Nem Selic a 15% vai conseguir conter a inflação se a política fiscal não melhorar, diz economista-sênior da gestora de fortunas Julius Baer
No episódio da semana do Touros e Ursos, Gabriel Fongaro fala sobre as perspectivas para 2025

O tema de 2024 foi a política fiscal. Pelo menos, essa foi a impressão ao escutar os papos do mercado financeiro. O desequilíbrio de contas do governo não deixou a bolsa de valores brasileira engatar o tradicional rali de final de ano, mesmo em um contexto de crescimento acima do esperado, baixo desemprego e bom fluxo operacional das empresas.
No final do ano, o anúncio do pacote de gastos – que, teoricamente, “salvaria” o Ibovespa – foi considerado insuficiente para controlar o rombo das contas públicas. O efeito foi reverso e o principal índice da bolsa fechou o ano em queda acumulada de 10%.
Para 2025, espere um déjà vu. O fiscal deve continuar dominando as rodas de conversa e os negócios no mercado financeiro. Isso porque os gastos governamentais vão definir outras métricas extremamente importantes para a economia real: a taxa básica de juros e a inflação.
E, se a política fiscal não for ajustada corretamente, nem uma Selic a 15% será capaz de fazer a inflação convergir à meta (que é de 3%), na visão de Gabriel Fongaro, economista-sênior da gestora de fortunas Julius Baer.
Infelizmente, a reputação do governo não é das melhores quando o assunto é controlar os gastos.
Para Fongaro, por exemplo, a administração fiscal de Lula perdeu tanta credibilidade nos primeiros dois anos de mandato que ele não vislumbra “condições políticas para uma recuperação dessa credibilidade.”
Leia Também
Além disso, a ideia de desacelerar o ritmo de gastos nos dois últimos anos do mandato parece irrealista, se o que se vislumbra é a reeleição ou a eleição de um candidato alinhado à Lula.
“O ritmo de crescimento de gasto foi tão forte na primeira metade do mandato, que mesmo que o governo aceite uma desaceleração substancial das despesas agora, o gasto vai continuar crescendo muito no mandato como um todo”, diz o economista-sênior da Julius Baer.
Nesse contexto, o convidado da semana do Touros e Ursos não acredita que o governo irá fazer o que é preciso para retomar uma trajetória sustentável da dívida, como desvincular o ajuste do salário mínimo do PIB (Produto Interno Bruto) ou mexer em outras despesas obrigatórias que “torram” o orçamento federal.
Assista ao episódio na íntegra clicando no player abaixo ou procure por “Touros e Ursos” no seu tocador de áudio de preferência:
E o Banco Central nisso tudo?
Como regra geral, Fongaro reforça que o Banco Central, que começa 2025 sob a gestão de Gabriel Galípolo, “não pode especular muito sobre a política fiscal”. O órgão deve tomar as decisões baseadas no que está acontecendo.
Por outro lado, projeções sobre as trajetórias da Selic e da inflação é o que não faltam entre os economistas fora do BC.
O próprio economista da Julius Baer tem as suas projeções. Para ele, a Selic deve chegar a 15% na reunião de maio do Copom (Comitê de Política Monetária).
Vale lembrar que a autoridade monetária já “contratou” duas altas de um ponto percentual cada para as próximas duas reuniões: até março, a taxa de juros deve chegar a 14,25%.
“Se eu estivesse no Banco Central, eu colocaria a Selic um pouco acima de 15%”, diz.
A sequência de altas deve acabar em junho, opina Fongaro. Na visão dele, a economia brasileira vai viver uma desaceleração que ficará mais evidente a partir de meados do ano, justificando uma pausa no aumento dos juros.
O IPCA, principal indicador para a inflação, deve chegar a 6%, influenciado pela depreciação cambial, que gera pressão sobre os preços. O dólar – má notícia para os investidores e para os turistas – não deve ser cotado abaixo de R$ 5,50.
‘O cenário brasileiro não ajuda e o externo atrapalha ainda mais’
Para completar a tempestade perfeita que espera a bolsa brasileira em 2025, há ainda que se considerar o novo cenário político nos Estados Unidos, com Donald Trump na presidência.
Os EUA também vivem uma situação fiscal complicada, com uma dívida em trajetória de crescimento expressivo. E a postura do presidente eleito em relação a isso permanece uma incógnita, já que o tema não foi amplamente debatido na campanha presidencial.
“Antes mesmo de Trump, a economia americana já estava em uma situação que demanda cautela maior da política monetária”, explica o convidado do podcast.
A expectativa do economista é que Trump adote uma política mais estimulativa e gaste mais, no entanto, “é difícil ler” o republicano.
Depois de falar da bolsa, das questões fiscais e dos juros, no segundo bloco do programa, o convidado e os apresentadores elegeram os ursos (destaques negativos) e os touros (destaques positivos) da semana.
Como parte do primeiro grupo: o IBGE, os fundos multimercados (que sofreram resgates expressivos em 2024, segundo a Anbima) e as reservas internacionais do Brasil, que também diminuíram consideravelmente.
No segundo grupo: os jovens atletas João Fonseca (tênis) e Gabriel Bortoleto (Fórmula 1); a Gol e Azul, que avançam no processo de fusão; e a Porto Seguro, que integra a nova carteira do Ibovespa.
Como “touro” honorário, a brasileira Fernanda Torres, que conquistou o Globo de Ouro de melhor atriz e aumentou as chances de indicação para o Oscar.
