Em Abu Dhabi, Bolsonaro defende Guedes, prioriza liberalismo e abaixa o tom sobre Argentina
Presidente reforçou a mensagem de que seu governo está comprometido com a agenda liberal
Em meio ao seu périplo de dez dias por Ásia e Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) usou as redes sociais há pouco para reforçar a mensagem de que seu governo está comprometido com a agenda liberal.
"Nunca a economia brasileira deu tantos passos em direção ao liberalismo quanto está dando em nosso Governo, coisa que jamais aconteceria não fosse nosso projeto independente que permitiu escolher nomes técnicos comprometidos com o Brasil e com o povo. É preciso reconhecer isto!", escreveu, na primeira mensagem postada no Twitter.
"Qualquer outro teria menos independência e disposição para levar adiante uma proposta de mais liberdade econômica para o Brasil. Nós tivemos e estamos avançando. Os números mostram que caminhamos para um ambiente fértil de emprego e prosperidade. Adiante! Boa noite a todos!", completou, em uma segunda postagem, instantes depois.
As publicações ocorreram por volta das 20h deste sábado, dia 26, de acordo com o horário de Brasília, ou 4h de domingo, dia 27, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, onde o presidente passa o fim de semana.
A viagem de Bolsonaro inclui Japão, China, Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita, sendo, até aqui, a mais longa viagem que já fez durante seu governo. Nos encontros oficiais, sua missão é a de melhorar a imagem do País frente a autoridades e empresários estrangeiros, visando atrair novos investimentos em setores como agronegócio, infraestrutura, defesa e energia.
Reforma administrativa
Bolsonaro voltou a defender que a Reforma Administrativa deve ser a prioridade do governo no Congresso após a aprovação da reforma previdenciária. Ele reafirmou que quer mudar as regras de contratação dos novos servidores públicos, mas garantiu que não vai alterar as garantias de estabilidade dos atuais funcionários. Como revelou o Estado, o governo estuda ampliar o estágio probatório para dez anos.
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"Conversamos com o (presidente da Câmara) Rodrigo Maia (DEM-RJ), com o (presidente do Senado) Davi Alcolumbre (DEM-AP). Acredito que a reforma administrativa seja a melhor para o momento. Existe proposta já adiantada na Câmara", disse o presidente.
Bolsonaro também indicou mais uma vez que não pensa em incluir estados e municípios na reforma em um primeiro momento, mas que após a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) quer "mudar essa forma de relação de prefeituras e estados, que exageram no número de servidores". "O fim da estabilidade seria para os novos servidores. Não queremos criar um trauma para os atuais servidores. Grande parte exerce um trabalho muito bom", reforçou.
Na China, o presidente já havia defendido a reforma administrativa como prioridade e assegurado que não vai mexer nas regras dos atuais funcionários.
"A reforma administrativa está bastante avançada. Não haverá quebra de estabilidade para os atuais servidores, quem entrar a partir da promulgação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) aí pode não haver estabilidade", disse na ocasião.
"As pessoas falam tanto dos militares. Um aspirante começa ganhando em torno de R$ 6,5 mil brutos e ao longo da carreira vai havendo progressão. O que a equipe está estudando é acabar com indexações nessa área", declarou. "Ninguém vai desindexar o salário mínimo. Todo ano ele vai ter no mínimo a inflação", acrescentou.
Defesa a Guedes
Diante de uma plateia de empresários brasileiros e emiráticos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou neste domingo, 27, que a confiança entre ele e o ministro da Economia, Paulo Guedes, é "100%".
Na abertura da conferência de negócios entre os dois países, em Abu Dhabi, Bolsonaro pediu desculpas pela ausência do seu Posto Ipiranga, mas afirmou que o governo "não pode mais perder tempo". Segundo ele, Guedes ficou no Brasil para cuidar das reformas administrativa e tributária.
Sobre a economia brasileira, o presidente disse que "evoluímos 15 degraus na facilidade para se fazer negócios". No ranking mundial que indica os países onde o ambiente de negócios é melhor, no entanto, o resultado foi exatamente o oposto. Segundo Relatório do Doing Business, divulgado na última quinta-feira, o país saiu da 109ª posição para a 124ª posição. O material é divulgado pelo Banco Mundial.
Assim como fez na China, Bolsonaro convidou os emiráticos a participarem do leilão da cessão onerosa do pré-sal, em novembro. Também falou que o governo busca dar um novo ritmo para a economia e diminuir as burocracias nos negócios.
"Estamos recuperando a nossa confiança perante o mundo", afirmou. "Meus amigos, meus irmãos, está aqui um homem com o coração aberto estendendo a mão aos senhores pedindo que confiem em nosso País. Nós temos muito a oferecer", disse em outro momento.
