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Olivia Bulla
Olivia Bulla
Olívia Bulla é jornalista, formada pela PUC Minas, e especialista em mercado financeiro e Economia, com mais de 10 anos de experiência e longa passagem pela Agência Estado/Broadcast. É mestre em Comunicação pela ECA-USP e tem conhecimento avançado em mandarim (chinês simplificado).
A Bula do Mercado

Reforma deve sair hoje, mas crise já começou

Presidente Bolsonaro irá “bater o martelo” sobre reforma da Previdência hoje, mas é a crise envolvendo o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que chama a atenção

Olivia Bulla
Olivia Bulla
14 de fevereiro de 2019
5:58 - atualizado às 9:45
Lá fora, destaque para dados da balança comercial chinesa e esperança sobre acordo comercial

O presidente Jair Bolsonaro irá “bater o martelo” hoje sobre a proposta do governo para a reforma da Previdência, mas é a primeira crise no Palácio do Planalto, envolvendo o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que deve chamar a atenção do mercado financeiro. Afinal, os investidores já estão preocupados com uma idade mínima menor para aposentadoria e a possível saída de um ministro tende a elevar a tensão.

Ontem, pouco antes de receber alta médica do hospital, Bolsonaro afirmou que Bebianno pode “voltar às origens”, se estiver envolvido e for responsabilizado no caso das “candidaturas laranjas” do PSL. O presidente disse ainda que pediu ao ministro Sergio Moro (Justiça) para que a Polícia Federal investigue as suspeitas sobre repasses do partido na campanha eleitoral do ano passado, quando Bebianno comandava a sigla.

O ministro afirmou que não se sente pressionado nem pretende pedir demissão em razão do episódio, alegando ainda que não é pivô de uma crise. Ele disse também que irá se defender das acusações e que deve conversar com Bolsonaro sobre o assunto. Aliás, um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro, divulgou um áudio para afirmar que Bebianno mentiu ao dizer que falou com o presidente três vezes na terça-feira.

Em meio à essa lavação de roupa suja em público, fica difícil para o investidor concentrar-se apenas na reforma da Previdência. Afinal, Bebianno tem um cargo muito próximo ao presidente. Além disso, a posição dura de Bolsonaro sobre o caso levanta dúvidas do porquê a mesma postura não foi adotada no episódio envolvendo outro filho, Flávio, e a movimentação financeira atípica de um assessor.

Bate o martelo

Seja como for, a expectativa em torno dos principais pontos da reforma é grande. Ainda mais após ter causado mal-estar no mercado financeiro a notícia de que a idade mínima será fixada em 57 anos para mulheres e 62 anos para homens. Ao que tudo indica, Bolsonaro ainda não se decidiu e pode até optar por uma faixa mais alta, de 60 e 65 anos.

Também ontem, ele afirmou que “baterá o martelo” hoje sobre a proposta final do governo a ser encaminhada ao Congresso. O presidente irá se reunir às 15h com os ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) no Palácio da Alvorada. Será fundamental ver qual lado irá vencer essa queda-de-braço, já que a equipe econômica quer uma reforma mais dura, enquanto a ala política defende medidas mais brandas.

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Dependendo da decisão sobre as idades mínima, haverá um período de transição, que pode ir até depois de 2030. A proposta também deve abranger servidores públicos, que terão que cumprir requisitos para se aposentar. Já as mudanças para policiais (militares, civis e bombeiros) serão parecidas com as que serão aplicada aos militares.

Comércio no radar

Enquanto o mercado financeiro no Brasil só tem olhos para a reforma da Previdência, o foco no exterior segue na questão comercial. Mesmo assim, os mercados internacionais relegam os dados robustos da balança comercial chinesa no mês passado e estão mais atentos à possibilidade de acordo entre Estados Unidos e China.

A notícia de que o presidente norte-americano, Donald Trump, pode estender em 60 dias o prazo final da trégua tarifária anima os índices futuros das bolsas de Nova York. Inicialmente, a suspensão temporária está prevista para encerrar no início do mês que vem, mas pode ser adiada se os dois países estiverem próximos a um acordo.

