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Carolina Gama
Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, já trabalhou em redações de economia de jornais como DCI e em agências de tempo real como a CMA. Já passou por rádios populares e ganhou prêmio em Portugal.
O FUTURO DA MAIOR ECONOMIA

Quanto os juros vão cair agora? O que a ata não contou sobre a próxima decisão do Fed em novembro

O documento divulgado nesta quarta-feira (09) mostrou a divisão entre os membros do comitê de política monetária sobre o corte de 50 pontos-base e a incerteza sobre o futuro da economia, mas escondeu pontos importantes para a decisão do mês que vem

Carolina Gama
9 de outubro de 2024
16:39
Jerome Powell, presidente do Fed, com efeito
Montagem com Jerome Powell, presidente do Fed - Imagem: Federal Reserve / Montagem Brenda Silva

A ata da reunião de política monetária de setembro do Federal Reserve (Fed) — que detalhou o primeiro corte de juros nos EUA em mais de quatro anos — teve o mesmo efeito de um espelho retrovisor: a imagem que se vê é do que já passou, mas nem por isso o condutor deve ignorá-lo enquanto segue em frente. 

O documento divulgado nesta quarta-feira (09) traz o retrato de uma paisagem que ficou para trás — na ocasião da decisão, a inflação arrefecia rumo à meta de 2%, mas o enfraquecimento do mercado de trabalho ameaçava frear os planos de afrouxamento monetário na próxima esquina. 

A ata mostrou que os membros do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) concordaram em reduzir os juros, mas não tinham certeza de quão agressivo seria o corte — optando por um movimento de 50 pontos-base (pb) em um esforço para equilibrar a confiança na inflação com as preocupações sobre o mercado de trabalho

O resumo da reunião mostrou ainda que os membros do Fomc estavam divididos sobre as perspectivas econômicas. Algumas autoridades esperavam por um corte menor, de 25 pb, pois buscavam garantias de que a inflação estava desacelerando de forma sustentável e estavam menos preocupadas com o cenário de empregos.

No final daquele encontro, apenas um membro do Fomc, Michelle Bowman, votou contra o corte de 50 pb, dizendo que teria preferido 25 pb — a ata de hoje indicou que outros também eram a favor de um movimento menor. Vale lembrar que essa foi a primeira vez que um membro do Fomc discordou de uma votação sobre os juros desde 2005.

“Vários participantes observaram que uma redução de 25 pontos-base estaria em linha com um caminho gradual de normalização da política que daria aos formuladores de política monetária tempo para avaliar o grau de restrição conforme a economia evoluía”, diz a ata.

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“Alguns participantes também acrescentaram que um movimento de 25 pontos-base poderia sinalizar um caminho mais previsível de normalização da política”, acrescenta o documento. 

A ata indica ainda que a votação para aprovar o corte de 50 pontos-base ocorreu "à luz do progresso na inflação e do equilíbrio de riscos" contra o mercado de trabalho.

A bolsa sofreu em setembro e estes são os dois culpados

As pedras no caminho: o Fed vai mudar a rota dos juros?

A ata de hoje, no entanto, não mostra que a estrada que o Fed percorre rumo à normalização da política monetária é sinuosa. As surpresas — e pedras — no caminho do banco central norte-americano são constantes. 

Prova disso é que na semana passada, o principal relatório de emprego dos EUA, o chamado payroll, mostrou uma força inesperada: a economia norte-americana abriu 254 mil vagas em setembro, bem acima das 159 mil de agosto e da previsão de 150 mil; os salários subiram e a taxa de desemprego caiu. Você pode conferir o payroll de setembro no detalhe aqui. 

E, antes de se reunirem nos dias 6 e 7 de novembro para definir a nova taxa de juros, os membros do Fomc vão se deparar com mais um payroll, o de outubro, previsto para ser divulgado em 1 de novembro. 

Vale lembrar que o relatório de emprego de outubro deve trazer o efeito dos furacões nos EUA, podendo ainda distorcer os dados de consumo e do crescimento econômico nas regiões afetadas, além de aumentar os preços dos alimentos.

"O relatório de empregos de outubro provavelmente será significativamente afetado", disse Andrew Hollenhorst, economista-chefe do Citi.

O JP Morgan, por outro lado, diz que o impacto dos furacões no emprego pode variar de "um pequeno obstáculo" à perda de mais de 100.000 vagas em outubro. 

E ainda tem mais: a próxima decisão do Fed acontece um dia depois da eleição presidencial nos EUA. Embora a apuração lá seja mais demorada do que aqui e Jerome Powell, presidente do Fed, insista que o banco central não leva a política em consideração em suas decisões, a autoridade monetária terá muito o que olhar no trajeto até o final do ano. 

Isso sem contar que amanhã (10), o mercado conhece o índice de preços ao consumidor (CPI) norte-americano de setembro. E aqui é importante lembrar que os preços do petróleo dispararam com o aumento das tensões no Oriente Médio, podendo refletir nos preços da gasolina em outubro nos EUA. 

A reação do mercado

Diante de tantas curvas no caminho do próximo corte de juros nos EUA, a reação dos mercados à ata do Fed de setembro foi morna. 

Em Wall Street, o S&P 500, o Dow Jones e o Nasdaq mantiveram a trajetória de ganhos rumo ao fechamento da sessão.  

Por aqui, o Ibovespa seguiu operando abaixo dos 130 mil pontos, enquanto o dólar à vista continuava avançando — e beirando os R$ 5,60. Confira a cobertura dos mercados.

Entre os traders, as apostas de corte de juros também não mudaram. A ferramenta FedWatch do CME Group mostrava 81,4% de chances de um corte menor, de 25 pb, dos juros na reunião de novembro — praticamente em linha com a probabilidade antes da divulgação da ata de hoje.

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