Felipe Miranda: O Fim do Brasil não é o fim da História – e isso é uma má notícia
Ao pensar sobre nosso país, tenho a sensação de que caminhamos para trás. Feitos 10 anos do Fim do Brasil, não aprendemos nada com os erros do passado
Em março de 2022, a Intelligence Squared promoveu um painel com Francis Fukuyama e John Gray sob a pergunta provocadora “Is Liberalism Dead?” (O liberalismo está morto?)
De um lado, o defensor da clássica ideia do Fim da História. Depois de uma longa trajetória de embates dialéticos de tese e antítese na história da civilização, teríamos chegado à síntese definitiva da democracia liberal, sem adversários à altura. Segundo ele, apesar de ameaças pontuais, a recente coordenação do Ocidente na ajuda à Ucrânia demonstraria a atualidade da concepção original.
- Guerra EUA x China pode mudar com as eleições? Mestre em economia avalia possibilidades para acionistas; assista aqui
De outro, John Gray com seus pensamentos sobre o liberalismo e os novos leviatãs. Para Gray, a ideia da civilização liberal pautada na prática da tolerância já estaria superada. China e Rússia seriam autocracias capazes de desestruturar a ordem mundial, enquanto o totalitarismo woke impediria a liberdade de pensamento, obrigando-nos a incorporar o discurso identitário. Encerramos a liberdade de expressão.
As falas de Fukuayama valorizando os valores ocidentais clássicos parecem carregadas de otimismo, enquanto Gray soa mais pessimista — embora ele mesmo discorde do adjetivo.
Gray não vê a história caminhando em direção a uma síntese superior. Reconhece que, do ponto de vista da ciência e do progresso técnica, a caminhada é inequívoca. Estamos indiscutivelmente melhores. Mas essa evolução não é necessariamente acompanhada nas esferas moral, política ou social.
Polarização e guerra civil
Olhando para os desdobramentos desde a fúria do projeto de lei canadense C-16 em 2016, em que o totalitarismo woke insurgiu com força, ou desde a campanha do Brexit ancorada nas fake news, tenho me inclinado para o posicionamento de John Gray.
Leia Também
A tal polarização da sociedade ganhou contornos tão profundos que um lado não reconhece a legitimidade do outro.
Se seu adversário político é o mal maior, então vale tudo para evitar sua chegada ao poder. Aí incluem-se, claro, invasão do Capitólio, fechamento do Congresso, perseguição a membros da Suprema Corte, repressão à imprensa.
O risco de guerra civil nos EUA já ultrapassa 50%, segundo Ray Dalio.
EUA x China
O historiador Niall Ferguson há anos alerta para uma Segunda Guerra Fria em curso, traçando paralelos da situação atual entre EUA e China com aquela vivida entre EUA e União Soviética.
Mais recentemente, no entanto, a preocupação ficou um pouco maior. Há três meses, Ferguson escreveu “we’re all soviets now” (somos todos soviéticos agora). Será mesmo que estaríamos do lado derrotado desta vez? Se a China invadir Taiwan, viveríamos outra Crise dos Mísseis?
O governo dos EUA gasta mais com juros da dívida do que com serviço militar, numa inversão que tipicamente levou ao declínio da grande potência de turno.
As lideranças estão envelhecidas. O cidadão médio não se sente representado pela ideologia identitária das elites e se incomoda com a disparidade de renda. Há enorme desconfiança com instituições canônicas norte-americanas.
De acordo com pesquisa da Gallup, o percentual de pessoas que confia na Suprema Corte, nos bancos, nas escolas públicas, na presidência e nas grandes empresas de tecnologia está hoje entre 25% e 27%. Para a imprensa institucionalizada, justiça criminal e Congresso, estamos abaixo de 20%.
Como gosta de insistir Deirdre McCloskey, sem judiciário independente e sem imprensa livre, não há democracia. Essas duas grandes instituições estão no epicentro da insatisfação popular. Elas sempre tiveram (e terão!) seus problemas, mas, não sei, a impressão que tenho é que antes havia uma certa triagem.
A economia da atenção
Grandes atrocidades ou barbaridades eram, em sua maioria, filtradas pela imprensa tradicional. Havia uma certa curadoria. Ou, sei lá, numa premissa mais fraca, ao menos ali não se valorizava o estapafúrdio.
Não é só que as redes sociais deram voz aos idiotas, conforme resumiu Umberto Eco.
Estamos um passo à frente (no caso, atrás). O algoritmo estimula o engajamento, sem filtros ou julgamentos. Ele quer, por construção, ver o circo pegando fogo. Valorizam-se, assim, o extraordinário, o corte lacrador, o histriônico, o extremista, o radical, o não-ponderado. A razão equilibrada perde espaço para o desequilíbrio da emoção.
Sonhamos com liberais centrados combatendo a pauta identitária e o gabinete do ódio. Acordamos com a versão 2.0 do extremismo, em que os campeonatos digitais de Andrew Tate superam os disparos de robôs no WhatsApp.
