‘O barco vai balançar’: Galípolo prevê mercado mais agitado com fim do guidance do BC e indica inflação fora da meta
Gabriel Galípolo, presidente do Banco Central, participou do primeiro evento desde a posse no cargo e comentou sobre a rota dos juros no Brasil
![gabriel galipolo banco central bc presidente](https://media.seudinheiro.com/uploads/2024/10/gabriel-galipolo-banco-central-bc-brasil-senado-715x402.jpg)
Os brasileiros que são afetados pelo enjoo por movimento não vêm passando por momentos agradáveis no barco do mercado nacional. E o capitão da embarcação, digo, o presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, já mandou avisar que o mar deve ficar ainda mais agitado.
Após o Comitê de Política Monetária (Copom) subir – de novo – a taxa básica de juros do Brasil em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, o colegiado indicou a rota para o mês seguinte: a autoridade monetária pretende aumentar a Selic para 14,25% em março.
Porém, a partir do próximo mês, os brasileiros entrarão em mar aberto, sem indicações de quais serão os rumos dos juros no país. Com a bússola paralisada, Galípolo avalia que a proximidade do fim de guidance leva o "barco a balançar" um pouco mais.
"É óbvio que, a partir do momento que a gente vai chegando próximo do fim do guidance, a gente vai se distanciando da costa, vamos dizer assim, e o barco tende a balançar um pouco mais", disse.
O presidente do Banco Central comentou sobre a economia do país durante seminário sobre Política Monetária Brasileira, nesta quarta-feira (12), no Rio de Janeiro. O evento foi promovido pelo Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças (IEPE/CdG).
- VEJA MAIS: Os melhores ativos para investir com a alta da Selic – analistas explicam como capturar lucros na renda variável em meio à taxa básica de juros em 13,25%
Terra à vista: as indicações de Galípolo sobre o que esperar daqui para frente
Apesar de não ter indicado qual será a rota a partir de março, Galípolo aproveitou para reforçar os caminhos já indicados pelo mapa dos tesouros — conhecido popularmente como a ata do Copom.
Leia Também
O documento indicou que o presidente do BC já sabe quando vai ter que justificar inflação fora da meta. Durante o evento, o dirigente reforçou o cenário e a visão de que os juros devem seguir em patamar restritivo.
"Devemos passar no curto prazo por inflação fora da meta e desaceleração da economia", disse. Assim, ele avalia que o BC deve ser mais cuidadoso quando fizer um movimento de redução dos juros.
Galípolo também ressaltou que o BC tem ferramentas para colocar a Selic em nível restritivo e seguir nessa direção.
Porém, parece que o dirigente não quer acelerar as máquinas no mar da alta de juros. "Nós [dirigentes do BC] ainda precisamos de tempo e precisamos estar com a nossa rota de planejamento bastante definida até a próxima reunião. Vamos ganhar tempo para poder ver como o mercado vai reagir — e entender o que é sinal e o que é ruído", afirmou.
Além disso, o presidente da autarquia enfatizou que, apesar de o Banco Central não ter como meta reduzir a volatilidade do mercado, a autoridade monetária também não deveria agregar oscilações.
"Entendo que é normal que o mercado tenha uma função de reação, que é obrigado a fazer: ele não pode ficar parado, ou vai ser totalmente arrastado de um lado e de outro", disse.
Galípolo também avaliou que, se o BC entrar em "estado de espelho", sem saber quem é ele e quem é o outro, fará reflexos que vão repercutir e amplificar esta volatilidade.
"É bastante importante que o nosso tempo seja para analisar como esses dados vão andar ao longo do tempo e não ficar produzindo mudanças de direção de maneira muito brusca", afirmou.
Além disso, Galípolo revelou que foi questionado sobre o motivo da decisão do BC, em dezembro, de aumentar a taxa Selic em 1 ponto percentual e indicar mais duas altas de igual intensidade em vez de elevar os juros em 300 pontos-base numa só reunião.
Na visão do presidente do BC, o processo de decisão é dinâmico e, às vezes, variáveis externas e internas podem alterar o percurso.
