Um susto nos mercados globais: existe razão para tanta histeria?
Ibovespa teve desempenho melhor que o de outros índices de ações em meio ao susto nos mercados — e ainda pode se beneficiar da queda nos juros, pelo menos em tese
A correção nos mercados de ações globais se intensificou notavelmente nesta semana, à medida que crescem as preocupações de que o Federal Reserve esteja atrasado em reduzir as taxas de juros em uma economia americana que está mostrando sinais de desaceleração.
Isso tem levado os investidores a procurar refúgio em ativos mais seguros. Curiosamente, apesar da reação inicial positiva do mercado ao sinal de Jerome Powell sobre um possível corte de juros, que inicialmente impulsionou as bolsas, nos dias seguintes, observou-se uma queda acentuada nos ativos.
As criptomoedas também não ficaram imunes, com o Ether registrando sua maior queda desde 2021.
No Japão, a queda de 12,4% no Nikkei marcou o pior dia para o índice desde a "Segunda-feira Negra" de 1987, eliminando todos os ganhos acumulados no ano e levando o índice a um território de perdas. Os índices de referência caíram mais de 20% desde suas máximas históricas em 11 de julho.
O iene também se valorizou, atingindo seu nível mais alto em relação ao dólar desde janeiro, sendo negociado por último a 142,09, o que pode enfraquecer ainda mais o real e motivar uma intervenção do Banco Central brasileiro.
Leia Também
O VIX, conhecido como o "medidor de medo" de Wall Street, atingiu seu pico mais alto desde 1990 em um determinado momento.
- Está no ar o programa “Onde Investir em Agosto”, do Seu Dinheiro em parceria com a Empiricus. Confira mais de 20 recomendações de investimentos para o mês clicando aqui.
Essa situação adversa resulta de uma combinação de fatores desfavoráveis, criando uma espécie de tempestade perfeita nos mercados:
- Em primeiro lugar, o mercado foi impactado por dados fracos de geração de emprego nos EUA, reavivando temores de uma possível recessão. Estamos também no meio de uma temporada de resultados tumultuada, com algumas decepções, particularmente em relação aos investimentos em inteligência artificial, que estão no centro das atenções.
- Em segundo lugar, o Banco do Japão anunciou recentemente um aumento nas taxas de juros, provocando a liquidação de posições financiadas em iene. Essa moeda é frequentemente usada para financiar posições alavancadas globalmente, incluindo moedas de carry como o real, o que ajuda a explicar a pressão sobre o câmbio brasileiro.
- Por fim, o mercado americano já estava inclinado a uma correção, uma vez que os ganhos recentes foram impulsionados principalmente por um pequeno grupo de empresas de tecnologia, alimentadas pelo otimismo em torno da inteligência artificial. Apesar disso, a percepção geral é de que, embora o mercado de ações não esteja excessivamente caro, ele não está tão inflacionado quanto estava em 2000.
Temor de recessão nos EUA
Ao considerar o primeiro tópico, é importante notar que na semana passada os temores de uma recessão nos Estados Unidos foram exacerbados por resultados abaixo do esperado nos dados do ISM e nas solicitações de auxílio-desemprego.
Além disso, o relatório de empregos de julho, divulgado na sexta-feira, acentuou essas preocupações, colocando os investidores em estado de alerta para as futuras divulgações econômicas.
A taxa de desemprego aumentou para 4,3% em julho, em comparação com 4,1% em junho, enquanto a economia americana criou apenas 114 mil novos empregos não agrícolas. Esse número não apenas ficou aquém das expectativas, mas também foi inferior ao registrado no mês anterior.
Esse aumento na taxa de desemprego é particularmente preocupante porque acionou a chamada Regra de Sahm, uma métrica que sugere que, quando a média móvel de três meses da taxa de desemprego aumenta 0,5 ponto percentual acima de seu ponto mais baixo nos últimos 12 meses, é geralmente um indicativo de uma recessão iminente.
