviar sinais de possíveis afrouxamentos.
Aliás, merece atenção já nesta segunda-feira o relatório de mercado Focus (8h25), que deve trazer novas revisões, para baixo, nas estimativas para a taxa básica de juros (Selic) e o crescimento econômico (PIB) neste ano - pela décima sexta vez seguida - e nos próximos. Já as previsões para o IPCA tende a oscilar, sem grandes alterações.
Ao longo da semana, a agenda econômica está bem fraca, sendo que o feriado na quinta-feira (Corpus Christi) pode adiar para a próxima semana a divulgação dos dados de maio sobre a arrecadação federal e sobre a geração de emprego formal. No exterior, o calendário está igualmente esvaziado.
Além do Fed, destaque também para as reuniões de política monetária dos BCs inglês (BoE) e japonês (BoJ), na quinta-feira. Já na região da moeda única, sai a leitura final da inflação ao consumidor (CPI), amanhã. Na sexta-feira, é a vez de dados de atividade no bloco comum e nos EUA, que traz também dados do setor imobiliário, ao longo da semana.
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