O “Tigre Maia” vai virar um gatinho? A primeira reação do mercado à nova presidente do México — e o que se pode esperar do futuro
Claudia Sheinbaum assumirá a presidência do país em outubro deste ano e já garantiu maioria esmagadora no Congresso

O México elegeu sua primeira presidente mulher da história no último domingo. Claudia Sheinbaum, de 61 anos e candidata do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, tomará à frente do país oficialmente em outubro deste ano.
Contudo, a ex-prefeita da Cidade do México, capital do país, começou sua nova etapa no Executivo com o pé esquerdo.
De acordo com informações do jornal La Jornada, o principal índice da Bolsa Mexicana de Valores (BMV), o S&P/BMV IPC, teve uma queda de mais de 6% na segunda-feira (3) após a eleição de Sheinbaum. Em determinados momentos do dia, a bolsa mexicana chegou a cair mais de 10%.
Além disso, o peso mexicano teve uma forte desvalorização frente ao dólar nos dias seguintes à eleição da nova presidente.
Houve uma depreciação de mais de 4% em um único pregão, atingindo uma máxima de 17,80 pesos por dólar — perto das máximas do ano de 18,21. Essa foi a pior queda diária desde o início da pandemia de covid-19 em junho de 2020, segundo o jornal El Financiero.
- Receba uma recomendação de investimento POR DIA direto no seu e-mail, sem enrolação. Clique AQUI para fazer parte do grupo VIP “Mercado em 5 Minutos”
Um Raio-X no México hoje
Contudo, o que poderia ter motivado tamanho desagrado dos investidores?
Leia Também
Recapitulando um pouco do histórico, o México era considerado um “Tigre Maia” — expressão usada para descrever países cujo crescimento econômico vertiginoso se assemelhava àquele visto em nações do leste asiático na década de 1970.
Segundo as contas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mexicana é a segunda maior da América Latina, com um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 1,81 trilhão, perdendo apenas para a brasileira, com US$ 2,13 trilhões. Em terceiro lugar vem a Argentina, com US$ 621,83 bilhões.
Para este ano, a expectativa de crescimento do PIB do México em 2024 caiu 0,15 ponto porcentual, para 2,10%, de acordo com o Banco Central do país, e permaneceu estável em 1,8% para 2025.
Mas, assim como Brasil e Argentina, o México também encara um problema de bilhões pela frente: um aumento dos gastos públicos e a necessidade de redução do déficit fiscal.
O calcanhar de Aquiles do Tigre Maia
Na visão do mercado financeiro, o déficit fiscal é um dos problemas de qualquer economia que busca estabilidade, e o caminho para isso seria a busca pelo saneamento das contas públicas — que deveria ser o principal objetivo de qualquer governante.
No caso brasileiro, o estabelecimento de um novo arcabouço fiscal é quem faz esse papel. Já na Argentina, Javier Milei, presidente do país, é quem está em busca dessa meta.
Segundo dados compilados pelo Latinometrics, o déficit fiscal do país chegou a US$ 100 bilhões, ou cerca de 5% do PIB, o maior em 36 anos para o país.
Os principais gastos do México vão para a previdência social, custos envolvendo a dívida do país e recursos destinados a entidades federais.
Categoria | Valor (Bilhões US$) |
Proteção Social | US$ 120.900,00 |
Custo Financeiro da Dívida e outras Despesas | US$ 74.100,00 |
Entidades e Municípios Federais | US$ 74.100,00 |
Desenvolvimento Econômico: Combustíveis e Energia | US$ 64.600,00 |
Educação | US$ 58.400,00 |
Saúde | US$ 56.400,00 |
Governo | US$ 31.700,00 |
Habitação e serviços comunitários | US$ 19.600,00 |
Desenvolvimento Econômico: Transporte | US$ 12.400,00 |
Outros Desenvolvimentos Econômicos | US$ 9.180,00 |
Desenvolvimento Econômico: Agricultura, Silvicultura, Pesca e Caça | US$ 5.330,00 |
Outro Desenvolvimento Social | US$ 2.600,00 |
Dívida de anos fiscais anteriores | US$ 2.600,00 |
Total de Gastos Federais | US$ 531.800,00 |
Receita Federal Total | US$ 429.900,00 |
Déficit | US$ 101.900,00 |
Mais gastos à vista no México?
