A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
Ousadia no dicionário pode tanto ser sinônimo de arrojo e coragem como de falta de reflexão e imprudência — e é entre essas duas realidades que a China tenta conduzir a saída da crise, com o mercado à espreita. Mas e se a segunda maior economia do mundo não tiver saída para a realidade em que se colocou?
Responsável por mais de R$ 130 bilhões em recursos, a gestora de fundos Kinea compara a situação da China à da letra de Hotel California, o clássico da banda de rock Eagles que você pode relembrar aqui. Na canção, o personagem se vê preso no hotel onde tudo parece atraente à primeira vista.
Na carta mensal aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a Kinea avalia o que a segunda maior economia do mundo precisa fazer para voltar a ficar de pé e quais as apostas que os investidores podem (ou não) fazer nesse momento.
Para entender o tamanho do problema que o governo de Xi Jinping tem nas mãos, é preciso dar um passo atrás — algo que os ousados não costumam fazer — e entender como a China chegou até aqui.
Há alguns anos, Pequim resolveu livrar a economia da dependência de um mercado imobiliário superaquecido e que sustentava famílias, bancos e governos locais. O preço que Xi pagou por essa decisão foi alto: falência de construtoras, obras encalhadas e acúmulos de dívidas que resultaram em desemprego.
Acontece que os chineses já têm, por natureza, a tendência de poupar e, diante dos problemas do setor imobiliário, tornaram-se ainda mais cautelosos com os gastos. A espiral estava formada: empresas que sofreram com as medidas draconianas da pandemia cortaram salários, reduziram contratações e o mercado de trabalho ficou mais restrito — tudo isso com uma população que vinha diminuindo nos últimos dois anos.
Leia Também
Não demorou muito para que um país que estava acostumado com crescimento acelerado e melhorias constantes nas condições de vida visse a confiança dos chineses — e do resto do mundo — se deteriorar.
As medidas de apoio vieram. O governo correu para resgatar empresas do setor imobiliário que poderiam contaminar ainda mais a economia chinesa. Os problemas continuaram. Xi seguiu anunciando medidas de apoio até chegarmos ao pacote de 10 trilhões de yuans (US$ 1,4 trilhão) aprovado na semana passada.
O mercado torceu o nariz para a ajuda trilionária — ela não está focada na recuperação da demanda e sim em ajudar os governos locais a manobrar suas dívidas. O que fazer agora?
- “Não compre Bitcoin hoje”: especialista alerta que identificou criptomoeda embrionária que pode disparar até 30.000% em 10 meses
Xi precisa de coragem
A transição para uma economia de consumo requer ousadia: em um ambiente onde falta de confiança e sobra fraqueza econômica, o alto custo de vida nas cidades e a dificuldade de acesso a serviços públicos para algumas famílias aumentam ainda mais a propensão a poupar, dificultando a aceleração do consumo.
“Seria necessária uma profunda revisão dessa lógica, seja modificando a provisão de serviços públicos, seja ampliando os seguros sociais. O ganho de dinamismo do consumo, especialmente em serviços, é uma válvula de escape importante para a geração de PIB [Produto Interno Bruto] e emprego”, afirma a Kinea.
Para a gestora, uma reforma tributária que distribua melhor as obrigações e recursos entre as esferas de governo, além da amplitude e progressividade do imposto de renda como fonte de receita, facilitaria a capilaridade e o dinamismo das províncias na China, possibilitando o aumento do investimento em educação e saúde e a liberação de dinheiro para o consumo.
Mas o flerte da China com a deflação também demanda outra dose de coragem — a história mostra que para sair dessa espiral uma depreciação da moeda é necessária: o Japão precisou de anos de moeda fraca para voltar a gerar inflação. Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt teve que desvalorizar o dólar frente ao ouro, que era a moeda de referência da época.
“Continuamos a apostar que o PBOC [o banco central da China], embora focado na estabilidade da moeda, não poderá tolerar apreciação, para evitar a retroalimentação negativa para uma inflação já muito baixa”, diz a Kinea.
- PREVIDÊNCIA: Guia completo do Seu Dinheiro apresenta as melhores opções para se aposentar com tranquilidade e boa renda; receba gratuitamente
Ousadia de Xi, cautela do mercado
Há quem diga que Xi tenta evitar a segunda definição de ousadia no dicionário: imprudência e que o governo optou por um processo passo a passo de implementação de políticas de ajuda ao longo de vários meses, em vez de um único anúncio massivo — e, por isso, a hora de comprar China é agora. Você pode entender melhor essa corrente de pensamento em uma matéria detalhada que o Seu Dinheiro preparou no início desta semana.
