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Eduardo Campos
Eduardo Campos
Jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo e Master In Business Economics (Ceabe) pela FGV. Cobre mercado financeiro desde 2003, com passagens pelo InvestNews/Gazeta Mercantil e Valor Econômico cobrindo mercados de juros, câmbio e bolsa de valores. Há 6 anos em Brasília, cobre Banco Central e Ministério da Fazenda.
Entrevista exclusiva

Bolsa é o melhor ativo para ganhar com o ciclo econômico que está começando, diz economista da Guide

Juro baixo, crescimento do crédito e menor presença do Estado, combinação que pode levar a uma década de crescimento, segundo Victor Candido

Eduardo Campos
Eduardo Campos
28 de junho de 2019
5:59 - atualizado às 10:33
Victor Candido
Imagem: Divulgação

A economia brasileira deve começar um ciclo bem longo, de cerca de uma década, de crescimento econômico. A avaliação é do economista-chefe da Guide, Victor Candido.

A conversa com Candido também foi inspirada por uma postagem no “Twitter” sobre onde está o Brasil no ciclo econômico e ela contrasta um pouco com a entrevista anterior que fiz com James Gulbrandsen, da NCH Capital. O ponto em comum entre os dois é a visão de que o curto prazo pode trazer surpresas negativas. Outra característica comum é que os dois são fãs do gestor Howard Marks.

https://twitter.com/candidovictor/status/1139228594465574912?s=20

Aliás, a minha conversa com Victor Candido aconteceu em uma "virada de ciclo" pessoal. Ele está deixando a Guide e ingressando na Journey Capital, que tem áreas de gestão de ativos, com um fundo de debêntures incentivadas para investidores de varejo, gestão de patrimônio e assessoria para reestruturações, fusões e aquisições.

Antes de detalhar a linha de pensamento de Candido, adianto aqui que o economista avalia que a melhor opção para a pessoa física tirar proveito do que está por vir está na bolsa de valores.

Na renda fixa, ele afirma que acabou o almoço grátis do juro e que quem quiser investir nesse tipo de ativo terá de tomar risco. As melhores alternativas são os fundos que investem em crédito privado e em debêntures de infraestrutura.

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Outro ativo que vai “bombar”, segundo Candido, são dos Fundos Imobiliários (FII) e a recomendação para quem está começando nesse segmento é buscar os Fundos de Fundos (FoFs), que investem em outros FIIs, ou mesmo os fundos de papel, que compram ativos atrelados ao setor.

Mas Candido faz um alerta. Antes de investir em qualquer produto, o investidor deve tomar cuidado com o “oba-oba”, buscar se conhecer como investidor, fixar objetivos e horizontes de investimento claros e, principalmente, saber o quanto está disposto a perder.

Se tiver dificuldades em fazer esse “check list” prévio à tomada de decisão de investimento, Candido recomenda ao investidor buscar um planejador financeiro certificado, que além de ajudar a definir esses objetivos pode explicar o funcionamento dos diferentes produtos. Saber o que está comprando é fundamental.

O pior já passou

Segundo Candido, os indicadores econômicos e diversas modelagens econométricas sugerem que o pior já passou. A recessão de 2015 e 2016 deixou sequelas grandes e a saída dela acontece com uma lentidão assustadora. Talvez sejamos o emergente a exibir o maior período de baixo crescimento que se tenha notícia.

Mas outro conjunto de dados sugere que teremos um ciclo muito proveitoso de crescimento pela frente. Além disso há um fato inédito na nossa história econômica. Estamos saindo de uma recessão com inflação abaixo da meta, juro baixo e com tendência de queda e contas externas ajustadas.

“Estamos no começo de um ciclo que pode ser bem longo. Há uma série de fatores que mostram que estamos no começo de ciclo”, afirma Candido.

Caiu, mas ainda não levantou

O ciclo econômico não se dissocia do ciclo de crédito e os dados levantados pelo economista, mostram que embora a demanda ainda não tenha aparecido, as condições para tomada de crédito estão postas e são boas.

No lado das empresas, a inadimplência é a menor da série histórica e houve uma desalavancagem muito grande das famílias, apesar da recessão. Os recursos disponíveis, como liberação do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e PIS/Pasep foram utilizados para o pagamento de dívidas.

Também há uma nova dinâmica com a saída do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) do segmento de crédito, abrindo espaço para o mercado fazer seu papel de intermediador entre poupadores e tomadores.

“Meu ponto é: você não cresce, mas você nunca teve condições extremamente saudáveis para crescer”, avalia.

Candido pondera que mesmo que a economia piore mais um pouco, essas condições não serão perdidas e usa uma interessante figura para explicar seu raciocínio.

“É mais ou menos assim. É como se o cara [economia] tivesse tomado um tombo e ainda não está de pé, ele está sentado. E tem condição de se levantar”, explica.

Para Candido, o problema é que nos apegamos muito aos dados de alta frequência e ficamos com a impressão de que as coisas estão muito ruins, de que nada vai funcionar.

Mas ao “dar três passos para trás” é possível notar que tem algo diferente acontecendo. “Talvez tenhamos um ciclo no qual o investimento seja o carro-chefe, seguido pelo consumo.”

Mudança tectônica

Em conversas com empresários, Candido diz ter captado boas intenções de investimento, pois o momento certo para adquirir infraestrutura física é agora, com preços ainda deprimidos.

Já na classe política, diz o economista, é cada vez mais consensual que o Estado tem de ser reduzido. As lideranças políticas parecem reconhecer os malefícios que os excessos do passado causaram, e estão dispostas a abraçar uma agenda que facilite a vida e o funcionamento do setor privado.

É essa mudança de visão da classe política, aliada a um clamor da população por uma agenda mais pró-mercado, pró-iniciativa privada, que representa o que o economista acredita ser uma “mudança tectônica” que não está sendo capturada.

“O curto prazo ainda está ruim, mas está difícil não ficar otimista”, avalia.

A névoa da incerteza

Segundo Candido, as pessoas não consomem e o empresariado não investe por causa da incerteza, que ainda é grande. Mas esse "fog" começa a se dissipar com o convencimento de que a reforma da Previdência será aprovada e com potência suficiente para reduzir parte da incerteza fiscal. “Na Faria Lima é Previdência aprovada”, avalia.

Além disso, há sinalizações microeconômicas positivas. Entre elas, a autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para venda de subsidiárias de estatais, os leilões de concessões e um sistema financeiro mais competitivo por ações como cadastro positivo, "guerra das maquinhas" de cartão e discussões envolvendo o “open banking”.

Um fator fora do radar e que pode ajudar no crescimento deste ano e do próximo é o desempenho do agronegócio. Segundo Candido, os safra nos EUA teve problemas climáticos, enquanto aqui as coisas andaram bem. Fora que a China está comprando menos soja dos EUA, dando mais espaço para o nosso mercado.

“Estamos próximos de sermos o maior produtor de grãos do mundo. O agronegócios pode dar uma acelerada e ajudar a termos um quarto trimestre bem positivo”, avalia.

Riscos

Com 2019 perdido, mas um 2020 e outros anos se mostrando promissores, pergunto a Candido quais os riscos para esse cenário.

O principal é o doméstico. É não conseguir fazer uma reforma da Previdência convincente, não reduzir o tamanho do Estados e abandonar as reformas microeconômicas.

Temos de ficar olho, também, nos riscos externos, como guerra comercial e recessão forte nos EUA ou Europa, mesmo que tal risco tenha diminuído com as sinalizações dadas por Federal Reserve (Fed), banco central americano, e Banco Central Europeu (BCE).

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