Felipe Miranda: Cinco coisas que deveriam acabar no mercado financeiro
O sócio-fundador da Empiricus lista práticas do universo dos investimentos que gostaria de ver eliminadas
Certa vez, ouvi esta ironia de um grande advogado: “o Brasil tem uma vantagem: os bandidos são conhecidos. São sempre os mesmos. Eles se repetem. Tem um pessoal que poderia pedir música no Fantástico pela tríade de crimes."
De fato, há umas três ou quatro pessoas por aí (com margem de erro de duas pessoas para mais, só para mais) que, se resolvessem deixar este planeta, não fariam muita falta. Arrisco dizer que sua ausência agregaria valor à existência terráquea.
Olha, eu sei, todo mundo tem a sua própria lista preferida de cidadãos que poderiam embarcar na Starship para uma tentativa definitiva de colonizar Marte e ficar por lá para sempre. Mas esses três que estão aqui na minha cabeça, tenho certeza, são consensuais.
Não vou sanar a curiosidade sobre a minha relação de indicados à viagem interplanetária para salvar a Terra de sua maldade e arrogância, mas posso partilhar a seleção de coisas do mercado financeiro que poderiam estar juntas na espaçonave.
- [Carteira recomendada] 10 ações brasileiras para investir agora e buscar lucros – baixe o relatório gratuito
Aqui estão meus malvados preteridos:
1. After market
Essa história não tem liquidez, não dispõe de devido acompanhamento e os preços nele realizados não são marcados a mercado na cota dos fundos.
Leia Também
Vejo um fenômeno acontecendo com frequência. O gestor de um fundo ou de uma posição importante para seu patrimônio ou sua reputação entra pesadamente no leilão de fechamento de uma determinada ação, tipicamente de baixa liquidez.
Aquele papel termina o dia subindo. Essa cotação de fechamento do pregão regular vai servir para marcar a cota do respectivo fundo.
Ocorre que, por ter comprado além do que seria sua exposição alvo, o gestor fica “overweight" naquela ação. Para corrigir o sobrepeso, ele vende a posição recém-adquirida no after market, normalmente com preços para baixo, porque não há demanda para absorver seu lote na cotação recém-comprada.
Aquele preço do after (menor) seria o preço “natural" de um mercado operando em condições adequadas de oferta e demanda, mas aquele gestor distorceu o mercado para cima, de modo a elevar artificialmente sua cota.
Ele perde um pouquinho de dinheiro naquele trade específico, mas ganha na marcação do estoque de toda a posição. Em nenhum momento, houve, de fato, intenção de se comprar aquela ação no preço realizado no leilão de fechamento, tanto que a posição é vendida subsequentemente, abaixo daquele preço.
Aquela é uma demanda artificial, gerada para deslocar os preços do funcionamento natural do mercado e valorizar as ações de maneira inapropriada. Está devidamente tipificado como manipulação de mercado, mas tem passado abaixo do radar.
LEIA TAMBÉM — Felipe Miranda: Sindicato de Ladrões
2. Corporate access
De repente, você olha para a tela e vê as ações de uma importante empresa do varejo caindo 8%. Ela é uma empresa de qualidade, líder, famosa, tem marca e tal. Não faria muito sentido estar caindo 8%.
Você tenta fazer sua lição de casa. Procura notícias na imprensa, na Bloomberg, no Broadcast, dentro da Starship…. Nada.
Poucos dias depois, em conversas com amigos de mercado, você descobre que aquela empresa esteve numa reunião fechada em um banco de investimentos qualquer, com a presença de 10 a 15 gestores.
Nesse bate-papo descontraído, foi falado assim meio de lado, já saindo, com aquele olhar 43, que os resultados do primeiro trimestre teriam um crescimento aquém daquele anteriormente indicado pela companhia.
É o suficiente para os amigos do Rei, presentes naquele encontro, saírem vendendo na frente dos demais participantes de mercado financeiro. É uma clara situação de assimetria informacional, de favorecimento aos participantes das reuniões fechadas.
Hoje, tem funcionado assim: as apresentações de resultados ou as lives públicas, que, por definição, são abertas a todo o público e, portanto, estão mais bem alinhadas à publicidade geral de informação, contam com discursos absolutamente esterilizados e pasteurizados, carregados de mídia training e daquelas falas do tipo: “estamos muito contentes com o resultado até agora, tivemos um bom primeiro tempo e agora é ouvir o que o professor tem a dizer no vestiário para voltar e garantir os três pontos fora de casa.”
Independentemente de qual a pergunta, encontramos a mesma resposta vazia, cheia de platitudes e compromissos com a geração de valor ao acionista.