A plataforma da nova presidente se apresenta como uma continuação e ampliação das políticas de López Obrador. De linha centro-esquerda, há uma expectativa com a reforma constitucional no país, que inclui 20 medidas propostas pelo presidente em 2020.
A coalizão Sigamos Haciendo Historia é formada pelo Movimiento Regeneración Nacional (Morena) — partido de Sheinbaum e Obrador —, pelo Partido del Trabajo e pelo Verde Ecologista. Inclusive, um dos pontos fortes da plataforma da nova presidente é a transição energética para uma economia mais sustentável.
Contudo, o que preocupa o mercado local é a extensão do pacote de benefícios sociais, como o projeto de um auxílio complementar para trabalhadores de baixa renda e uma bolsa universal para os estudantes de todos os níveis (do pré-escolar ao equivalente ao ensino médio no Brasil).
Além disso, a nova mandatária quer promover um fortalecimento do Instituto Mexicano del Seguro Social (IMSS-Bienestar), o sistema de saúde público mexicano, por meio de parcerias com entes privados.
Por fim, no campo econômico, a presidente do México prometeu manter a “austeridade republicana” de Obrador. Contudo, ela afirmou que irá adotar uma “orientação social” dos gastos públicos.
Equilíbrio de forças no México
Como foi dito, Sheinbaum é a herdeira política de Obrador, e o partido de ambos também deve ter uma vitória acachapante no Congresso do país, garantindo algo entre 346 e 380 de um total de 500 representantes na Câmara e 76 e 88 no Senado de um total de 128.
Vale dizer que a contagem de votos ainda não terminou. Mas, com 95% das urnas apuradas, está claro que o Morena terá ampla maioria nas Casas.
De acordo com o Barclays e o UBS, o partido da nova presidente não teria maioria imediata de dois terços na Câmara. Porém, teria margem confortável de negociação para aprovar suas propostas.
No Senado, que necessita de pelo menos 85 parlamentares para formar maioria, o Morena também teria um número representativo.
Na visão dos analistas, esse controle do Legislativo “rompe o equilíbrio de força dos Poderes”, sendo que o Executivo e o Legislativo poderiam pressionar o Judiciário a qualquer momento, algo que foi desmentido pelo ainda presidente Obrador.
Com a palavra, o presidente
Questionado sobre a queda da bolsa mexicana, o ainda presidente Obrador disse que tudo deve se normalizar logo. "Não vai mudar a política econômica que estamos implementando, e isso produziu resultados muito bons", disse ele.
Obrador atribuiu a depreciação do peso mexicano ao cenário macroeconômico. No pregão de ontem, a liquidação massiva de moedas nos países emergentes fez o dólar fechar perto do patamar psicológico de R$ 5,30 aqui no Brasil.
Analistas enxergaram um movimento de desmonte de apostas em moedas emergentes — tendo como gatilho o tombo do peso mexicano, em meio a temores de mudança da política econômica no México.