Esse indicador atua como um aviso antecedente, sugerindo que a economia pode estar entrando em uma fase de contração. Como resultado, o mercado financeiro está em alerta máximo, com analistas e investidores monitorando atentamente cada novo dado econômico em busca de sinais adicionais de fraqueza na economia.
Fonte: Nomura.
Quebrando a regra
Entre os seis países que violaram os limites estabelecidos pela Regra de Sahm, apenas os bancos centrais do Canadá, com um corte de 50 pontos-base, e da Suécia, com uma redução de 25 pontos-base, estão atualmente diminuindo suas taxas de juros.
Nova Zelândia e África do Sul também ultrapassaram os parâmetros dessa regra, mas continuam a manter taxas de política monetária real relativamente altas.
Nos Estados Unidos, uma análise de dados não arredondados revela que a taxa de desemprego alcançou 0,493%.
Claudia Sahm, economista responsável pela criação da Regra de Sahm, sugeriu que, nas condições pós-pandemia, sua regra poderia gerar um falso positivo.
Isso se deve ao fato de que a regra se baseia na rapidez com que a taxa de desemprego aumenta, mesmo quando parte de uma base baixa.
Mesmo assim, uma parcela considerável do mercado já acredita que a Regra de Sahm foi acionada, indicando uma quase certeza de recessão nos Estados Unidos nos próximos 12 meses.
É importante lembrar que, tecnicamente, uma recessão é confirmada após dois trimestres consecutivos de queda no Produto Interno Bruto (PIB) e uma diminuição no número de empregos.
No que diz respeito ao PIB americano, há possibilidade de crescimento acima de 2%, de acordo com o último relatório do Fed de Atlanta.
No entanto, ainda temos dois meses para completar o trimestre, o que aumenta as expectativas de um corte de 50 pontos-base nas taxas de juros em setembro.
Em minha opinião, essa ação seria precipitada e poderia ser interpretada como um sinal de desespero por parte do Federal Reserve.
Considero essa previsão exagerada, pois o mercado parece estar reagindo de maneira excessiva aos dados de alta frequência, evidenciando a ansiedade dos investidores.
Acredito que dois ou três cortes de 25 pontos-base seriam suficientes para estabilizar o cenário.
Tensão geopolítica agrava situação nos mercados
A situação é agravada pelas crescentes tensões geopolíticas, que não favorecem o cenário de investimentos.
Recentemente, o presidente Biden se reuniu com sua equipe de segurança nacional para discutir uma possível ação militar do Irã contra Israel, que poderia incluir uma ofensiva coordenada com o Hezbollah no Líbano e/ou com os Houthis no Iêmen.
Essa escalada iminente levou os Estados Unidos a aumentar sua presença militar no Oriente Médio, com o envio de um grupo de ataque de porta-aviões e novos esquadrões de caças.
Em meio a esse contexto, há um lado positivo: as especulações sobre um possível aumento da Selic no Brasil estão diminuindo.
Nunca acreditei que tal aumento fosse necessário; sempre defendi que manter as taxas de juros atuais seria suficiente para controlar a economia.
No Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de julho, espera-se um aumento de 0,34% em relação ao mês anterior, representando uma aceleração em comparação ao índice de 0,21% registrado em junho.
No entanto, com a tendência de redução das taxas de juros por parte dos bancos centrais globais, é improvável que haja um aumento da Selic no Brasil. Como tenho enfatizado, a manutenção da taxa atual deve ser suficiente.
- LEIA TAMBÉM: 3 coisas que você precisa saber para entender o terremoto financeiro que derrubou as bolsas.
Mas afinal, é hora de entrar em pânico?
Não, não é necessário entrar em pânico. A situação atual parece ser mais uma manifestação da ansiedade do mercado, que vinha procurando um motivo para realizar uma correção há algum tempo.
Contudo, continuaremos vigilantes em relação a quaisquer mudanças de cenário que possam surgir.
