Medo de Trump? O que o banco central dos EUA disse sobre o republicano — e o que isso tem a ver com os juros
A política mais dura de imigração, o aumento das tarifas sobre parceiros comerciais e a isenção de impostos têm potencial para acelerar a inflação, mas nem tudo é ruim para o Fed quando o assunto é o governo de Trump

O Federal Reserve (Fed) bem que tentou, mas não conseguiu escapar das garras de Donald Trump. O banco central norte-americano vinha se esquivando das políticas da Casa Branca, mas o impacto sobre os juros é inevitável e a autoridade monetária precisou se posicionar.
Até então o Fed e seu presidente, Jerome Powell, adotavam o discurso de que é preciso esperar para ver os efeitos das medidas adotadas por Trump, evitando um embate direito com o chefe da Casa Branca. O Seu Dinheiro contou sobre a relação entre Trump e Powell e você pode conferir aqui.
A política mais dura de imigração, o aumento das tarifas sobre parceiros comerciais e a isenção de impostos têm potencial para acelerar a inflação e, consequentemente, podem atrasar o corte da taxa de juros nos EUA.
Mas nesta quarta-feira (19), a postura do banco central norte-americano mudou. A ata da reunião de janeiro — a primeira do ano e também sob a gestão republicana — mostrou que os membros do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) estão preocupados com os efeitos das medidas do governo sobre os preços.
O recado foi claro: é preciso ver a inflação desacelerar ainda mais antes de voltar a cortar os juros e em um ambiente de tarifas mais elevadas, essa missão pode estar comprometida.
Na reunião dos dias 28 e 29 de janeiro, o Fomc optou por manter a taxa referencial inalterada na faixa entre 4,25% e 4,50%.
Leia Também
Sem querer parecer chato: Ibovespa reage a prejuízo da Vale e ao andamento de temporada de balanços
- LEIA MAIS: Mesmo com alta do Ibovespa neste ano, “mercado brasileiro é como uma floresta devastada pelo fogo”, defende analista — onde investir neste cenário?
Fed: há tempo para corte os juros
Em dezembro de 2024, última vez que o comitê atualizou as projeções, a sinalização passou a ser de dois cortes de juros neste ano e não mais quatro como estava estimado até então.
Depois do encontro de janeiro, o mercado reduziu para um corte em 2025 e adiou de junho para setembro o afrouxamento monetário nos EUA.
A ata de hoje reforça a mensagem de que não há pressa para cortar os juros em um ambiente de incertezas provocado pelas medidas de Trump.
O comitê observou que a política atual é “significativamente menos restritiva” do que era antes dos cortes nos juros, dando aos membros tempo para avaliar as condições antes de fazer quaisquer movimentos adicionais.
Os membros do Fomc disseram que a política atual fornece “tempo para avaliar a perspectiva em evolução para a atividade econômica, o mercado de trabalho e a inflação” com a grande maioria apontando para uma postura política ainda restritiva.
Os participantes do comitê indicaram que, desde que a economia permanecesse perto do emprego máximo, eles gostariam de ver mais progresso na inflação antes de fazer ajustes adicionais nos juros.
CHINA vs. EUA: TRUMP REVELOU outra POSTURA ao assumir a PRESIDÊNCIA
E vem mais tarifa aí
As autoridades do Fed notaram preocupações sobre o potencial que as mudanças na política do governo poderiam ter na manutenção da inflação acima da meta de 2% do Fed.
Trump já instituiu algumas tarifas, mas nos últimos dias ameaçou expandi-las.
Em comentários aos repórteres na terça-feira (18), o republicano disse que está analisando taxas de 25% sobre automóveis, produtos farmacêuticos e semicondutores.
Embora ele não tenha se aprofundado muito em detalhes, as tarifas levariam a política comercial a outro nível e representariam mais ameaças aos preços em um momento em que a inflação desacelerou, mas ainda está dos 2% do Fed.
“Contatos comerciais em vários distritos indicaram que as empresas tentariam repassar aos consumidores custos de insumos mais altos decorrentes de tarifas potenciais”, diz um trecho da ata.
Mas nem tudo é ruim no governo Trump sob a visão do Fed. Do outro lado das preocupações com tarifas e inflação, a ata mostrou “otimismo substancial sobre a perspectiva econômica, decorrente em parte de uma expectativa de flexibilização das regulamentações governamentais ou mudanças nas políticas tributárias”.