Ivan Sant’Anna: Trumponomics e o impacto de um erro colossal
Tal como sempre acontece, o mercado percebeu imediatamente o tamanho da sandice e reagiu na mesma proporção
Países do Golfo Pérsico têm vantagens para lidar com o tarifaço de Trump — mas cotação do petróleo em queda pode ser uma pedra no caminho
As relações calorosas com Trump não protegeram os países da região de entrar na mira do tarifaço, mas, em conjunto com o petróleo, fortalecem possíveis negociações
Tarifaço de Trump é como uma “mini Covid” para o mercado, diz CIO da TAG; veja onde investir e como se proteger neste cenário
No episódio do podcast Touros e Ursos desta semana, o sócio e CIO da TAG Investimentos, André Leite, fala sobre o impacto da guerra comercial nas empresas e como os próprios parlamentares do país tentam reverter a situação
Outro dia de pânico: dólar passa dos R$ 6 com escalada da guerra comercial entre EUA e China
Com temor de recessão global, petróleo desaba e ações da Europa caem 4%
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
Olho por olho: como Trump escalou a guerra de tarifas com a China — e levou o troco de Xi Jinping
Os mais recentes capítulos dessa batalha são a tarifa total de 104% sobre produtos chineses importados pelos EUA e a resposta de Xi Jinping; o Seu Dinheiro conta como as duas maiores economias do mundo chegaram até aqui e o que pode acontecer agora
Amizade tem preço? Trump diz que arrecada US$ 2 bilhões por dia com tarifas, mas pode perder Elon Musk por isso
O bilionário não economizou críticas à política tarifária do presidente norte-americano — um teste de fogo para a sua influência na Casa Branca
Nem Elon Musk escapou da fúria de Donald Trump: dono da Tesla vê fortuna cair abaixo dos US$ 300 bilhões, o menor nível desde 2024
Desde o pico, o patrimônio de Elon Musk encolheu cerca de 31%, com uma perda de US$ 135 bilhões em poucos meses
Partiu Argentina? Três restaurantes recebem estrela Michelin em 2025; veja quais
Guia francês reconheceu dois estabelecimentos em Mendoza e um em Buenos Aires
Javier Milei no fogo cruzado: guerra entre China e EUA coloca US$ 38 bilhões da Argentina em risco
Enquanto o governo argentino busca um novo pacote de resgate de US$ 20 bilhões com o FMI, chineses e norte-americanos disputam a linha de swap cambial de US$ 18 bilhões entre China e Argentina
CEO da Embraer (EMBR3): tarifas de Trump não intimidam planos de US$ 10 bilhões em receita até 2030; empresa também quer listar BDRs da Eve na B3
A projeção da Embraer é atingir uma receita líquida média de US$ 7,3 bilhões em 2025 — sem considerar a performance da subsidiária Eve
Ação da Vale (VALE3) chega a cair mais de 5% e valor de mercado da mineradora vai ao menor nível em cinco anos
Temor de que a China cresça menos com as tarifas de 104% dos EUA e consuma menos minério de ferro afetou em cheio os papéis da companhia nesta terça-feira (8)
As melhores empresas para crescer na carreira em 2025, segundo o LinkedIn
Setor bancário lidera a seleção do LinkedIn Top Companies 2025, que mede o desenvolvimento profissional dentro das empresas
Trump dobra a aposta e anuncia tarifa de 104% sobre a China — mercados reagem à guerra comercial com dólar batendo em R$ 6
Mais cedo, as bolsas mundo afora alcançaram fortes ganhos com a sinalização de negociações entre os EUA e seus parceiros comerciais; mais de 70 países procuraram a Casa Branca, mas a China não é um deles
Wall Street sobe forte com negociações sobre tarifas de Trump no radar; Ibovespa tenta retornar aos 127 mil pontos
A recuperação das bolsas internacionais acompanha o início de conversas entre o presidente norte-americano e os países alvos do tarifaço
Evitando ‘gole amargo’, União Europeia pode isentar uísque e vinho de tarifas recíprocas aos EUA; entenda
Bloco econômico considera manter o uísque americano isento de tarifas recíprocas para proteger as indústrias locais
Prazo de validade: Ibovespa tenta acompanhar correção das bolsas internacionais, mas ainda há um Trump no meio do caminho
Bolsas recuperam-se parcialmente das perdas dos últimos dias, mas ameaça de Trump à China coloca em risco a continuidade desse movimento
Guerra comercial abre oportunidade para o Brasil — mas há chance de transformar Trump em cabo eleitoral improvável de Lula?
Impacto da guerra comercial de Trump sobre a economia pode reduzir pressão inflacionária e acelerar uma eventual queda dos juros mais adiante no Brasil (se não acabar em recessão)
Gol (GOLL4) firma acordo com a Boeing e destrava R$ 235 milhões para credores
A decisão é mais um passo no processo de reestruturação da companhia, conduzido pelo Chapter 11 do código de falências norte-americano
Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?
Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária