Azul (AZUL4) volta a tombar na bolsa; afinal, o que está acontecendo com a companhia aérea?
Empresa enfrenta situação crítica desde a pandemia, e resultado do follow-on, anunciado na semana passada, veio bem abaixo do esperado pelo mercado
Os últimos dias não têm sido fáceis para a Azul (AZUL4). Desde quinta-feira (24), a ação da companhia aérea vem despencando na bolsa brasileira e operando entre as maiores quedas do Ibovespa.
Na quinta (24), o tombo foi de 24,84%. Na sexta (25), foi de 17,37%. Na segunda (28), o papel chegou a cair mais de 14% no intradia, mas depois reagiu e fechou o pregão no zero a zero. Hoje (29), a AZUL4 chegou a recuar mais de 11% e fechou em baixa de 10,77%, a R$ 1,74.
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Só neste ano, o papel já acumula desvalorização acima de 50%, após ter sido a pior ação do Ibovespa em 2024, com uma escorregada de 77,89%.
Afinal, o que está acontecendo com as ações da Azul (AZUL4)? O Seu Dinheiro procurou analistas de mercado para tentar entender esse movimento.
É difícil mesmo, dizem os analistas
As ações AZUL4 estão sujeitas a uma volatilidade maior que a média das ações negociadas na bolsa brasileira, de acordo com Bruna Sene, analista de renda variável na Rico.
Isso porque é uma empresa inserida em um setor muito competitivo, em que as companhias têm pouco poder de precificação, as receitas estão diretamente ligadas aos ciclos econômicos e é um negócio com altos custos para se manter operando – entre eles, o custo de combustível para aviação. E foi um dos setores mais afetados pela pandemia.
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Dito isso, desde outubro de 2023, a Azul vem tentando estabelecer acordos e negociações com credores para resolver parte de sua dívida bilionária, que chegou ao fim de 2024 totalizando R$ 29,6 bilhões. Ainda assim, a empresa conseguiu chegar até aqui evitando uma recuperação judicial. Mas será o suficiente?
“Você tem uma empresa endividada, num setor muito difícil de operar no longo prazo, não gerou valor significativo para o seu acionista, seja via dividendos, seja via crescimento ou recompra”, avalia João Daronco, analista CNPI da Suno Research.
Plano inicial de reestruturação da dívida da Azul
Em 2024, a Azul apresentou seu plano de renegociação da dívida, que incluía os seguintes passos:
- Liquidação do instrumento de capital: propôs quitar um instrumento de capital que pertence aos arrendadores. Para isso, anunciou a emissão de 96 milhões de novas ações.
- Nova dívida: planejou a emissão de uma nova dívida de US$ 525 milhões.
- Conversão de títulos: considerou a conversão de US$ 785 milhões de títulos com vencimento em 2029 e 2030 em ações. Com isso, os credores detentores dos títulos tornariam-se acionistas da empresa.
- Nova emissão de ações: anunciou uma nova emissão de ações, que aumenta o total de papéis em circulação e, consequentemente, dilui as ações já existentes.
Se essa nova oferta de ações gerasse US$ 200 milhões ou mais em dinheiro novo para a empresa, isso poderia gerar a “equitização” de 12,5% dos títulos de 2029/30 da Azul, segundo a analista da Rico.
“Isso significa que uma parte desses títulos poderia ser convertida em ações, que é o passo final do plano de reestruturação da dívida da empresa”, explica Bruna Sene.
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A oferta poderia trazer uma melhoria significativa de alavancagem e liquidez da Azul. De acordo com estimativas da Rico, o novo capital poderia reduzir a relação dívida líquida/Ebitda em até 1,2x (a empresa reportou 4,9x no 4T24), e a conversão da dívida em ações poderia reduzir os pagamentos de juros em aproximadamente R$ 500 milhões por ano.
A proposta de aumento de capital, em meados de abril
No dia 14 de abril, a Azul anunciou um aumento de capital, entrando na fase final de seu plano de reestruturação da dívida. Seria uma maneira de levantar dinheiro para ajudar a pagar suas dívidas e melhorar sua situação financeira.
A oferta consistia em levantar entre R$ 1,6 bilhão e R$ 4,1 bilhões, com o preço de R$ 3,58 por ação. Outros detalhes da oferta eram:
- A conversão de títulos em ações: aproximadamente R$ 1,6 bilhão virá da conversão de títulos em ações.