Tarifaço de Trump é como uma “mini Covid” para o mercado, diz CIO da TAG; veja onde investir e como se proteger neste cenário
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, o sócio e CIO da TAG Investimentos, André Leite, fala sobre o impacto da guerra comercial nas empresas e como os próprios parlamentares do país tentam reverter a situação
Sai Durigan, entra Anelize: Banco do Brasil (BBAS3) convoca assembleia de acionistas para trocar 5 dos 8 membros do conselho; veja as indicações
Colegiado passará por mudanças depois de governo Lula ter manifestado a intenção de trocar liderança do conselho; reunião está marcada para 30 de abril do Banco do Brasil
Prazo de validade: Ibovespa tenta acompanhar correção das bolsas internacionais, mas ainda há um Trump no meio do caminho
Bolsas recuperam-se parcialmente das perdas dos últimos dias, mas ameaça de Trump à China coloca em risco a continuidade desse movimento
Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?
Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária
Retaliação da China ao tarifaço de Trump derrete bolsas ao redor do mundo; Hong Kong tem maior queda diária desde 1997
Enquanto as bolsas de valores caem ao redor do mundo, investidores especulam sobre possíveis cortes emergenciais de juros pelo Fed
Petrobras (PETR4) avança em processo para tirar ‘novo pré-sal’ do papel
Petrobras recebeu permissão para operar a Unidade de Atendimento e Reabilitação de Fauna. O centro é uma exigência do Ibama para liberar a busca de petróleo no litoral do Amapá
Banco Master: Reunião do Banco Central indica soluções para a compra pelo BRB — propostas envolvem o BTG
Apesar do Banco Central ter afirmado que a reunião tratou de “temas atuais”, fontes afirmam que o encontro foi realizado para discutir soluções para o Banco Master
Com eleições de 2026 no radar, governo Lula melhora avaliação positiva, mas popularidade do presidente segue baixa
O governo vem investindo pesado para aumentar a popularidade. A aposta para virar o jogo está focada principalmente na área econômica, porém a gestão de Lula tem outra carta na manga: Donald Trump
Tarifas gerais de Trump começam a valer hoje e Brasil está na mira; veja como o governo quer reagir
Além do Brasil, Trump também impôs tarifa mínima de 10% a 126 outros países, como Argentina e Reino Unido
O agente do caos retruca: Trump diz que China joga errado e que a hora de ficar rico é agora
O presidente norte-americano também comentou sobre dados de emprego, juros, um possível acordo para zerar tarifas do Vietnã e a manutenção do Tik Tok por mais 75 dias nos EUA
A pressão vem de todos os lados: Trump ordena corte de juros, Powell responde e bolsas seguem ladeira abaixo
O presidente do banco central norte-americano enfrenta o republicano e manda recado aos investidores, mas sangria nas bolsas mundo afora continua e dólar dispara
Um café e um pão na chapa na bolsa: Ibovespa tenta continuar escapando de Trump em dia de payroll e Powell
Mercados internacionais continuam reagindo negativamente a Trump; Ibovespa passou incólume ontem
Ações para se proteger da inflação: XP monta carteira de baixo risco para navegar no momento de preços e juros altos
A chamada “cesta defensiva” tem dez empresas, entre bancos, seguradoras, companhias de energia e outros setores classificados pela qualidade e baixo risco
Pix parcelado já tem data marcada: Banco Central deve disponibilizar atualização em setembro e mecanismo de devolução em outubro
Banco Central planeja lançar o Pix parcelado, aprimorar o Mecanismo Especial de Devolução e expandir o pagamento por aproximação ainda em 2025; em 2026, chega o Pix garantido
Bitcoin (BTC) em queda — como as tarifas de Trump sacudiram o mercado cripto e o que fazer agora
Após as tarifas do Dia da Liberdade de Donald Trump, o mercado de criptomoedas registrou forte queda, com o bitcoin (BTC) recuando 5,85%, mas grande parte dos ativos digitais conseguiu sustentar valores em suportes relativamente elevados
O ativo que Luis Stuhlberger gosta em meio às tensões globais e à perda de popularidade de Lula — e que está mais barato que a bolsa
Para o gestor do fundo Verde, Brasil não aguenta mais quatro anos de PT sem haver uma “argentinização”
Eleições 2026: Lula tem empate técnico com Bolsonaro e vence todos os demais no 2º turno, segundo pesquisa Genial/Quaest
Ainda segundo a pesquisa, 62% dos brasileiros acham que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não deveria se candidatar à reeleição em 2026
Trump Day: Mesmo com Brasil ‘poupado’ na guerra comercial, Ibovespa fica a reboque em sangria das bolsas internacionais
Mercados internacionais reagem em forte queda ao tarifaço amplo, geral e irrestrito imposto por Trump aos parceiros comerciais dos EUA
Não haverá ‘bala de prata’ — Galípolo destaca desafios nos canais de transmissão da política monetária
Na cerimônia de comemoração dos 60 anos do Banco Central, Gabriel Galípolo destacou a força da instituição, a necessidade de aprimorar os canais de transmissão da política monetária e a importância de se conectar com um público mais amplo
Genial/Quaest: Aprovação do governo Lula atinge pior nível desde janeiro de 2023 e cai inclusive no Nordeste e entre mulheres
As novas medidas anunciadas e o esforço de comunicação parecem não estar gerando os efeitos positivos esperados pelo governo