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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Alerta laranja

Quebra dos sigilos fiscal e bancário de Flávio Bolsonaro pegou mercado futuro aberto ontem, elevando a pressão nos ativos locais, que já sofrem com a guerra comercial

Olivia Bulla
Olivia Bulla
14 de maio de 2019
5:39 - atualizado às 6:29
No exterior, Wall Street ensaia melhora, apesar de decisão dos EUA de taxar mais US$ 300 bilhões em produtos chineses

Duas notícias divulgadas ontem à noite, quando os mercados já estavam fechados, deixam os investidores em alerta nesta terça-feira, um dia após o Ibovespa cair quase 3% e o dólar encostar na marca de R$ 4,00. A primeira, vinda do exterior e que formaliza a intenção dos Estados Unidos de sobretaxar em junho mais US$ 300 bilhões em produtos chineses importados, não impede uma tentativa de recuperação de Wall Street nesta manhã.

Já a segunda, pegou o mercado futuro aberto no Brasil, levando a bolsa às mínimas e o dólar às máximas. Trata-se da decisão da Justiça do Rio de Janeiro de autorizar a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, e de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, além de outros 88 ex-assessores. As famílias dos dois também serão investigadas.

O período da quebra é de 2007 a 2018 e se refere a quando Queiroz esteve vinculado ao gabinete de Flávio. A quebra de sigilo bancário e fiscal faz parte da investigação sobre a movimentação financeira atípica de R$ 1,2 milhão na conta bancária do ex-assessor de Flávio entre 2016 e 2017, apontada pelo Coaf no ano passado. Os dois se defendem das acusações, lembrando que o sigilo já havia sido quebrado.

Seja como for, a notícia resgata um assunto delicado envolvendo a família Bolsonaro e, segundo palavras do senador e do pai, visa atingir o governo com “acusação maldosa”. A suspeita do uso de laranja - que atinge também outro filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro - pode dificultar os esforços do Palácio do Planalto de se concentrar apenas na aprovação da reforma da Previdência no Congresso.

Aliás, por si só, o governo encontra dificuldades para emplacar a austeridade fiscal, em meio a uma grave recessão econômica e à pressão da classe política por troca de cargos. A agenda de reformas - ministerial, inclusive - tem se tornado um problema, ainda mais sem a retomada do emprego e da atividade no país e com a queda de popularidade do presidente.

Exterior mais ameno

Mas o ambiente internacional pode ajudar os negócios locais hoje, diante da melhora ensaiada pelos índices futuros das bolsas de Nova York nesta manhã, um dia após registrar a pior sessão desde janeiro deste ano. A escalada da guerra comercial entre EUA e China não inibe os negócios em Wall Street, o que abre espaço para uma recuperação na Europa.

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Na Ásia, a sessão foi de perdas moderadas, com Xangai e Tóquio caindo menos de 1% e Hong Kong cedendo 1,5%. Já o dólar segue forte, com os investidores ainda inclinados à menor exposição ao risco, o que também fortalece o euro e o iene. Nas commodities, o ouro e o petróleo recuam.

O movimento dos ativos no exterior relega, assim, a notícia de que os EUA irão detalhar, em meados de junho, a proposta de impor tarifas de 25% sobre mais US$ 300 bilhões em produtos chineses, sobretaxando todas as importações da China ao país. A formalização da medida irá acontecer às vésperas da reunião de cúpula do G20, no Japão.

Com isso, o presidente norte-americano, Donald Trump, quer se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping, mantendo a “faca no pescoço” do rival para conseguir um acordo comercial com a China. A expectativa é de que o encontro será crucial para interromper o confronto crescente.

Até lá, os desdobramentos da guerra comercial tendem a dominar a dinâmica dos mercados globais, com os investidores receosos de que a disputa está longe do fim. E, quanto mais tempo durar essa batalha entre as duas maiores economias do mundo, maiores serão os impactos sobre a atividade global.

Diante da escalada da tensão comercial, com a elevação de tarifas de importação dos EUA sobre bens chineses e a retaliação na mesma moeda de Pequim a produtos norte-americanos, a partir de 1º de junho, a expectativa é de que não haja nenhum desfecho até o encontro de Trump e Xi no fim do mês que vem.

Vale notar, porém, que a guerra comercial é tudo menos uma questão econômica. Trata-se mais de uma agenda estratégica, que põe em xeque interesses geopolíticos e de soberania (supremacia?), que vão muito além da questão tarifária. A maneira peculiar de Trump em lidar com a questão deixa claro que o objetivo dele vai muito além do comércio.

O presidente norte-americano parece já de olho na reeleição em 2020. Ao que tudo indica, o republicano deve levar para a campanha, mais uma vez, a retórica protecionista, principalmente contra Pequim. Como consequência, Trump não deve fazer nenhum esforço para garantir um acordo comercial com a China - e estaria até gostando da demora.

Ata do Copom abre o dia e China fecha

O Banco Central divulga logo cedo, às 8h, a ata da reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento trazer mais clareza à mensagem trazida no comunicado que acompanhou a decisão da semana passada, de manter a taxa básica de juros em 6,50% pela nona vez seguida.

Parte do mercado financeiro entendeu que o Copom deixou uma fresta aberta para retomar o ciclo de cortes da Selic, por causa dos dados fracos de atividade. Em contrapartida, outra parte entendeu que o BC reafirmou o plano de voo, de manter o juro básico estável nos próximos meses, diante dos riscos à inflação.

A ata pode, então, tirar a “prova dos nove”. O mais provável é de que a autoridade monetária mantenha o mantra de “cautela, serenidade e perseverança” na condução da taxa Selic, com as portas fechadas para novos cortes até que haja mais clareza sobre a aprovação da reforma da Previdência no Congresso.

Ainda mais com o dólar flertando a faixa de R$ 4,00 e segurar-se acima da marca de R$ 3,90 ao longo das últimas quatro semanas. A valorização da moeda norte-americana pode provocar um novo choque de oferta, principalmente nas matérias-primas e combustíveis, pressionado os preços para cima, com repasses ao consumidor final.

Ainda na agenda econômica doméstica, o IBGE divulga o último indicador de atividade referente ao mês de março, referente ao desempenho do setor de serviços. Os números, a serem conhecidos às 9h, fecham o cenário para as estimativas de crescimento do PIB no primeiro trimestre deste ano, do lado da oferta.

Já no fim do dia, a China entra em cena para anunciar dados de atividade na indústria e no varejo em abril, além dos investimentos em ativos fixos no país. Ao longo da manhã, saem os preços de importação e de exportação nos EUA no mês passado (9h30), além do sentimento econômico (ZEW) na zona do euro.

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