- Oferta privada para acionistas existentes: aqueles que já possuíam ações da Azul teriam a oportunidade de comprar mais ações antes de elas serem oferecidas publicamente.
- Oferta pública adicional (follow-on): após a oferta privada, a Azul faria uma oferta pública, com as novas ações disponíveis para qualquer investidor interessado.
A Azul chegou até a oferecer um incentivo financeiro na forma de warrants, que são direitos de subscrição que dão aos investidores a opção de comprar mais ações no futuro. Para cada nova ação emitida, os investidores receberiam um warrant, na proporção de 1:1.
No dia desse anúncio, a ação AZUL4 fechou em alta de 12,33% na bolsa.
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“Não é o follow-on no melhor momento, não é aquele follow-on preparado para um cenário de crescimento, mas é um follow-on que [a empresa] precisou para readequar a dívida, ganhar mais tempo”, destaca Enrico Cozzolino, chefe de análises da Levante Investimentos. Foi feito, segundo Cozzolino, a preço baixo e quase que a toque de caixa.
O resultado do aumento de capital, na prática
Já no dia 24 de abril, quinta-feira passada, veio o resultado do follow-on. A Azul anunciou a conclusão do seu aumento de capital, totalizando R$ 1,661 bilhão. Isso incluiu:
- R$ 1,613 bilhão provenientes da conversão em ações de 35% dos títulos de dívida com vencimento em 2029 e 2030;
- R$ 48 milhões de demanda adicional dos acionistas, com a possibilidade de mais R$ 48 milhões, se todos os warrants forem convertidos;
O resultado decepcionou analistas. Por quê?
A captação foi quase que inteiramente proveniente da conversão de dívida, enquanto o montante de novo capital ficou muito abaixo do potencial inicial estimado, de até R$ 4,1 bilhões. O lote adicional foi equivalente a apenas 3% da oferta inicial, destaca análise da Genial Investimentos.
Além disso, como a nova oferta de capital não alcançou US$ 200 milhões, os 12,5% restantes dos títulos de 2029/30 não serão convertidos em ações.
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“Com a maior parte dos recursos vinda da equitização dos títulos 2029/30, a companhia ainda não captou os ~US$ 200 milhões adicionais estimados para reforçar liquidez e garantir a equitização total dos bonds. Isso levanta dúvidas sobre a execução da etapa final da reestruturação”, escreveu a Genial em relatório.
A relação entre dívida líquida/Ebitda da companhia, que poderia ter sido reduzida para até -1,2x, deve diminuir, na prática, apenas 0,4x, de acordo com estimativas da Rico. E o pior, na visão da analista: a diluição total das ações chegou a aproximadamente 61%.
A diluição de ações pode ser considerada "ruim" porque reduz a participação dos acionistas atuais na empresa, diminuindo seu poder de voto e potencializando a redução no valor das suas ações.
“É bem prejudicial para o investidor no longo prazo para a geração de valor, principalmente porque você dilui a base de acionistas, diminui métricas como lucro por ação, valor patrimonial por ação, etc.”, afirma João Daronco, da Suno.
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“A Azul, na verdade, tem tido uma crise de confiança, no sentido de que os investidores estão cada vez menos confiantes que a empresa tem potencial de gerar resultado no longo prazo para eles”, conclui o analista da Suno.
Mercado apostando contra a Azul
Soma-se a tudo isso, um movimento grande de pessoas apostando na queda dos papéis da Azul (AZUL4), com um forte crescimento das posições vendidas.
De acordo com dados da B3 compilados pela Elos Ayta, na manhã desta terça-feira (29) havia 113,7 milhões de ações alugadas. A quantidade equivale a 33% das ações em circulação (free float).
A taxa de tomador, paga para montar a posição vendida, chegou a 192,85% tamanha a demanda pela aposta contra a empresa.
“Você está cobrando isso de quem tem o papel da Azul emprestando para quem quer fazer essa venda a descoberto, ou seja, você ganha mais emprestando para alguém vender o papel do que propriamente de retorno médio histórico”, afirma Enrico Cozzolino, da Levante.
Para efeito de comparação, a taxa para as ações da Gol (GOLL4) eram de 9,34%.
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