Após Carrefour, outra varejista francesa veta carne do Mercosul; governador do MT e deputados propõem boicote
Anúncio de novo veto veio do CEO do grupo Les Mousquetaires; na Câmara, deputados do agro querem instalar comissão externa para “colocar o dedo na ferida” do Carrefour no Brasil

Na quarta-feira, 20, um comunicado do presidente do grupo Carrefour, Alexandre Bompard, em suas redes sociais deu início a uma grande polêmica no Brasil.
No texto, ele afirmou que a rede varejista se comprometia, a partir daquela data, a não vender mais carnes provenientes do Mercosul, bloco formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai – independentemente dos "preços e quantidades de carne" que esses países possam oferecer.
Segundo Bompard, a decisão foi tomada após ouvir o "desânimo e a raiva" dos agricultores franceses, que têm protestado contra a proposta de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
- VEJA MAIS: Ofertas de ações caem em 2024, mas outro investimento vai na contramão e turbina captações em 113%; veja como buscar retorno de até 15% a.a.
Nesta sexta, 22, em novo lance, um outro grande varejista francês, o Les Mousquetaires, foi na mesma direção. Também em publicação nas redes sociais, Thierry Cotillard, CEO do grupo (que detém as marcas Intermarché e Netto e é um dos maiores distribuidores varejistas na Europa) anunciou veto ao produto e pediu uma mobilização coletiva nesse sentido.
"Faço um apelo às indústrias para que demonstrem o mesmo nível de comprometimento e transparência quanto à origem da matéria-prima utilizada", escreveu ele.
Brasil vende pouca carne para a França, mas receio do agro é de dano de imagem
Segundo dados do site especializado Farmnews, a França comprou de janeiro a outubro deste ano menos de 40 toneladas de carne bovina in natura do Brasil – o equivalente a 0,002% do total embarcado pelo País no período, de 1,41 milhão de toneladas.
Leia Também
O receio do agro brasileiro, porém, é de que a iniciativa de grupos como o Carrefour e o Les Mouquestaires possa ter um efeito grande na imagem do produto, abrindo caminho para atitudes parecidas em outros países europeus e prejudicando os produtores daqui.
O movimento dos grupos varejistas e dos agricultores franceses tem como pano de fundo as discussões sobre o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. Nas negociações desse acordo, que já duram vários anos, a questão agrícola sempre foi um ponto de confronto importante.
Os agricultores europeus têm pedido algum tipo de proteção contra os produtos do Mercosul. Mas, agora, com o avanço das conversas e a possibilidade real de o acordo ser assinado, as manifestações se tornaram mais veementes. No último dia 13, o primeiro-ministro francês, Michel Barnier, afirmou que a França não aceitará a assinatura do acordo se o texto atual não for mudado.
O movimento francês provocou reações do lado brasileiro. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, falou em "ação orquestrada". Na Câmara, já existe uma articulação para instalar uma comissão com o objetivo de "colocar o dedo na ferida" do Carrefour, enquanto o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), defendeu um boicote ao Carrefour e ao Atacadão, também controlado pelo grupo francês.
- LEIA MAIS: esta elétrica é ‘um dos nomes obrigatórios para a maioria dos portfólios’, defende o BTG – veja qual é o papel com resultados fortes no 3T24.
Alegação é de que o agro brasileiro não segue as mesmas normas ambientais da França
O argumento central da nova investida de produtores franceses – e, agora, também de varejistas locais – contra um possível acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia é ambiental: eles alegam que os produtores brasileiros não respeitariam as mesmas regras impostas a eles.
"A Europa não deve se converter em um filtro e não pode importar produtos que não respeitam nenhuma de nossas normas (ambientais)", disse à rádio France International o presidente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Operadores Agrícolas (FNSEA), Arnaud Rousseau, que desde a segunda-feira passada tem liderado uma série de protestos, como o bloqueio de rodovias no país.
'Pretexto' para não assinar acordo entre Mercosul e União Europeia
"Parece que estão querendo arrumar pretexto para que a França não assine (o acordo de livre-comércio) e continue com posição contra a finalização do acordo Mercosul-União Europeia", reagiu o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para quem o movimento parece uma "ação orquestrada". Em sua visão, seria mais "bonito e legítimo" só manter a posição contra o acordo.
"Não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira", completou. Em nota oficial, o ministério disse que "não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros".
- Quer se aposentar sem preocupações financeiras? O guia completo do Seu Dinheiro explica as melhores opções para investir para o futuro
Carrefour na mira da Câmara dos Deputados
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), prometeu apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de "colocar o dedo na ferida" do Carrefour – o primeiro a anunciar o embargo à carne proveniente do Mercosul.
Na justificativa para criar a comissão, Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes "graves" da rede de supermercados francesa no País ligados a violações ambientais e trabalhistas.
