A Bula da Semana: Mundo mais suave, apesar da guerra
Viés dovish dos principais bancos centrais no mundo em resposta à desaceleração econômica causada pela guerra comercial alimenta o apetite por ativos de risco
Quem ficou de fora dos negócios desde a tarde da última quarta-feira, véspera de feriado prolongado no Brasil, deve se atualizar do noticiário antes de começar a operar hoje. E A Bula do Mercado, em parceria com o Seu Dinheiro, lança uma opção de doses semanais, todas às segundas-feiras, para ajudar você, investidor, a ficar por dentro dos principais assuntos que movimentam o dia a dia dos mercados globais.
Esse conteúdo é um dos presentes para os nossos leitores mais engajados, disponível no Seu Dinheiro Premium.
E aqui vai um jogo rápido dos pontos altos da semana. Fique de olho:
Segunda-feira: o mercado financeiro internacional abre ainda repercutindo o tom suave (“dovish”) dos principais bancos centrais globais, ao mesmo tempo em que monitoram a escalada da tensão entre Estados Unidos e Irã. No Brasil, ainda pode haver algum rescaldo do recado deixado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre cortes no juro básico.
Terça-feira: a ata da reunião da semana passada do Copom é o destaque do dia. O documento deve esclarecer a postura do BC brasileiro, que colocou o risco de eventual frustração com o avanço da reforma da Previdência como “preponderante”. No exterior, merece atenção o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell.
Quarta-feira: é esperada a votação do parecer do relator da reforma da Previdência na comissão especial, Samuel Pessoa. Ele deve incorporar mudanças sugeridas durante os debates, abrindo espaço para aprovação do texto.
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Quinta-feira: O BC brasileiro volta a ser destaque, com a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), que pode mostrar uma melhora nos fatores de risco à inflação, elevando a pressão sobre o Copom para cortar a Selic. No mesmo dia, sai a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, que pode reforçar os sinais de desaceleração econômica.
Sexta-feira: A reunião do G20 começa no Japão e concentra as atenções dos investidores. A expectativa é pelo encontro entre os líderes dos EUA e da China, Donald Trump e Xi Jinping, que devem tratar da guerra comercial. Espera-se ao menos um cessar-fogo entre os dois países. Porém, se o encontro desapontar, os mercados globais podem enfrentar um duro mês de julho.
Leia, abaixo, mais detalhes sobre esses temas:
Recapitulando
A manchete mais recente vem dos bancos centrais. Em um contexto de desaceleração disseminada da atividade econômica, em meio à guerra comercial entre Estados Unidos e China, combinado com um cenário de inflação baixa no mundo, os BCs de vários países - Brasil, inclusive - mostram-se inclinados a cortar suas respectivas taxas de juros nos próximos meses.
Essa disposição levou o S&P 500 ao topo histórico durante o feriado nacional, com o índice acionário norte-americano encostando-se nos 3 mil pontos. O movimento, combinado com um rali das commodities, levou o Ibovespa além dos 100 mil pontos, conquistados na última quarta-feira, com o principal índice da Bolsa brasileira fechando acima dos 102 mil pontos ao final da sexta-feira.
Apenas na semana passada, essa postura mais suave (“dovish”) foi indicada pelas quatro principais autoridades monetárias do mundo (Fed, BCE, BoE e BoJ), resgatando a confiança dos investidores no poder de reação dos BCs para responder à perda de dinamismo da economia global, nos moldes do que se viu em 2008. A dúvida, agora, é quando as palavras dóceis irão se transformar em ações práticas.
Guerra Comercial no radar
Com isso, as atenções dos investidores se deslocam para os indicadores e eventos econômicos previstos para os próximos dias. O grande destaque é a reunião do G20, em Osaka, no Japão, que começa na sexta-feira (dia 28) e termina no dia seguinte. Lideranças das 19 principais economias globais e da União Europeia (UE) irão discutir os desafios atuais para garantir um crescimento econômico com vigor e de forma sustentável.
Porém, o radar estará mesmo no encontro privado entre os líderes das duas maiores economias do mundo, Donald Trump e Xi Jinping. EUA e China travam uma disputa tarifária sem precedentes, que levou Washington a impor sobretaxa de 25% em US$ 250 bilhões em produtos chineses, enquanto Pequim retaliou e tarifou, na mesma medida, US$ 110 bilhões em bens norte-americanos.
As equipes dos dois países terão negociações prévias e qualquer notícia envolvendo as negociações comerciais tem forças de movimentar os mercados globais nesta semana. Afinal, se houver um acordo entre EUA e China, a chance de o Fed agir já em julho pode diminuir. Em contrapartida, se a tensão comercial recrudescer, é grande a chance de a Casa Branca levar a cabo a promessa de impor tarifa extra sobre mais US$ 300 bilhões em bens chineses, taxando todos os produtos Made in China que chegam à América.
As expectativas dos investidores é de que Trump e Xi estão ansiosos para, pelo menos, amenizar as tensões comerciais, que já duram mais de um ano. Porém, se o encontro desapontar, os mercados globais irão enfrentar um duro mês de julho - quiçá de agosto - quando poderá ficar claro que a briga comercial entre as duas maiores economias do mundo deve se prolongar por muito mais tempo do que foi antecipado.
Enquanto aguarda a retomada das negociações entre EUA e China no encontro do G20, é importante estar atento aos desdobramentos de outro conflito, envolvendo o Irã. O abatimento de um drone militar norte-americano pelo país persa na semana passada elevou a tensão no Oriente Médio, o que fez o petróleo disparar mais de 5%. Trump estava pronto para retaliar, mas cancelou a ordem 10 minutos antes, suspendendo um bombardeio de proporções bem maiores.
