“Modelo chinês está mudando, e não necessariamente para pior”, diz ex-presidente do Banco dos Brics
Marcos Troyjo afirma que o Brasil tem grandes oportunidades no novo cenário econômico mundial e pode se beneficiar com o crescimento sempre pujante da China
É corrente no mercado financeiro global determinar situações que podem apontar uma crise na China (ou levar para uma). Os mais pessimistas usam até mesmo termos como “bolha chinesa”.
Porém, se a economia do ex-país mais populoso do mundo (projeção da ONU apontou que foi ultrapassado pela Índia em abril de 2023) não cresce tanto como antes, também não seria o caso de especular a saída da China do tabuleiro das potências mundiais.
“Eu não me encontro entre aqueles que acham que em questão de semanas ou meses haverá a explosão de uma bolha na China, com terríveis consequências econômicas e se tornar uma potência de segunda classe. Eu acho que isso não vai acontecer”.
Essa análise é de Marcos Troyjo, cientista social, diplomata, escritor e economista. Ele participou do Macro Summit Brasil 2024, evento online gratuito sobre cenário macroeconômico e mercado financeiro realizado pelo Market Makers, um dos principais hubs de conteúdo financeiro do Brasil, em parceria com o MoneyTimes e Seu Dinheiro.
- VOCÊ JÁ DOLARIZOU SEU PATRIMÔNIO? A Empiricus Research está liberando uma carteira gratuita com 10 ações americanas pra comprar agora. Clique aqui e acesse.
Troyjo: modelo chinês não acabou, mas está mudando
Troyjo tem lugar de fala para comentar questões relacionadas a China. Além de ter sido secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia no período de 2019 a 2020, ele é fundador do BRICLab, da Universidade de Columbia, e ex-presidente do NDB (New Development Bank), o Banco dos BRICs, entre 2020 e 2023, que tem sede justamente na China.
“O modelo chinês como conhecemos não acabou, mas está mudando. E não necessariamente para pior”, disse Troyjo no painel: “China x EUA: o Brasil na nova geopolítica”. O evento contou com mediação de Thiago Salomão, fundador e apresentador do Market Makers, e Paula Comassetto, jornalista do Grupo Empiricus.
Leia Também
Segundo ele, a China é uma potência histórica nos últimos cinco mil anos, período em que teve competição com outros países, como a Inglaterra na Revolução Industrial.
Mas o país se aproveitou de oportunidades a partir do final da década de 70, onde teve vantagens para exportações para os Estados Unidos, por exemplo, por sua grande massa de trabalhadores, além da abertura econômica e aumento do investimento externo.
“A China não é mais um low cost country. Os chineses têm extraordinária capacidade de trabalho”, diz o ex-presidente do Banco dos BRICs. Troyjo destaca ainda o crescimento forte da remuneração da força de trabalho e nos investimentos em pesquisa e desenvolvimento no país.
Tamanho importa
Nos últimos anos, a China também deixou de ter uma economia sustentada pelo comercio internacional. O país passou a ter um consumo interno muito forte, com crescimento ano a ano na participação do PIB. Segundo ele, em 2006, a soma das importações e exportações da China, atingiram 67% do Produto Interno Bruto. Porém, esse percentual caiu para 34% em 2023.
Esse colosso chinês ainda vai ter muita relevância mundial. E isso mesmo com taxas menores de crescimento que a Índia, por exemplo, que é de cerca de 7% ao ano.
Mas o que mostra a potência do gigante asiático é que o crescimento previsto do PIB acumulado nesses dez anos já seria suficiente para colocar esse “novo país” na terceira posição no ranking, superando Alemanha, Japão, etc.
“Velocidade e intensidade importam, mas tamanho também importa.”
- LEIA TAMBÉM: A China está muito melhor do que o mercado imagina — e o “desastre” da vez é outro, diz gestor
China e Brasil
E o Brasil? Troyjo explica que o Brasil tem valores culturais próprios, até por ter ocidental e democrático, mas que ainda assim mantém uma relação muito proveitosa com a China, se beneficiando desse brutal crescimento de PIB chinês.
“Se levarmos em consideração que o Brasil pode acumular gigantescos superávits comerciais mediante a força das suas exportações, a gente tem números macroeconômicos muito impressionantes, com muita razão para ficarmos otimistas com nosso país”.
Troyjo também comentou que o momento do Brasil tem aspectos positivos e também alguns negativos. Ele cita três vantagens competitivas: a insegurança alimentar no mundo, com o Brasil sendo protagonista na produção de alimentos; o Brasil é uma segurança energética; e o país também é protagonista na transição para uma economia verde.
Por outro lado, ele diz que existe uma percepção dos investidores globais que teria sido interrompido um período de oito anos de reformas estruturantes.
Existiria incógnitas e incertezas sobre, por exemplo, grandes vitórias institucionais da economia como a independência do Banco Central, o marco do saneamento, e dinâmica de volta de processos de privatizações e concessões realizadas.
“Os aspectos do lado negativo machucam o país. Ficar falando mal da independência do Banco Central faz mal para a economia, pois traz insegurança jurídica.”
Eleições americanas
As eleições americanas deste ano, que confronta os programas de John Biden (Democrata) e Donald Trump (Republicano), mostram visões muito distantes em vários temas, mas não quando o assunto é China, aponta Troyjo. “Eu não acho que haveria muita mudança” em uma vitória do Trump, por exemplo.