A inflação no Brasil está ‘normal’? Em fórum internacional, Haddad vê indicadores ‘dentro da normalidade’ na era do Plano Real
O ministro da Fazenda participou de painel do Fundo Monetário Internacional, onde comentou também sobre dólar e ajuste fiscal
O urso de hoje é o touro de amanhã? Ibovespa tenta manter bom momento em dia de feriado nos EUA e IBC-Br
Além do índice de atividade econômica do Banco Central, investidores acompanham balanços, ata do Fed e decisão de juros na China
Em meio a transição de modelo, China luta contra a desaceleração do crescimento do PIB no novo Ano da Serpente
Depois de décadas de forte expansão econômica, o crescimento do PIB da China vem desacelerando nos últimos anos e desafia o otimismo do governo Xi Jinping
Selic abaixo dos 15% no fim do ano: Inter vai na contramão do mercado e corta projeção para os juros — mas os motivos não são tão animadores assim
O banco cortou as estimativas para a Selic terminal para 14,75% ao ano, mas traçou projeções menos otimistas para outras variáveis macroeconômicas
Duas faces de uma mesma moeda: Ibovespa monitora Galípolo para manter recuperação em dia sem Trump
Mercados financeiros chegam à última sessão da semana mostrando algum alívio em relação à guerra comercial norte-americana
O jogo virou na bolsa? Por que Wall Street acelerou a alta e o Dow Jones subiu 350 pontos após as tarifas recíprocas de Trump
A política tarifária do republicano pode facilmente sair pela culatra se acelerar a inflação e reduzir o crescimento, mas o mercado viu as medidas desta quinta-feira (13) com outros olhos
Da ficção científica às IAs: Ibovespa busca recuperação depois de tropeçar na inflação ao consumidor norte-americano
Investidores monitoram ‘tarifas recíprocas’ de Trump, vendas no varejo brasileiro e inflação do produtor dos EUA
Tarifas recíprocas, inflação, juros e guerra: nada passa batido por Trump
Presidente norte-americano usa a mesma estratégia da primeira gestão e faz pressão em temas sensíveis à economia norte-americana e ao mundo
Tesouro Direto e títulos isentos de IR: Itaú BBA recomenda renda fixa para fevereiro, e retorno líquido chega a 8,50% a.a. + IPCA
Banco recomenda pós-fixados e indexados à inflação, mas vê oportunidade até mesmo em prefixados com prazos até três anos
Volatilidade em alta: inflação dos EUA derruba bitcoin (BTC), mas apenas por um instante; veja o que move o mercado cripto hoje
A inflação nos EUA cresceu mais que o esperado em janeiro, mas após um choque inicial no início do dia, grande parte do mercado conseguiu reverter as perdas e seguiu em alta
‘O barco vai balançar’: Galípolo prevê mercado mais agitado com fim do guidance do BC e indica inflação fora da meta
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, participou do primeiro evento desde a posse no cargo e comentou sobre a rota dos juros no Brasil
Brasil não vive crise como a de 2016, mas precisa largar o ‘vício em gasto público’ se quiser que os juros caiam, diz Mansueto Almeida, do BTG
Comentários do economista-chefe do banco foram feitos durante evento promovido pelo BTG Pactual na manhã desta quarta-feira em São Paulo
Daqui ninguém me tira? Powell desafia Trump e diz que vai continuar no comando do Fed
Em meio a uma relação tensa com o republicano, o presidente do BC dos EUA fala abertamente sobre a possibilidade de renunciar ao cargo antes do final do mandato
Bolsa ladeira abaixo, dólar morro acima: o estrago que o dado de inflação dos EUA provocou nos mercados
Os investidores ainda encararam o segundo dia de depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso e uma declaração polêmica de Trump sobre os preços
Mais uma chance na vida: Ibovespa tenta manter bom momento em dia de inflação nos EUA e falas de Lula, Galípolo e Powell
Investidores também monitoram reação a tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio; governo brasileiro mantém tom cauteloso
Juros nos EUA: o que Powell disse que fez o mercado adiar a aposta no corte das taxas neste ano
Presidente do Federal Reserve concede depoimento ao Senado nesta terça-feira (11) e reforçou uma mensagem que vem sendo repetida pelas autoridades de política monetária nas últimas semanas
Inflação desacelera a menor nível para janeiro desde o Plano Real, mas não vai impedir Galípolo de continuar subindo os juros
Inflação oficial desacelerou de +0,52% para +0,16% na passagem de dezembro para janeiro, mas segue fora da meta no acumulado em 12 meses
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Um rolezinho no shopping: Ibovespa reage a tarifas de Trump em semana de testemunhos de Powell e IPCA
Enquanto isso, banco BTG Pactual dá andamento à temporada de balanços com lucro recorde em 2024
Dólar nas mínimas do dia: o dado de emprego dos EUA que derrubou a moeda norte-americana aqui e lá fora
As bolsas tanto aqui como lá fora reagiram pouco ao payroll, que trouxe dados mistos sobre a saúde do mercado de trabalho norte-americano em janeiro; saibam como ficam os juros na maior economia do mundo após esses relatórios