Hapvida (HAPV3) revive pesadelo do passado… só que pior: além do balanço, o que realmente está por trás da queda de 42% em um dia?
Não é a primeira vez que as ações da Hapvida são dilaceradas na bolsa logo após um balanço. Mas agora o penhasco foi maior — e tem muito mais nisso do que “só” os números do terceiro trimestre
Se um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, uma tempestade pode muito bem cair… a Hapvida (HAPV3) que o diga. A empresa esteve no centro de um forte temporal na bolsa há duas semanas, com queda de 42% em um único dia, logo depois de divulgar o balanço do terceiro trimestre — e até agora lida com os sintomas do ‘resfriado’ que isso causou.
Esta não é a primeira vez que um resultado ‘abala a imunidade’ da operadora de planos de saúde e dentários.
Em março de 2023, a companhia se viu em uma situação bem parecida ao cair mais de 30% em um pregão depois de publicar os números referentes ao quarto trimestre de 2022. Inclusive, os sintomas que causaram a crise na época são muito parecidos com os de agora.
Outro ponto que se repetiu em relação à queda de 2023 foram gestores se dizendo cansados de dar chances à Hapvida. E, se a reclamação voltou é porque, bem ou mal, houve uma nova chance — mesmo que a empresa nunca tenha recuperado totalmente sua “saúde” na avaliação dos investidores.
Hapvida: o inimigo agora é … o mesmo?
Em ambos os casos, o mercado não gostou nada de ver o aumento da sinistralidade, que é o percentual de uso dos serviços prestados pela operadora de saúde versus a receita total recebida. No terceiro trimestre de 2025, esse indicador chegou aos 75,2%, avanço de 1,4 ponto percentual (p.p) ante o ano anterior.
E, se lá atrás os resquícios da pandemia ainda justificavam o problema, desta vez o CEO da Hapvida, Jorge Pinheiro, culpou as viroses e as temperaturas mais baixas por um período mais prolongado.
Leia Também
Mas Pinheiro admitiu que parte disso veio para ficar como consequência de uma melhora no serviço prestado nos hospitais — com redução no tempo de atendimento no pronto socorro e pontualidade nas consultas e exames agendados previamente. Além disso, a empresa disse ter eliminado a fila acumulada de procedimentos cirúrgicos.
BTG Pactual, JP Morgan, Goldman Sachs e Itaú BBA demonstraram preocupações com essa linha do balanço.
“Embora reconheçamos que houve frequência atípica de uso da rede no trimestre, o desempenho fraco também está ligado a fatores que não são necessariamente temporários e podem elevar o custo por beneficiário por um período prolongado e, eventualmente, exigir reaceleração de ticket médio para que a empresa consiga atingir metas de rentabilidade”, dizem os analistas do Itaú BBA em relatório.
Acontece que a Hapvida não tem muito espaço para cobrar mais caro, segundo um gestor ouvido pelo Seu Dinheiro que preferiu não se identificar. O mercado de planos de saúde — especialmente no Sudeste e Sul — é praticamente um jogo de “rouba monte”.
Para crescer significativamente, a Hapvida precisa conquistar beneficiários de outras operadoras. Até porque o total de usuários de planos de saúde cresce pouco a cada ano e gira em torno dos 50 milhões há pelo menos cinco anos.
E, se esse é o objetivo — como o próprio CEO reforçou na teleconferência —, a empresa não consegue repassar preços que fiquem acima da concorrência, por exemplo.
Outros sintomas antigos
O aumento da sinistralidade está por trás dos outros pontos em comum entre os problemas do presente e passado: entre eles, a queda no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que veio bem abaixo do esperado.
Neste terceiro trimestre, o indicador de desempenho operacional ajustado ficou em R$ 746 milhões — queda de 2,4% em relação ao ano anterior —, cerca de 25% aquém do projetado pelo Itaú BBA e BTG Pactual e 30% abaixo do JP Morgan.
O consumo de caixa (de R$ 25 milhões no 3T25) também entra nessa lista, impactado pela sinistralidade elevada e pelo aumento das provisões para procedimentos realizados na rede credenciada e no SUS.
- Vale lembrar que, na época, a empresa estava lidando com os custos da integração após a fusão com a NotreDame Intermédica, um ponto que detalharemos mais adiante.
Mas isso não justifica uma queda tão abissal
“Foi um resultado ruim, mas não a ponto de cair mais de 40%. Então há um aspecto técnico também”, diz um outro gestor com quem o Seu Dinheiro falou.
Muitos fundos tinham uma posição não desprezível na empresa. Por exemplo, fundo de ações da Squadra teve perdas de quase 5% no dia, um da Atmos, que chegou a perder quase 2%.
Quando investidores começaram a vender depois dos resultados ruins, os fundos que tinham posições médias para grandes dificilmente teriam coragem de comprar mais e é provável que tenham entrado na ponta vendedora a fim de reduzir o risco a qualquer preço.
“No final das contas, o único comprador do dia ali foi a família Pinheiro [dona do negócio]. O plano de recompra foi 100% executado no dia. Não fosse isso, as ações teriam caído mais”, complementa o gestor.