Como acabou de escrever Fernando Schuler na Veja, "O ecossistema digital fez o hooliganismo ganhar espaço nas democracias.” O “pequeno” problema é que as democracias liberais foram constituídas justamente abrindo mão do uso da violência. Deixamos o hooliganismo lá pelo século XVI para retomá-lo agora.
Quando Tallis Gomes, antes desse último acontecimento, foi perguntado pela Folha sobre sua declaração de que não contratava esquerdista e estimulava jornadas de trabalho de até 80 horas, respondeu: “eu usei um termo mais polêmico porque sabia que iria chamar atenção. A gente vive uma guerra por atenções, então é positivo para o nosso negócio que haja mais atenção e que isso se transforme em vendas.”
Na “economia da atenção”, portanto, vale tudo: termos mais polêmicos, mentiras de coaches, desrespeito, machismo.
- SD Select e Market Makers reúnem especialistas em economia para evento gratuito sobre eleições americanas; garanta sua vaga clicando aqui
O Brasil e os erros do passado
Ao pensar sobre nosso país exclusivamente, também tenho a sensação de que caminhamos para trás. Feitos 10 anos do Fim do Brasil, não aprendemos nada com os erros do passado.
Ainda pior: queremos resgatá-los, enaltecendo o princípio da contraindução de Mario Henrique Simonsen.
Entramos num período de contrarreformas ou de restauracionismo de ideias praticadas 15 ou 20 anos atrás que não funcionaram.
Verbalizamos contra a independência do Banco Central e nomeamos um “menino de ouro” para a sua presidência, cujo histórico de publicações literárias remete a luta de classes e ao fetiche marxista com o dinheiro. Ressuscitamos um problema monetário que não existia.
Questionamos as reformas da previdência e trabalhista, tentamos nomear amigos do rei para conselhos de empresas privatizadas, debatemos re-estatizações, enfraquecemos a lei das estatais e sua governança, duvidamos da competência do presidente do IBGE.
Enfraquecemos o poder Executivo a partir de menor espaço das MPs e dos vetos presidenciais, dando ao Congresso emendas parlamentares vultosas sob o orçamento impositivo.
O desequilíbrio entre os poderes abarca o Judiciário, que vira uma espécie de legislador de última instância e adota o caminho de decisões monocráticas, em processos kafkianos e outros cujo resultado é fomentar a insegurança jurídica.
- Leia também: Felipe Miranda: Testando o cercadinho
A política fiscal do Brasil
A política fiscal é um capítulo à parte. Aqui, sim, temos um problema estrutural, de Estado, que transborda o horizonte de governo. Em vez de combatê-lo, porém, a administração de turno aprofunda a fragilidade.
O arcabouço fiscal já era pouco ambicioso e recheado de inconsistências desde a largada. Mas dada a alternativa e o medo de uma hecatombe, foi aceito como algo “pior do que o necessário, melhor do que o temido”, nas palavras de um famoso gestor.
No entanto, para cumprir a meta fiscal, o governo abusa da elasticidade contábil e distorce as contas públicas, ainda que sua versão oficial esteja desconectada da realidade objetiva.
O orçamento vira uma peça de ficção, com receitas que estão lá e não deveriam e despesas que não estão lá e deveriam.
Abusamos da criatividade contábil, tirando o Pé de Meia e o Vale Gás do formalismo da meta, o que lembrou os dias mais sombrios de Arno Augustin.
- Política fiscal pode jogar contra o Ibovespa, mas estes outros 3 fatores podem impulsionar a bolsa, segundo o BTG Pactual; veja quais são.
O último relatório bimestral de receita e despesa foi particularmente problemático, pois trouxe indicações no sinal contrário àquele esperado pelo mercado.
A expectativa de consenso apontava para um arrocho fiscal adicional entre R$ 5 bilhões e R$ 10 bilhões.
Houve um tímido bloqueio de R$ 2,1 bilhões e um descontingenciamento de R$ 3,8 bilhões, resultando em afrouxamento fiscal adicional de R$ 1,7 bilhão.
Quando todos esperavam um sinal positivo, ainda que marginal, encontramos uma evidência negativa.
O Brasil está barato, mas a notícia é ruim
O Brasil está barato com o Ibovespa negociando a 8x lucros, sob lucros corporativos que crescem 15/20% ao ano.
Ou seja, logo ali na frente, estaremos falando de Preço sobre Lucro da ordem de 6x.
Até 2026, o Fed pode ser a ponte até uma profunda discussão sobre o Brasil. Antes, porém, convivemos com a certeza de que a civilização não caminha em linha reta.
Não há fim da História para quem parece condenado à eterna mediocridade.
