‘O jogo de cartas está sendo redistribuído, e ele traz uma boa mão para o Brasil’: Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco do BRICS, comenta o cenário geopolítico atual
Tendências globais na nova geopolítica é o tema do quarto painel do Macro Summit 2024
“A conexão entre a geopolítica e o funcionamento dos mercados talvez hoje tenha o seu momento mais impactante desde o final da Segunda Guerra Mundial”.
É assim que Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco do BRICS, diplomata, economista e acadêmico começou sua fala no quarto painel do Macro Summit 2024.
O evento contou com a presença de diversos especialistas para discutir o cenário macroeconômico e foi produzido pelo Market Makers, em parceria com os portais Money Times e Seu Dinheiro.
Troyjo trouxe insights a respeito dos fenômenos geopolíticos mais recentes e como eles impactam os mercados.
Apesar de passarmos por algo que o acadêmico chama de policrise, Troyjo não hesita em afirmar que o cenário oferece oportunidades importantes para o mercado brasileiro, e acredita que o Brasil pode ser um dos grandes beneficiados da reorganização global de cadeias de produção.
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‘O jogo de cartas está sendo redistribuído’
Seguindo os passos do historiador inglês Adam Tooze, Troyjo caracteriza a situação geopolítica atual como um cenário de policrise.
Segundo ele, a crise em questão se deve muito às consequências econômicas da pandemia do Covid-19 e à incerteza provocada pela recessão geopolítica (evidente nos conflitos no Oriente Médio, entre Palestina e Israel, e na Europa, entre Rússia e Ucrânia, além da “guerra fria” entre China e Estados Unidos).
Mas, apesar das atribulações, o acadêmico enxerga o futuro do Brasil com otimismo. Troyjo comenta que as projeções de crescimento para a economia mundial indicam que a expansão econômica nos próximos anos será puxada pelos países emergentes.
"As forças que moldarão e impulsionarão a demanda global estarão muito mais no mundo 'emergente' do que no mundo hoje 'avançado'." – Marcos Troyjo
O acadêmico afirma que a expansão econômica, combinada com o crescimento populacional esperado em países como Índia, Paquistão, Indonésia, EUA e nações da África sub-saariana abrem oportunidades de mercado das quais o Brasil pode se beneficiar.
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'Guerra Fria 2.0' pode escalar?
Quando se fala em oportunidades de mercado para o Brasil, muita gente se pergunta como o país deve navegar na briga por superioridade econômica entre China e Estados Unidos – a "Guerra Fria 2.0", segundo a denominação do historiador Niall Ferguson.
Marcos Troyjo comentou as expectativas para o cenário durante o painel do Macro Summit, enfatizando os diversos fatores que podem coibir uma eventual escalada da rivalidade entre os dois países.
"A China conta muito com investimentos europeus e norte-americanos. Há algumas semanas, os presidentes das maiores corporações norte-americanas foram recebidos em Pequim pelo Xi-Jinping. Há o que eles chamam de 'relação society to society', que quer se manter viva apesar da rivalidade geopolítica", explica o acadêmico.
Troyjo não demonstra preocupação mesmo no que diz respeito a um dos fatores mais críticos da rivalidade, as sanções americanas contra a exportação de chips taiwaneses para a China (a chamada "Guerra dos Chips").
O acadêmico salienta que uma única empresa, a TMSC, é responsável por 93% do mercado global de chips, fato este que deve servir como elemento de dissuasão de potenciais conflitos – afinal de contas, qualquer quebra na cadeia de produção de chips seria desastrosa para o mundo inteiro.
"Não estou descartando a possibilidade de um agravamento, mas eu acho que por essa visão de longo prazo da China, e por essa dependência extrema que a economia global passou a ter dos chips, essa é uma ameaça menos grave", comenta Troyjo.
E como fica o Brasil nessa história?
Segundo Marcos Troyjo, Estados Unidos e China continuarão sendo players centrais nos próximos 10 anos.
O acadêmico explica que mesmo os crescimentos mais impressionantes dos últimos tempos, como o da Índia, ainda não são suficientes para "destronar" as potências do momento – e por esse motivo, faz sentido para o Brasil "pegar carona" com a China.