Daniel Utsch, gestor de renda variável da Nero Capital, também vê um efeito técnico. “De uns anos para cá, os fundos quantitativos ganharam muita força. Neles, as estratégias são baseadas em um trading algorítmico. Esse tipo de fundo é muito relevante para as movimentações de curto prazo”, ressalta.
Nesses modelos, os algoritmos analisam os resultados e estimam o movimento esperado para a ação. Quando identificam, por exemplo, que o lucro veio muito pior do que o projetado e que o papel deveria cair mais do que está caindo no leilão, o sistema automaticamente dispara ordens de venda. Esse mecanismo, segundo o gestor da Nero, ajuda a intensificar movimentos bruscos em dias de divulgação de balanços.
O diagnóstico da Hapvida
A Hapvida já foi tratada como uma das queridinhas do mercado, vista por gestores e analistas como uma tese quase exemplar.
O entusiasmo vinha da verticalização, estratégia em que a operadora controla tanto os planos quanto os hospitais onde os pacientes são atendidos. Esse arranjo, segundo o mercado, ajudava a reduzir desperdícios, evitar conflitos de interesse e manter os custos sob controle.
Só que esse modelo foi pensado na região Nordeste, onde a companhia foi fundada pelo médico oncologista Candido Pinheiro Koren, em 1979.
“Lá, a Hapvida conseguiu se tornar uma baita alternativa ao SUS. O cliente acessava um plano barato e se sentia bem atendido, perdoando possíveis falhas, porque a alternativa seria justamente o atendimento público”, afirma um outro gestor com quem o Seu Dinheiro conversou.
E isso funcionou bem: combinando o modelo de negócios com uma estratégia agressiva de aquisições, a empresa passou a dominar o jogo por lá… até a fusão com a NotreDame Intermédica, anunciada em 2021, quando a Hapvida colocou os pés no Sudeste.
“Quando desenhávamos os possíveis cenários para a empresa, o pior deles seria se o jogo no Sudeste fosse tão diferente do Nordeste a ponto de tudo o que havia sido aprendido lá não servir para absolutamente nada. Na prática, isso poderia até se tornar um fator que atrapalhasse a operação na região”, diz o gestor com quem falamos.
E, para ele, é exatamente isso que está acontecendo com a companhia.
O problema da fusão com a Intermédica
Na visão do gestor, o buraco no Sudeste é mais embaixo. A concorrência é muito mais acirrada — o que coloca uma espécie de teto no ticket médio cobrado, por exemplo — , os custos para construir e operar hospitais são mais elevados e o gasto médico da região também pesa mais.
Com isso, a Hapvida até hoje não conseguiu cumprir as promessas mirabolantes de fortes sinergias que seriam geradas a partir da fusão, diz Gabriel Mollo, analista do Daycoval.
Para ele, a companhia ainda não achou um modelo rentável para operar no Sudeste. “Isso não necessariamente é um problema. A questão é quando você não tira o pé do crescimento, segue subindo parques e hospitais, colocando dinheiro na operação sem entender necessariamente qual é o retorno disso”, diz um gestor.
O mercado já estava olhando para esses problemas na região, mas a empresa seguia tratando como se fosse algo sendo resolvido.
“A promessa era de que a judicialização estava caindo, os sinistros diminuindo e a rede própria aceleraria o atendimento ao tirar pacientes da rede credenciada. Nada disso aconteceu. Eles continuam investindo em hospitais, mas isso não apareceu na margem, nem nos sinistros, nem na conta do SUS.”
Neste terceiro tri, aliás, a Hapvida pagou R$ 92,3 milhões referentes ao acordo de ReSUS e multas da ANS — um desembolso que incluiu R$ 18,9 milhões saindo diretamente do caixa. Além disso, as provisões relacionadas ao SUS praticamente dobraram no trimestre, subindo 106,7% na comparação anual, para quase R$ 120 milhões.
Essas provisões são um dinheiro que a Hapvida deixa ‘separado’ para arcar com os custos dos atendimentos de beneficiários do plano de saúde na rede pública.
O que fazer com as ações?
Para todas as pessoas com quem conversamos para esta matéria, a indicação é ficar de fora dos papéis. E não são só eles: o JP Morgan, por exemplo, cortou a recomendação para os papéis de compra para neutra. O UBS rebaixou a indicação de compra para neutra depois do resultado do terceiro trimestre.
Já outros bancões — como BTG Pactual, Goldman Sachs e Bradesco BBI —, mantiveram “compra”, mas cortaram severamente as projeções e preços-alvo para a companhia.
“Eu acredito que nesse momento o ideal seria que o investidor esperasse esse momento difícil passar para avaliar os fundamentos da empresa”, diz Mollo.
Já outro gestor deixa claro: “do ponto de vista de minoritário, não me parece que faz sentido tomar esse risco. Primeiro, é preciso entender qual vai ser o retorno desses investimentos em hospitais em São Paulo, por exemplo”.
Hapvida (HAPV3): Itaú BBA segue outras instituições na avaliação da empresa de saúde, rebaixa ação e derruba preço-alvo
As perspectivas de crescimento se distanciaram das expectativas à medida que concorrentes, especialmente a Amil, ganharam participação nos mercados chave da Hapvida, sobretudo em São Paulo.
