A Índia é a nova ‘mina de ouro’ para o luxo? País tem cada vez mais endinheirados e atrai investimentos de marcas como LVMH e Chanel
Enriquecimento progressivo da população indiana gera oportunidade para bens de consumo de alto padrão, mas marcas de luxo ainda terão desafios para expansão no país

O que vem à mente quando pensamos na Índia? Se o país estava associado quase exclusivamente ao formigueiro humano das grandes cidades, retratados no filme Quem quer ser um milionário?, ou à espiritualidade, como em Comer, Rezar, Amar, agora, também pensamos nas festas extravagantes e na riqueza dos maharajas e dos empresários indianos.
Um exemplo claro dessa mudança de paradigma foi o casamento do filho do bilionário Mukesh Ambani, que movimentou o noticiário pela exuberância e pela presença de convidados ilustres, como Rihanna e Justin Bieber.
Nomes como o de Ambani e o de Gautam Adani, que competem nos rankings pelo posto de homem mais rico da Ásia, são apenas uma pequena amostra de um país que cria cada vez mais ricaços.
A Índia fabrica um novo bilionário a cada cinco dias, segundo o site Statista, que leva em consideração a fortuna em dólares e os últimos cinco anos para o levantamento.
O dado, no entanto, esconde a realidade do país. Assim como no Brasil, a desigualdade social é evidente por lá: o 1% que está no topo detém 40% da riqueza de toda a Índia.
Já a classe média vem crescendo e é um fator crucial para entender o cenário do consumo indiano nos próximos anos.
Leia Também
Atualmente, esse segmento representa 31% da população, mas pode chegar a 60% em 2047, segundo pesquisas da Price (People Research on India’s Consumer Economy).
Esse conjunto de fatores, que apontam para o enriquecimento progressivo da sociedade indiana, está sendo observado de perto por um segmento que depende de indivíduos endinheirados para sobreviver: o mercado de luxo.
O que impulsiona o crescimento do mercado de luxo na Índia?
A Índia já é o terceiro maior consumidor de bens de alto valor agregado da região Ásia-Pacífico, que inclui a China, o Japão e a Coréia do Sul.
A expectativa é de que, neste ano, o mercado de luxo indiano gere US$ 17,6 bilhões, crescendo 3,17% por ano, de acordo com projeções do Statista.
Para o futuro, a consultoria Bain and Company estima que o segmento atinja entre US$ 85 e US$ 90 bilhões até 2030, posicionando a Índia como o mercado de luxo que mais cresce no mundo.
Com certeza, isso se deve ao maior número de milionários e bilionários na região, certo?
Não exatamente.
Apesar do aumento expressivo do número de indivíduos de alto patrimônio líquido (HNWIs), é justamente a classe média que tem feito com que marcas como Louis Vuitton, Dior, Chanel e Bvlgari comecem a olhar o país com mais atenção, principalmente após o agravamento da crise econômica chinesa.
"A renda disponível da população indiana está crescendo excepcionalmente, impulsionado principalmente pelo consumo da emergente classe média, que tem demonstrado um apetite crescente por bens de luxo mais acessíveis”, explica a Dra. Sheetal Jain, CEO e fundadora da Luxe Analytics, consultoria de inteligência de mercado para o setor de luxo.
A pesquisadora afirma que o mercado de bens de alto valor agregado na Índia ainda está em uma fase inicial de maturidade, quando em comparação com a China e os Estados Unidos.
Nesse sentido, os consumidores indianos, ainda jovens em sua maioria, estão comprando majoritariamente os itens considerados como de “entrada” no mercado de luxo.
Perfumes, acessórios e cosméticos ganham espaço nos carrinhos de compras, o que não necessariamente é um sinal ruim.
Isso porque são justamente esses produtos de menor valor que criam uma relação do cliente com a marca e impulsionam um maior customer lifetime value, indicador importante para o varejo que se traduz como o “valor de ciclo de vida do cliente”, o quanto ele vai gastar na marca em longo prazo.
“À medida que [os clientes jovens] enriquecerem, eles vão trocar para a faixa de produtos mais caros. Por exemplo, se agora eles estão usando batons e perfumes Chanel, talvez depois de alguns anos, eles passem para bolsas menores e depois para as maiores”, explica a CEO da Luxe Analytics.
