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Renan Sousa
Renan Sousa
É repórter do Seu Dinheiro. Formado em jornalismo na Universidade de São Paulo (ECA-USP) e já passou pela Editora Globo e SpaceMoney.
ENTREVISTA EXCLUSIVA

“Se a XP e o Nubank chegaram aonde chegaram, por que nós não podemos ser o equivalente no mundo cripto?”, diz CEO do Mercado Bitcoin

Reinaldo Rabelo, CEO do MB, compartilhou sua visão sobre o ano de 2024 em entrevista ao Seu Dinheiro

Renan Sousa
Renan Sousa
7 de fevereiro de 2024
6:10 - atualizado às 16:22
CEO do Mercado bitcoin, Reinaldo Rabelo, posando na frente de um painel
Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado bitcoin - Imagem: Divulgação

Toda indústria sofre algum impacto quando seu principal produto tem alguma oscilação. Foi o que aconteceu nos últimos anos com o bitcoin (BTC), que subiu 59,6% em 2021, caiu 64,3% em 2022 e fechou 2023 com uma valorização de 155,4% — e muitas empresas do setor de criptomoedas tiveram períodos difíceis nestes últimos três anos. 

“A gente conseguiu aproveitar bem o último ciclo de crescimento de 2021, quando o mundo passou por uma rara janela de liquidez global que se abriu”, diz Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin (MB), o unicórnio brasileiro do mercado de criptomoedas. 

Mesmo assim, a empresa que começou como corretora (exchange) e hoje se define como uma plataforma de ativos digitais — ou FMI Tech, no jargão do mercado para empresas que fornecem infraestrutura virtual—, passou maus bocados no Longo Inverno Cripto de 2022.

A 2TM, controladora do MB, passou por cortes no período de baixa da criptomoeda, que representavam cerca de 12% da força de trabalho do grupo na época. Em abril daquele mesmo ano, um acordo de fusão com a Coinbase não saiu do papel — também em virtude do momento de baixa do mercado.

Sobre esse ocorrido, Rabelo afirma: “aqui no MB nós sempre tivemos uma estratégia de longo prazo. Em 2019, nós revisamos o plano da empresa para os próximos cinco anos, e decidimos sempre optar pela manutenção do controle da companhia como está”. 

Para ele, o MB tem todas as chances de se posicionar “como uma XP ou um Nubank” dentro do mercado de criptomoedas. “Será que só eles cabem nesse mundo de novas e grandes empresas do mercado de capitais na América Latina? A gente acha que não”, diz. 

Leia Também

Confira mais detalhes dessa conversa a seguir:

IPO, aquisições e fusões: o 2024 do Mercado Bitcoin

A estratégia do MB sempre foi ser um “meio termo” no mercado de capitais brasileiro. Não é de hoje que Reinaldo é um crítico do sistema financeiro nacional, que conta apenas com uma bolsa de valores — a B3 — como opção para o investidor

Assim, transformar a plataforma do MB em um híbrido entre o mercado tradicional e o mercado cripto é uma das metas da empresa. Em outras palavras, oferecer produtos tokenizados, criptomoedas e outros veículos de caráter financeiro e de infraestrutura dentro de um mesmo espaço. 

Sobre uma possível oferta de ações (IPO, em inglês), o CEO do MB diz que a empresa não está fechada para uma captação do gênero. Contudo, afirma ele, “a gente não precisa acionar essa alternativa no momento”. 

Segundo ele, o mercado penalizou outras empresas que foram precipitadas em lançarem ações no passado — o que explica a ausência de novas ofertas de ações nos últimos anos

Uma gigante brasileira no cenário internacional

Sobre novos acordos de fusões e aquisições, Rabelo também não descartou conversas com investidores. Porém, ele destaca que prefere criar um ecossistema local do que apenas vender empresas brasileiras como mão de obra barata para o estrangeiro.

“A gente tem que criar essa cultura menos colonizada de aceitar que tudo que vem de fora é perfeito. Não, a gente tem que dizer: me dá o dinheiro e eu construo”, disse.

E continua: “Tem muita gente boa que está tentando trazer esse protagonismo pro Brasil, como a Ingrid Barth, presidente da Associação Brasileira de Startups, participando dos trabalhos do G20. A gente não é material de exploração de ferramentas estrangeiras”. 