Outro ponto de relevo é o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, amanhã, quando deve reforçar o tom suave na fala. Entre os indicadores econômicos, os investidores recebem ao longo desta semana dados sobre a atividade, que devem reforçar a percepção de desaceleração em curso, sem pressão nos preços. O destaque fica com a leitura final do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano no primeiro trimestre deste ano, na quinta-feira. No dia seguinte, saem a renda pessoal e os gastos com consumo no país.
Até lá, serão conhecidos dados sobre o setor imobiliário nos EUA e sobre a confiança de empresários e consumidores na zona do euro. Fora da região da moeda única, merece atenção também o PIB do Reino Unido, na sexta-feira. A ilha britânica, aliás, segue cercada de incertezas, com o futuro do Brexit aguardando a definição do próximo primeiro-ministro, que só será conhecido oficialmente em julho.
BC e Previdência dividem atenções locais
Já no Brasil, as divulgações a serem feitas pelo BC brasileiro, amanhã e quinta-feira, dividem as atenções com o andamento da reforma da Previdência no Congresso. É grande a expectativa pela votação do parecer do relator, o deputado Samuel Moreira, na comissão especial até quarta-feira (dia 26), o que pode abrir espaço para apreciação do texto no plenário da Câmara antes do recesso parlamentar, em 18 de julho.
O presidente da Casa, Rodrigo Maia, estaria costurando um acordo com deputados e integrantes da equipe econômica do governo Bolsonaro para votar as novas regras para aposentadoria até meados do mês que vem. Se a previsão for confirmada, o Comitê de Política Monetária (Copom) teria caminho livre para promover um corte na taxa básica de juros já no início do segundo semestre.
Na reunião da semana passada, quando manteve a Selic em 6,50% pela décima vez consecutiva, o Copom observou que o risco de eventual frustração com a agenda de reformas “é preponderante”. Ao tornar explícita essa dependência para ajustar o juro básico, o BC brasileiro deixou claro que só dará o próximo passo mediante uma evolução real da nova Previdência, trazendo dúvidas se o ciclo de cortes começa já em julho ou só em setembro.
A ata da reunião deste mês do Copom, a ser divulgada amanhã, pode esclarecer melhor essa postura. Afinal, ao mesmo tempo em que condiciona o processo de afrouxamento monetário às reformas, o BC tem se mostrado confortável com a trajetória da inflação e admite que houve uma “interrupção” na recuperação da economia brasileira.
Assim, a discussão sobre o espaço que o Copom dispõe para reduzir a taxa básica tende a esquentar, à medida que a agenda de reformas avançar e as condições da atividade e inflação permitirem um corte. Por isso, ganha ainda mais importância a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), na quinta-feira. Caso o documento mostre uma melhora nos fatores de risco, a pressão sobre o Copom pode subir ainda mais.
Os investidores, porém, já se anteciparam e derreteram os prêmios embutidos nas taxas de juros futuros na última sexta-feira, com o vencimento em janeiro do próximo ano ficando abaixo de 6%. O fechamento dos DIs refletiu também os discursos dos bancos centrais pelo mundo, em meio a um movimento global de achatamento ("flatenning") das curvas de juros.
Já o dólar ficou dividido entre o Fed e o Copom e defendeu a barreira de R$ 3,80, diante da perda de atratividade pelo diferencial de juros ("carrego") pago aqui. Mas esse argumento, gradualmente, está perdendo apelo. A sinalização dovish do Copom é apenas uma desculpa para manter uma posição defensiva (hedge) no dólar, mas diante da tendência global de corte de juros pelos BCs, não há motivos para manter uma posição comprada na moeda norte-americana - ao menos com as informações disponíveis até o momento.
Entre os indicadores econômicos domésticos, merece atenção a prévia de junho do índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA-15), que sai amanhã e deve registrar uma taxa mensal próxima a zero, com o acumulado em 12 meses afastando-se da meta perseguida pelo BC e ficando abaixo de 4%. Na sexta-feira, é a vez dos dados atualizados sobre o desemprego no país (Pnad) até maio. Um dia antes, sai o IGP-M deste mês.
Dedo no gatilho
Ou seja, se você, investidor, chegou até aqui, deve ter percebido que o recado dos bancos centrais brasileiro (Copom) e norte-americano (Fed) foi claro. Ambos estão prontos para agir, com o dedo no gatilho para disparar um processo de estímulos, mas, primeiro, jogaram a bola para o campo político, deixando o protagonismo das ações para os governantes.
Nesse sentido, é importante observar a disputa entre Executivo e Legislativo pela “paternidade” da agenda de reformas, com os parlamentares não querendo deixar o bônus da aprovação dessas medidas para o governo. O presidente Jair Bolsonaro, se esforça em um rearranjo interno para corrigir a articulação política, mas afirmou que o Congresso quer ter cada vez mais “superpoderes”, transformando-o em uma “rainha da Inglaterra”.
Já o presidente norte-americano estimulou as expectativas do mercado para a cúpula do G20, após ter twittado na última terça-feira sobre uma “conversa telefônica muito boa” que teve com o líder chinês e anunciar planos para um "encontro prolongado" em Osaka. As declarações revelam que Trump está interessado em se encontrar com Xi, elevando as chances de a reunião entre os dois terminar ao menos com um cessar-fogo.
Tudo vai depender, então, do desenrolar das atividades em Brasília e entre Washington e Pequim nos próximos dias, para saber quando (e se) Copom e Fed irão mudar a rota da política monetária, rumo à injeção de “dinheiro fácil” no mercado financeiro. Por ora, prevalece a sensação de que uma onda global de afrouxamento monetário está se formando. A conferir.
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