“A gente está longe de resolver a questão fiscal”: CEO da Bradesco Asset vê risco de fim da regra fiscal e déficit de R$ 80 bilhões em 2024
Ao Seu Dinheiro, o CEO da Bradesco Asset e ex-secretário do Tesouro falou sobre os riscos macroeconômicos do Brasil no segundo semestre; confira o que está em jogo

Apesar dos esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a discussão sobre o risco fiscal está longe de chegar ao fim — e deve piorar nos próximos meses. A avaliação é de Bruno Funchal, CEO da Bradesco Asset.
“A gente está longe de resolver a questão fiscal”, afirmou ele, em entrevista exclusiva ao Seu Dinheiro. “Para o mercado, o maior risco hoje é que haja algum tipo de acordo e o governo decida eliminar a regra fiscal. Mas eu não acho que esse é o cenário mais provável.”
Responsável pela "chave do cofre" do governo federal entre 2020 e 2021, quando atuou como secretário do Tesouro Nacional, Funchal prevê que as turbulências envolvendo o fiscal devem se intensificar ao longo do segundo semestre.
O principal gatilho da discussão, segundo o gestor, será o debate sobre o Orçamento de 2025. Vale lembrar que o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) do ano que vem precisa ser enviado ao Congresso até o final de agosto.
- Não sabe onde investir neste momento? Veja +100 relatórios gratuitos da Empiricus Research e descubra as melhores recomendações em ações, fundos imobiliários, BDRs e renda fixa
Assim como o restante do mercado financeiro, a Bradesco Asset vê os cortes de gastos públicos em 2025 como uma peça fundamental para que a economia brasileira continue a caminhar no médio prazo.
“Fiscal é igual cortar unha: tem que estar sempre cortando gastos. É fácil reduzir imposto e aumentar o gasto, o difícil é fazer o contrário. Mas a gente não pode brigar contra a realidade. Nossa dívida é alta comparada com os países emergentes. Nosso juro é alto e, por causa disso, a gente paga um prêmio de risco alto. Então a gente tem que ter responsabilidade fiscal e manter os gastos e a dívida sob controle”, disse Funchal.
Leia Também
Na última quarta-feira (26), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ao UOL que o governo realiza a revisão das contas públicas "sem levar em conta o nervosismo do mercado" e defendeu a manutenção dos investimentos em Saúde e Educação.
Ao ser questionado sobre quais cortes o governo deverá fazer, Lula afirmou que ainda analisa se eles serão necessários.
"Nós estamos fazendo uma análise de onde é que tem gasto exagerado, onde é que tem gasto que não deveria ter, onde é que tem pessoas que não deveriam receber e que estão recebendo.”
Leia também: Dólar de volta a R$ 5,05 e retomada da bolsa brasileira: CEO da Bradesco Asset revela apostas para o 2º semestre
Entre fiscal, gastos e o Orçamento
Segundo o CEO da Bradesco Asset, antes da criação de uma regra fiscal como o teto de gastos, os gastos públicos não tinham restrição, o que facilitava as discussões sobre o Orçamento.
“Mas era ruim, porque se eu quisesse aumentar o espaço para gastar, bastava projetar uma receita maior, mesmo que fictícia. Isso gerou o problema que gerou e matou a responsabilidade fiscal. Ficou uma peça de ficção o Orçamento”, disse Funchal.
Mas se de um lado a regra fiscal trouxe maiores limitações para os gastos do governo, de outro, as despesas obrigatórias continuam a aumentar, limitando o espaço para a discussão das discricionárias.
É por isso que o governo atualmente enfrenta um grande dilema: a rigidez orçamentária.
Pela nova regra fiscal, as despesas de um ano devem ser equivalentes a 70% do crescimento real (acima da inflação) das receitas no exercício anterior.
Além disso, com o modelo atual, o governo tem liberdade para decidir sobre uma pequena parcela dos gastos estipulados pelo Orçamento — é o que chamam de despesas discricionárias.
“Tudo acaba se traduzindo em uma despesa obrigatória muito alta”, disse. “Isso culmina na regra fiscal, porque gera uma disputa muito grande sobre as discricionárias. Essa briga por espaço no Orçamento é sempre bastante ruidosa”.