"É uma atitude absolutamente irresponsável, falaciosa e discriminatória, em uma clara afronta protecionista ao setor agropecuário brasileiro", disse Moreira.
Em nota distribuída na quinta-feira, 21, a Federação das Associações Rurais do Mercosul (Farm), composta por entidades representativas do Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai, disse manifestar "veemente discordância e repúdio à decisão anunciada" pelo CEO do Carrefour, Alexandre Bompard.
"Essa atitude, arbitrária, protecionista e equivocada, prejudica o bloco e ignora os padrões de sustentabilidade, qualidade e conformidade que caracterizam a produção agropecuária nos seus países membros", diz o texto.
Com a repercussão do caso, o Carrefour chegou a divulgar nota dizendo que a medida só vale para as unidades da rede na França e que "em nenhum momento" foi colocada em dúvida a "qualidade do produto do Mercosul" – se refere "somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise".
VEJA TAMBÉM: INVESTIR NA NATUREZA DÁ RETORNO? Como as mudanças climáticas afetam a economia global
Presidente da FPA defende boicote mesmo ao Carrefour Brasil: 'tentativa de lacração'
Já o atual presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, Pedro Lupion (PP-PR), defendeu que o setor de proteínas pare de fornecer carnes ao Carrefour e demais marcas do grupo no Brasil.
"Se a carne brasileira serve para ser consumida nas lojas do Carrefour e de todas suas outras empresas aqui no Brasil, ela serve também para a Europa. Sugiro, e já conversei com as entidades produtoras de proteína, que parem de entregar seus produtos para o Carrefour e demais marcas dessa empresa aqui no Brasil, para que eles entendam o que é respeitar o produtor rural brasileiro", afirmou Lupion, em vídeo na divulgado ontem.
Lupion classificou a medida como "uma tentativa de lacração dos franceses" para atender os anseios dos produtores rurais. "E nem isso conseguem. Vimos uma onda de protestos na União Europeia justamente contra medidas mais restritivas à produção agropecuária e agora eles vem criar regrar para nós, produtores brasileiros ou do Mercosul, numa tentativa de desvirtuar o acordo entre União Europeia e Mercosul. Não aceitamos e não aceitaremos", refutou Lupion.
O presidente da bancada do agro destacou que a exportação brasileira de carnes à França é relativamente pequena. "É um adversário estridente e que gosta de lacração. Não aceitamos. Do mesmo jeito que foi com a Danone que teve que voltar atrás, o Carrefour também terá que voltar atrás porque vai sentir no bolso o prejuízo e a insatisfação dos produtores e consumidores brasileiros", concluiu.
A posição endossada por Lupion foi manifestada nesta quinta, 21, por seis entidades do agronegócio, que em carta afirmaram que se o grupo Carrefour "entende que o Mercosul não é fornecedor à altura do mercado francês – que não é diferente do espanhol, belga, árabe, turco, italiano –, as entidades assinadas consideram que, se não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país", sugerindo suspensão no fornecimento local.
Governador de Mato Grosso também defende boicote ao Carrefour Brasil e ao Atacadão
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), também defendeu nesta sexta-feira, em vídeo publicado nas suas redes sociais, um boicote ao Carrefour e mesmo ao Atacadão – controlado pelo grupo francês.
"Quero dizer ao diretor-geral do Carrefour e do Atacadão, que eu, como cidadão, não vou comprar mais das lojas deles, e acho que aqueles que são do agro e até a população brasileira, para honrar o nosso País, deveriam pensar em dar a eles o mesmo tratamento que estão dando ao nosso País", disse o governador no vídeo.
Em entrevista ao Estadão, Mendes afirmou que "precisamos nos fazer respeitar e entender verdadeiramente qual é o 'game' que está sendo jogado".
"Muitas vezes discursos ambientalistas são feitos, mas escondem interesses puramente comerciais. Temos de defender o meio ambiente, fazer a nossa parte no Brasil, mas enquanto damos a nossa cota de contribuição, muitos países continuam aumentando emissões, principalmente aquelas que vêm da queima de combustíveis fósseis", disse Mendes.
Sobre o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, o governador disse que "é muito difícil e não à toa está aí há mais de 20 anos emperrado nos interesses não convergentes entre nosso bloco e o bloco europeu. A França é um dos principais obstáculos por conta da ineficiência que tem na sua agricultura."
*Com Estadão Conteúdo
Natura (NTCO3) renova contrato de locação de imóvel do FII BRCO11 e cotas sobem mais de 2% na bolsa hoje
Com a renovação do acordo pela Natura, o fundo imobiliário parece ter deixado para trás a fase de pedidos de rescisão antecipada dos contratos de locação de seus imóveis
Quanto a família Diniz embolsou ao zerar sua posição no Carrefour (CRFB3)?