Já nas reuniões privadas a portas fechadas, tudo pode ser dito. Ingressos para encontros dessa natureza estão sendo mais disputados por gestores do que tickets para as Olimpíadas de Paris. Não é por curiosidade intelectual, claro. A vantagem informacional vale dinheiro.
O bom analista hoje é aquele que consegue acessar melhor o “quente e frio” dos próximos resultados com a companhia. Redefinimos o conceito de meritocracia analítica.
3. Sala de trade
Também não é por curiosidade intelectual que um investidor ou especulador entra numa sala de trade. Ele está ali entre centenas, talvez milhares, de outros ávidos por algum tipo de orientação para arriscar seus caraminguás no Mini Dólar ou no Índice Futuro. Vê o trader tomando decisões para si e copia seu próprio book.
Em termos práticos, funciona como uma recomendação, sob o casuísmo de que “estou apenas negociando para mim; se alguém quer me copiar, não é problema meu”. Alguns traders vendem assinatura e tudo mais dessas salas, sem qualquer tipo de certificação ou compliance que controle suas indicações.
As salas de trade são o mundo de Marlboro do mercado financeiro, onde o Estado parece não ter chegado. Alguns diriam que é melhor assim, porque a postura refletiria uma característica individual intransponível.
Se o sujeito não estivesse no Home broker da Clear, estaria no site da Betano ou da Betfair. Pode até ser, mas, convenhamos, não parece ser uma boa argumentação sob a ótica regulatória.
- Onde investir? Veja 10 ações em diferentes setores da economia para buscar lucros. Baixe o relatório gratuito aqui.
4. Assessoria de graça
Em termos práticos, isso já acabou. Na verdade, nunca existiu. Não existe produto ou serviço realizado gratuitamente.
Como gosta de dizer Yuval Harari, se você não está pagando pelo produto, é porque você mesmo é o produto e ainda não percebeu. De alguma forma, você está pagando por aquilo e o pior: sem transparência, de forma sub-reptícia, normalmente em taxas mais altas de colocação, estruturação e distribuição.
O escritório finge que faz assessoria enquanto maximiza o próprio ROA, o investidor finge que não sabe que não existe serviço gratuito e, nesse grande teatro, todos perdem no longo prazo. As mudanças regulatórias vão exigir a total transparência das taxas cobradas. Vai ser divertido.
5. Cobertura de IPO
Está meio fora de moda falar em IPO, mas logo ele volta. Essa história é cíclica. Os juros ainda devem cair nos EUA e melhorar o fluxo de recursos para mercados emergentes no segundo semestre. A Selic virá abaixo de 10% e não haverá mais aquele circo das LIGs, LCIs, LCAs, CRIs e CRAs. Então, voltaremos às listagens de novas ações, com os subsequentes relatórios de início de cobertura.
A única coisa surpreendente nessa história é que esses relatórios de “initiating" ainda fazem preço. Qual a chance de um banco realizar uma oferta inicial de ações, coletar um fee de algumas dezenas de milhões de reais e depois dar um “sell" naquela empresa? Está no pacote, entende?
Na renda fixa, está acontecendo um problema também. Na hora das ofertas, os escritórios são munidos de excelente material de vendas e persuasão em prol da colocação de um novo papel. Os investidores compram a oferta, muito bem-sucedida e “oversubscribed”.
Mas aí passam seis meses e ninguém fala mais daquela debênture. Não há qualquer tipo de cobertura desse secundário e o investidor, que está carregado dessas coisas no seu patrimônio porque passou os últimos três anos correndo da Bolsa, fica órfão, com um enorme incentivo para girar sua carteira e entrar numa nova emissão.
Daqui a pouco, se continuar assim, criaremos uma nova espécie: os Day traders da renda fixa, com direito a Globo Repórter e tudo: “onde vivem? Do que se alimentam? Como se reproduzem?”
Há filmes melhores na Apple TV. Não precisamos de “Dias Perfeitos”, mas também não deveriam ser tão imperfeitos assim.
- 10 ações para investir: veja a carteira recomendada da analista Larissa Quaresma, baixando este relatório gratuito.
