Um raio-X na Argentina de Milei: a motosserra do presidente virou uma faca de dois gumes para a economia do país
Em termos reais, a arrecadação do país caiu em decorrência da baixa atividade econômica, causada pela maxidesvalorização do peso argentino
As medidas de Javier Milei para tentar retomar o controle da economia da Argentina até o momento se assemelham mais com uma faca de dois gumes do que com a motosserra, símbolo de sua campanha durante a corrida presidencial.
Ao mesmo tempo em que colhe alguns frutos com o superávit recente das contas públicas, o presidente argentino precisa lidar com o aumento da pobreza e um cenário — político e econômico — cada vez mais desafiador para o presidente do país.
Um exemplo disso é o mais recente dado da arrecadação federal, que pode ser lido com a mesma dualidade.
Segundo a agência que cuida do tema, a arrecadação do país em março atingiu os 7,7 trilhões de pesos argentinos (US$ 9,16 bilhões na cotação oficial, US$ 7,7 bilhões na cotação blue, como é conhecido o preço paralelo do dólar).
Isso significa que a arrecadação da Argentina cresceu 230,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Parece muito, mas não o suficiente para cobrir as perdas inflacionárias.
Em termos reais, a arrecadação de março caiu 15%, se considerarmos uma inflação de 11% para o mês, tendo em vista que o dado oficial só deve ser divulgado na semana que vem.
Leia Também
Os analistas do BTG Pactual creditam essa queda na receita tributária à retração da atividade econômica.
- [Market Makers] Retire o seu ingresso para assistir ao vivo o episódio com Luis Stuhlberger, Daniel Goldberg e Felipe Miranda
Um olhar nas contas públicas da Argentina
Graças à tentativa de convergir as taxas de câmbio para apenas uma, Milei acabou realizando uma maxidesvalorização do peso — algo que atingiu até mesmo empresas brasileiras que atuam no país.
Se, por um lado, as exportações chegaram a aumentar, essa perda do poder de compra dos argentinos pressionou os setores de serviços e industrial.
Milei é um autointitulado ultraliberal, o que quer dizer que o presidente é um defensor de uma menor intervenção do Estado na economia, impostos menores e incentivos à iniciativa privada.
Por exemplo, a arrecadação do imposto sobre a renda dos argentinos caiu 39% em termos reais em relação ao ano passado após uma medida aprovada pelo Congresso em 2023 — herdada do governo anterior, de Alberto Fernández, que buscava se reeleger a qualquer custo —, que eliminou o IR para a maioria dos contribuintes.
Além disso, o governo abriu mão da arrecadação do imposto sobre valor agregado (IVA ou VAT, na sigla em inglês) de 21% sobre alguns bens e serviços. Assim, houve queda de 14% em termos reais no recolhimento do IVA.
Os únicos aumentos reais
Do outro lado, houve um aumento real de 66% nos impostos sobre exportação, que tiveram um aumento significativo em relação ao ano passado.
A Argentina é um grande exportador de produtos agrícolas e foi severamente afetada pela seca gerada pelo El Niño — um dos gatilhos da crise atual.
Do mesmo modo, o Imposto por uma Argentina Inclusiva e Solidária (PAIS) também teve aumento real na arrecadação, crescendo 326,2% em termos reais.
Por ter uma alíquota móvel de até 17,5%, a repartição do PAIS com as províncias foi um dos pontos de inflexão do Congresso para barrar o pacote de medidas econômicas de Milei nas Casas Legislativas.
Milei precisará cortar ainda mais Argentina
O governo de Javier Milei mantém como meta zerar o déficit fiscal ainda em 2024. Na visão dos analistas do BTG, o objetivo é “ambicioso” e, para isso, seria preciso continuar o programa de demissões de funcionários públicos do país.
De um total de aproximadamente 385 mil funcionários públicos, a gestão de Milei anunciou que 15 mil já foram notificados sobre demissões, sendo que 11 mil já estão fora dos seus respectivos postos de trabalho. Além deles, cerca de 70 mil contratos ainda estão sob avaliação.
Porém, a retomada das contas não pode se basear apenas na capacidade de continuar cortando os gastos de maneira agressiva.
A Argentina também precisa focar na recuperação das receitas, até agora impactadas pela queda na atividade causada em parte pelo ajuste fiscal, dizem os analistas.
Assim, o banco projeta que o governo ficará aquém da meta de déficit primário de 2%, dificultando ainda mais o objetivo de equilíbrio nas contas.
Reação
Por fim, o BTG Pactual destaca como positiva a alta popularidade do presidente mesmo em meio à crise social do país.
Segundo uma pesquisa recente da consultoria Opina Argentina, em março deste ano, 52% dos argentinos acreditam que a imagem de Milei é positiva; 48%, negativa.
Porém, o banco ainda leva em conta que as tensões sociais podem se acirrar ainda mais nos próximos dois a três meses.
“A redução do poder de compra e o aumento do desemprego afetarão a atividade econômica, desencadeando demandas dos trabalhadores, com os sindicatos exercendo mais pressão sobre o governo”, dizem os analistas.