BRB já recuperou R$ 10 bilhões em créditos falsos comprados do Banco Master; veja como funcionava esquema
Depois de ter prometido mundos e fundos aos investidores, o Banco Master criou carteiras de crédito falsas para levantar dinheiro e pagar o que devia, segundo a PF
Banco Master: quem são os dois empresários alvos da operação da PF, soltos pela Justiça
Empresários venderam carteiras de crédito ao Banco Master sem realizar qualquer pagamento, que revendeu ao BRB
Uma noite sobre trilhos: como é a viagem no novo trem noturno da Vale?
Do coração de Minas ao litoral do Espírito Santo, o Trem de Férias da Vale vai transformar rota centenária em uma jornada noturna inédita
Com prejuízo bilionário, Correios aprovam reestruturação que envolve demissões voluntárias e mais. Objetivo é lucro em 2027
Plano prevê crédito de R$ 20 bilhões, venda de ativos e cortes operacionais para tentar reequilibrar as finanças da estatal
Supremo Tribunal Federal já tem data para julgar acordo entre Axia (AXIA3) e a União sobre o poder de voto na ex-Eletrobras; veja
O julgamento acontece após o acordo entre Axia e União sobre poder de voto limitado a 10%
Deixe o Banco do Brasil (BBAS3) de lado: para o Itaú BBA, é hora de olhar para outros dois bancões — e um deles virou o “melhor da bolsa”
Depois da temporada de balanços do terceiro trimestre, o Itaú BBA, que reiterou sua preferência por Nubank (ROXO33) e Bradesco (BBDC4), enquanto rebaixou a indicação do Santander (SANB11) de compra para neutralidade. Já o Banco do Brasil (BBAS3) continua com recomendação neutra
O novo trunfo do Magazine Luiza (MGLU3): por que o BTG Pactual vê alavanca de vendas nesta nova ferramenta da empresa?
O WhatsApp da Lu, lançado no início do mês, pode se tornar uma alavanca de vendas para a varejista, uma vez que já tem mostrado resultados promissores
5 coisas que o novo Gemini faz e você talvez não sabia
Atualização do Gemini melhora desempenho e interpretação de diferentes formatos; veja recursos que podem mudar sua rotina
Vibra (VBBR3) anuncia R$ 850 milhões em JCP; Energisa (ENGI11) e Lavvi (LAVV3) anunciam mais R$ 500 milhões em dividendos
Vibra e Energisa anunciaram ainda aumentos de capital com bonificação em ações; veja os detalhes das distribuições de dividendos e ações
Nvidia (NVDC34) tem resultados acima do esperado no 3T25 e surpreende em guidance; ações sobem no after market
Ações sobem quase 4% no after market; bons resultados vêm em meio a uma onda de temor com uma possível sobrevalorização ou até bolha das ações ligadas à IA
Hora de vender MOTV3? Motiva fecha venda de 20 aeroportos por R$ 11,5 bilhões, mas ação não decola
O valor da operação representa quase um terço dos R$ 32 bilhões de valor de mercado da empresa na bolsa. Analistas do BTG e Safra avaliam a transação
Nem o drible de Vini Jr ajudaria: WePink de Virginia fecha acordo de R$ 5 milhões após denúncias e fica proibida de vender sem estoque
Marca da influenciadora terá que mudar modelo de vendas, reforçar atendimento e adotar controles rígidos após TAC com o MP-GO
Patria dá mais um passo em direção à porta: gestora vende novo bloco de ações da Smart Fit (SMFT3), que entram em leilão na B3
Conforme adiantado pelo Seu Dinheiro em reportagem exclusiva, o Patria está se preparando para zerar sua posição na rede de academias
BRB contratará auditoria externa para apurar fatos da operação Compliance da PF, que investiga o Banco Master
Em comunicado, o banco reafirma seu compromisso com as melhores práticas de governança, transparência e prestação de informações ao mercado
O futuro da Petrobras (PETR4): Margem Equatorial, dividendos e um dilema bilionário
Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE e um dos maiores especialistas em energia do país, foi o convidado desta semana do Touros e Ursos para falar de Petrobras
ChatGPT vs. Gemini vs. Llama: qual IA vale mais a pena no seu dia a dia?
A atualização recoloca o Google na disputa com o ChatGPT e o Llama, da Meta; veja o que muda e qual é a melhor IA para cada tipo de tarefa
Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) fecham parceria para o e-commerce; veja
Aliança cria uma nova frente no e-commerce e intensifica a competição com Mercado Livre e Casas Bahia
Governador do DF indica Celso Eloi para comandar o BRB; escolha ainda depende da Câmara Legislativa
A nomeação acontece após o afastamento judicial de Paulo Henrique Costa, em meio à operação da PF que mira irregularidades envolvendo o Banco Master
Ele foi o segundo maior banco privado do Brasil e seu jingle resistiu ao tempo, mas não acabou numa boa
Do auge ao colapso: o caso Bamerindus marcou o FGC por décadas como um dos maiores resgates do FGC da história — até o Banco Master
