Daqui ninguém me tira? Powell desafia Trump e diz que vai continuar no comando do Fed
Em meio a uma relação tensa com o republicano, o presidente do BC dos EUA fala abertamente sobre a possibilidade de renunciar ao cargo antes do final do mandato

Daqui não saio, daqui ninguém me tira. O carnaval ainda não chegou, mas o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, já está no ritmo da famosa marchinha — o que não deve agradar em nada o chefe da Casa Branca, Donald Trump.
Não, Powell não está pensando em jogar a política monetária para o alto e cair na folia. Muito pelo contrário. O presidente do banco central norte-americano quer terminar o trabalho dado pelo Congresso: manter o pleno emprego e fazer a inflação convergir para a meta de 2%.
Acontece que desde de 20 de janeiro deste ano, Powell tem uma pedra nesse caminho: Trump e as políticas do republicano que favorecem o reaquecimento de preços nos EUA.
- O índice de preços ao consumidor de janeiro mostrou que o processo de desaceleração da inflação não só está estagnado como corre o risco de ser revertido, derrubando bolsas mundo afora. O Seu Dinheiro contou essa história e você pode conferir os detalhes aqui.
- SAIBA MAIS: Com o 4T24 no radar, analista acredita que uma ação exportadora deve ter “resultado excelente” e ser um dos grandes destaques de fevereiro
A tensa relação entre Powell e Trump
Para entender a razão da marcinha de Powell, é preciso voltar um pouco no tempo. No primeiro mandato de Trump, a relação entre a Casa Branca e o Fed foi uma das piores.
O republicano ignorou a preservação da independência do BC dos EUA, rompeu com a tradição de não interferir no banco central norte-americano e passou a falar abertamente sobre as decisões ligadas aos juros.
Recorrentemente, Trump criticava Powell e o Fed por não manter os juros em níveis mínimos. Ele chegou até mesma a ameaçar trocar o comando do BC caso a autoridade monetária não fizesse a Casa Branca indicava.
Leia Também
Frenesi com a bolsa: BTG revela se há motivos reais para se animar com as ações brasileiras em 2025
Sem querer parecer chato: Ibovespa reage a prejuízo da Vale e ao andamento de temporada de balanços
Powell resistiu, perseguindo o mandato duplo determinado pelo Congresso (pleno emprego e estabilidade de preços). Agora, o presidente do Fed revive os momentos de tensão com Trump.
O republicano já exigiu que os juros caiam imediatamente, acusou o próprio banco central norte-americano de gerar inflação com a política atual de manutenção de juros e sinalizou algumas vezes que poderia tirar Powell do comando do Fed.
Nesta quarta-feira (12), Powell finalmente respondeu ao presidente dos EUA.
- VEJA MAIS: Brasil está na mira do tarifaço de Trump – confira os impactos dessa mudança nos seus investimentos
Powell: daqui não saio, daqui ninguém me tira
Participando do segundo dia de depoimentos semestrais ao Congresso, Powell foi questionado sobre sua permanência no cargo diante das pressões de Trump.
Em uma das raras respostas diretas sobre o assunto, ele respondeu aos deputados que não renunciará se Trump pedir que ele abandone a presidência do Fed.
O mandato de Powell acaba em 2026 e a indicação para o posto é feita pelo chefe da Casa Branca, mas deve ser chancelada pelo Senado assim como acontece no Brasil.
Powell também falou mais claramente sobre as tarifas comerciais anunciadas por Trump e que tem potencial para acelerar a inflação junto com outras medidas como o endurecimento das regras de imigração e a isenção de impostos.
“É possível que teremos que agir com os juros de acordo [com tarifas], mas é preciso esperar. Adotaremos decisões sobre juros com base em dados, sem foco em uma política particular”, afirmou.
O presidente do Fed também não fugiu de outro assunto envolvendo Trump. Nesta semana, Elon Musk disse que o banco central norte-americano deveria passar por uma auditoria — você pode conferir os detalhes dessa história aqui.
Questionado hoje por deputados se Musk foi ao Federal Reserve para ter acesso a dados internos, Powell respondeu: “não”.
Na terça-feira (12), o presidente do Fed ressaltou que informará ao Senado caso Musk tente ter acesso a informações restritas ao banco central norte-americano.
COMO o MERCADO reagiu a MEDIDAS de TRUMP e DEEPSEEK: e O QUE FAZER com AÇÕES INTERNACIONAIS AGORA
O peso da inflação transitória nas costas de Powell
Embora a relação entre Powell e Trump não tenha sido das mais fáceis no primeiro mandato do republicano, o presidente do Fed fez seu mea-culpa nesta quarta-feira (12) com relação à condução dos juros.
Perguntado se hoje ele considerava ter sido melhor subir os juros antes do último ciclo de aperto monetário, que começou em março de 2022, para combater os elevados preços ao consumidor, Powell reconheceu seu erro.
“Olhando para o passado, talvez teria sido melhor. Mas é preciso cuidado nesta análise. Não subimos juros antes porque pensamos que a inflação era transitória”, disse.
Vale lembrar que a leitura do Fed de que a inflação no período pós-pandemia seria transitória acabou levando o banco central norte-americano a realizar o aperto monetário mais agressivo em décadas para controlar os preços, que chegavam a 10%.
