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Giovanna Figueredo
Giovanna Figueredo
Formada em Jornalismo pela Universidade de São Paulo (USP), já trabalhou com marketing e redes sociais em uma consultoria financeira e é redatora dos portais Seu Dinheiro e Money Times.
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Sorte do Lula? Pesquisador do Insper diz que governo está ‘trabalhando para atrapalhar’ a economia e aponta fator que pode ser a salvação 

Política fiscal do governo atual pode ser um “vilão” para a economia brasileira, segundo os economistas Daniel Leichsenring e Marcos Mendes – entenda o que está em jogo

Giovanna Figueredo
Giovanna Figueredo
19 de abril de 2024
14:00 - atualizado às 11:41
lula brasil cenário macro economia investimentos / estatais / empresas estatais
Imagem: Flickr/Ricardo Stuckert - Montagem: Giovanna Figueredo

O tédio não é um problema na economia do Brasil. A cada “piscada” do investidor brasileiro, uma notícia que muda todo o rumo dos mercados pode surgir. Mas neste contexto, no que é preciso ficar de olho para não ficar para trás?

O cenário macroeconômico deve estar sempre no radar do investidor. E para expor os principais insights sobre isso, os economistas Daniel Leichsenring e Marcos Mendes se reuniram no painel “O Brasil está no rumo certo ou não?”, do evento Macro Summit Brasil 2024, organizado pelo Market Makers, Money Times e Seu Dinheiro.

Daniel Leichsenring é economista-chefe da Verde Asset – uma das maiores gestoras do Brasil – e Marcos Mendes atua como pesquisador associado do Insper, além de ser autor do livro “Para não esquecer: políticas públicas que empobrecem o Brasil”.

Na conversa mediada pelo fundador do Market Makers, Thiago Salomão, e o jornalista Márcio Juliboni, os dois convidados explicam quais são as perspectivas para:

  • O PIB brasileiro;
  • A meta fiscal do país;
  • Taxa de juros;
  • O cenário internacional;
  • E o dólar.

Além disso, indicam setores da economia brasileira com perspectivas de um futuro bem promissor: “é um negócio inacreditável de bom”, defende Leichsenring.

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PIB brasileiro deixará a desejar?

Leichsenring e Mendes definem a economia brasileira atual como “esquizofrênica” e com “crescimento não sustentado”. Isso porque, embora o PIB tenha registrado dois anos de alta de quase 3%, os economistas não enxergam um cenário de longo prazo positivo para o crescimento do Brasil.

Mendes, por exemplo, defende que esse patamar do PIB nos últimos anos não é uma realidade de duração muito longa. O potencial de crescimento ao longo do tempo, segundo os cálculos do pesquisador, é de 1,7% – quase metade do valor apresentado em 2022 e 2023.

Já o economista-chefe da Verde estima um cenário mais positivo no curto prazo, com um crescimento da economia entre 2,5% e 3% neste ano.

Mas reconhece que esse cenário não deve se sustentar por um período significativo, o que o faz acreditar em uma possível “esquizofrenia” brasileira: “fazendo o gráfico de crescimento do PIB de 20 países da América Latina, o Brasil é um dos piores”, afirma.

O ‘calcanhar de Aquiles’ do Brasil: as decisões do governo atual

Para os dois economistas, um fator que pode dificultar o crescimento da economia brasileira no longo prazo é uma série de decisões do governo atual.

‘Tragédia contratada’ na política fiscal

Segundo Leichsenring, a política fiscal é sempre o “calcanhar de Aquiles” do país. Apesar de acreditar que isso não vai atrapalhar o crescimento no curto prazo, uma hora a conta vai chegar: “você não encontra uma alma que não esteja preocupada com a trajetória fiscal”.

Assim como o economista-chefe da Verde, Mendes também não tem perspectivas positivas para as questões fiscais:

“Vão ter que apresentar uma LDO [Lei de Diretrizes Orçamentárias] e vão ter que dizer qual é a meta de déficit do ano que vem, que não vai poder ser 0,5% porque, se fizerem uma meta de 0,5%, vão ter que apresentar uma LDO muito fake, com muitos dados distorcidos. O governo está trabalhando muito para atrapalhar.

Vale ressaltar que o painel foi ao ar no dia 9 de abril. Em 15 de abril, a equipe econômica do presidente Lula divulgou que a meta de zerar o déficit primário ficará para 2025 e teve reação negativa do mercado.

Fonte: Estadão Conteúdo/UOL Economia

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Gastos públicos assustam economistas

Outro fator de consenso entre Leichsenring e Mendes é o alerta com os gastos públicos. Um exemplo de descontrole, segundo Mendes, é o aumento da concessão de previdência.

O economista explica que o crescimento do estoque de benefício da previdência em 2023 foi o maior dos últimos 19 anos, o que considera “assustador”:

“Eu estou com medo de que esteja sendo aprovado todo tipo de coisa. Eu fico desesperado, abriram um buraco para mais de R$ 30 bilhões”, afirma.