- LEIA TAMBÉM: Com a alta recente da Selic, este título rende 16,15% ao ano e entrega mais que o dobro de retorno da poupança – veja quanto é possível ganhar com R$ 10 mil
A arte de navegar: a ata do Copom e as reações na visão do dirigente
Durante o primeiro evento desde a posse da presidência do BC, Galípolo voltou a enfatizar a necessidade de se avançar no aperfeiçoamento do arcabouço institucional e legal do Banco Central.
Para ele, a principal dificuldade da autoridade monetária para avançar nos temas é a comunicação. "O desafio da comunicação é enorme para todos os BCs; é quase uma arte", afirmou Galípolo.
Em relação à área fiscal, Galípolo disse que o "BC não pode cruzar linha e transcender o quadrado da autoridade monetária". Porém, o dirigente falou sobre a questão dos precatórios.
Galípolo afirmou que ainda há uma discussão sobre o impacto dos precatórios na economia. “Lembro que diversas instituições falavam ‘lá atrás, quando se postergou o pagamento, não houve nenhum tipo de revisão sobre PIB, então agora também não vamos fazer uma revisão para cima’. Esse era o diagnóstico original sobre precatórios, mas isso foi mudando rápido ao longo do ano, conforme foi se estimando que sim, os precatórios tinham um efeito de impulso fiscal significativo.”
Porém, Galípolo ressaltou que, em relação às previsões sobre as hipóteses sobre Produto Interno Bruto (PIB) acima das expectativas, ainda é necessário mais estudo e tempo para uma avaliação.
Já em relação aos impactos do aumento da Selic, o presidente do BC avalia que, estruturalmente, setores da economia no Brasil se adaptaram a patamares altos de juro. Para ele, é preciso novas formas de crédito colateralizado para reduzir spread bancário.
- VEJA MAIS: Brasil está na mira do tarifaço de Trump – confira os impactos dessa mudança nos seus investimentos
Na mira do Trump: Galípolo sobre o cenário externo
Outro fator que vem deixando o mar revolto é o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O republicano vem bombardeando parceiros comerciais com a sua política de tarifas.
Na segunda-feira (10) à noite, o presidente norte-americano assinou decreto autorizando a aplicação de impostos nas importações de aço e alumínio do país, o que afeta diretamente o Brasil.
Para Galípolo, ainda há muitas incertezas em relação às tarifas impostas por Trump. Ele também avaliou que o Brasil pode sofrer um impacto menor por não ter aproveitado tão bem a realocação de cadeias produtivas impulsionada pela pandemia da Covid-19.
“Curiosamente, parece que ao longo de 2025 temos ouvido mais a ideia de que, pelo fato de o Brasil não ter se inserido tão bem do ponto de vista da correlação com a economia norte-americana, talvez sofra menos no caso de uma tarifa”, disse.
Além disso, apesar das tensões geopolíticas impulsionadas pelo republicano, ele avalia que está em curso um processo de dissipação de alguns choques no cenário externo.
De acordo com o presidente do BC, como consequência de crises ocorridas desde 2008, o cenário de rolagem de dívidas maiores tem posto pressão nas taxas de juros mais longas, o que impacta os países emergentes.