Mas, apesar de considerar alguns acenos bem feitos, a Kinea vê com certo ceticismo a real disposição do governo chinês em desafiar as bases tradicionais e transformar a economia em uma sociedade de consumo.
A gestora fez um cálculo para explicar esse ceticismo: no curto prazo, as medidas anunciadas pelo governo são equivalentes a 2,5% do PIB, incluindo o valor para evitar a contração fiscal em curso e recursos extras, um percentual que garante que o crescimento em 2024 seja próximo da meta do governo (5%).
Para o médio prazo, os economistas chineses mais ousados apostam em até 7% do PIB ao longo de 3 anos, conjugando emissões extras e linhas de crédito adicionais para governos,construtores e famílias.
Como comparação, os EUA a partir de 2008 — quando o estouro da bolha imobiliária se comparou ao momento atual da China — anunciaram um estímulo de cerca de 5% do PIB. A própria China em 2008 injetou 4 trilhões de yuans em sua economia que, à época, somava 35 trilhões de yuans — um estímulo da ordem de 11% do PIB.
DÓLAR subindo, INFLAÇÃO e SELIC em ALTA: Como PROTEGER seu DINHEIRO neste cenário?
O setor que pode se dar muito mal
As medidas anunciadas até o momento devem, na análise da Kinea, prejudicar o setor financeiro. O Seu Dinheiro fez um apanhado das principais medidas que o governo de Xi anunciou até agora e você pode conferir aqui.
“Sob pressão para conceder empréstimos a taxas subsidiadas, os bancos enfrentarão desafios nos balanços devido ao novo pacote de estímulos. Há anos eles lidam com o modelo econômico do governo, que reduz a taxa de empréstimos enquanto mantém estável a taxa de depósitos. Esse Fenômeno tem pressionado a margem líquida de juros desses bancos, afetando a rentabilidade do setor”, diz a gestora.
Esse descasamento entre as taxas só é possível porque a China, ao contrário do Brasil e de outras economias ocidentais, têm diferentes taxas de juros, ao invés de uma única taxa referencial como a Selic no Brasil.
Dentre as principais taxas de juros chinesas, temos a LPR (taxa de juros referência para os empréstimos), taxa de referência de remuneração dos depósitos, taxa de empréstimo de médio prazo para os bancos (fornecida pelo PBOC para fornecer liquidez aos bancos) e taxa de empréstimos para hipotecas.
“O governo chinês ainda deverá anunciar novas medidas, incluindo cortes adicionais na taxa de reserva obrigatória até o final de 2024, injeção de capital nos grandes bancos, mais reduções nas taxas de juros e incentivos ao consumo. Entretanto, dada a incerteza dessas futuras ações e o impacto negativo das atuais, preferimos evitar o setor bancário chinês por enquanto”, diz a Kinea.
Para o setor de tecnologia, composto por empresas como Alibaba e Tencent, as medidas anunciadas até o momento não têm impacto direto claro na rentabilidade das companhias, se limitando aos efeitos indiretos de maior confiança da economia, segundo a gestora.
E a bolsa da China?
Uma vez que o efeito das medidas para os dois principais setores da bolsa da China é considerado negativo ou incerto pela Kinea, a medida mais significativa na visão da gestora até o momento para a bolsa chinesa é o crédito de até 800 bilhões de yuans, destinado especificamente à recompra de ações das empresas que compõem o índice local CSI 300.
“Essa medida é relevante pois representa aproximadamente 4,8% da liquidez diária e 1,7% do valor de mercado das empresas deste índice na data do anúncio. Com um mercado com baixa alocação e valuation barato, essa medida foi certamente um dos combustíveis do rali recente da bolsa chinesa”, afirma a Kinea.
O mercado de ações chinês, diferentemente dos mercados ocidentais, tende a ser representado por fortes movimentos baseados em estímulos e liquidez, independentemente do comportamento de lucros das respectivas empresas.
“Não descartamos a possibilidade de continuidade do forte rali iniciado em setembro, mas preferimos ver ações concretas de Pequim para sair do atual ciclo deflacionário. Embora tenhamos participado das fases iniciais desse movimento, no momento participamos apenas como observadores”, acrescenta a gestora.
