Até queria maratonar o Oscar 2024 no carnaval, mas o Mark Zuckerberg me transformou em um “peixinho dourado”
Eu não tenho paciência para terminar um filme do Osacr 2024, embora eu queira muito. O que Mark Zuckerbeg tem a ver com isso?
Temo que terei de começar este texto com uma frase que me faz parecer insuportável: não vou pular o carnaval de 2024. Digo isso porque qualquer jovem de 23 anos que se preze não vê a hora de ir para a farra — quem diz o contrário no mínimo quer se exibir e pagar de cult.
Mas me apresso em dizer que esse não é o caso, adoro essa época do ano e reviro os olhos para quem despreza essas festividades. Eu só preciso descansar um pouco.
E também não vou negar que a frase carece de um complemento: não vou pular (muito) o Carnaval de 2024 — ou seja, você ainda deve me encontrar em um bloquinho ou outro de São Paulo se tiver sorte.
Acontece que escolhi passar boa parte dos dias de folia vendo os filmes que concorrem ao Oscar 2024. Mas a verdade é que existe uma pedra no meu caminho, um rival que consegue ser maior até mesmo que a tentação da festança: o TikTok.
Não só ele, como também o Instagram e o YouTube. Todas as redes sociais.
O motivo? Eu simplesmente não tenho mais paciência para chegar ao final de um filme com mais de duas horas.
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Não me entenda mal, a maratona Oscar é sempre uma alegria para mim, mas sinto que meu cérebro foi “desprogramado” para consumir conteúdos muito longos e, ao ver Anatomia de Uma Queda no cinema, eu senti falta de umas três pausas.
O filme tem duas horas e meia.
Podem me julgar se quiserem, mas você há de convir que nossa tolerância parece estar diminuindo cada vez mais… ano a ano. E essa “síndrome” não ataca apenas os jovens.
Será que estamos entrando na era dos filmes em versão encurtada, ao invés da estendida com os comentários do diretor? É isso que procuro responder hoje, nesse domingão de carnaval.
Oscar 2024: Um peixe dourado tem mais foco do que eu — e que você também, provavelmente
É bem provável que um peixinho dourado consiga prestar atenção em uma coisa por mais tempo que eu — e que você também. Literalmente.
Se você acha que estou exagerando, saiba que essa informação é de um estudo da Microsoft que avaliou a capacidade de concentração de milhares de pessoas.
Os resultados mostram que o tempo médio de atenção de um ser humano na era digital é de oito segundos. O peixe aguenta nove.
A questão é: nos anos 2000 a média era 12 segundos… O que aconteceu?
Para responder, nós vamos entrar um pouco no mecanismo por trás das redes sociais. A pergunta é: o que sustenta os grandes impérios da Meta, do TikTok e outros?
A resposta está em um neurotransmissor: a dopamina, substância que, quando liberada, dá a sensação de prazer — e gera a necessidade de prolongar o bem-estar.
Nas próximas linhas, cito o físico Pedro Loos e um estudo da Universidade Zhejiang, na China.
Toma essa Elon Musk: o Zuckerberg nem precisou de um chip para dominar o meu cérebro
Reforço de razão variável: essas palavras vão nos ajudar a entender melhor tudo isso. Trata-se de um esquema que “brinca” com nossa tendência a aprender melhor diante de alguma recompensa.
É a mesma coisa que usamos para treinar um cachorro: cada comportamento positivo (seja sentar, deitar e etc) merece um biscoito. Mas, nesse esquema que mencionei, a questão é que a recompensa é dada aleatoriamente.
Ou seja, o cachorro não sabe quando o biscoito chegará e isso o faz repetir a ação quantas vezes forem necessárias até que o petisco esteja em sua boca.
Isso é mais efetivo do que simplesmente ficar dando o aperitivo todas as vezes, porque mexe com a química do cérebro do animal. E nós somos exatamente assim — tipo cachorrinhos à espera constante de um biscoito.
“Nosso cérebro é treinado para enxergar padrões e tenta prever o que está prestes a acontecer para estar preparado”, explica Loos em um vídeo para o seu canal no YouTube.
Isso é uma vantagem evolutiva, já que enxergar padrões e estar pronto para o que der e vier, na época das cavernas, aumentaria nossas chances de sobrevivência.
Acontece que, justamente por isso, nosso cérebro libera mais dopamina antes de um evento para nos manter atentos àquilo e “se a expectativa for cumprida, nós vamos manter a ligação entre a tarefa e a recompensa, o que nos incentiva a repetir o comportamento várias vezes”, explica o físico.
A expectativa de algo cria o efeito viciante em nós, nosso próprio cérebro nos dá uma recompensa.
E essa é a lógica que mantém os cassinos, os sites de apostas… e a fortuna de Mark Zuckerberg — além dos outros bilionários do ramo.
As redes atraem os usuários com algumas táticas poderosas, que criam a ideia de que o usuário pode receber uma recompensa a qualquer momento. Mas não dá para prever quando esse instante chegará e isso nos prende em um loop interminável.
O psicólogo David Greenfield resume: “assim como em uma máquina caça-níqueis, os usuários são atraídos por luzes e sons. E ainda mais poderoso, por informações e recompensas adaptadas aos interesses e gostos do usuário”, explica em uma matéria para o Globo.
No TikTok, por exemplo, isso funciona à medida que assistimos um vídeo especialmente selecionado para nós, o cérebro recebe uma enxurrada de dopamina. Quanto mais recebemos, mais queremos.
O que nos leva para o momento em que essas doses vão precisar ser cada vez maiores. Nós queremos mais e mais rápido.
Mas não pense que é só o TikTok que conta com esse sistema. As redes de Mark Zuckerberg se baseiam exatamente no mesmo princípio: o que são os likes, senão uma forma de nos estimular… de gerar prazer.
No final, uma forma de mostrar que fomos aceitos pelos nossos pares graças à publicação X ou Y.
Ou seja, nossa tolerância a conteúdos que não nos trazem esse tipo de recompensa imediata se torna limitada — por isso os peixinhos estão ganhando de nós, na média.
Os jovens, por serem a camada da população mais exposta às redes, já mostram os sintomas disso: cerca de um em cada cinco adolescentes americanos é diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, de acordo com o New York Times.
O aumento no número de diagnósticos aumentou cerca de 53% na última década e 16% desde 2007. São muitos estímulos o tempo todo, o que não combina com os filmes do Oscar 2024…
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