É interessante notar que o mercado japonês já mostrou sinais de recuperação hoje, o que destaca o exagero do pessimismo observado na segunda-feira.
Como mencionei anteriormente, o mercado, especialmente o americano, estava inclinado a uma correção e finalmente encontrou um pretexto para isso.
Entretanto, o caminho à frente não será fácil. Estudos históricos indicam que, após períodos de alta volatilidade, as ações geralmente levam de quatro a cinco semanas para iniciar uma recuperação consistente.
Embora os mercados tendam a se recuperar em condições de sobrevenda, como as que estamos presenciando agora, é comum que os investidores aproveitem essa recuperação para vender, o que pode levar a novas quedas. Isso é semelhante ao que aconteceu em 2018, um episódio que apresenta muitas semelhanças com a situação atual.
Uma oportunidade para os ativos brasileiros
Olhando para frente, a recente onda de vendas no mercado global pode representar uma oportunidade para os ativos brasileiros.
Ora, quando os investidores decidem migrar de ações de crescimento para ações de valor, eles procuram oportunidades em todos os mercados, incluindo os emergentes e aqueles que ficaram para trás, como é o caso do Brasil.
Notavelmente, ontem o Ibovespa teve um desempenho melhor do que os principais índices das bolsas mundiais.
Isso pode ser explicado pelo fato de que os investidores estrangeiros atualmente têm uma exposição muito baixa à bolsa brasileira, e em momentos de vendas maciças, os ativos com maior liquidez são negociados primeiro, o que não é o caso de muitas empresas brasileiras.
Além disso, se o Brasil foi um dos mercados mais negativamente impactados pela alta dos juros, devemos, em teoria, ser um dos mais beneficiados quando os juros começarem a cair.
Quem sabe, ainda possamos ter motivos para otimismo neste segundo semestre.
Agenda econômica: balanço da Nvidia (NVDC34) e reunião do CMN são destaques em semana com feriado no Brasil
A agenda econômica também conta com divulgação da balança comercial na Zona do Euro e no Japão; confira o que mexe com os mercados nos próximos dias
Seu Dinheiro abre carteira de 17 ações que já rendeu 203% do Ibovespa e 295% do CDI desde a criação; confira
Portfólio faz parte da série Palavra do Estrategista e foi montado pelo CIO da Empiricus, Felipe Miranda
Nova York naufragou: ações que navegavam na vitória de Trump afundam e bolsas terminam com fortes perdas — Tesla (TSLA34) se salva
Europa também fechou a sexta-feira (15) com perdas, enquanto as bolsas na Ásia terminaram a última sessão da semana sem uma direção comum, com dados da China e do Japão no radar dos investidores
Azeite a peso de ouro: maior produtora do mundo diz que preços vão cair; saiba quando isso vai acontecer e quanto pode custar
A escassez de azeite de oliva, um alimento básico da dieta mediterrânea, empurrou o setor para o modo de crise, alimentou temores de insegurança alimentar e até mesmo provocou um aumento da criminalidade em supermercados na Europa
A arte de negociar: Ação desta microcap pode subir na B3 após balanço forte no 3T24 — e a maior parte dos investidores não tem ela na mira
Há uma empresa fora do radar do mercado com potencial de proporcionar uma boa valorização para as ações
Na lista dos melhores ativos: a estratégia ganha-ganha desta empresa fora do radar que pode trazer boa valorização para as ações
Neste momento, o papel negocia por apenas 4x valor da firma/Ebitda esperado para 2025, o que abre um bom espaço para reprecificação quando o humor voltar a melhorar
Está com pressa por quê? O recado do chefão do BC dos EUA sobre os juros que desanimou o mercado
As bolsas em Nova York aceleraram as perdas e, por aqui, o Ibovespa chegou a inverter o sinal e operar no vermelho depois das declarações de Jerome Powell; veja o que ele disse
A escalada sem fim da Selic: Campos Neto deixa pulga atrás da orelha sobre patamar dos juros; saiba tudo o que pensa o presidente do BC sobre esse e outros temas
As primeiras declarações públicas de RCN depois da divulgação da ata do Copom, na última terça-feira (12), dialogam com o teor do comunicado e do próprio resumo da reunião
“A bandeira amarela ficou laranja”: Balanço do Banco do Brasil (BBAS3) faz ações caírem mais de 2% na bolsa hoje; entenda o motivo
Os analistas destacaram que o aumento das provisões chamou a atenção, ainda que os resultados tenham sido majoritariamente positivos
A surpresa de um dividendo bilionário: ações da Marfrig (MRFG3) chegam a saltar 8% após lucro acompanhado de distribuição farta ao acionista. Vale a compra?