Apesar das dificuldades com alguns países europeus, Bolsonaro citou o acordo entre Mercosul e a União Europeia como uma das suas conquistas da sua gestão. Também mencionou o apoio dos Estados Unidos à entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), embora o País não tenha sido incluído na última discussão de ampliação do clube e o próprio presidente reconheça que o processo de inclusão deve levar cerca de dois anos.
Em busca de investimento dos fundos árabes, o presidente Bolsonaro falou, ainda, que o Brasil é uma nação aberta para todas as raças e religiões. "Somos aproximadamente 5 milhões de árabes, uma população maior do que a de muitos países. Convivemos em perfeita harmonia" discursou.
Durante a visita, serão assinados atos de cooperação na área de defesa e comércio entre os países.
Sustentabilidade
Antes de Bolsonaro, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, defendeu aos empresários e investidores que o Brasil produz com sustentabilidade e protege as suas florestas. "Não há nenhum país que proteja suas florestas como o Brasil", disse o ministro após a crise envolvendo as queimadas na região amazônica.
Onyx afirmou que a agricultura brasileira possui baixo impacto de carbono e que o País tem em sua base uma ampla maioria de fontes de energia renovável. "Da defesa ao óleo e gás, da mineração à infraestrutura, o Brasil será o melhor parceiro para os Emirados Árabes", declarou.
O chanceler Ernesto Araújo destacou que há forte alinhamento entre Brasil e Emirados Árabes não apenas na economia. "Queremos, podemos e faremos negócios com todos os países, mas quando temos visão de mundo coincidente podemos fazer ainda mais. E esse é exatamente o caso hoje do Brasil e dos Emirados Árabes", disse.
Argentina e Chile
Destoando do tom adotado nos últimos dias, o Bolsonaro afirmou que pretende "ampliar qualquer comércio com a Argentina" caso o peronista Alberto Fernández, que faz parte da chapa da ex-presidente Cristina Kirchner, vença a eleição. O candidato da oposição ao governo de Mauricio Macri é o favorito no pleito que será realizado hoje. Bolsonaro também espera que Fernández "reveja" posição dita no passado sobre eventualmente deixar o Mercosul.
"Da nossa parte pretendemos ampliar qualquer comércio com a Argentina, mas, obviamente, como integrante do Mercosul, as cláusulas democráticas têm que se fazer valer", disse o presidente da República após participar de uma conferência de negócios entre Brasil e Emirados Árabes, na capital do país.
"Esperamos que aquilo que ele (Fernández) falou há pouco, quando visitou (o ex-presidente) Lula no Brasil, sobre rever a questão do Mercosul, que ele volte atrás", acrescentou Bolsonaro. Após o comentário, em julho, Fernández adotou um tom mais moderado sobre o tema e evitou polemizar com o presidente brasileiro.
Nos últimos dias, Bolsonaro chegou a falar em suspender a Argentina se o eventual sucessor de Mauricio Macri resistir à abertura comercial. "O que nós queremos é que a Argentina continue na questão comercial, caso a oposição vença, da mesma forma do [presidente Mauricio] Macri. Caso contrário, podemos nos reunir com o Uruguai e o Paraguai", disse durante etapa da viagem no Japão.
Crise nos vizinhos
Bolsonaro também voltou a se posicionar sobre a situação de outros países da América do Sul. No sábado, 26, ao chegar a Abu Dhabi, ele disse que está preocupado com as manifestações em territórios vizinhos.
Em relação ao Chile, que é considerado o país com a situação mais crítica, Bolsonaro disse que os atos e os confrontos que ocorrem há dias no país "assustam" a todos. Ele foi indagado sobre a decisão do presidente chileno, Sebatián Piñera, seu aliado, pedir aos ministros que entreguem os cargos em meio aos protestos.
"Espero que tudo seja resolvido (no Chile). Mas logicamente o que aconteceu em um primeiro momento, com a depredação do patrimônio, assusta a todos nós", afirmou Bolsonaro.
Sobre o resultado da eleição na Bolívia, que tem sido questionado, ele falou mais uma vez que o Brasil defende a revisão da recontagem de votos - que garantiu a reeleição do presidente Evo Morales.
"No meu entender, a Organização dos Estados Americanos (OEA) tomou decisão acertada pedindo a revisão da recontagem dos votos. Queremos que a Bolívia permaneça um país amigo nosso, temos negócios com eles, em especial do gás, mas não abrimos mão da questão democrática", declarou.
*Com Estadão Conteúdo.
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