Basicamente, o ato de começar a consumir cedo, ainda que itens de menor valor, é positivo para as marcas.
Mostrar é tão importante quanto ter
Outro aspecto marcante nesse estado atual de maturidade é o quê os indianos estão consumindo.
Andando pelas ruas das maiores cidades da Índia, como Mumbai, Nova Delhi e Calcutá, a chamada “logomania” domina muitos dos itens de luxo exibidos. Esse termo se refere à presença das logos das grifes de forma “escancarada” nos itens – seja lenços, bolsas ou vestimentas.

Mais do que uma escolha de design, essa tendência revela um comportamento por trás dos consumidores de luxo indianos: eles querem mostrar status.
"Agora, os consumidores estão usando esses produtos de luxo como uma forma de mostrar sua riqueza e conquistas, e não por causa da maestria da fabricação deles”, afirma a Dra. Jani.
Esse consumo conspícuo – ou “ostentação”, para usar um termo mais usual – tem a ver com o fato de que muitos dos indianos enriqueceram recentemente, ou seja, são emergentes. Ao usar grifes com logos estampadas, a mensagem para o mundo é clara: sim, a Índia “chegou”. E pode, sim, consumir luxo.
A CEO do Luxe Analytics prevê que o país poderá observar mais “marcas silenciosas”, nos próximos cinco a dez anos, à medida que o mercado amadurece. Na mesma linha, é esperado que os indianos passem a valorizar também o valor intrínseco do luxo, e não apenas o status da marca.
Independentemente da logomania, fato é que algumas marcas de luxo já têm adaptado estratégias de marketing específicas para a Índia.
Um bom exemplo é a Bvlgari, joalheria e relojoaria do grupo LVMH, que está indo bem na região justamente porque foi capaz de criar uma conexão emocional com os consumidores indianos.
Em 2021, a marca lançou o mangalustra, que é um tipo de jóia exclusiva da cultura indiana, usado por mulheres casadas. Mais recentemente, a joalheria lançou um bracelete exclusivo, assinado pelo astro de Bollywood, Ayushmann Khurrana.
Além disso, a atriz indiana Priyanka Chopra é a embaixadora global da marca, aparecendo em diversas propagandas e eventos ao redor do mundo pela marca.
- Vale lembrar que a Índia é um mercado fundamental para o crescimento da Bvlgari, por ser o segundo maior consumidor de ouro do mundo.
Seguindo a mesma linha, a Dior anunciou a atriz bollywodiana Sonam Kapoor como embaixadora global e a marca de sapatos Jimmy Choo anunciou Gauravi Kumari, que faz parte da família real de Jaipur, como embaixadora regional.
A ascensão dos mega shoppings
Apesar dos investimentos, a expansão do mercado de luxo na Índia ainda enfrenta algumas barreiras, principalmente em termos de infraestrutura.
Em entrevista ao Luxury Tribune, o próprio CEO da Bvlgari, Jean-Christophe Babin, comentou sobre esses entraves: "Menos de 40% do gasto em luxo da Índia vem de suas 10 principais cidades, enquanto na China, 60% do gasto em luxo vem apenas de Xangai e Pequim."
No momento, a joalheria tem apenas duas lojas no país, apesar do desejo de expansão. No entanto, segundo Babi, “não há shoppings suficientes adequados onde podemos abrir".
Para competir com os principais mercados de luxo do mundo, o país precisa ter de 10 a 15 shoppings de alto padrão. No momento, há meia dúzia desses centros comerciais, concentrados em três cidades.
Há de se reconhecer que o país tem se esforçado para mudar esse cenário. Um dos principais players é justamente o bilionário Mukesh Ambani, o homem por trás do “casamento do século”, comentado no início deste texto.
No final do ano passado, a empresa do magnata inaugurou um mega shopping de luxo na capital Mumbai, o Jio World Plaza, com 66 lojas de marcas internacionalmente reconhecidas. Dentro do empreendimento, a Louis Vuitton abriu a maior loja da marca no país.

Em 2022, a renomada rede francesa Galeries Lafayette anunciou que construiria duas lojas na Índia, em Mumbai e em Delhi, através de uma parceria com o conglomerado indiano Aditya Birla.