É importante lembrar que a maior parte do gasto público hoje é puxada pelas regras automáticas de aumento dessas despesas obrigatórias — como os benefícios previdenciários e assistenciais, que são ligados ao salário mínimo, ou o gasto com saúde e educação, vinculado à arrecadação.
“Isso impõe uma restrição. Se as condições econômicas ou populacionais mudarem e outro gasto fizer mais sentido, você acaba ficando com um gasto de pior qualidade”, destacou Funchal.
Para o gestor, a discussão sobre a qualidade e direcionamento dos gastos é “fundamental” do ponto de vista fiscal, mas será um difícil do lado político.
“Não é fácil, em termos de narrativa política, dar mais liberdade para aumentar gastos com um setor em detrimento a outros. É um debate complexo, mas é claramente ineficiente ter tudo carimbado como é hoje”, disse o CEO.
- 850 mil brasileiros já estão recebendo, todos os dias, as atualizações mais relevantes do mercado financeiro. Você é um deles? Se a resposta for não, ainda dá tempo de “correr atrás do prejuízo”. Clique aqui para começar a receber gratuitamente.
É o fim da regra fiscal? CEO da Bradesco Asset revela projeções
Na visão de Bruno Funchal, Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, terão o desafio de explicar para o governo que acabar com a atual regra fiscal seria uma decisão “muito ruim para o Brasil”.
“Essa alternativa é cara, porque você perde credibilidade e desancora a expectativa em relação a gastos e ao tamanho da dívida”, disse o executivo.
“Se você tem uma regra que traz previsibilidade e ela passa a não valer mais para acomodar algum gasto adicional, isso vai bater nos juros, e a gente sabe que taxas mais elevadas freiam economia, investimento e geração de emprego”, acrescentou.
Porém, ainda que os ministros tenham sucesso em manter as normas de pé, o arcabouço corre o risco de sofrer mudanças relevantes, avalia Funchal.
“Mesmo que continue, você vai ter tentativas de gastar mais — e para isso, seria preciso mudar a regra ou fazer alguma coisa com a regra. Essa é uma fonte de incerteza grande para o segundo semestre.”
A expectativa da Bradesco Asset é que a regra fiscal continuará de pé, mas que Haddad não consiga entregar o prometido déficit primário zero em 2024. Na realidade, a gestora prevê um déficit de aproximadamente R$ 80 bilhões para este ano.
“Mantendo a regra fiscal, para o ano que vem, o governo vai ter que fazer um ajuste bem razoável de gasto, porque como aumenta a despesa obrigatória acima da inflação, isso acaba pressionando as outras despesas discricionárias.”
Nas contas do gestor, os gastos discricionários devem ficar em torno de R$ 40 bilhões menores do que os deste ano.
Respira, mas não larga o salva-vidas: Trump continua mexendo com os humores do mercado nesta terça
Além da guerra comercial, investidores também acompanham balanços nos EUA, PIB da China e, por aqui, relatório de produção da Vale (VALE3) no 1T25
Allos (ALOS3) entra na reta final da fusão e aposta em dividendos com data marcada (e no começo do mês) para atrair pequeno investidor
Em conversa com Seu Dinheiro, a CFO Daniella Guanabara fala sobre os planos da Allos para 2025 e a busca por diversificar receitas — por exemplo, com a empresa de mídia out of home Helloo
Volvo EX90, a inovação sobre rodas que redefine o conceito de luxo
Novo top de linha da marca sueca eleva a eletrificação, a segurança e o conforto a bordo a outro patamar
COP30: O que não te contaram sobre a maior conferência global do clima e por que ela importa para você, investidor
A Conferência do Clima será um evento crucial para definir os rumos da transição energética e das finanças sustentáveis no mundo. Entenda o que está em jogo e como isso pode impactar seus investimentos.
