Uma cartinha para Haddad e Tebet: a herança de Campos Neto para Galípolo com o IPCA de 2024 fora da meta
IPCA acumulado em 2024 fechou em 4,83%, abaixo do que se esperava, mas acima do teto da meta de inflação estipulada pelo CMN
Roberto Campos Neto passou o bastão do comando do Banco Central (BC) para Gabriel Galípolo mais de dez dias antes do encerramento formal de seu mandato. Na última entrevista coletiva conjunta concedida por eles, o ambiente era de uma conversa entre amigos. No entanto, o IPCA cheio de 2024 fez com que Campos Neto deixasse uma herança pouco palatável para seu sucessor.
Um dos primeiros atos de Galípolo como presidente do Banco Central será a redação de uma carta endereçada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e à ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Na missiva, Galípolo terá de explicar a Haddad e Tebet por que a inflação de 2024 ficou acima do teto da meta.
- LEIA TAMBÉM: Galípolo não vai ‘chutar o balde’ e é o nome certo para comandar o Banco Central, diz Belluzzo
Como fechou o IPCA de 2024
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou de +0,39% para +0,52% na passagem de novembro para dezembro.
Diante disso, a inflação acumulada ao longo dos 12 meses de 2024 ficou em 4,83%.
O resultado ficou abaixo da mediana das expectativas contidas no último boletim Focus (+4,89%) e desacelerou levemente em relação a novembro (+4,87%).
Leia Também
Ainda assim, o IPCA fechou o ano passado acima do teto da meta de inflação estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
"A leitura de hoje do IPCA é ruim, com aceleração dos itens de serviços e preços industriais subjacentes. É uma composição preocupante para o Banco Central", afirma Lucas Barbosa, economista da AZ Quest.
“Entretanto, o resultado não altera a perspectiva da política monetária”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
Nesse sentido, o forward guidance emitido pelo BC em dezembro antecipa altas de juros de 1 ponto porcentual em cada uma das duas próximas reuniões.
Isso significa que a taxa Selic chegará ao fim de março acima de 14% ao ano. Atualmente, ela se encontra em 12,25%.
O que é a meta de inflação
A preservação da estabilidade dos preços é a principal função do BC brasileiro.
A meta de inflação é considerada a âncora por meio da qual os agentes de mercado projetam os preços no futuro próximo.
A meta de inflação para 2024 era de 3,00%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
Isso significa que o Banco Central trabalhou para que a inflação não ficasse abaixo de 1,50% (piso) nem acima de 4,50% (teto).
Quem estipula a meta é o CMN. O conselho é integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo presidente do Banco Central.
Por lei, quando o IPCA fecha o ano fora dos parâmetros da meta, o presidente da autoridade monetária precisa explicar aos demais integrantes do CMN por que isso aconteceu.
IPCA fora da meta e uma herança para Galípolo
Roberto Campos Neto comandou o Banco Central de 2019 a 2024.
Durante seu mandato, o IPCA ficou dentro da meta em três ocasiões (2019, 2020 e 2023) e rompeu o teto em outras três (2021, 2022 e 2024).
Em 2021 e 2022, ele mesmo explicou por que inflação extrapolou a meta.
- LEIA TAMBÉM: Campos Neto entre acertos e erros: um balanço da primeira presidência autônoma do Banco Central do Brasil
Agora, no entanto, caberá a Galípolo a ingrata missão de explicar a Haddad e Tebet (e, por tabela, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva) os motivos do estouro.
Não se trata de uma surpresa, porém.
"As últimas comunicações do Banco Central, seja pela ata da última reunião, seja pelo relatório trimestral de inflação, já tinham sinalizado que a inflação ficaria acima do teto da meta", comentou Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Meta contínua a partir de 2025
Assim como em 2024, a meta de inflação para os anos de 2025 e 2026 será de 3,00%.
A margem de tolerância também permanecerá em 1,5 ponto porcentual para mais ou para menos.
No entanto, uma mudança importante entra em vigor este ano: a meta contínua.
A partir do dado de janeiro de 2025, ao invés de levar em consideração somente o IPCA fechado de um ano, o BC passa a ter a incumbência de usar as ferramentas disponíveis de política monetária para manter a inflação acumulada em 12 meses dentro da meta mês após mês.
Além disso, a meta de inflação será dada como descumprida se ficar fora do intervalo de tolerância por seis meses consecutivos.
Diante das projeções desancoradas de hoje, Galípolo talvez precise fazer um estoque de canetas, pois terá muitas cartas para escrever em um futuro próximo.
