A lua de mel do mercado com Trump acabou? Bolsa de Nova York cai forte e arrasta Ibovespa com o temor de recessão no radar
Saiba o que fazer com os seus investimentos; especialistas dizem se há motivo para pânico e se chegou a hora de comprar ou vender ativos nos EUA

Quando Donald Trump venceu as eleições presidenciais em novembro, o mercado celebrou o republicano que prometia trazer de volta aos EUA os investimentos, afrouxar a regulação, endurecer as regras de imigração e ainda cortar impostos para colocar dinheiro de volta no bolso dos norte-americanos. A era de ouro, como ele mesmo chamou, estava na próxima esquina. Cinquenta dias se passaram desde a posse e, ao que parece, a lua de mel da bolsa com a Casa Branca está perto do fim.
Quem olha para Wall Street nesta segunda-feira (10) vê o Dow Jones perdendo mais de 800 pontos, o S&P 500 recuando mais de 2% e o Nasdaq operado com queda de 4% — um movimento que arrasta as bolsas mundo afora e já fez o Ibovespa ficar preso nos 123 mil pontos, com uma queda de cerca de 1%.
No mercado de câmbio, o dólar à vista renova uma série de máximas, chegando a ser cotado na casa dos R$ 5,84 no início da tarde.
O temor de que as políticas de Trump não tragam a exuberância esperada para a bolsa norte-americana e lance a economia dos EUA em uma recessão toma conta dos investidores.
Parte dessa preocupação mora no fato de que a chuva de tarifas anunciadas pelo republicano leve os preços a novos patamares e torne a vida do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais difícil na execução dos tão almejados cortes de juros.
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E, ao que parece, Trump vai pagar para ver. Em entrevista à Fox News no domingo (9), o presidente dos EUA foi questionado sobre a possibilidade de a economia entrar em recessão. Ele respondeu, sem titubear, que a economia iria “passar por um período de transição”.
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"Odeio prever coisas assim", disse. "Há um período de transição, porque o que estamos fazendo é muito grande — estamos trazendo riqueza de volta para os EUA", afirmou Trump, acrescentando: "leva um pouco de tempo."
Economistas do JPMorgan aumentaram nesta segunda-feira (10) o risco de uma recessão neste ano para 40% — acima dos 30% do começo do ano.
“Vemos um risco material de que os EUA entrem em recessão neste ano devido às políticas extremas dos EUA”, escreveu uma equipe liderada por Bruce Kasman.
O time do Goldman Sachs liderado por Jan Hatzius disse na sexta-feira (7) que aumentou de 15% para 20% a chance de recessão nos EUA em 12 meses.
O banco observou que a previsão pode aumentar ainda mais se o governo Trump permanecer "comprometido com suas políticas, mesmo diante de dados muito piores".
Os economistas do Morgan Stanley liderados por Michael Gapen reduziram as previsões de crescimento econômico para os EUA na semana passada e aumentaram as expectativas de inflação — um combo indesejado.
O banco agora espera um crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,5% em 2025 e 1,2% em 2026, abaixo das estimativas anteriores.
Os sinais de recessão que arrastam as bolsas
Além das previsões dos bancos, a reação do mercado tem respaldo nos números — talvez o ponto de dados mais significativo sinalizando uma recessão nos EUA seja o modelo GDPNow, do Federal Reserve de Atlanta, que prevê que a atividade econômica dos EUA vai encolher a uma taxa anualizada de -2,4% no primeiro trimestre de 2025.
- O GDPNow é um modelo do Produto Interno Bruto (PIB) elaborado pelo Fed de Atlanta. É atualizado ao longo do trimestre, à medida que novos dados econômicos são divulgados. Embora não seja uma previsão oficial do Fed de Atlanta, ajuda a complementar a divulgação trimestral do PIB dos EUA pelo Bureau of Economic Analysis (BEA). O objetivo do GDPNow é fornecer uma estimativa do PIB sem ajustes subjetivos, baseados apenas em modelos matemáticos.
Se a previsão de retração de -2,4% do GDPNow se confirmar, esse seria o pior desempenho econômico dos EUA desde o segundo trimestre de 2020 — no auge da pandemia de covid-19 — e abre caminho para a chamada recessão técnica, quando o PIB é negativo por dois trimestres consecutivos.
Vale lembrar que outros sinais de alerta com relação à saúde da economia norte-americana também surgiram. A confiança do consumidor, por exemplo, caiu para o menor nível em 15 meses e os anúncios de demissões dispararam para o maior patamar em quatro anos e meio.
Segundo James Knightley, economista-chefe Internacional do ING, a renda das famílias norte-americanas deve desacelerar significativamente no segundo semestre do ano e os cortes de gastos do governo só vão agravar essa situação.
“As iniciativas do Departamento de Eficiência Governamental [Doge, o departamento comandado por Elon Musk] para cortar pelo menos 200 mil funcionários federais da folha de pagamento podem ser a ponta do iceberg quando consideramos que mais de cinco milhões de empregos do setor privado estão vinculados a contratos governamentais”, disse.