Os papéis lideram a ponta positiva do Ibovespa nesta quinta-feira (14), mas tem bancão cauteloso com o desempenho financeiro da companhia; entenda os motivos
Menin diz que resultado do grupo MRV no 3T24 deve ser comemorado, mas ações liberam baixas do Ibovespa. Por que MRVE3 cai após o balanço?
Os ativos já chegaram a recuar mais de 7% na manhã desta quinta-feira (14); entenda os motivos e saiba o que fazer com os papéis agora
Um passeio no Hotel California: Ibovespa tenta escapar do pesadelo após notícia sobre tamanho do pacote fiscal de Haddad
Mercado repercute pacote fiscal maior que o esperado enquanto mundo político reage a atentado suicida em Brasília
A B3 vai abrir nos dias da Proclamação da República e da Consciência Negra? Confira o funcionamento da bolsa, bancos e Correios durante os feriados
Os feriados nacionais de novembro são as primeiras folgas em cinco meses que caem em dias úteis. O Seu Dinheiro foi atrás do que abre e fecha durante as comemorações
A China presa no “Hotel California”: o que Xi Jinping precisa fazer para tirar o país da armadilha — e como fica a bolsa até lá
Em carta aos investidores, à qual o Seu Dinheiro teve acesso em primeira mão, a gestora Kinea diz o que esperar da segunda maior economia do mundo
Rodolfo Amstalden: Abrindo a janela de Druckenmiller para deixar o sol entrar
Neste exato momento, enxergo a fresta de sol nascente para o próximo grande bull market no Brasil, intimamente correlacionado com os ciclos eleitorais
O IRB Re ainda vale a pena? Ações IRBR3 surgem entre as maiores quedas do Ibovespa após balanço, mas tem bancão dizendo que o melhor está por vir
Apesar do desempenho acima do esperado entre julho e setembro, os papéis da resseguradora inverteram o sinal positivo da abertura e passaram a operar no vermelho
Você precisa fazer alguma coisa? Ibovespa acumula queda de 1,5% em novembro enquanto mercado aguarda números da inflação nos EUA
Enquanto Ibovespa tenta sair do vermelho, Banco Central programa leilão de linha para segurar a alta do dólar
Voltado para a aposentadoria, Tesouro RendA+ chega a cair 30% em 2024; investidor deve fazer algo a respeito?
Quem comprou esses títulos públicos no Tesouro Direto pode até estar pensando no longo prazo, mas deve estar incomodado com o desempenho vermelho da carteira
A Argentina dos sonhos está (ainda) mais perto? Dólar dá uma trégua e inflação de outubro é a menor em três anos
Por lá, a taxa seguiu em desaceleração em outubro, chegando a 2,7% em base mensal — essa não é apenas a variação mais baixa até agora em 2024, mas também é o menor patamar desde novembro de 2021
Arte de milionária: primeira pintura feita por robô humanoide é vendida por mais de US$ 1 milhão
A obra em homenagem ao matemático Alan Turing tem valor próximo ao do quadro “Navio Negreiro”, de Cândido Portinari, que foi leiloado em 2012 por US$ 1,14 milhão e é considerado um dos mais caros entre artistas brasileiros até então