Ata do Copom mantém tom duro e amplia apostas de que BC vai acelerar alta da Selic
Embora o Copom não tenha indicado claramente qual será seu próximo passo, a expectativa é de que alta dos juros seja acelerada na próxima reunião, marcada para o início de novembro
Entre estímulos e desestímulos: corte de juros na China anima bolsas internacionais, mas Ibovespa espera a ata do Copom
Iniciativas do banco central chinês incluem a redução do compulsório bancário e corte de juros para financiamentos imobiliários e compra de um segundo imóvel
Corte de juros nos EUA não resolve tudo na bolsa: bomba fiscal põe em risco fim de ano do mercado de ações no Brasil
Da mesma forma, o aumento dos juros por aqui é insuficiente sem um compromisso firme do governo com a responsabilidade fiscal
Dividendos e JCP: Rede D’Or (RDOR3) anuncia R$ 350 milhões; Grupo Mateus (GMAT3) e outras empresas também depositam; saiba quanto
Conselho das companhias aprovaram mais uma distribuição de juros sobre o capital próprio para quem estiver na base acionária em setembro
Em Nova York, Javier Milei promete eliminar controle cambial na Argentina — e abre brecha para um ataque especulativo contra o peso
Conforme o jornal Ámbito Financeiro, Milei argumentou que o cepo cambial poderá ser reduzido “sem nenhum problema” assim que a inflação induzida por capitais cair
Roberto Campos Neto vai colocar o pé no acelerador dos juros? Ao menos, é o que sugere o Boletim Focus
De acordo com a edição desta semana, os próximos encontros da autoridade monetária devem elevar a Selic para o patamar de 11,50% ao ano no fim de 2024
O último corte: juros na China, discursos de membros do Fed e expectativas sobre a ata do Copom; confira o que mexe com as bolsas hoje
Decisões de política monetária dão o tom dos principais índices globais nesta segunda-feira, enquanto investidores aguardam semana pesada de indicadores e falas de autoridades
Agenda econômica: prévia da inflação é destaque no Brasil e nos EUA, com ata do Copom e PIB norte-americano no radar
Por aqui, a divulgação do IPCA-15 e da ata da última reunião do comitê de política monetária, que levou à primeira redução da Selic em mais de 2 anos, dominam a semana
Warren Buffett está se comportando como antes do estouro da bolha pontocom, diz gestor que prevê mau desempenho do S&P 500 por 10 anos
Para Bill Smead, pessimismo com a bolsa estaria por trás das vendas de posições de Buffett em empresas como Apple e Bank of America
Super Quarta, eleições nos EUA, ‘diploma’ no Jogo do Tigrinho e uma ação que pode subir até 50%
Veja os destaques da semana na ‘De repente no mercado’
Apertem os cintos… o juro subiu! Como a decisão do Copom de aumentar a Selic mexe com os mercados
O podcast Touros e Ursos recebe Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV, para avaliar a decisão do Banco Central e fazer um balanço da gestão de Campos Neto à frente da autarquia
França anuncia novo gabinete de centro-direita após vitória da esquerda nas eleições parlamentares; conheça os membros
Novo premiê, Michel Barnier, montou gabinete já aprovado e anunciado pela presidência neste sábado
Governo descongela R$ 1,7 bi do Orçamento e projeção de déficit primário fica dentro da margem de tolerância de 2024; veja as projeções
Contenção do orçamento cai de R$ 15 bi para R$ 13,3 bi, e estimativa de déficit primário recua de R$ 32,6 bilhões para R$ 28,3 bilhões
Katy Perry e Cyndi Lauper tocam hoje no Rock in Rio 2024. Confira o line-up completo do festival e como assistir aos shows na Cidade do Rock ou em casa
Para os próximos dias também estão previstos shows de grandes nomes internacionais como Shawn Mendes, Akon e NE-YO
Barrados no baile: Ibovespa passa ao largo da euforia em Wall Street com juros em direções opostas no Brasil e nos EUA
Projeções de juros ainda mais altos no futuro próximo pressionam as taxas dos DIs e colocam o Ibovespa em desvantagem em relação a outras bolsas
B3 não tem nenhum IPO há mais de 3 anos — e isso é uma boa notícia para esta empresa
Último IPO na B3 ocorreu em agosto de 2021; juros altos estão entre as causas dessa “seca” de novas empresas na bolsa
Sistema do “dinheiro esquecido” do BC tem R$ 2,52 bilhões guardados — mas eles são de pessoas falecidas; e agora?
Pelo sistema, o herdeiro, inventariante, testamentário ou representante legal pode consultar os valores; caso haja valores esquecidos, o responsável pode clicar em “Acessar o SVR”
Ed Sheeran e Will Smith tocam hoje no Rock in Rio 2024. Veja o line-up completo do festival e como assistir aos shows na Cidade do Rock ou em casa
Para os próximos dias também estão previstos shows de grandes nomes internacionais como Katy Perry, Mariah Carey, Shawn Mendes, Akon e NE-YO
Bitcoin (BTC) salta para US$ 62 mil e Ethereum (ETH) reverte as perdas do ano e sobe 6% após corte de juros nos EUA
As taxas de juros podem ser encaradas como o “preço do dinheiro”: se elas estão mais elevadas, ele fica mais caro — e o inverso também é verdade
Cada um tem seu momento: Ibovespa reage a decisões de política monetária no Brasil e nos EUA
Enquanto o Fed começou a cortar os juros nos EUA, o Copom subiu a taxa Selic pela primeira vez em dois anos por aqui