O país já sofreu com as paralisações recentes contra o plano de austeridade do presidente e suas medidas, como a LeyÓmnibus, o Decreto de Necesidad y Urgencia (DNU) e o Pacto de Mayo.
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
A Argentina dos sonhos está (ainda) mais perto? Dólar dá uma trégua e inflação de outubro é a menor em três anos
Por lá, a taxa seguiu em desaceleração em outubro, chegando a 2,7% em base mensal — essa não é apenas a variação mais baixa até agora em 2024, mas também é o menor patamar desde novembro de 2021
Arte de milionária: primeira pintura feita por robô humanoide é vendida por mais de US$ 1 milhão
A obra em homenagem ao matemático Alan Turing tem valor próximo ao do quadro “Navio Negreiro”, de Cândido Portinari, que foi leiloado em 2012 por US$ 1,14 milhão e é considerado um dos mais caros entre artistas brasileiros até então
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Trump, Milei e Musk juntos: o encontro do trio está mais próximo do que você pensa
O presidente argentino será o primeiro líder a ser recebido pelo republicano; saiba quando eles vão se reunir e onde
Ibovespa segue com a roda presa no fiscal e cai 0,51%, dólar fecha estável a R$ 5,6753; Wall Street comemora pelo 2° dia
Por lá, o presidente do BC dos EUA alimenta incertezas sobre a continuidade do ciclo de corte de juros em dezembro. Por aqui, as notícias de um pacote de corte de gastos mais modesto desanima os investidores.
Jogando nas onze: Depois da vitória de Trump, Ibovespa reage a Copom, Fed e balanços, com destaque para a Petrobras
Investidores estão de olho não apenas no resultado trimestral da Petrobras, mas também em informações sobre os dividendos da empresa
Rodolfo Amstalden: Lula terá uma única e última chance para as eleições de 2026
Se Lula está realmente interessado em se reeleger em 2026, ou em se aposentar com louvor e construir Haddad como sucessor, suspeito que sua única chance seja a de recuperar nossa âncora fiscal
Recado de Lula para Trump, Europa de cabelo em pé e China de poucas palavras: a reação internacional à vitória do republicano nos EUA
Embora a maioria dos líderes estejam preocupados com o segundo mandato de Trump, há quem tenha comemorado a vitória do republicano
Qual empresa brasileira ganha com a vitória de Trump? Gerdau (GGBR4) é aposta de bancão e sobe mais de 7% hoje
Também contribui para o bom desempenho da Gerdau a aprovação para distribuição de R$ 619,4 milhões em dividendos aos acionistas
O Ibovespa não gosta de Trump? Por que a vitória do republicano desceu amarga para a bolsa brasileira enquanto Nova York bateu sequência de recordes
Em Wall Street, as ações da Tesla — cujo dono, Elon Musk, é um grande apoiador de Trump — deram um salto de 15%; outros ativos também tiram vantagem da vitória do republicano. Por aqui, o Ibovespa não celebra o resultado das eleições nos EUA e afunda
Como lucrar com o Trump Trade: 4 investimentos que ganham com a volta do republicano à Casa Branca — e o dilema do dólar
De modo geral, os investidores se preparam para um mundo com dólar forte com Trump, além de mais inflação e juros
Mais rápido do que se imaginava: Trump assegura vitória no Colégio Eleitoral e vai voltar à Casa Branca; Copom se prepara para subir os juros
Das bolsas ao bitcoin, ativos de risco sobem com confirmação da vitória de Trump nos EUA, que coloca pressão sobre o dólar e os juros
Selic deve subir nas próximas reuniões e ficar acima de 12% por um bom tempo, mostra pesquisa do BTG Pactual
Taxa básica de juros deve atingir os 12,25% ao ano no início de 2025, de acordo com o levantamento realizado com gestores, traders e economistas
Anote na agenda: bolsa terá novo horário a partir de segunda-feira (4); veja como fica a negociação de FIIs, ETFs e renda fixa
A mudança ocorre todos os anos para se adequar ao fim do horário de verão nos Estados Unidos, que vai de março a novembro e se encerra esta semana
Permanência de Haddad no Brasil deve aliviar abertura da bolsa na segunda-feira, avaliam especialistas
Segundo nota divulgada pela Fazenda nesta manhã, o ministro permanecerá em Brasília para tratar de “temas domésticos” a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva
A Disney ficou mais longe: Dólar sobe 1,5%, vai a R$ 5,8604 e fecha no segundo maior valor da história; Ibovespa cai 1,23% e perde os 129 mil pontos
Lá fora, as bolsas em Nova York e na Europa terminaram o dia em alta, repercutindo o relatório de emprego dos EUA, divulgado mais cedo
Não é só risco fiscal: por que o dólar volta a subir e se consolida acima dos R$ 5,80
Além da demora do governo em anunciar os cortes de gastos, o leve favoritismo de Trump nas eleições na próxima terça-feira ajuda a fortalecer o dólar