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Carolina Gama
Formada em jornalismo pela Cásper Líbero, já trabalhou em redações de economia de jornais como DCI e em agências de tempo real como a CMA. Já passou por rádios populares e ganhou prêmio em Portugal.
PROBLEMAS À VISTA

A Europa em ruínas: o que as crises políticas na França e na Alemanha significam para uma economia já doente

Após a derrubada do governo francês, agora é a vez de os alemães encararem um voto de confiança que também pode levar à queda do governo de coalizão

Carolina Gama
11 de dezembro de 2024
15:48
Bandeira da França e da Alemanha com um estilhaço de vidro no meio
Imagem: DAll E / ChatGPT

O governo da França caiu, mas uma das maiores economias da Europa não é a única a estar dividida — e distraída — por disputas políticas internas em um momento crucial para o Velho Continente. A Alemanha está prestes a realizar eleições antecipadas após o governo de coalizão desmoronar. 

Cinco semanas após o colapso da coalizão governamental de três partidos em uma disputa sobre como revitalizar a economia estagnada da Alemanha, o gabinete de Olaf Scholz informou que o chanceler havia solicitado o voto de confiança na câmara baixa do Parlamento, ou Bundestag, para segunda-feira (16). O objetivo é realizar eleições parlamentares em 23 de fevereiro, sete meses antes do inicialmente previsto.

A Alemanha não tem um voto de confiança desde 2005, quando o então chanceler Gerhard Schröder convocou e perdeu um, ao arquitetar uma eleição antecipada que foi vencida por uma pequena margem pela desafiante de centro-direita Angela Merkel.

Scholz devia ir pelo mesmo caminho. Pesquisas mostram que o partido do chanceler está atrás do principal bloco sindical de oposição, de centro-direita, do desafiante Friedrich Merz. O vice-chanceler Robert Habeck, cujos Verdes estão mais atrás, também concorre ao cargo principal.

A Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, que registra fortes intenções de voto, nomeou Alice Weidel como sua candidata a chanceler, mas não tem hipóteses de aceitar o cargo porque outros partidos se recusam a trabalhar com ela.

Na França, o presidente Emmanuel Macron nomeará um novo primeiro-ministro, mas mesmo assim o parlamento permanecerá dividido entre três blocos políticos, que podem manter o futuro premiê refém na aprovação de reformas necessárias e de novo orçamento.

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O impasse no parlamento francês é o resultado de uma eleição antecipada que Macron convocou na França e na qual seu partido, o Renaissance, levou uma surra.

Pela lei francesa, nenhuma nova eleição parlamentar pode ser realizada por pelo menos um ano, o que significa nenhum novo orçamento até meados de 2025, mesmo que outras eleições produzam um resultado político claro — algo não indicado em pesquisas de opinião.

E assim, entre os numerosos oponentes políticos de Macron, há cada vez mais pedidos para que ele renuncie sob o argumento de que a saída do atual presidente romperia com o impasse político na França.

A crise política (e econômica) na Alemanha e na França

Esse vácuo político na França e na Alemanha — dois dos maiores e mais influentes atores da Europa — significa problemas para uma economia europeia já doente.

Com um déficit de 6,2% do Produto Interno Bruto (PIB), a França já tem o pior desequilíbrio fiscal da zona do euro. 

Do outro lado, o maior membro do bloco também terá o pior desempenho econômico no ano que vem: a Comissão Europeia prevê que a Alemanha cresça 0,7% em 2025, após encolher em 2024.

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O efeito do vácuo político para a Europa

O cenário econômico da Europa provavelmente deve continuar sombrio. 

A promessa de campanha do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 10% sobre produtos europeus representará uma dor de cabeça adicional — impondo um custo econômico direto aos exportadores da UE e uma escolha difícil para os líderes da região sobre como retaliar.

A ameaça de agressão russa e o possível afastamento dos EUA da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) também significam que a Europa precisa colocar a mão no bolso para investir nas forças armadas.

Há ainda relação cada vez mais frias com a China, um grande parceiro comercial, à medida que a UE busca "desarriscar" um inimigo geopolítico crescente.

A saída para a Europa

Nos últimos meses, dois ex-primeiros-ministros italianos, Mario Draghi e Enrico Letta, emitiram alertas sombrios sobre a competitividade europeia, que foi superada em muito pelos EUA.

Mas com pouca orientação de Paris e Berlim, as duas capitais vistas como os motores do projeto europeu, não está claro se as soluções propostas serão ouvidas.

Draghi e Letta propuseram algumas ideias politicamente difíceis: empréstimos comuns via eurobonds, construção de mercados de capital ou um novo fundo de investimento pan-europeu — que equipara os enormes subsídios de tecnologia verde dos EUA.

Na prática, essas ideias podem envolver compartilhamento de risco com outros governos, aumento de contribuições financeiras para Bruxelas, reforma adicional dos sistemas de pensões ou eliminação de fiscalizadores financeiros nacionais. 

A questão é que essa é uma mistura política tóxica para qualquer governo nacional defender e piora ainda mais para um governo fatalmente enfraquecido.

*Com informações da Euro News e da Associated Press

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