Nesse momento, eu questionei sobre o cenário do MB comprando a Coinbase lá nos Estados Unidos, invertendo a situação de abril de 2022.

Ele ri, e afirma: “por que não, não é mesmo? É óbvio que é desafiador, mas se a gente mirar em comprar a Coinbase e não der certo, a gente com certeza vai virar um player relevante no mercado”.

Os efeitos da aprovação do ETF de bitcoin nos EUA…

A aprovação do primeiro fundo de índice (ETF, em inglês) de bitcoin spot dos EUA era um dos eventos mais esperados pelo mercado cripto em 2024.

Porém, segundo um relatório de janeiro deste ano do Bank of America (BofA), o novo produto poderia apresentar uma ameaça competitiva para exchanges, como a própria Coinbase. 

Reinaldo destaca que apenas os clientes institucionais da Coinbase devem migrar para os ETFs disponíveis. Isso porque há uma facilidade na declaração desse tipo de produto no balanço e demonstrações financeiras dessas companhias. 

Além de representarem uma parcela pequena dos clientes da Coinbase, a exchange ainda fará a arbitragem de oito dos onze ETFs aprovados, o que tende a equalizar com possíveis perdas na negociação de clientes institucionais. 

Para a pessoa física, diz ele, não faz sentido comprar um produto que é mais caro — isto é, há taxas de administração e outras cobranças incluídas no preço do ETF —, sendo que é possível adquirir bitcoin e outras criptomoedas por meio de outras plataformas ou exchanges.

… E os efeitos no mercado 

Juntamente com a aprovação do ETF, o halving do bitcoin também é um dos eventos mais esperados de 2024. Isso porque, em anos que o fenômeno acontece, o BTC tende a ter uma valorização bastante expressiva.

O CEO do MB acredita que o efeito pode sim gerar efeitos positivos nos preços da maior criptomoeda do planeta. Ele repete que os dados on-chain expostos pelo chefe de research do MB, André Franco, dão boas bases para acreditar que o BTC pode chegar a US$ 70 mil ainda em 2024. 

É claro, o mercado de criptomoedas é altamente volátil e sensível ao noticiário. Em outras palavras, essa previsão pode não se confirmar e o investidor não deve alocar uma parcela muito maior do que 5% do seu portfólio em ativos digitais. 

Regulação à brasileira

Ainda, Reinaldo Rabelo celebrou a aprovação da lei de criptomoedas brasileira entre o final de 2022 e início de 2023. Mais do que isso, o aval de órgãos reguladores, como o Banco Central e a CVM, sobre o mercado de criptomoedas é vista com bastante otimismo. 

Esse avanço regulatório foi um dos fatores para outros países olharem para o Brasil, como foi o caso da União Europeia.

Em junho de 2023, o Banco de Portugal indicou a divisão Mercado Bitcoin Portugal (ex-Criptoloja) para prestar serviços de custódia de ativos virtuais no país.

Mercado Bitcoin na Europa

A fintech portuguesa, assim como o MB, está debaixo do guarda-chuva da holding 2TM, e passou a estar autorizada a prestar serviços de guarda e administração de ativos virtuais no país.

Na visão de Rabelo, esse seria um primeiro passo para oferecer a custódia de serviços na Europa e no Brasil também. 

Inclusive, atualmente, os ETFs de criptomoedas negociados na bolsa brasileira têm custódia no exterior porque a lei não permite a guarda deste tipo de ativo local.

“Com essa nova frente, nós podemos aumentar o nosso escopo de negócios para empresas brasileiras e fazer crescer o bolo desse mercado”, diz ele. 

E o Drex?

Por último, sobre o real digital (Drex), a criptomoeda brasileira, Rabelo afirma que o projeto está em linha com o que os órgãos reguladores acreditam que seja um mercado de criptomoedas saudável. 

Mas o projeto acabou atrasando por uma série de fatores, inclusive a greve dos servidores do Banco Central.

Em 2024, os testes devem continuar, com a construção de um ecossistema até 2025. Contudo, só devemos ter algo mais concreto para o público em geral em 2026. 

O MB faz parte de um dos consórcios escolhidos pelo BC para o desenvolvimento do Drex. 

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