*Com informações do Estadão Conteúdo e InfoMoney
Bolsa ladeira abaixo, dólar morro acima: o estrago que o dado de inflação dos EUA provocou nos mercados
Os investidores ainda encararam o segundo dia de depoimentos do presidente do Fed, Jerome Powell, ao Congresso e uma declaração polêmica de Trump sobre os preços
Mais uma chance na vida: Ibovespa tenta manter bom momento em dia de inflação nos EUA e falas de Lula, Galípolo e Powell
Investidores também monitoram reação a tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio; governo brasileiro mantém tom cauteloso
Juros nos EUA: o que Powell disse que fez o mercado adiar a aposta no corte das taxas neste ano
Presidente do Federal Reserve concede depoimento ao Senado nesta terça-feira (11) e reforçou uma mensagem que vem sendo repetida pelas autoridades de política monetária nas últimas semanas
Inflação desacelera a menor nível para janeiro desde o Plano Real, mas não vai impedir Galípolo de continuar subindo os juros
Inflação oficial desacelerou de +0,52% para +0,16% na passagem de dezembro para janeiro, mas segue fora da meta no acumulado em 12 meses
A um passo do El Dorado: Ibovespa reage a IPCA, tarifas de Trump, Powell no Congresso dos EUA e agenda de Haddad
Investidores esperam desaceleração da inflação enquanto digerem confirmação das tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tarifas, imigração e Gaza: as políticas duras de Trump garantem um dos maiores índices de aprovação do republicano
Levantamento da CBS News/YouGov mostra que a maioria dos norte-americanos aprova o presidente, enquanto 70% acreditam que ele cumpre as promessas de campanha
Unidos contra Trump: China reage com tarifas sobre produtos dos EUA, enquanto União Europeia e Brasil prometem retaliações
As tarifas da China contra produtos americanos entraram em vigor no domingo, em resposta à cobrança de 10% dos EUA a importações chinesas
Contando moedinhas: Guerra comercial de Trump chega ao Brasil em dia de palpite furado para o Super Bowl
Trump diz que vai impor sobretaxas de 25% às importações de aço e alumínio pelos EUA, o que vai atingir a indústria siderúrgica brasileira
Um rolezinho no shopping: Ibovespa reage a tarifas de Trump em semana de testemunhos de Powell e IPCA
Enquanto isso, banco BTG Pactual dá andamento à temporada de balanços com lucro recorde em 2024
Agenda econômica: discursos de Powell, PIB europeu e IPCA movimentam a semana, enquanto balanços esquentam o mercado brasileiro
Resultados financeiros de gigantes brasileiras como BTG e Raízen devem prender a atenção de investidores em semana cheia
Dividendos acima da Selic: FII de crédito com dividend yield projetado de 14% em 2025 é o favorito de analista em fevereiro
Analista destaca que esse FII pode entregar retornos atrativos com a valorização das cotas e a renda extra isenta; o ativo está sendo negociado com 20% de desconto
Dólar nas mínimas do dia: o dado de emprego dos EUA que derrubou a moeda norte-americana aqui e lá fora
As bolsas tanto aqui como lá fora reagiram pouco ao payroll, que trouxe dados mistos sobre a saúde do mercado de trabalho norte-americano em janeiro; saibam como ficam os juros na maior economia do mundo após esses relatórios
Tabuada na bolsa: Ibovespa reage ao balanço do Bradesco enquanto investidores aguardam payroll nos EUA
Participantes do mercado olham para o payroll em busca de sinais em relação aos próximos passos do Fed
Pré-sal Petróleo lança primeiro concurso público após mais de uma década; confira as vagas com salários que passam de R$ 19 mil
Novos editais oferecem centenas de vagas em diversas regiões do Brasil, com remuneração atrativa e inscrições abertas até meados de março
O raio-x da Moody’s para quem investe em empresas brasileiras: quais devem sofrer o maior e o menor impacto dos juros altos
Aumento da Selic, inflação persistente e depreciação cambial devem pressionar a rentabilidade das companhias nacionais em diferentes graus, segundo a agência de classificação de risco
Uma renda nem tão fixa assim: Ibovespa reage a balanços enquanto investidores monitoram Trump e decisão de juros na Inglaterra
Itaú reporta lucro líquido maior do que se esperava e anuncia dividendos extraordinários e recompra de ações multibilionária
Um (dilema) Tostines na bolsa: Ibovespa reage a balanços e produção industrial em dia de aversão ao risco lá fora
Santander Brasil é o primeiro bancão a divulgar balanço do quarto trimestre de 2024; Itaú publica resultado depois do fechamento
Dólar registra maior sequência de perdas ante o real na história com “trégua” do tarifaço de Trump
A moeda norte-americana fechou a R$ 5,77, chegando no menor nível desde novembro do ano passado durante a sessão
Galípolo prepara a caneta: a meta de inflação já tem data para ser descumprida — e isso tende a tornar o Banco Central ainda mais rigoroso
Ata do Copom trouxe poucas novidades em relação ao comunicado, mas proporcionou vislumbres sobre o novo regime de metas de inflação.