Acordo com a União Europeia em risco? CEO do Carrefour diz que não venderá carne do Mercosul e compra briga com governo brasileiro
Declaração foi demonstração de apoio às insatisfações dos agricultores franceses, que protestam contra o acordo comercial, e ainda atacou a qualidade da carne dos países do bloco que inclui o Brasil
Dinheiro sujo na energia limpa: bilionário indiano é indiciado nos EUA por contratos ilegais que renderam mais de US$ 2 bilhões
Gautam Adani já foi o homem mais rico da Ásia, mas acusações de corrupção estão “torrando” o patrimônio do indiano desde o começo do ano passado
Gerdau compra controle total da Gerdau Summit, por US$ 32,6 milhões; entenda a estratégia por trás disso
Valor da aquisição será pago à vista, com recursos próprios até o fechamento da transação, previsto para o início de 2025
O pacote de corte de gastos sai ou não sai? Haddad dá previsão sobre anúncio das medidas e Rui Costa conta o que será preservado
As principais medidas já haviam sido apresentadas a Lula, mas a equipe econômica estava esperando finalizar um acordo com o Ministério da Defesa; reuniões continuam na tarde desta quinta-feira (21)
Nvidia (NVDC34) vê lucro mais que dobrar no ano — então, por que as ações caem 5% hoje? Entenda o que investidores viram de ruim no balanço
Ainda que as receitas tenham chegado perto dos 100% de crescimento, este foi o primeiro trimestre com ganhos percentuais abaixo de três dígitos na comparação anual
Com dólar acima de R$ 5,80, Banco Central se diz preparado para atuar no câmbio, mas defende políticas para o equilíbrio fiscal
Ainda segundo o Relatório de Estabilidade Financeira do primeiro semestre, entidades do sistema podem ter de elevar provisões para perdas em 2025
Pix já responde por 24% dos pagamentos no varejo, mas sistema financeiro precisa de atenção aos incidentes cibernéticos, diz Banco Central
Relatório de Estabilidade Financeira do BC destaca funcionamento seguro e avanço tecnológico do sistema financeiro brasileiro, mas destaca desafios na área de segurança cibernética
Como ganhar dinheiro na internet? ‘Mentor dos mentores’ lança workshop que ensina a buscar seus primeiros R$ 100 mil no digital
Victor Damásio tem mais de 10 anos de experiência com marketing digital e atua como mentor de grandes personalidades
Bitcoin (BTC) a US$ 100 mil é (quase) realidade: rali da madrugada coloca criptomoeda mais perto da marca histórica
O movimento poderia ser comparado a um short squeeze, porém não é isso que ocorre nesta quinta-feira; saiba mais
Do pouso forçado às piruetas: Ibovespa volta do feriado com bolsas internacionais em modo de aversão ao risco e expectativa com pacote
Investidores locais aguardam mais detalhes do pacote fiscal agora que a contribuição do Ministério da Defesa para o ajuste é dada como certa
Que crise? Weg (WEGE3) quer investir US$ 62 milhões na China para aumentar capacidade de fábrica
O investimento será realizado nos próximos anos e envolve um plano que inclui a construção de um prédio de 30 mil m², com capacidade para fabricação de motores de alta tensão
Fundos imobiliários: carteira que superou o Ifix 8 vezes em 2024 recomenda 5 FIIs para buscar dividendos de dois dígitos; confira
Esta carteira com 5 fundos imobiliários já rendeu 470% do Ifix em 2024 e analista aponta dois segmentos que podem entregar bons retornos para os investidores agora
Como a Embraer (EMBR3) passou de ameaçada pela Boeing a rival de peso — e o que esperar das ações daqui para frente
Mesmo com a disparada dos papéis em 2024, a perspectiva majoritária do mercado ainda é positiva para a Embraer, diante das avenidas potenciais de crescimento de margens e rentabilidade
Quais os planos da BRF com a compra da fábrica de alimentos na China por US$ 43 milhões
Empresa deve investir outros US$ 36 milhões para dobrar a capacidade da nova unidade, que abre caminho para expansão de oferta
De agricultura e tecnologia nuclear à saúde e cultura: Brasil e China assinam 37 acordos bilaterais em várias áreas; confira quais
Acordo assinado hoje por Xi Jinping e Lula abrange 15 áreas estratégicas e fortalece relação comercial entre países
Polícia Federal: general preso imprimiu plano de execução de autoridades no Palácio do Planalto
PF divulgou que o general reformado Mário Fernandes deu o nome de Planejamento ao arquivo impresso
FII arrecada R$ 137 milhões com venda de galpões e é recomendado por analistas; veja
Conheça detalhes do negócio feito por esse fundo imobiliário e por que ele é um dos ‘queridinhos’ da EQI Research
Brasil e China: em 20 anos, comércio entre países cresceu mais de 20x e atingiu US$ 157,5 bilhões em 2023
Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões
Feriado altera calendário da Mega-Sena: confira novas datas dos sorteios
Atenção apostadores: excepcionalmente não haverá sorteio na quinta desta semana
Surto coletivo? Brasileiros estão investindo na ‘criptomoeda mais arriscada do mercado’ – analista vê potencial para alta de até 30.000%
Em quatro dias, ela apresentou uma valorização superior a 700%