Fundo imobiliário favorito do mês teve retorno de quase 12% no último ano; confira os FIIs mais recomendados para se proteger da alta dos juros em janeiro
Com a alta da Selic desafiando o setor imobiliário, os FIIs de papéis vêm sendo a principal aposta para janeiro – e o fundo mais recomendado para o mês faz parte da classe
A montanha-russa da bolsa: Ibovespa sob pressão, dólar em alta e Treasury na máxima — tudo o que mexeu com os mercados hoje
Aqui, o Ibovespa chegou a ter apenas seis dos 87 componentes da carteira teórica em alta; lá fora, o yield (rendimento) dos títulos do Tesouro norte-americano de 20 anos passaram de 5% pela primeira vez desde 2023
Trump é uma pedra no sapato: o alerta do maior banco central do mundo sobre os juros antes do novo chefe na Casa Branca
A ata da reunião de dezembro do Federal Reserve mostra preocupação dos membros do comitê de política monetária com relação às medidas que o republicano pode adotar a partir de 20 de janeiro e sinalizam como isso pode mexer com a economia dos EUA
Mais um dia de queda: bitcoin (BTC) perde marca dos US$ 100 mil após relatório positivo para novas vagas de emprego dos EUA
Sinais de um mercado de trabalho aquecido nos EUA reforçam temores de inflação, enquanto a possibilidade de juros elevados reduz o apetite por ativos de risco
Futebol, ditados populares e a bolsa: Ata do Fed e dados de emprego nos EUA testam fôlego do Ibovespa e alívio no dólar
Comentários de Haddad na GloboNews ajudaram a sustentar segunda alta seguida do Ibovespa e queda do dólar
Lula ‘não deu a menor bola’ para o dólar a R$ 6 — mas vai ser ‘esperto o suficiente para reagir’ e acabará cedendo, diz ex-BC Fabio Kanczuk
Para diretor de macroeconomia do ASA e ex-diretor do Banco Central, Fabio Kanczuk, cenário do mercado para 2025 é de crise
Em busca de ar para respirar: Depois de subir pela primeira vez em 2025, Ibovespa busca nova alta, mas não depende apenas de si
Ausência de uma solução para a crise fiscal vem afastando do Ibovespa não só os investidores locais, mas também os estrangeiros
Felipe Miranda: O que me anima para 2025
Se fosse para dar uma recomendação pragmática e direta para 2025, seria: mantenha uma sólida posição de caixa (pós-fixados), uma exposição razoável ao dólar, algum hedge em ouro e um pezinho nas criptomoedas
Guarde esta matéria: Primeira edição da Focus em 2025 projeta Selic em alta e dólar a R$ 6 — a boa notícia é que ela pode estar errada
A primeira Focus do ano é o melhor parâmetro para comparar as projeções dos economistas com o que de fato acontece na economia
Hora de jogar na defesa: Ibovespa luta contra tensão política e juros em alta na primeira semana útil de 2025
Investidores aguardam IPCA de dezembro em meio a expectativa de estouro do teto da meta de inflação em 2024
Agenda econômica: inflação no Brasil e payroll nos EUA dão pontapé na divulgação de indicadores em janeiro
Nos próximos dias, os investidores contarão com uma agenda econômica carregada de índices importantes, além da ata da reunião do FOMC nos EUA
Mega da Virada: quanto rende o prêmio na renda fixa conservadora? Fizemos as contas do rendimento na poupança, no Tesouro e em LCIs
O montante expressivo sorteado na Mega-Sena oferece uma renda mensal de, no mínimo, R$ 3,9 milhões
O novo salário mínimo vem aí: Lula assina decreto que reajusta valor em 7,5%, para R$ 1.518
Presidente também assinou decretos de nomeação de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central e dos novos diretores indicados à autoridade monetária
Tony Volpon: O Fed estraga o Natal — e três previsões para 2025
O balanço de risco claramente pende mais para más notícias na inflação ao longo de 2025, com o banco central norte-americano jogando a toalha no ciclo de queda de juros
Os melhores investimentos de 2024: bitcoin é bicampeão, enquanto lanterna fica com Ibovespa e títulos do Tesouro Direto; veja o ranking
Sem rali de Natal, Ibovespa tomba cerca de 10% no ano e retorna ao patamar dos 120 mil pontos; dólar sobe quase 30% no período, fechando na faixa dos R$ 6,20. Veja o balanço completo dos investimentos em 2024
Por que 2024 foi o ano das criptomoedas — e qual é a próxima ‘narrativa milionária’ de cripto para 2025
De acordo com o Coin Market Cap, o mercado global de criptomoedas cresceu 117% em 2024, ultrapassando os US$ 3,5 trilhões
O que esperar dos fundos imobiliários em 2025? Dois setores e dois FIIs para atravessar um ano difícil
Apesar do cenário incerto, as cotas dos fundos imobiliários (FIIs) apresentam elevados descontos atualmente, mas a régua de qualidade deve permanecer elevada
Baixa liquidez faz Ibovespa recuar, mas dólar sobe com desemprego nas mínimas históricas e apesar da inflação menor; entenda
Com a agenda do exterior relativamente mais esvaziada, os investidores se voltam para a bateria de dados publicados na manhã de hoje aqui no Brasil
Novo queridinho da renda fixa? Investimento de pessoas físicas em FIDCs mais que dobra em 12 meses e chega a R$ 15,98 bilhões
Brasileiros ampliaram em 115,9% a aplicação nesses fundos entre outubro de 2023 e o mesmo mês deste ano
2025 será o ano da renda fixa? Onde estarão as oportunidades em títulos públicos e privados diante de retornos (e riscos) mais altos
Alta dos juros e aversão a risco levaram os investidores para a renda fixa em 2024; movimento tem tudo para continuar no ano que vem, mas seletividade será mais importante