Sobriedade moderada: ficar sem álcool pode ser sua resposta no pós-Carnaval
Mais que uma tendência, abrir mão do álcool pode ser a chance de reequilibrar os efeitos nocivos dos excessos do verão sobre o corpo. A boa notícia? Ficar ‘moderadamente sóbrio’ está mais fácil do que nunca

por Bruno Acioli*
John Ciardi, notório poeta estadunidense, responsável pela tradução da dantesca Divina Comédia, cunhou, em 24 de setembro de 1966, enquanto era editor do periódico The Saturday Review, que não havia nada de errado em estar moderadamente sóbrio. A frase, obviamente, é uma sátira dentro de um contexto sobre indulgências etílicas.
Anos antes de Ciardi versar, precisamente em 1942, começava um movimento mundial espontâneo para puxar o freio no consumo de álcool. Afinal, proibir não resolveu e a Lei Seca é prova histórica. O Dry January (ou Janeiro Seco, na tradução livre), propunha, portanto, um mês inteiro de abstenção alcoólica. Este movimento já tinha adesão em águas internacionais, mas desembarcou no Brasil de maneira firme de dois anos para cá.
Os primeiros indícios de que o álcool não estava mais nos nossos planos datam 2022, com o relatório Predicts, da plataforma Pinterest. Nele, os dados revelam que a procura por coquetéis sem álcool (mocktails) ou com baixo teor alcoólico crescera 220% para 2023, enquanto a busca por "bar de mocktails" subira para 75%.
O mesmo movimento foi identificado pelo estudo MenuTrends, da Datassential, especializada no setor, ao avaliar que, nos últimos seis anos, a inclusão de drinks sem álcool em menus de bares ao redor do mundo decolou para 223%.
Apesar de alguns trabalhos (até controversos) denotarem que o consumo moderado de bebida alcoólica traz alguns poucos benefícios (MAYO CLINIC, 2021), é fato que o álcool é um composto nocivo ao organismo quando ingerido em demasia.
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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), não existe "consumo seguro" de bebida alcoólica, mas sim um "consumo moderado", como citado acima. Para a entidade, essa marca corresponde a 10g de álcool, que equivale a 350 ml de cerveja, 150 ml de vinho ou 50 ml de destilado.
Este padrão perfaz o consumo diário e a diretriz da própria OMS, reforçada pela comunidade científica, é de não exceder 20g/dia e abster-se de ingerir álcool, pelo menos, duas vezes por semana. Isso porque o acetaldeído, substrato da metabolização do álcool, permanece no organismo por até 20 horas após a ingestão (a depender da quantia) e afeta habilidades psicomotoras, humor, memória de curto e longo prazo, sono e desempenho sexual (Roehrs & Roth, 2001).
Todos esses prejuízos estão fora dos objetivos da Geração Z, que tem diminuído o consumo de álcool paulatinamente, representando uma queda de 10% para 8,1% em 2023, de acordo com o Relatório Covitel, que avaliou o comportamento de consumo dos brasileiros pré e pós-pandemia de covid-19.

Na seca, na prática
Na esteira da abstinência, contrariando a famigerada filosofia do inveterado Charles Bukowski, abri mão de toda e qualquer bebida alcoólica por dois meses, mesmo em um sábado onde toda a cidade está bêbada.
O primeiro sintoma é social: os lugares não são tão divertidos, assim como os assuntos. A noite torna-se insuportavelmente entediante e seu ciclo de convivência reluta em respeitar.
Quando você desiste de beber, seu corpo demonstra sentir falta. Isso porque o álcool é também uma substância neurosupressora que, de forma simples, causa efeito inibitório no cérebro e leva ao relaxamento e uma sensação de sedação (Dubowski, K.M, 1985). Porém, com o tempo, seu organismo tende a reequilibrar o nível enzimático do fígado, a pressão cardíaca, a saúde da pele, qualidade do sono, entre outras importantes funções fisiológicas. Tudo isso, claro, afetado de maneira negativa pelo consumo de álcool. Entretanto, trabalhos recentes alertam que cortar totalmente o álcool pode ser difícil, principalmente se você é um/a boêmio/a convicto/a. A recomendação, logo, é procurar ajuda para conduzir essa sobriedade de maneira saudável, aos poucos, com desmame.
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Beber é um fenômeno antropológico, para não dizer evolutivo. A teoria do macaco bêbado, desenvolvida primeiramente por Robert Dudley, biologista da Universidade Berkeley (EUA), propõe que nosso gosto por álcool deriva de nossos ancestrais primatas que, milhões de anos atrás, descobriram que alguns frutos fermentados davam “barato”. Dudley trabalha essa hipótese por 25 anos, reforçada por outro estudo, conduzido pela primatologista Christina Campbell, da Universidade do Estado da California (EUA), que possui PhD em antropologia. Em seu trabalho, foi pontuado que amostras de urina de espécimes de macaco-aranha-de-geoffroy, endêmicos do Panamá, continham álcool metabolizado, sendo essa uma das linhas de defesa de Dudley, que publicou seu trabalho no Royal Society Open Science.
Sendo ou não uma necessidade genética, a boa notícia é que, uma vez cortado o álcool da sua rotina, você sentirá mais rapidamente os efeitos inibitórios e, talvez, consuma menos durante sua próxima indulgência. E, aqui, há mais um dos grandes benefícios da sobriedade: segundo trabalho no Addictive Behaviors, consumir um drink, uma cerveja ou qualquer outra bebida sem álcool pode proporcionar quase os mesmos efeitos das versões alcoólicas. Isso se dá por conta do tão famoso Placebo. Não à toa, o segmento de free-alcohol tem crescido tanto. Aqui, falamos de bares com coquetéis, cervejas 0.0 e até mesmo destilados, como gin, com pouco ou nenhum percentual de álcool na receita.
E este é um mercado em expansão. Um drink sem álcool é fácil de imaginar, agora, como produzem gin ou vodca sem álcool? Primeiro, é preciso esclarecer que um gin sem álcool não pode ser chamado, oficialmente, de gin. Tanto é que os produtores rotulam estas garrafas como ”free spirit" ou “alternative fin". O mesmo acontece para drinks prontos sem álcool: o Negroni vira NOgroni, por exemplo. E o processo é muito semelhante para produzir as duas versões: com ou sem álcool.
Na produção de gin, para manter o foco, botânicos e especiarias são infusionados em álcool para extrair sabores e aromas. Cada gin tem um perfil (mais herbal, mais cítrico, mais floral, etc), mas todos precisam conter zimbro. Com a mistura no ponto certo, entra a destilação. Aqui, a gente toma um rumo diferente para focar no "gin" sem álcool, que passa por alguns novos ciclos na destilaria, a baixa temperatura, para que o álcool evapore e a água, que entra no processo, mantenha o sensorial prévio. É como um grande processo de flambagem.
Logo, é possível, sim, abrir mão dos prejuízos do álcool, ter uma vida divertida com drinks de baixo ou nenhum teor alcóolico e, ainda assim, não virar chacota porque, como você sabe, abrir mão de bebida com álcool está na moda. Ciardi era um visionário: não há nada de errado em sobriedade moderada.
Bruno Acioli é jornalista, dono de bar, escritor, ex-Men's Health BR, GQ BR, Revistas O2 e VIP. Finalista Prêmio Abril de Jornalismo.
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