Mas as principais bolsas asiáticas fecharam na linha d’água, com um leve viés negativo, com os investidores deixando em segundo plano o inesperado aumento de 9,1% das exportações chinesas em janeiro. O número reverte a queda de 4,4% observa em dezembro e vai na contramão da expectativa de -4,1%.

Já as importações chinesas caíram 1,5% no mês passado, menos que o recuo de -7,6% no mês anterior. A previsão era de queda maior, de -11%. Com isso, o saldo da balança comercial chinesa ficou positivo em US$ 39,16 bilhões, bem abaixo do superávit de US$ 57,06 bilhões em dezembro, mas acima da estimativa de +US$ 25,45 bilhões.

Nos demais mercados, as principais bolsas europeias apontam para ganhos modestos na abertura, ao passo que os bônus norte-americanos (Treasuries) recuam, juntamente com o dólar. Entre os destaques nas moedas, o yuan chinês (renminbi) avança, assim como a libra esterlina, antes de uma votação sobre o Brexit. Já o petróleo se recupera e sobe.

Economia real x Mercado Financeiro

O fato é que a economia real não está comprando a história do mercado financeiro em relação à guerra comercial nem quanto à reforma da Previdência. Em ambos os casos, parece haver certo descolamento da realidade.

Enquanto os ativos alimentam expectativas de uma solução definitiva entre Estados Unidos e China e de uma aprovação rápida de novas regras para a aposentadoria no Congresso, os dados e balanços continuam apontando para uma desaceleração econômica global. Já a articulação política do governo Bolsonaro tem falhado tanto dentro quanto fora da equipe.

Lá fora, os investidores parecem não saber que são pequenas as chances de o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o representante do Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, conseguirem um acordo com Pequim sobre o comércio. E o principal motivo para isso é que os chineses não confiam na autoridade de ambos na Casa Branca.

Afinal, a palavra final será sempre de Trump. Para os chineses, o relacionamento interpessoal é fundamental para alcançar algum acordo comercial. Com isso, eles só irão aceitar algum termo definitivo, quando souberem qual é o ponto final (que Trump deseja) e, então, colocar o líder Xi Jinping para assiná-lo.

Nesse sentido, é importante saber qual será a estratégia dos EUA em relação à inteligência artificial, à propriedade intelectual e ao Big Data, fatores tidos como centrais para moldar o desenvolvimento tecnológico nas próximas décadas. Afinal, se Trump decidir proteger a inovação, ele pode abalar todo o talento e know-how que o Vale do Silício tem tido há anos.

No Brasil, os setores produtivos estão clamando por confiança e estabilidade nas taxas de juros e de câmbio, de modo a retomar os investimentos e fazer a atividade voltar a rodar. O problema é que com os investidores apostando que a Selic deve voltar a cair, o dólar tende a ficar mais pressionado. Já o Ibovespa poderia subir, não fosse a carência de fluxo externo.

Atividade e inflação em destaque

No fim do dia, a China volta à cena para anunciar dados de inflação ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) em janeiro. Também à noite, saem os números do Produto Interno Bruto (PIB) do Japão no trimestre passado. Logo cedo, é a vez do PIB da zona do euro e dos principais países da região da moeda única.

Esses dados podem lançar luz sobre o ritmo da atividade econômica no fim de 2018, dando pistas sobre a perda de tração nas principais economias avançadas na virada para 2019. Ainda na Europa, merece atenção a votação no Parlamento britânico do acordo revisado sobre a saída do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit.

Do outro lado do Atlântico Norte, nos EUA, saem dados sobre os preços ao produtor, os pedidos de auxílio-desemprego e as vendas no varejo - todos as 11h30. Também é esperada a posição dos estoques das empresas norte-americanas (13h). No Brasil, sai o desempenho do setor de serviços (9h).

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