Muitos membros do próprio Fed e especialistas diziam na época que o Fed estava agindo com atraso ao não elevar os juros nos primeiros sinais de que a inflação não iria arrefecer naquele momento.
Memórias de uma janela fechada: Ibovespa busca manter alta com Wall Street de volta ao jogo e negociações sobre guerra na Ucrânia
Diante da agenda fraca, negociações entre EUA e Rússia ocorrem na Arábia Saudita, mas exclui os ucranianos da conversa
Felipe Miranda: Recuperação técnica?
É natural também que os primeiros sinais da inversão de ciclo sejam erráticos e incipientes, gerando dúvidas sobre sua profundidade e extensão. Mas não se engane: no momento em que os elementos forem uníssonos e palpáveis, pode ser tarde demais
Nem Galípolo escapou: Ação do Magazine Luiza (MGLU3) salta na B3 em meio a críticas de Luiza Trajano aos juros altos
A empresária pediu ao presidente do Banco Central que não antecipe novas altas na Selic, que hoje encontra-se no patamar de 13,25% ao ano
O urso de hoje é o touro de amanhã? Ibovespa tenta manter bom momento em dia de feriado nos EUA e IBC-Br
Além do índice de atividade econômica do Banco Central, investidores acompanham balanços, ata do Fed e decisão de juros na China
Selic abaixo dos 15% no fim do ano: Inter vai na contramão do mercado e corta projeção para os juros — mas os motivos não são tão animadores assim
O banco cortou as estimativas para a Selic terminal para 14,75% ao ano, mas traçou projeções menos otimistas para outras variáveis macroeconômicas
Duas faces de uma mesma moeda: Ibovespa monitora Galípolo para manter recuperação em dia sem Trump
Mercados financeiros chegam à última sessão da semana mostrando algum alívio em relação à guerra comercial norte-americana
Da ficção científica às IAs: Ibovespa busca recuperação depois de tropeçar na inflação ao consumidor norte-americano
Investidores monitoram ‘tarifas recíprocas’ de Trump, vendas no varejo brasileiro e inflação do produtor dos EUA
Tarifas recíprocas, inflação, juros e guerra: nada passa batido por Trump
Presidente norte-americano usa a mesma estratégia da primeira gestão e faz pressão em temas sensíveis à economia norte-americana e ao mundo
Tesouro Direto e títulos isentos de IR: Itaú BBA recomenda renda fixa para fevereiro, e retorno líquido chega a 8,50% a.a. + IPCA
Banco recomenda pós-fixados e indexados à inflação, mas vê oportunidade até mesmo em prefixados com prazos até três anos
‘O barco vai balançar’: Galípolo prevê mercado mais agitado com fim do guidance do BC e indica inflação fora da meta
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, participou do primeiro evento desde a posse no cargo e comentou sobre a rota dos juros no Brasil
Brasil não vive crise como a de 2016, mas precisa largar o ‘vício em gasto público’ se quiser que os juros caiam, diz Mansueto Almeida, do BTG
Comentários do economista-chefe do banco foram feitos durante evento promovido pelo BTG Pactual na manhã desta quarta-feira em São Paulo
Bolsa ladeira abaixo, dólar morro acima: o estrago que o dado de inflação dos EUA provocou nos mercados
Os investidores ainda encararam o segundo dia de depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso e uma declaração polêmica de Trump sobre os preços
Mais uma chance na vida: Ibovespa tenta manter bom momento em dia de inflação nos EUA e falas de Lula, Galípolo e Powell
Investidores também monitoram reação a tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio; governo brasileiro mantém tom cauteloso
Juros nos EUA: o que Powell disse que fez o mercado adiar a aposta no corte das taxas neste ano
Presidente do Federal Reserve concede depoimento ao Senado nesta terça-feira (11) e reforçou uma mensagem que vem sendo repetida pelas autoridades de política monetária nas últimas semanas
Inflação desacelera a menor nível para janeiro desde o Plano Real, mas não vai impedir Galípolo de continuar subindo os juros
Inflação oficial desacelerou de +0,52% para +0,16% na passagem de dezembro para janeiro, mas segue fora da meta no acumulado em 12 meses
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Dólar nas mínimas do dia: o dado de emprego dos EUA que derrubou a moeda norte-americana aqui e lá fora
As bolsas tanto aqui como lá fora reagiram pouco ao payroll, que trouxe dados mistos sobre a saúde do mercado de trabalho norte-americano em janeiro; saibam como ficam os juros na maior economia do mundo após esses relatórios
O raio-x da Moody’s para quem investe em empresas brasileiras: quais devem sofrer o maior e o menor impacto dos juros altos
Aumento da Selic, inflação persistente e depreciação cambial devem pressionar a rentabilidade das companhias nacionais em diferentes graus, segundo a agência de classificação de risco
Um (dilema) Tostines na bolsa: Ibovespa reage a balanços e produção industrial em dia de aversão ao risco lá fora
Santander Brasil é o primeiro bancão a divulgar balanço do quarto trimestre de 2024; Itaú publica resultado depois do fechamento
Galípolo prepara a caneta: a meta de inflação já tem data para ser descumprida — e isso tende a tornar o Banco Central ainda mais rigoroso
Ata do Copom trouxe poucas novidades em relação ao comunicado, mas proporcionou vislumbres sobre o novo regime de metas de inflação.