O elemento chave aqui são as exportações, mediante as quais o Brasil pode acumular superávits que Troyjo descreve como "gigantescos". Nas palavras do ex-presidente do Banco do BRICS:
"Quando Paulo Guedes estava negociando a Reforma da Previdência, ele dizia, 'eu quero economizar aos cofres públicos 1 trilhão de reais'. No ano passado, o Brasil exportou para a China mais ou menos 110 bilhões de dólares. Isso quer dizer o seguinte: apenas nas nossas exportações para a China, a gente tem um equivalente macroeconômico a uma Reforma da Previdência a cada 23 meses. Em 10 anos, são cinco Reformas da Previdência."
E o Brasil ainda tem uma "vantagem" a mais: a participação no BRICS faz com que Brasil, China e outros países emergentes tenham um espaço privilegiado de diálogo, algo que é um tanto inédito no cenário geopolítico, segundo Marcos Troyjo.
"No começo dos anos 90, por exemplo, quando é que um presidente brasileiro se encontrava ou conversava com o primeiro-ministro indiano? Era um evento raríssimo. Hoje, por conta da plataforma BRICS, eles se falam presencialmente quatro ou cinco vezes por ano", explica o ex-presidente do Banco do BRICS.
Ao ser questionado se o país está no rumo certo para surfar esse tipo de oportunidade, Troyjo salienta que a incerteza quanto às reformas estruturais que estavam em curso nos últimos governos pesa na visão que os mercados têm sobre o Brasil.
"Esses elementos machucam o país no curto prazo. Você ficar falando mal da independência do Banco Central faz mal pra economia. Se você traz insegurança jurídica quanto a privatizações, faz mal pra economia", exemplifica o acadêmico.
Mas, por outro lado, existem elementos que jogam a favor do Brasil nesse cenário.
'Os astros estão alinhados para o Brasil': ex-presidente do Banco do BRICS recomenda melhores ativos para investir
Ao final do painel, Marcos Troyjo voltou a comentar as oportunidades que se desenham para o Brasil no horizonte.
Diante da perspectiva de aumento populacional e de crescimento econômico dos países emergentes, Troyjo enxerga que o Brasil tem vantagem nesse cenário, por estar bem posicionado em setores-chave.
Os setores alimentício, de energia e infraestrutura são aqueles cuja demanda mais aumenta diante um cenário de crescimento populacional e ascensão econômica. Nas palavras de Troyjo:
"Esse é um cenário muito interessante pro Brasil, porque nós temos vantagens muito importantes em cada uma dessas áreas (...). Me parece que o jogo de cartas está sendo distribuído, e esse jogo de cartas redistribuído traz uma mão boa pro Brasil."
Além do aumento de demanda, que ocasiona o aumento de preços nestes setores, o aumento dos investimentos representa uma oportunidade importante para o mercado brasileiro, segundo o acadêmico.
"Esse fenômeno é acompanhado de um tsunami de investimento em CAPEX, de um tsunami de investimento em infraestrutura. Então você teria aí os astros alinhados por conta dessas características, de trazer grande caudalosidade de investimento pro Brasil", explica Troyjo.
O ex-presidente do Banco do BRICS e atual acadêmico visitante na Universidade de Oxford termina sua participação no painel deixando uma recomendação para os investidores:
"Sobre em que ativos apostar, eu falei muito aqui de insegurança alimentar – Brasil tem atores importantes na produção de alimentos. Falei de segurança energética – Brasil tem atores importantes na produção de energia. Falei de transição pro verde. E tem uma parte importante também, conforme as coisas vão evoluindo, dada a escala da economia brasileira, há mais tratamento de saúde necessário. Então, todas essas oportunidades, da perspectiva do investidor, são muito atraentes."
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O Macro Summit foi transmitido entre os dias 9 e 11 de abril. Os 5 painéis contaram com a presença de nomes de peso como Luis Stuhlberger, Daniel Goldberg, Marcos Mendes, José Rocha e Mariana Dreux.
Todos os entrevistados opinaram sobre o cenário macro atual e deram dicas para que os investidores possam tomar as melhores decisões para suas carteiras.
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