Em entrevista recente à Vogue Business, o presidente de marcas internacionais da empresa indiana, Sathyajit Radhakrishnan, revelou planos ambiciosos:
"A Galeries Lafayette Índia irá redefinir a experiência de varejo, lançando mais de 200 marcas, muitas delas estreando exclusivamente no país. Isso inclui ícones globais, juntamente com colaborações selecionadas com designers indianos, celebrando a sinergia entre tradição e inovação”, disse.
O papel do e-commerce
A atual concentração imobiliária faz com o que e-commerce tenha uma relevância ainda maior para o crescimento do mercado de luxo na Índia.
O fato da Índia ser um dos países que mais usa internet no mundo, em números absolutos, já é um pontapé inicial que beneficia o varejo on-line.
No entanto, o que mais faz a diferença nesse contexto é a “fragmentação da riqueza” no território indiano.
Explicando melhor: os habitantes endinheirados e potenciais consumidores de bens de alto valor agregado estão espalhados pelo país, não concentrados nos grandes centros. A compra via e-commerce permite que esse público acesse os produtos.
Há também uma questão geracional: muitos dos novos ricos da Índia são Millennials ou Zoomers (membros da geração Z) — pessoas que, naturalmente, estão mais acostumadas com o consumo on-line.
Do lado das marcas, a venda pela internet também não é de todo ruim. Além da maior penetração entre os consumidores, é também um jeito mais barato de “testar as águas”, antes de construir uma loja física, que é um investimento bem mais caro.
A Chanel, que está presente desde 2005 no país e cuja CEO global é indiana, lançou recentemente o e-commerce no país, focado em perfumes, cosméticos e óculos. No momento, a marca francesa tem apenas uma boutique com itens de vestuário no país. Todos os outros pontos de venda são focados em produtos de entrada.
Segundo o diretor da Chanel na Índia, Amit Goyal, “desde a entrada da Chanel no mercado indiano em 2005, o cenário do luxo no país mudou substancialmente. O mercado tornou-se mais sofisticado, com clientes buscando exclusividade."
Uma estratégia “intermediária” que tem sido usada pelas marcas de luxo para testar o mercado – não só na Índia, mas também em outros lugares do mundo – são as chamadas pop-up stores, lojas temporárias com uma quantidade reduzida de produtos.
- LEIA TAMBÉM: Próximo destino do luxo: Louis Vuitton e Dior apostam em mercado de R$ 14 bilhões na Ásia — e não é a China
- Riqueza dos bilionários subiu mais que o mercado de ações nos últimos 10 anos; Brasil ganhou 19 novos ultrarricos em apenas um ano
A Índia pode ser a nova China?
Diante desse crescimento expressivo do no mercado de luxo e também da recente pujança econômica da Índia, surge o questionamento se o país poderia se tornar uma “nova China”.
Na opinião da Dra. Sheetal Jani, os dois mercados estão em um ponto de maturação ainda muito diferente. Enquanto as projeções apontam que a China será 50% do segmento de bens de alto valor agregado, a Índia ainda representa por volta de 3%, evidencia a pesquisadora.
Apesar dos indicadores positivos, Jani acredita que as duas nações não são comparáveis e que a Índia ainda está em um estágio muito inicial.
* Com informações da Vogue Business.
CEO da Americanas vê mais 5 trimestres de transformação e e-commerce menor, mas sem ‘anabolizantes’; ação AMER3 desaba 25% após balanço
Ao Seu Dinheiro, Leonardo Coelho revelou os planos para tirar a empresa da recuperação e reverter os números do quarto trimestre
Esporte radical na bolsa: Ibovespa sobe em dia de IPCA-15, relatório do Banco Central e coletiva de Galípolo
Galípolo concederá entrevista coletiva no fim da manhã, depois da apresentação do Relatório de Política Monetária do BC
Um café e a conta: o que abertura do Blue Box Café da Tiffany em São Paulo diz sobre o novo mercado de luxo
O café pop-up abre hoje (27) e fica até o dia 30 de abril; joalheria segue tendência mundial de outras companhias de luxo
Ato falho relevante: Ibovespa tenta manter tom positivo em meio a incertezas com tarifas ‘recíprocas’ de Trump
Na véspera, teor da ata do Copom animou os investidores brasileiros, que fizeram a bolsa subir e o dólar cair
Chef gaúcho chegou ao topo das pizzas da Europa — e agora quer surpreender de novo
Após fazer história em Barcelona com a Sartoria Panatieri, eleita a melhor pizza da Europa fora da Itália, chef brasileiro Rafa Panatieri se prepara para disputar o primeiro lugar enquanto organiza a abertura de seu novo endereço
Azzas cortadas? O que está por trás da disputa que pode separar o maior grupo de moda da América Latina
Apesar da desconfiança sobre o entrosamento entre os líderes, ninguém apostava num conflito sem solução para a Azzas 2154, dona de marcas como Hering e Arezzo
Riviera Maya fora do hype: quatro roteiros na região, além de Tulum e Cancún
Próximo ao agito de Cancún e às ruínas de Tulum, esses quatro destinos menos óbvios incluem praias tranquilas, reservas naturais e cenotes para um roteiro menos óbvio no paraíso mexicano
Após semanas de short squeeze em Casas Bahia, até onde o mercado terá espaço para continuar “apertando” as ações BHIA3?