Saída acontece dias antes da assembleia que decidirá sobre o fechamento de capital do Carrefour na bolsa brasileira
“Liquidem agora”, ordena Milei. A decisão da Argentina que deve favorecer o Brasil
A determinação do governo argentino pode impactar os preços globais de commodities agrícolas e beneficiar as exportações brasileiras no curto prazo
Que telefone vai tocar primeiro: de Xi ou de Trump? Expectativa mexe com os mercados globais; veja o que esperar desta quinta
Depois do toma lá dá cá tarifário entre EUA e China, começam a crescer as expectativas de que Xi Jinping e Donald Trump possam iniciar negociações. Resta saber qual telefone irá tocar primeiro.
Guerra comercial EUA e China: BTG aponta agro brasileiro como potencial vencedor da disputa e tem uma ação preferida; saiba qual é
A troca de socos entre China e EUA força o país asiático, um dos principais importadores agrícolas, a correr atrás de um fornecedor alternativo, e o Brasil é o substituto mais capacitado
O destino mais desejado da Europa é a cidade mais cara do mundo em 2025; quanto custa a viagem?
Seleção do European Best Destinations consultou mais de 1,2 milhão de viajantes em 158 países para elencar os 20 melhores destinos europeus para o ano
Até tu, Nvidia? “Queridinha” do mercado tomba sob Trump; o que esperar do mercado nesta quarta
Bolsas continuam de olho nas tarifas dos EUA e avaliam dados do PIB da China; por aqui, investidores reagem a relatório da Vale
Península de saída do Atacadão: Família Diniz deixa quadro de acionistas do Carrefour (CRFB3) dias antes de votação sobre OPA
Após reduzir a fatia que detinha na varejista alimentar ao longo dos últimos meses, a Península decidiu vender de vez toda a participação restante no Atacadão
Dior nos acuda? LVMH reporta queda nas vendas em quase todos os segmentos no primeiro trimestre de 2025
Conglomerado não escapou da crise global do mercado de luxo, mas mantém visão ‘vigilante e confiante’ para o ano
Agricultura regenerativa tem demanda em alta, mas requer investimentos compartilhados e incentivo ao produtor
Grandes mercados importadores apertam o cerco regulatório, mas custo da transição não pode ficar concentrado no produtor, dizem especialistas
Smartphones e chips na berlinda de Trump: o que esperar dos mercados para hoje
Com indefinição sobre tarifas para smartphones, chips e eletrônicos, bolsas esboçam reação positiva nesta segunda-feira; veja outros destaques
COP30: O que não te contaram sobre a maior conferência global do clima e por que ela importa para você, investidor
A Conferência do Clima será um evento crucial para definir os rumos da transição energética e das finanças sustentáveis no mundo. Entenda o que está em jogo e como isso pode impactar seus investimentos.
Agro sustentável: é preciso ‘tropicalizar’ as metodologias para um futuro de baixo carbono, diz especialista
Conselheiro da Associação Brasileira do Agronegócio destaca potencial do Brasil e aponta desafios da monetização para produtores e investidores atentos à transição verde
Obrigado, Trump: China aumenta compra de soja brasileira e Santander vê uma empresa bem posicionada para se beneficiar da maior demanda
A guerra de tarifas entre China e Estados Unidos nem esfriou e as empresas asiáticas já começaram os pedidos de soja brasileira: 2,4 milhões de toneladas nesta primeira semana
Ações da AgroGalaxy (AGXY3) sobem na bolsa após aprovação do plano de recuperação judicial
O plano foi aprovado na madrugada desta quinta-feira (10), depois de questionamentos dos credores
Ivan Sant’Anna: Trumponomics e o impacto de um erro colossal
Tal como sempre acontece, o mercado percebeu imediatamente o tamanho da sandice e reagiu na mesma proporção
Taxa sobre taxa: Resposta da China a Trump aprofunda queda das bolsas internacionais em dia de ata do Fed
Xi Jinping reage às sobretaxas norte-americanas enquanto fica cada vez mais claro que o alvo principal de Donald Trump é a China
Evitando ‘gole amargo’, União Europeia pode isentar uísque e vinho de tarifas recíprocas aos EUA; entenda
Bloco econômico considera manter o uísque americano isento de tarifas recíprocas para proteger as indústrias locais
Felipe Miranda: A arte da negociação — ou da guerra?
Podemos decidir como as operações militares começam, mas nunca será possível antecipar como elas terminam. Vale para a questão militar estrito senso, mas também se aplica à guerra tarifária
Sobrou até para o TikTok e a Jaguar Land Rover: As reações dos países atingidos pelas tarifas de Trump neste fim de semana
Mais de 50 países entraram em contato com a Casa Branca para negociar, mas parceiros comerciais também anunciaram retaliações à medida de Trump