Risco fiscal nas alturas: como a situação dos gastos públicos pode se deteriorar de forma acelerada e levar a Selic aos 13%
Se o governo não adotar medidas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias, enfrentaremos o risco de desancoragem da inflação, levando os juros para 13% ou mais
No Brasil, a preocupação com o estado das contas públicas tem se intensificado, gerando inquietação no mercado financeiro.
Ontem, as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, trouxeram um breve alívio, ao terem sido proferidas em paralelo à notícia de que o governo estaria preparando medidas de contenção de gastos para depois das eleições.
No entanto, a paciência dos investidores com promessas ainda não concretizadas está se esgotando. Sem a efetivação de ajustes fiscais, ainda que modestos, os ativos de risco permanecem sob forte pressão.
Em outras palavras, na ausência de um plano robusto e confiável, o Brasil tem se apoiado quase na política monetária, com o Banco Central recorrendo a novos aumentos nas taxas de juros para conter as expectativas inflacionárias e tentar estabilizar a percepção sobre a economia.
- É HOJE: Evento do Seu Dinheiro e Market Makers traz especialistas para avaliar possíveis impactos econômicos das eleições americanas; saiba como assistir
Falas de Lula elevam risco fiscal
As declarações da última sexta-feira do presidente Lula, que mencionou a aquisição de novos aviões para a presidência e a ampliação da isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil, agravaram as tensões no mercado financeiro.
Esses anúncios contribuíram para a alta do dólar e dos juros, além de uma queda expressiva no Ibovespa, que voltou a ficar abaixo dos 130 mil pontos.
Leia Também
Para financiar a isenção, discute-se a criação de um imposto mínimo sobre pessoas físicas com renda superior a R$ 1 milhão, com alíquotas entre 12% e 15%.
O imposto seria calculado sobre a renda total do contribuinte e comparado ao valor já pago pelo sistema tradicional de Imposto de Renda. Se o valor do imposto mínimo fosse superior ao montante recolhido, o contribuinte seria obrigado a pagar a diferença.
Ainda assim, essa proposta revela uma carência de criatividade por parte do governo na formulação de soluções que realmente reduzam os gastos públicos. Tudo o que conseguem pensar é em aumento de impostos.
Medidas de contenção vem aí?
Por isso, ganhou importância a notícia da segunda-feira de que o governo estaria preparando medidas de contenção de despesas obrigatórias, previstas para serem apresentadas após o segundo turno das eleições municipais.
Essas medidas têm como objetivo principal controlar os gastos obrigatórios e garantir que a dívida pública bruta se mantenha abaixo de 80% do PIB.
Entre os pontos sob revisão do governo, destaque para as regras do Benefício de Prestação Continuada (BPC), uma das principais políticas públicas do país, destinada a idosos a partir de 65 anos e a pessoas com deficiência, cuja renda familiar per capita seja de até um quarto do salário mínimo.
Além do BPC, outros programas, como o abono salarial, seguro-desemprego e benefícios previdenciários, também estão sendo considerados pela equipe econômica como possíveis alvos de ajuste.
Mercado está cético quanto ao controle do risco fiscal
Entretanto, o mercado mantém uma postura cética quanto à capacidade do atual governo de promover um ajuste fiscal profundo.
A falta de vontade política e de força em Brasília, em especial depois do primeiro turno, para implementar reformas substanciais sugere que uma reforma fiscal mais ampla poderá ser postergada para um futuro governo, após 2026.
Ainda assim, medidas imediatas são imprescindíveis para demonstrar um compromisso concreto com o cumprimento do novo arcabouço fiscal.
Como consequência, o recente aumento de estresse no mercado financeiro já refletiu na precificação de uma Selic final entre 13,25% e 13,5%, bem acima dos atuais 10,75%.
Essa reação do mercado reflete a percepção de que o governo não está adotando as reformas estruturais necessárias para equilibrar as contas públicas, mostrando pouca disposição para reduzir as despesas.
- A carteira de investimentos ideal existe? BTG Pactual quer ajudar investidores a montar carteira personalizada para diferentes estratégias; saiba mais
Nesse cenário, a definição da taxa de juros terminal (onde a Selic vai parar) está cada vez mais vinculada às ações do Ministério da Fazenda, e não apenas às decisões do Banco Central. Mesmo um leve sinal de compromisso com a responsabilidade fiscal poderia ajudar a aliviar as pressões sobre os mercados.
Ou seja, estamos em uma encruzilhada: se o governo não adotar medidas para controlar o crescimento das despesas obrigatórias, enfrentaremos o risco de desancoragem da inflação, levando os juros para 13% ou mais. Lula III se tornaria rapidamente Dilma II.
Por outro lado, o cenário mais favorável para o país, o governo adotaria medidas de controle efetivo das despesas obrigatórias e cumpriria o arcabouço fiscal estabelecido, o que traria resultados significativamente melhores.
Em poucas palavras, portanto, para assegurar um fim de ano mais promissor, cortes efetivos nos gastos são imprescindíveis.