A principal justificativa citada para a performance de BHIA3 é o desenrolar de um short squeeze, mas há quem veja fundamentos por trás da valorização. Saiba o que esperar das ações
Dormir bem virou trend no TikTok — mas será que o sleepmaxxing, a ‘rotina de sono perfeita’, realmente funciona?
Especialistas dizem que a criação de uma rotina noturna pode trazer benefícios para a qualidade de vida, mas é preciso ter cuidado com os exageros
Nem todos podem ter uma Ferrari – e não estamos falando de dinheiro
O valor de uma marca que vai muito além dos volumes e lucro: confira o que é preciso para ter ou não acesso à marca
CEO da Lojas Renner aposta em expansão mesmo com juro alto jogando contra — mas mercado hesita em colocar ações LREN3 no carrinho
Ao Seu Dinheiro, o presidente da varejista, Fabio Faccio, detalhou os planos para crescer este ano e diz que a concorrência que chega de fora não assusta
O upgrade da Air France: primeira classe ganha pijamas Jacquemus, transfer Porsche e mais
Após investir 5 bilhões de euros, companhia francesa acirra a competição com British Airways e Lufthansa para conquistar o turista de luxo; voo ‘mais barato’ sai a partir de R$ 35 mil
Luxo na F1: Louis Vuitton assina case de troféu de Lando Norris no GP da Austrália
Casa francesa de luxo assinou baú Trophy Trunk Louis Vuitton, que carregou a taça conquistada pelo britânico na corrida de abertura da temporada 2025 da Fórmula 1
Ferrari under 40? Quase metade dos compradores da italiana tem menos de 40 anos
Mesmo com acesso financeiro aos veículos de luxo, clientes precisam criar um relacionamento de longo prazo com a marca para conseguirem os modelos mais selecionados
Tênis amador e Venus Williams como treinadora: Four Seasons promove torneio com Armani, veja como participar
Duplas serão treinadas por tenistas renomados em quatro propriedades da rede; etapas finais serão realizadas em clube privado ultra-exclusivo em Londres
Gucci, Versace e o que significa a “dança das cadeiras” na direção das gigantes do luxo
Legado, criatividade e faturamento: o que está por trás das mudanças de direção criativa que Gucci e Versace anunciaram, quase simultaneamente, nesta quinta-feira (13)
Vem divórcio? Azzas 2154 (AZZA3) recua forte na B3 com rumores de separação de Birman e Jatahy após menos de um ano desde a fusão
Após apenas oito meses desde a fusão, os dois empresários à frente dos negócios já avaliam alternativas para uma cisão de negócios, segundo a imprensa local
Uma joia na xícara: experimentamos o café de 30 euros em Tóquio
Variedades premiadas, ambiente hermético e apenas seis lugares; por dentro do Cherry Lab, o pequeno templo dos obcecados por café em Taitō, Tóquio
Bateu Azzas (AZZA3) e não voou: ações lideram perdas do Ibovespa após balanço fraco. O que desagradou o mercado?
A varejista registrou uma queda de 35,8% no lucro líquido do quarto trimestre de 2024 na comparação anual, para R$ 168,9 milhões. Veja os destaques do balanço
Nostalgia & tributo: Flamengo une forças com Adidas em coleção que celebra o Mundial de 1981
Com linha retrô, time e marca prestam a homenagem a um dos marcos da história do Flamengo; coleção inclui a camisa rubro-negra da geração de Zico e cia. e tem peças a partir de R$ 249,99