R$ 4,1 bilhões em concessões renovadas: Copel (CPLE6) garante energia para o Paraná até 2054 — e esse banco explica por que você deve comprar as ações
Companhia paranaense fechou o contrato de 30 anos referente a concessão de geração das usinas hidrelétricas Foz do Areia, Segredo e Salto Caxias
Ações da Embraer (EMBR3) chegam a cair mais de 4% e lideram perdas do Ibovespa. UBS BB diz que é hora de desembarcar e Santander segue no voo
O banco suíço rebaixou a recomendação para os papéis da Embraer de neutro para venda, enquanto o banco de origem espanhola seguiu com a indicação de compra; entenda por que cada um pegou uma rota diferente
Equatorial (EQTL3) tem retorno de inflação +20% ao ano desde 2010 – a gigante de energia pode gerar mais frutos após o 3T24?
Ações da Equatorial saltaram na bolsa após resultados fortes do 3º tri; analistas do BTG calculam se papel pode subir mais após disparada nos últimos anos
‘Mãe de todos os ralis’ vem aí para a bolsa brasileira? Veja 3 razões para acreditar na disparada das ações, segundo analista
Analista vê três fatores que podem “mudar o jogo” para o Ibovespa e a bolsa como um todo após um ano negativo até aqui; saiba mais
Acaba logo, pô! Ibovespa aguarda o fim da cúpula do G20 para conhecer detalhes do pacote fiscal do governo
Detalhes do pacote já estão definidos, mas divulgação foi postergada para não rivalizar com as atenções à cúpula do G20 no Rio
A B3 vai abrir no dia da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios na estreia do novo feriado nacional
É a primeira vez que o Dia da Consciência Negra consta no calendário dos feriados nacionais. Como de costume, as comemorações devem alterar o funcionamento dos principais serviços públicos
Mais barato? Novo Nordisk lança injeção de emagrecimento estilo Ozempic na China com ‘novidade’
Em um país onde mais de 180 milhões de pessoas têm obesidade, o lançamento do remédio é uma oportunidade massiva para a empresa europeia
Grupo Mateus: Santander estabelece novo preço-alvo para GMAT3 e prevê valorização de 33% para as ações em 2025; saiba se é hora de comprar
O banco reduziu o preço-alvo para os papéis da varejista de alimentos em relação à 2024, mas mantém otimismo com crescimento e parceria estratégica
Rali do Trump Trade acabou? Bitcoin (BTC) se estabiliza, mas analistas apontam eventos-chave para maior criptomoeda do mundo chegar aos US$ 200 mil
Mercado de criptomoedas se aproxima de uma encruzilhada: rumo ao topo ou a resultados medianos? Governo Trump pode ter a chave para o desfecho.
2025 será o ano de ‘acerto de contas’ para o mercado de moda: veja o que as marcas precisarão fazer para sobreviver ao próximo ano
Estudo do Business of Fashion com a McKinsey mostra desafios e oportunidades para a indústria fashion no ano que vem
Localiza: após balanço mais forte que o esperado no 3T24, BTG Pactual eleva preço-alvo para RENT3 e agora vê potencial de alta de 52% para a ação
Além dos resultados trimestrais, o banco considerou as tendências recentes do mercado automotivo e novas projeções macroeconômicas; veja a nova estimativa
Ações da Oi (OIBR3) saltam mais de 100% e Americanas (AMER3) dispara 41% na bolsa; veja o que impulsiona os papéis das companhias em recuperação judicial
O desempenho robusto da Americanas vem na esteira de um balanço melhor que o esperado, enquanto a Oi recupera fortes perdas registradas na semana passada
Cemig (CMIG4) e Copasa (CSMG3) voltam a ficar no radar das privatizações e analistas dizem qual das duas tem mais chance de brilhar
Ambas as empresas já possuem capital aberto na bolsa, mas o governo mineiro é quem detém o controle das empresas como acionista majoritário
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Lucro dos bancos avança no 3T24, mas Selic alta traz desafios para os próximos resultados; veja quem brilhou e decepcionou na temporada de balanços
Itaú mais uma vez foi o destaque entre os resultados; Bradesco avança em reestruturação e Nubank ameaça desacelerar, segundo analistas
G20: Ministério de Minas e Energia assina acordo com a chinesa State Grid para transferência de tecnologia
A intenção é modernizar o parque elétrico brasileiro e beneficiar instituições de ensino e órgãos governamentais
No G20 Social, Lula defende que governos rompam “dissonância” entre as vozes do mercado e das ruas e pede a países ricos que financiem preservação ambiental
Comentários de Lula foram feitos no encerramento do G20 Social, derivação do evento criada pelo governo brasileiro e que antecede reunião de cúpula
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
Warren Buffett não quer o Nubank? Megainvestidor corta aposta no banco digital em quase 20% — ação cai 8% em Wall Street
O desempenho negativo do banco digital nesta sexta-feira pode ser explicado por três fatores principais — e um deles está diretamente ligado ao bilionário