A preocupação com os gastos públicos faz Daniel Leichsenring relembrar o governo de Michel Temer. Na visão dele, foi com o Teto de Gastos que o Brasil teve uma amostra do que é uma economia com despesas mais controladas. Agora, Leichsenring defende que uma diminuição dos gastos já seria bastante benéfica:

“Eu tenho a absoluta convicção que o principal avanço econômico que a gente poderia ter é disciplinar o gasto público. Só que os nossos ‘populistas de plantão’ não estão interessados em ganhos de longo prazo. Eles querem o ganho para a próxima eleição”.

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Como ficam os juros com preocupações no mercado?

Como Daniel Leichsenring defende, “é na curva de juros que todas as preocupações se revelam”. O mercado tem os riscos fiscais do país no radar e, na opinião de Leichsenring, isso reflete diretamente na precificação dos juros:

“A curva de juros diz claramente que esse fiscal não para de pé. O mercado precifica que a Selic vai voltar para 11,5%. Você não passa nem um ano em 9,5% e, já para o ano que vem, o mercado já coloca de volta para 11%. Para 2026 em diante, está em 11,5%”.

O painel aconteceu antes do anúncio de redução da meta fiscal, como dito anteriormente. Logo após a divulgação, houve uma disparada das taxas de juros, como já projetava o economista-chefe da Verde.

‘Barquinho’ brasileiro pode aproveitar maré positiva no cenário internacional

Mas nem tudo está perdido. Embora o cenário doméstico possa jogar contra a economia brasileira, os investidores podem continuar otimistas com a ajuda do cenário internacional.

Segundo Daniel Leichsenring, devido a uma perspectiva mais positiva para os mercados no exterior, o Brasil pode se beneficiar pelos próximos 3 anos: “uma coisa que o Lula tem é sorte. Ele está sempre no momento em que as condições do mundo são as melhores para ele”.

Na mesma linha, Marcos Mendes explica que o país é muito impactado por fatores exógenos e, mesmo sem uma visão muito positiva para a economia brasileira, acredita que é possível surfar o cenário internacional:

“Costumo usar a imagem de que o Brasil é um barquinho boiando no mar da economia internacional. Se está tudo bem na economia internacional, a gente vai bem”.

Essa estimativa de cenário mais positivo no mercado internacional se justifica pelas perspectivas dos Estados Unidos. Isso porque Leichsenring diz que “o processo inflacionário americano não gera preocupação” para ele – cabe ressaltar que a conversa aconteceu antes da divulgação do CPI de março.

“Quando o Fed começar a cortar juros, eu acho que a gente pode contar com um ciclo longo de queda. Hoje a curva tem 3,8% de juro terminal. Eu acho absurdamente alto para uma inflação americana que vai convergir para 2%. Eu não vejo por que a taxa de juros neutra americana não seja perto de 2%”.

Na medida em que a inflação dos EUA recuará e Jerome Powell começará a cortar os juros, o economista da Verde acredita que há uma tendência de que o dólar “saia desse extremo de sobrevalorização em relação ao resto do mundo”.

Em relação ao real, por exemplo, a expectativa é de que o dólar se aproxime, aos poucos, de R$ 4,70.

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As recomendações de investimento dos economistas

Os destaques no cenário atual, na visão de Daniel Leichsenring e Marcos Mendes, são o agronegócio, o petróleo e a exportação de energia limpa, além do crescimento do mercado de capitais.

O agro e o petróleo têm um bom histórico como fatores importantes para o crescimento da economia brasileira. E a tendência é de que continuem gerando bons frutos, segundo Leichsenring:

“Nos últimos 12 meses, tivemos por volta de US$ 100 bilhões de saldo comercial com a soja e o combustível. Isso aguenta um ‘desaforo’ inacreditável. Esses setores estão indo bem no Brasil e vão continuar”.

O economista-chefe da Verde reforça sua visão positiva principalmente para a agricultura.

Desde 1995, o segmento cresce quase 4% ao ano em produtividade, o que, para Leichsenring, é “um setor inacreditável de bom e tem tudo para seguir crescendo bem. Onde menos tem intervenção do governo, mais a gente vê o crescimento da produtividade se tornando uma máquina do mundo”.

Um segmento mais “fora do radar” que está na mira de Mendes é o de energia limpa. Para o pesquisador, há um potencial interessante caso haja uma “organização mínima do mercado brasileiro”:

“A exportação de energia limpa pode ser um grande dinamizador da economia. Vi uma matéria descrevendo os potenciais de crescimento. A Alemanha quer importar hidrogênio verde do Brasil e o Piauí aparece como um ponto de exportação com grande competitividade”.

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Outros destaques do Macro Summit: Luis Stuhlberger, Daniel Goldberg, Marcos Troyjo e mais

Daniel Leichsenring e Marcos Mendes participaram do painel de abertura do evento Macro Summit Brasil 2024, que aconteceu nos dias 9, 10 e 11 de abril

Outros painéis tiveram a participação de:

  • Luis Stuhlberger, da Verde Asset;
  • Daniel Goldberg, da Lumina;
  • Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos BRICS;
  • João Landau, da Vista Capital;
  • Carlos Woelz, da Kapitalo;
  • Mariana Dreux, do Itaú Asset;
  • José Rocha, da Dahlia.

Mas se você não conseguiu acompanhar os 3 dias de evento, não se preocupe.

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