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
O primeiro dia do G20 no Rio: Biden, Xi e Lula falam de pobreza, fome e mudanças climáticas à sombra de Trump
As incertezas sobre a política dos EUA deixaram marcas nos primeiros debates do G20; avanços em acordos internacionais também são temas dos encontros
O tamanho do corte que o mercado espera para “acalmar” bolsa, dólar e juros — e por que arcabouço se tornou insustentável
Enquanto a bolsa acumula queda de 2,33% no mês, a moeda norte-americana sobe 1,61% no mesmo intervalo de tempo, e as taxas de depósito interbancário (DIs) avançam
O fim da temporada — ou quase: balanço da Nvidia ainda movimenta semana, que conta com novo feriado no Brasil
Enquanto isso, as bolsas internacionais operam sem um sinal único, sofrendo ajustes após o rali do Trump Trade dos últimos dias
No G20 Social, Lula defende que governos rompam “dissonância” entre as vozes do mercado e das ruas e pede a países ricos que financiem preservação ambiental
Comentários de Lula foram feitos no encerramento do G20 Social, derivação do evento criada pelo governo brasileiro e que antecede reunião de cúpula
Milei muda de posição na última hora e tenta travar debate sobre taxação de super-ricos no G20
Depois de bloquear discussões sobre igualdade de gênero e agenda da ONU, Milei agora se insurge contra principal iniciativa de Lula no G20
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Lula ainda vence a direita? Pesquisa CNT/MDA mostra se o petista saiu arranhado das eleições municipais ou se ainda tem lenha para queimar
Enquanto isso, a direita disputa o espólio de Bolsonaro com três figuras de peso: Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro e Pablo Marçal
Quantidade ou qualidade? Ibovespa repercute ata do Copom e mais balanços enquanto aguarda pacote fiscal
Além da expectativa em relação ao pacote fiscal, investidores estão de olho na pausa do rali do Trump trade
Pacote fiscal do governo vira novela mexicana e ameaça provocar um efeito colateral indesejado
Uma alta ainda maior dos juros seria um efeito colateral da demora para a divulgação dos detalhes do pacote fiscal pelo governo
Mubadala não tem medo do risco fiscal: “Brasil é incrível para se investir”, diz diretor do fundo árabe
O Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi, segue com “fome de Brasil”, apesar das preocupações dos investidores com o fiscal
Como um acordo entre o Brasil e a Suécia deve impulsionar as vendas da Embraer (EMBR3)
De acordo com a carta de intenções, a FAB irá comprar caças suecos Gripen, enquanto os europeus irão adquirir as aeronaves C-390 Millennium da Embraer
Campos Neto acertou, mudanças na previdência privada, disparada do Magazine Luiza (MGLU3) e mais: confira os destaques do Seu Dinheiro na semana
Na matéria mais lida da semana no portal, André Esteves, do BTG Pactual, afirma que o presidente do BC, está correto a respeito da precificação exagerada do mercado sobre o atual cenário fiscal brasileiro
Ibovespa segue com a roda presa no fiscal e cai 0,51%, dólar fecha estável a R$ 5,6753; Wall Street comemora pelo 2° dia
Por lá, o presidente do BC dos EUA alimenta incertezas sobre a continuidade do ciclo de corte de juros em dezembro. Por aqui, as notícias de um pacote de corte de gastos mais modesto desanima os investidores.
Lula fala em aceitar cortes nos investimentos, critica mercado e exige que Congresso reduza emendas para ajuda fazer ajuste fiscal
O presidente ainda criticou o que chamou de “hipocrisia especulativa” do mercado, que tem o aval da imprensa brasileira
Rodolfo Amstalden: Lula terá uma única e última chance para as eleições de 2026
Se Lula está realmente interessado em se reeleger em 2026, ou em se aposentar com louvor e construir Haddad como sucessor, suspeito que sua única chance seja a de recuperar nossa âncora fiscal
O que Lula e Bolsonaro acharam da vitória de Trump? Veja como políticos brasileiros de esquerda e direita reagiram à eleição do republicano
Nomes como Haddad, Tarcísio, Alckmin e a presidente do PT, Gleisi Hoffman, se manifestaram, presencialmente ou via redes sociais, sobre o resultado das eleições americanas
Recado de Lula para Trump, Europa de cabelo em pé e China de poucas palavras: a reação internacional à vitória do republicano nos EUA
Embora a maioria dos líderes estejam preocupados com o segundo mandato de Trump, há quem tenha comemorado a vitória do republicano
Ibovespa vai ter rali de fim de ano? ‘Com certeza’, responde analista – principal gatilho pode ser acionado pelo governo Lula ainda nesta semana
Acreditar no rali de fim de ano da bolsa brasileira ficou mais difícil nos últimos meses. Devido às incertezas em torno da nossa política fiscal – que é a principal “vilã” dos ativos de renda variável nesse momento –, o Ibovespa acumulou queda de -1,6% em outubro. Mas isso não quer dizer que tudo está […]