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Tarifas de Trump: onde estamos até agora
Ao longo da última semana — particularmente no recente discurso ao Congresso — Trump confirmou que as tarifas continuariam a ser a principal ferramenta utilizada para reequilibrar os déficits comerciais e buscar concessões em questões relativas à imigração, segurança de fronteira e fluxo de fentanil para os EUA.
Não à toa, esse é um assunto que o mercado está levando tempo para digerir. Anúncios sobre aumentos de tarifas em países individuais, tarifas recíprocas sobre parceiros comerciais, exceções, isenções e possíveis reversões obscurecem ainda mais o cenário.
Knightley, do ING, diz que a probabilidade de pressão financeira vinda da política tarifária de Trump é crescente.
“As tarifas comerciais provavelmente serão implementadas no segundo trimestre e, embora a administração argumente que ‘os estrangeiros pagarão’, há um reconhecimento de que pode haver dor financeira para os consumidores”, afirma.
“Trump sugeriu que impostos mais baixos fornecerão um impulso mais do que compensador, mas não temos tanta certeza. A extensão dos cortes de impostos de 2017 quase certamente será aprovada, mas não haverá nenhuma mudança perceptível na renda familiar depois disso”, acrescenta.
Por enquanto, Trump anunciou tarifas sobre o México, Canadá, China, tarifas recíprocas — que implicam na imposição da mesma taxa imposta aos produtos norte-americanos por outros países —, tarifas sobre o aço e alumínio importados pelos EUA e taxação do setor automotivo.
- Trump ofereceu um adiamento de 30 dias nas tarifas sobre importações de automóveis, bem como produtos em conformidade com o USMCA — o acordo comercial entre EUA, México e Canadá — mas deve revisitar essa suspensão no início de abril.
No caso da China, o governo Trump dobrou a taxa imposta a todas as exportações chinesas para os EUA. Pequim agora está sujeito a uma tarifa de 20% em uma escalada significativa na política comercial restritiva entre as duas maiores economias do mundo.
Quanto à retaliação, a China optou por uma resposta comedida, visando apenas produtos selecionados de indústrias consideradas sensíveis aos EUA.
Supondo que as isenções temporárias sejam de fato temporárias, o Wells Fargo estima que as ações comerciais de Trump até o momento cubram 44% das importações dos EUA — esse percentual pode aumentar ou diminuir nos próximos meses, dependendo de novos desenvolvimentos.
“Mesmo sem clareza total, a antecipação de tarifas já está deixando sua marca nos dados econômicos. O déficit comercial em janeiro aumentou para seu maior ponto registrado desde 1992, enquanto as empresas se esforçavam para se antecipar a novas taxas”, diz a equipe de análise do banco.
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Bolsa: o que fazer com os seus investimentos agora?
Os três principais índices de ações da bolsa de Nova York terminaram 2024 com ganhos sólidos: o S&P 500 subiu 23%, o Dow Jones avançou quase 13% e o Nasdaq, alimentado pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial, teve alta de mais de 29%.
Como comparação, o Ibovespa terminou 2024 com 10,22% em perdas acumuladas.
Em 2025, o jogo virou. Enquanto o principal índice da bolsa brasileira acumula no ano até agora um ganho de 3,5%, o Dow recua 0,50%, o S&P 500 baixa 3,9% e o Nasdaq é o que mais cai: -9%.
Hora de correr do mercado norte-americano? Para Enzo Pacheco, analista da Empiricus, o momento pode ser de oportunidade.
“No primeiro governo de Trump também tivemos uma alta inicial do mercado, que depois foi seguida de uma desvalorização. Mas o mercado acabou se ajustando e terminou maior do que quando começou. A volatilidade se manteve presente como agora, então essa pode ser uma boa oportunidade para ter alguma posição em ativos dolarizados ou aumentar essa posição”, afirmou Pacheco em entrevista ao Giro do Mercado, um programa do Money Times.
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O analista da Empiricus diz que aumentou a participação da United Health, a maior empresa de seguros dos EUA, na carteira de março.
“A United Health caiu muito por conta de uma investigação por possíveis fraudes, mas é algo incipiente ainda. Mesmo com a ação caindo muito, não é nosso maior posição da carteira, saímos de 5% para 10% da carteira”, afirma.
“Elas estão caindo, mas existem oportunidades na bolsa norte-americana. A questão agora é que o investidor precisa vasculhar para encontrá-las”, acrescenta.
Pacheco também comentou sobre as Sete Magníficas — Apple, Nvidia, Microsoft, Alphabet, Amazon, Meta e Tesla — que acumulam uma queda superior a 10%.
“Foram dois anos calcados na tese das big techs e do excepcionalismo norte-americano. Mas as tarifas estão impactando o crescimento, a inflação e os juros, forçando os investidores a se reposicionarem”, disse.
“Se antes o investidor queria se expor aos ativos dos EUA e topava pagar mais por isso, agora que a tese de IA [inteligência artificial] foi para a China, que tem múltiplos mais baixos e retornos tão bons quanto os oferecidos nos EUA, a história muda”, afirma Pacheco, lembrando que a economia dos EUA ainda está em boa forma e em linha com seus pares.
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