Troyjo revelou que o chinês via a administração de Trump muito dura e vocal, mas aberta para negócio. Enquanto isso, a administração Biden foi menos vocal, mas também muito dura em medidas restritivas de comércio.
“Mas tem uma diferença de estilo e retórica. Tem muita gente que diz que fazer é uma coisa, falar é outra. Mas nas relações internacionais, falar é fazer, porque um pronunciamento já tem impacto.”
Momento das policrises
Marcos Troyjo usa o termo “policrises”, repaginado pelo colega da Universidade de Columbia Adam Tooze, para analisar o momento geopolítico e a geoeconômico atual, que considera ser o mais impactante desde o final da segunda guerra mundial.
Ele destacou três elementos para a policrises:
- Pandemia de Covid-19: Retração da economia mundial em 2020, que demandou respostas monetárias e fiscais muito hipertrofiadas;
- Recessão geopolítica: conflito com o Hamas, com potencial para se alastrar além de Israel e Palestina. Guerra entre Rússia e Ucrania, a mais grave ameaça ao equilíbrio no coração da Europa desde a segunda guerra mundial. E uma grande competição (“guerra fria 2.0”) entre o ocidente e a China ou entre os Estados Unidos e a China.
- Grande expansão monetária: de cada seis dólares em circulação hoje, um não existia há apenas 24 meses.
Além desses três elementos, Marcos Troyjo destaca que existem outras quatro situações em movimento no mundo e que podem ser interessantes para o Brasil.
- Mundo deve atingir 10 bilhões de pessoas em 2050, com queda de natalidade em 185 países que compõem a ONU, e crescimento robusto em apenas nove: Índia, Paquistão, Indonésia, Estados Unidos e outros cinco países da África Subsaariana – Uganda, Tanzânia, Etiópia, Nigéria e Congo. “Em 2050, a cada quatro pessoas no mundo, uma será africana”.
- Crescimento mundial se dará muito mais pelo E7 (China, Índia, Brasil, Indonésia, Arábia Saudita, Turquia e México) do que pelo G7. “Quando há uma ascensão tão dramática em um espaço tão curto de tempo, a partir de um patamar de renda tão baixo, as pessoas comem mais e consomem mais energia, com maior investimento em infraestrutura.”
- Redesenho das cadeias globais de produção, que eram muito concentradas na China e tem migrado para outros países, como Índia, México e pode passar também pelo Brasil.
- Metamorfose do talento, onde novas competências estão sendo agregadas em diversas profissões e também cadeias produtivas.
“Me parece que o jogo de cartas está sendo redistribuído, e esse jogo tem uma mão boa para o Brasil”.
Quais os planos da BRF com a compra da fábrica de alimentos na China por US$ 43 milhões
Empresa deve investir outros US$ 36 milhões para dobrar a capacidade da nova unidade, que abre caminho para expansão de oferta
De agricultura e tecnologia nuclear à saúde e cultura: Brasil e China assinam 37 acordos bilaterais em várias áreas; confira quais
Acordo assinado hoje por Xi Jinping e Lula abrange 15 áreas estratégicas e fortalece relação comercial entre países
Brasil e China: em 20 anos, comércio entre países cresceu mais de 20x e atingiu US$ 157,5 bilhões em 2023
Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
Mais barato? Novo Nordisk lança injeção de emagrecimento estilo Ozempic na China com ‘novidade’
Em um país onde mais de 180 milhões de pessoas têm obesidade, o lançamento do remédio é uma oportunidade massiva para a empresa europeia
2025 será o ano de ‘acerto de contas’ para o mercado de moda: veja o que as marcas precisarão fazer para sobreviver ao próximo ano
Estudo do Business of Fashion com a McKinsey mostra desafios e oportunidades para a indústria fashion no ano que vem
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
G20: Ministério de Minas e Energia assina acordo com a chinesa State Grid para transferência de tecnologia
A intenção é modernizar o parque elétrico brasileiro e beneficiar instituições de ensino e órgãos governamentais
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
China anuncia novas medidas para estimular o setor imobiliário, mas há outras pedras no sapato do Gigante Asiático
Governo da China vem lançando uma série de medidas para estimular setor imobiliário, que vem enfrentando uma crise desde 2021, com o calote da Evergrande
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Um respiro para Xi Jinping: ‘Black Friday chinesa’ tem vendas melhores do que o esperado
Varejo ainda não está nos níveis pré-crise imobiliária, mas o Dia dos Solteiros superou as expectativas de vendas
UBS rebaixa recomendação para Vale (VALE3) e corta preço-alvo dos ADRs em NY; o que está por trás do pessimismo com a mineradora?
Papéis da mineradora nas bolsas americana e brasileira operam em queda nesta segunda-feira (11), pressionando o Ibovespa
Compre China na baixa: a recomendação controversa de um dos principais especialistas na segunda maior economia do mundo
A frustração do mercado com o pacote trilionário da semana passada abre uma janela e oportunidade para o investidor que sabe esperar, segundo a Gavekal Research
Agenda econômica: Prévia do PIB é destaque em semana com feriado no Brasil e inflação nos EUA
A agenda econômica da semana ainda conta com divulgação da ata da última reunião do Copom e do relatório da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP)
Xi Jinping reage a Trump: China lança pacote trilionário, mas não anima mercado — e ainda arrasta as ações da Vale (VALE3)
Frustração com medidas de suporte à dívida dos governos locais na China derruba também o Ibovespa no pregão desta sexta-feira