Ibovespa é um dos poucos índices sobreviventes de uma das semanas mais caóticas da história dos mercados; veja quem mais caiu
Nasdaq é o grande vencedor da semana, enquanto índices da China e Taiwan foram os que mais perderam
Trump virou tudo do avesso (várias vezes): o resumo de uma das semanas mais caóticas da história — como ficaram dólar, Ibovespa e Wall Street
Donald Trump virou os mercados do avesso várias vezes, veja como ficaram as bolsas no mundo todo, as sete magníficas, Ibovespa e dólar
A resposta de Lula a Donald Trump: o Brasil não é um parceiro de segunda classe
O presidente brasileiro finalmente sancionou, sem vetos, a lei de reciprocidade para lidar melhor com casos como o tarifaço dos EUA
Acabou a magia? Ir pra Disney está mais caro, mas o ‘vilão’ dessa história não é Donald Trump
Estudos mostram que preços dos ingressos para os parques temáticos subiram mais do que a inflação americana; somado a isso, empresa passou a cobrar por serviços que antes eram gratuitos
Ambev (ABEV3) vai do sonho grande de Lemann à “grande ressaca”: por que o mercado largou as ações da cervejaria — e o que esperar
Com queda de 30% nas ações nos últimos dez anos, cervejaria domina mercado totalmente maduro e não vê perspectiva de crescimento clara, diante de um momento de mudança nos hábitos de consumo
Inteligência artificial autônoma abala modelos de negócios das big techs; Google é a que tem mais a perder, mas não é a única, diz Itaú BBA
Diante do desenvolvimento acelerado de agentes autônomos de inteligência artificial, as big techs já se mexem para não perder o bonde
“Trump vai demorar um pouco mais para entrar em pânico”, prevê gestor — mas isso não é motivo para se desiludir com a bolsa brasileira agora
Para André Lion, sócio e gestor da estratégia de renda variável da Ibiuna Investimentos, não é porque as bolsas globais caíram que Trump voltará atrás na guerra comercial
Carros blindados estão em alta no Brasil – e os custos também. O que entra na conta?
Confira o que é importante para circular com carros blindados por aí: custos, cuidados, garantias e uma alternativa para não se preocupar com a desvalorização
CEO da Embraer (EMBR3): tarifas de Trump não intimidam planos de US$ 10 bilhões em receita até 2030; empresa também quer listar BDRs da Eve na B3
A projeção da Embraer é de que, apenas neste ano, a receita líquida média atinja US$ 7,3 bilhões — sem considerar a performance da subsidiária Eve
Prazo de validade: Ibovespa tenta acompanhar correção das bolsas internacionais, mas ainda há um Trump no meio do caminho
Bolsas recuperam-se parcialmente das perdas dos últimos dias, mas ameaça de Trump à China coloca em risco a continuidade desse movimento
Guerra comercial abre oportunidade para o Brasil — mas há chance de transformar Trump em cabo eleitoral improvável de Lula?
Impacto da guerra comercial de Trump sobre a economia pode reduzir pressão inflacionária e acelerar uma eventual queda dos juros mais adiante no Brasil (se não acabar em recessão)
CDBs do Banco Master pagam até 160% do CDI no mercado secundário após investidores desovarem papéis com desconto
Negócio do Master com BRB jogou luz nos problemas de liquidez do banco, o que levou os investidores a optarem por resgate antecipado, com descontos de até 20%; taxas no secundário tiram atratividade dos novos títulos emitidos pelo banco, a taxas mais baixas
Bilionário Bill Ackman diz que Trump está perdendo a confiança dos empresários após tarifas: “Não foi para isso que votamos”
O investidor americano acredita que os Estados Unidos estão caminhando para um “inverno nuclear econômico” como resultado da implementação da política tarifária do republicano, que ele vê como um erro
Petrobras (PETR4) avança em processo para tirar ‘novo pré-sal’ do papel
Petrobras recebeu permissão para operar a Unidade de Atendimento e Reabilitação de Fauna. O centro é uma exigência do Ibama para liberar a busca de petróleo no litoral do Amapá
Com eleições de 2026 no radar, governo Lula melhora avaliação positiva, mas popularidade do presidente segue baixa
O governo vem investindo pesado para aumentar a popularidade. A aposta para virar o jogo está focada principalmente na área econômica, porém a gestão de Lula tem outra carta na manga: Donald Trump
Tarifas gerais de Trump começam a valer hoje e Brasil está na mira; veja como o governo quer reagir
Além do Brasil, Trump também impôs tarifa mínima de 10% a 126 outros países, como Argentina e Reino Unido